Prólogo

Eu tinha apenas doze anos. 

Só doze anos. 

Não sabia que minha curiosidade causaria um impacto tão grande em minha vi na é na de todos ao meu redor. 

Não sabia que doeria tanto. 

Tudo o que eu queria era ter ganhado àquela aposta. 

Aquela maldita aposta. 

Sempre penso que, se eu tivesse ganhado, não precisaria enfrentar meu pior pesadelo. Que não precisaria passar por tudo que eu passei nos últimos anos. Que poderia apenas fechar meus olhos e ter uma boa noite de sono. 

Mas ai eu lembro daquele olhar.  O brilho inconfundível do divertimento que sempre estava presente em seus olhos. De tão lindo que ficava aquelas duas orbes castanhas que me conquistaram no momento em que pensei estar sozinha. 

Eu nunca o teria conhecido se não tivesse aceitado participar do que achei ser o meu maior erro. 

Como dizem por aí, para toda ação existe uma consequência. A minha foi o tempo, e ele é muito relativo. No mesmo momento em que é o meu melhor amigo, que me ajuda quando preciso, também é o meu pior inimigo, pois poderia acabar com tudo pelo que lutei. 

De certa forma, ele me deu uma chance que nunca que fosse possível. 

Tenho a oportunidade de salvar a todos que amo, mas para isso precisei perde-los primeiro. Precisei passar pelas provas que o tempo colocou em meu caminho. Precisei aprender a lidar com a dor, o medo e a solidão. 

Embarquei em uma aventura que não poderia ser escrita em apenas um livro. Uma aventura que não pedi para fazer parte. Que colocou minha vida de cabeça pra baixo. Que mudou o meu destino por completo. 

Mas agora tenho certeza de que, assim como o meu foi mudado, também mudarei o destino de todos com quem me importo. 

Foi posto em minha história uma vírgula bem grande, porque o ponto final eu ainda não aceito. 

Naquele dia, quando desci ao porão da casa dos meus tios para cumprir a minha parte na aposta, fui obrigada a aceitar uma nova vida que não sabia se seria capaz de me adaptar. 

Abri mão da minha identidade, de quem sou. 

E hoje, posso dizer com toda a certeza, que não me arrependo. 

Não me arrependo de ter aceitado a aposta que meu irmão propôs, assim como não me arrependo de ter aberto aquela pequena e antiga caixinha de metal. 

Tive de sacrificar muito em minha vida mesmo sendo apenas uma criança. 

Mas ainda assim não me arrependo. 

Pois, para mim, foi o sacrifício perfeito.