Blue Eyes escrita por Lu


Capítulo 3
15 anos


Notas iniciais do capítulo

Oie! Esse já é o último capítulo, mas foi feito com muito carinho, amor e um final surpreendente. Não vou falar muito para não dar spoiler, estão leiaaam e não esqueçam de comentar.



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Nesse aniversário de morte dos meus pais e do meu tempo com Joseph, quando voltou do trabalho, ele me trouxe um colar lindo e flores.

Ele era tão carinhoso e simpático comigo, nosso tempo juntos era sempre muito proveitoso e ele era sempre muito bom comigo, um verdadeiro cavalheiro.

Eu já era uma mulher, uma bela mulher. Meu corpo havia criado curvas e eu estava completamente diferente, já não enxergava as coisas como antes.

Eu queria aprender tudo o que Joseph tinha a me ensinar, mas sem nunca questioná-lo, como eu fazia com a minha infantilidade. Eu queria absorver sua inteligência e bravura.

Outro dia ele me explicou a bandeira que havia na entrada de casa, ele disse que aquela era a nova bandeira da Alemanha, que agora que eu era crescida ele podia falar comigo sobre os assuntos sérios.

Ele me mostrou que eu deveria amar aquela bandeira e aquela pátria, que a Alemanha era maravilhosa e estava ficando cada vez mais limpa dos lixos que nela tinham, então eu passei a amar aquela bandeira, a suástica, como ele havia dito.

Eu fiquei muito contente. Minha pátria estava melhor, mais bonita, e aceitei tudo sem questionar, fascinada pelo amor dele pela Alemanha.

Morávamos em uma cidade chamada Dachau, ele me disse uma vez, e seu trabalho era em um campo de trabalhos. Entendi que era uma fábrica ou algo do gênero e fiquei contente por ele ser bom no que fazia.

Joseph havia se tornado uma paixão secreta para mim. Eu o amava, ele era como um herói para mim, o homem que me salvou e que sempre esteve comigo, o homem que me viu virar uma mulher. Eu tinha esperanças de poder casar com ele um dia, quando eu envelhecesse um pouco mais, nossa idade nunca seria um empecilho.

Entretanto aquele dia chegou, 29 de abril de 1945. Eu estava arrumando alguma coisa na sala quando alguém bateu desesperadamente na porta.

— Por favor, me ajude, tenha piedade! - gritava a voz de uma mulher.

Eu fui correndo abrir e ver o que estava acontecendo, contudo a imagem que eu tive não era nada do que eu havia imaginado.

Ela não tinha cabelos, era muito magra e estava com o rosto cortado. Usava um pijama sujo com listras azuis e brancas e com uma estrela na altura do peito. Ela definitivamente precisava de ajuda, parecia em apuros.

— Entre, por favor - eu disse dando espaço àquela mulher. - A senhora quer uma xícara de chá? Venha comigo, conte sua história.

— Por favor, não me entregue, eles estão perseguindo a todos. - ela disse com desespero

— Eles quem? - perguntei

— Os nazistas. Dachau foi liberada, mas eles ainda nos perseguem.

— Nazistas? - perguntei confusa enquanto fazia o chá.

— Sim, os homens de Hitler. Os homens da SS estavam atirando em todos que viam, não aceitam a derrota da Alemanha.

— Senhora, eu não estou te entendendo, a senhora está bem? Lembra de ter batido a cabeça?

Não fazia sentido o que ela falou, simplesmente não fazia.

Derrota da Alemanha? Mas que guerra?

Homens da SS atirando em todos, os homens de Hitler? Joseph era da SS, tinha escrito isso no uniforme dele, mas eu nunca soube o que queria dizer. Hitler não era apenas o patrão?

De repente a ficha caiu. Ele estava mentindo para mim esse tempo todo. Eu havia sido enganada e traída pelo homem que eu achava que amava.

— Quem os homens da SS estão matando? O que está acontecendo? - perguntei desesperada - Eu estive trancada nessa casa, não vi nada acontecer.

Ela me contou da perseguição aos judeus, poloneses, negros, ciganos e qualquer minoria, qualquer um que não fosse considerado puramente alemão.

Isso me fez cair em prantos. Era para eu estar morta, era para eu ter sido perseguida também. Por isso eu fingi ser alemã todos esses anos, fingi ser alemã até praticamente me tornar uma.

Joseph havia matado pessoas, talvez milhares delas, só por causa de um comando imbecil. Ele devia ter torturado e matado muitos naquele "campo de trabalho" e se orgulhava disso. O pior é que ele me fez se orgulhar dele por aquele trabalho podre.

— Vá embora, eu preciso que você fuja o mais rápido possível, se o Joseph voltar ele vai te matar! - falei saindo apressada com a senhora - Fuja, por favor, e vá rápido! - gritei enquanto ela corria em frente.

Fui correndo para o quarto de Joseph e peguei, ainda em prantos, o rádio que ele mantinha escondido. Eu precisava ter mais notícias, qualquer coisa que me desse mais indícios do que estava acontecendo.

" E a guerra acabou! Depois de Adolf Hitler ter se matado, muitos campos de concentração estão sendo libertos. O campo de Dachau acaba de ser invadido pelos soldados americanos, que estão matando qualquer soldado da SS que encontram.
Eles são a nossa salvação, estão libertando judeus e poloneses da escravidão nazista. Agora basta apenas reencontrar os familiares queridos e se reestruturar nesse novo mundo que vai combater os nazistas e prendê-los como merecem."

Joseph poderia ter sido morto, se não seria perseguido para sempre. Eu não conseguia pensar direito, não sabia mais o que fazer. Não sabia mais quem Joseph era, ou quem eu mesma era, então apenas continuei deitada no chão do quarto de Joseph, chorado, sem conseguir me mover, enquanto o rádio ainda estava ligado.

— Katharina, precisamos ir embora. - Joseph havia chegado em casa - Katharina, vamos logo, precisamos viajar, umas pessoas ruins estão contra mim. Katharina, onde você foi se meter?

Joseph, ele estava aqui. Eu tinha que fazer alguma coisa, tinha que fugir.

— Katharina, o que você está fazendo... - ele começou ao entrar no quarto - Katharina, eu disse para você não ouvir ao rádio! Eu disse!!

Ele começou a chorar, sacou uma arma e a apontou para mim.

— Joseph, por favor, não faça isso. Eu esqueço tudo, faço o que você quiser. - levantei-me desesperada do chão, as lágrimas molhando meu vestido.

— Acabou, Katharina, você me desobedeceu, eu disse para você não fazer isso; não era para você saber!

Joseph me matou.

Ele atirou em mim e foi tudo muito rápido, logo eu vi uma profunda escuridão e quase não senti mais dor. Quando percebi eu estava entre milhares de pessoas, uma verdadeira multidão.

A maioria das pessoas tinham a cabeça raspada. Eram pessoas de todas as idades e eu percebi que eram as pessoas que ele matou. Milhares, de crianças a idosos, e olhavam para baixo, para Joseph e meu corpo ensanguentando.

Meus pais estavam ali também. Meus queridos pais, que eu praticamente havia esquecido em todos aqueles anos, nunca esqueceram de mim.

Ao olhar para eles, eu compreendi enfim o que havia acontecido no dia do acidente. Meu pai era político, por isso ele já sabia da perseguição que estava por vir e queria fugir para nos salvar.

Abracei meus pais. Tinham tanta bravura e era tão bom poder revê-los enfim.

Os olhos ternos da minha mãe se voltaram para baixo, para a cena que continuava ali, e eu entendi que precisava ver o desfecho do meu assassino.

Joseph chorava debruçado em meu corpo e dizia que aquilo não era para ter acontecido, que ele me amava e não queria ter feito aquilo. Eu percebi que a minha morte foi a primeira que ele teve remorso, a primeira que ele chorou.

Ele me enterrou nos fundos da casa e colocou flores em cima da terra revirada, fez uma mala e fugiu.

Eu e todas aquelas vítimas observamos enquanto ele vivia, o tempo no Céu era diferente do tempo na Terra. Observamos tudo do alto sem cessar.

Joseph conseguiu fugir para Cuba e viver uma vida longa e tranquila lá. Casou-se com uma jovem mulher, conseguiu um emprego honesto e viveu sem qualquer sombra do passado sombrio.

Eu não sei se monstros podem se redimir e virarem bons homens, não sei ao certo o que ele sentia, mas eu sei que ele me matou porque não queria que eu vivesse sabendo do monstro que ele era, todavia foi tarde de mais.

Ele só mostrou remorso pela minha morte uma vez, apenas uma vez em toda sua nova vida ele se permitiu lembrar do passado.

Dos seus três filhos, a primogênita foi uma garotinha, que Joseph não deixou que tivesse outro nome senão Katharina.Para a minha surpresa, ela nasceu com os olhos azuis como os meus e os cabelos bem castanhos, uma ironia que sua primeira filha não tivesse o tão estimado fisico ariano.

Joseph morreu com 75 anos. Quando isso aconteceu todos respiraram em paz, poderiam enfim, ter o eterno descanso, mas aquelas vidas nunca seriam recompensadas e era um pouco lamentável que ele tivesse vivido tanto sem remorso do que fez.

Entretanto comigo foi diferente. Eu amei tanto Joseph, e por tanto tempo ele foi tudo o que eu tive, que não consegui ter a sonhada paz de todos os outros.

Passei a eternidade com uma alma conflituosa, procurando no vazio o meu assassino, o homem que eu amara e que deixei me corromper sem nem saber o monstro que era e a tormenta eterna que me traria.


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Notas finais do capítulo

E acaboooou! Para nós e para a querida Katharina. Foi muito bom escrever essa história e eu gostei bastante do resultado. Se você concorda, discorda, odeia ou ama o Joseph me digam por favor, isso me motiva muito.
E me digam também o que vocês fariam estando no lugar da Katharina ao descobrir sobre a guerra e quem o Joseph era de verdade.
Muito obrigada a todos que viveram essa história comigo e fizeram ela nascer e ter vida, muita gente contribuiu para o nascimento e espero que mais algumas contribuam para que ela não morra.
Eu sei, foi uma nota final meio longa, então não esqueçam de comentar e um beijooo!!



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