Blue Eyes escrita por Lu


Capítulo 1
7 anos


Notas iniciais do capítulo

Oie! Aproventem a história, mas não se esqueçam de comentar, para falar qualquer impressão da história: se achou péssimo, qual foi a melhor parte, eventuais erros... Qualquer comentário me motiva muito a continuar escrevendo e a melhorar minhas histórias.
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Em uma tarde nublada, na cidade de Varsóvia, quando eu tinha apenas sete anos, meus pais pediram para eu colocar uma roupa de viagem pois iríamos sair.

Coloquei meu casaco de peles por cima de roupas simples e leves e minha mãe prendeu meus cachos castanhos em um lindo penteado.

Lembro-me de seu olhar. Aqueles profundos olhos azuis que brilhavam sorrindo quando me viam. Olhos que eu herdei com muito orgulho, que me faziam voltar para Varsóvia, para meu lar, toda vez que me olhava ao espelho.

Saímos às pressas de casa. Não sabia o motivo, mas meus pais estavam apressados, como se fosse um assunto urgente. Meu pai olhava muito ao relógio e dizia para eu me apressar, então obedeci.

Entramos no carro e meu pai dirigiu muito, por horas, mas não sabia para onde, pois, na metade do caminho, adormeci. Acordei apenas quando já era noite, com um grito da minha bela mãe.

Eu descobri, dias depois, que meu pai dirigiu exausto de sono até tarde e, entre algumas "piscadas" perdeu o controle do volante e capotou o carro em uma curva mais complicada.

Eu tinha acordado com o grito da minha mãe e lembrava-me perfeitamente do som da batida, mas, antes que o grito dela estivesse cessado, eu havia desmaiado.

Tudo o que eu lembrava sobre os meus pais era isso, o dia daquele maldito acidente. O maldito acidente que me deixou órfã, que me deixou sem nada e sem ninguém.

Naquela noite me levaram para um hospital em alguma cidade polonesa em que havia sido o acidente. Eu estava apenas com alguns ferimentos leves, mas me manteram lá por eu não ter ninguém e, por isso, eu dormia a maior parte do tempo, para não ter que encarar a realidade.

Em algum dos dias que eu estive no hospital, acordei com um homem me encarando. Ele era loiro, muito alto e forte. Seus olhos eram da cor do mar e, para a minha surpresa, ele sorria.

— Seus olhos azuis vão te salvar, garota, - disse em Alemão fazendo-me levar as mãos machucadas aos olhos - e pelo visto entende o alemão.

— Minha mãe me ensinou - disse-lhe também em alemão.

— Agora você é minha, vou levá-la para sua nova casa. Qual seu nome? - perguntou o homem.

— Katarzyna. Quem...

— Seu nome agora vai ser Katharina, e se alguém perguntar você vai dizer que é alemã e nunca mais vai falar o polonês. - ele segurou meus ombros com um pouco de força - Entendeu?

— Sim, senhor! - respondi com medo

— Você vai ver que não precisa me temer, mas vai ter que me obedecer sempre, não gosto de desordem. - Ele apontou para um conjunto de roupas limpas. - Vista-se e vamos sair.

Eu fiz o que ele mandou e, ao sair daquele hospital, abandonei meu polonês. Ele pagou todo o meu tratamento e me colocou no seu carro.

Enquanto dirigia para a Alemanha, o homem me falou um pouco do que eu precisava saber sobre ele.

O nome dele era Joseph Schneider, ele morava sozinho em uma casa grande na Alemanha e trabalhava no exercito alemão.

Ele disse que tinha visitado um amigo naquele hospital, quando as enfermeiras comentaram que eu não tinha ninguém, e que me adotou por pena, mas eu sabia que ele só queria ter alguém para tirar um pouco sua solidão.

Dirigimos por poucos dias parando à noite em hotéis baratos pela estrada quando enfim ele parou na frente de uma casa grande depois de percorrer uma extensa área rural completamente isolada.

— Chegamos, Katharina - disse meu novo nome.

— É muito grande! - exclamei supresa.

— Venha conhecer seu quarto - Joseph segurou minha mão levando-me pela casa.

O quarto era o menor da casa, mas ainda assim era imenso. Também percebi que era o mais ao fundo e as janelas eram muito mais altas, encostadas no teto e impossíveis de alcançar, como se ele tivesse medo que eu fugisse, ou se quisesse me trancar lá dentro.

— Venha, vamos fazer o jantar - disse Joseph da porta já se virando para sair e eu fui atrás dele.

Preparamos uma salada com peixe temperado. Ele ia me dizendo o que fazer e eu apenas obedecia cortando legumes, temperando e colocando o peixe para assar. Acabou que no fim eu fiz praticamente tudo sozinha, bem diferente do que era cozinhar com meus pais. Acho que, na verdade, ele queria ver o quanto eu sabia sobre cozinhar.

Eu coloquei a mesa para nós dois e a nossa refeição foi quase completamente silenciosa.

— Essa casa tem algumas regras. - disse Joseph finalmente - Eu vou sair todos os dias para trabalhar e quero que você arrume tudo antes que eu chegue.

"Você já provou que sabe cozinhar, então vou deixar a dispensa sempre cheia e você pode fazer a nossa comida. Se precisar eu tenho um caderno de receitas que você pode usar também.

Não quero que você saia sem a minha permissão e a minha companhia e você vai me obedecer sempre. Odeio que me contrariem. Entendeu?"

— Sim, senhor. - respondi cabisbaixa.

— Você pode me chamar só de Joseph se quiser. Eu sei que eu pareço ser mau, mas você vai perceber que se seguir o que eu digo, posso tentar ser melhor. Eu não sou uma pessoa ruim, Katharina, se eu fosse, não teria te salvado.

Eu apenas dei um aceno para indicar que estava prestando atenção.

— Agora eu quero que você tome um banho, está muito suja. Tem umas roupas para você na mala que eu trouxe. Qualquer coisa que precisar eu posso comprar amanhã. Tem toalhas no armário do primeiro banheiro.

Entrei no banheiro e a primeira coisa que vi foi o espelho e os olhos da minha mãe me encarando. Ela era tão linda e eles eram tão jovens para morrer.

Meus braços estavam cheios de arranhões e eu não queria me despir e ter que ver o resto dos machucados causados pelo acidente que matou os meus pais.

O peso da dor me atingiu com tudo e eu comecei a chorar. Eu era só uma garotinha órfã que havia perdido tudo em um acidente. Eu não queria ter que deixá-los, ter que deixar meu país, quem eu era ou tudo o que eu sabia. Não queria ter que viver com um estranho. Só queria poder acordar com os olhos azuis da minha mãe me observando; sem cicatrizes, sem gritos e sem dor.

— Katharina, eu não mandei... - Joseph abriu a porta depois de um tempo e me viu sentada no chão, chorando - Ei, não chora. Calma ta bom? As coisas vão ficar melhores, você vai ver.

Ele tirou uma caixinha do bolso e me mostrou. Ela era escura com alguns detalhes bem desgastados e velhos.

— Sabe o que é isso? - ele mostrou o que havia dentro, mas eu apenas neguei com a cabeça - Isso é tabaco e essa do lado é a seda. A coisa que eu mais gosto de fazer quando estou chateado é enrolar cigarros, você quer tentar?

Eu afirmei com a cabeça. Joseph sentou-se ao meu lado e eu passei o resto da noite enrolando tabaco com ele.

Quando eu fiquei muito cansada, deixei a seda de lado e deitei no seu colo. Depois de alguns minutos senti ser carregada e dormi sem tomar banho.

No dia seguinte, Joseph conseguiu me convencer a tomar de olhos fechados, assim eu não veria os machucados, deu certo e acabou sendo bastante engraçado para mim.

Mas apenas após uma semana, eu fui conseguir tomar banho de olhos abertos e olhar sem medo meus machucados mais profundos, sem contar com aqueles que nunca se curariam.

Joseph saía todos os dias da semana para trabalhar e eu ficava arrumando tudo e passava o dia inteiro sozinha ouvindo ao rádio e fazendo minhas obrigações, mas os fins de semana eram bem legais, pois ele brincava o dia todo comigo nos jardins de qualquer coisa que eu quisesse.

Joseph não era um pai e nunca seria, mas eu sentia como se ele fosse meu melhor amigo, e o único que eu poderia ter.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Joseph é cruel ou fofo? Cada capítulo a Katharina vai estar maior e sua perspectiva também muda, espero que estejam gostando.
Por favor comenteeem!!



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