Único motivo para viver escrita por Musuke


Capítulo 1
Capítulo 1: Os olhos fechados da guardiã


Notas iniciais do capítulo

Essa conta estava abandonada há anos, então estou desacostumada com a plataforma.
Resolvi (por alguma razão desconhecida) postar aqui uma fic minha que está sendo postada no SS:
https://spiritfanfics.com/historia/unico-motivo-para-viver-5981592
Espero que gostem

~betado por Dri



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Capítulo 1 - Os olhos fechados da guardiã

Era noite em Namimori. A névoa se deitava sobre a cordilheira, e sobre o topo da montanha mais alta, ela parecia um horripilante véu que transformava tudo em um mundo de sombras e formas distorcidas.

Lá em cima, a lua deveria estar atingindo seu ponto mais alto. Deveria, se aquela não fosse uma noite sem luar, o que transformava tudo em um mundo de trevas.

Quando ele era garoto, seu irmão lhe contou uma história que dizia que a lua era como uma guardiã que repudiava o perverso, e enquanto ela estivesse à espreita, nenhum mal poderia acontecer. Em noites como aquela, em que a lua sumia, a guardiã fechava os olhos e coisas ruins aconteciam. Se fosse uma pessoa supersticiosa, iria considerar a falta da lua e a densa névoa um mal presságio, mas ele não era.

Ou talvez até fosse. Mas a verdade é que ele não dava a mínima se aquilo era ou não um mal presságio. Se a lua era realmente uma guardiã que repudiava tudo o que fosse ruim, então ela realmente não deveria ver o que aconteceria naquela noite.

Mas havia outro motivo dele não querer ver a lua: Ele a odiava. Ele odiava a lua, pois aquela pessoa a amou.

Sacudiu a cabeça para se livrar daqueles pensamentos ridículos. Tudo aquilo aconteceu há muito tempo. Olhando ao redor viu ao longe um brilho amarelo, fechou os olhos e aguçou os ouvidos para saber do que se tratava. Sua ótima audição descobriu o que era. Um grupo de humanos festejava alguma bobagem, sem se dar conta do que acontecia ao redor. Sem dar a menor importância a névoa ou a falta da lua.

Isso fez com que se lembrasse de outra coisa. Passara dois dias chorando depois que o irmão lhe contara a história da lua. Giotto logo se arrependeu de dizer aquilo, e tentando se corrigir, disse que a guardiã fechava os olhos para poder ouvir melhor, assim como eles faziam. Hoje ele não acreditava mais naquela parte da história, mas na época acreditou de forma cega no irmão. Ele tinha certeza de que Gio jamais mentiria para ele, mesmo que fosse para protegê-lo. Quão ingênuo ele era!

Essas lembranças trouxeram um pequeno sorriso aos lábios. Seu doce e bondoso irmão. Giotto mostrara a todos que era possível ser forte e ao mesmo tempo gentil.

— Mestre Tsunayoshi? – chamara uma voz atrás de si. Virou-se e viu um homem alguns anos mais velho, o cabelo azulado e um típico sorriso cínico e irritante no rosto – Nunca imaginei que mandaria me chamar depois de tantos anos. Em que posso servi-lo?

Ao lado dele um outro homem de cabelos prateados que o encarava sério. Acenou com a cabeça. Um reconhecimento silencioso pelo bom trabalho de encontrar aquele homem.

— Gokudera, deixe-me conversar a sós com Daemon. – trovejou com sua voz firme e grave. O sorriso de Daemon vacilou levemente. Gokudera prontamente obedeceu à ordem.

 — Ora, ora. Parece que os boatos são verdadeiros. Você mudou mestre Tsunayoshi.

  Ele nem sabia o quanto. Infelizmente para Daemon, ele não era como o irmão.

        —----------------------------------------------

 A festa da colheita era sua época favorita do ano! Tudo ficava mais vivo e brilhante. A cidade era decorada com flores, origamis e lamparinas. A comida e a bebida eram ótimas. E homens e mulheres vestiam roupas coloridas enquanto dançavam ao redor de uma gigantesca fogueira no centro da cidade.

Os músicos já começavam a preparar os instrumentos quando ela chegou à praça. Aos poucos as pessoas começavam a chegar e se aglomerar ao redor das barracas para saborear os deliciosos pratos típicos da festa.

Alguns rapazes passaram por ela e sorriram em sua direção. Abaixou os olhos tímida. Talvez naquele ano ela arrumasse um namorado, já que a festa da colheita era conhecida por unir casais. Havia uma lenda que dizia que se você encontrasse uma pessoa durante a festa da colheita, então vocês ficariam juntos para sempre.

É claro que essa era uma história infantil e boba, mas não podia deixar de ter esperanças. E mesmo se não encontra-se ninguém, aquele ainda era o melhor dia do ano. E ninguém poderia estragá-lo.

Nem sempre as coisas são como queremos.

 As danças já aconteciam quando tudo começou. Ela demorou a perceber, pois estava entretida com a festa. De repente a música parou e com ela, todas as pessoas. Olhou na direção para onde todos olhavam, com olhos arregalados em pânico. Nas cordilheiras, há vários quilômetros da cidade alguma coisa acontecia.

Primeiro altas labaredas índigo. Depois um rugido tão estrondoso que o chão pareceu tremer. Era possível uma chama engolir outra? Pois foi exatamente o que pareceu. Era como se de repente as montanhas tivessem se transformado em vulcões que cuspiam chamas alaranjadas em direção ao céu, e logo a chama índigo desapareceu.

Por um momento tudo pareceu se acalmar, mas então outro rugido, não tão estrondoso quando o anterior, preencheu o ar. Ela nunca havia visto um deles, e esperava nunca ver, mesmo assim ela imediatamente soube o que acontecia.

A festa havia acabado, ela sabia disso.

No fundo todos sabiam. Humanos eram maioria no planeta, mas não era a eles que o mundo pertencia. Aquele não era um mundo de criaturas pequenas e fracas, mas sim de gigantes alados que cuspiam fogo.

Aquele era um mundo de dragões.

E pelas cores das chamas era óbvio que aqueles não eram dragões comuns. A maioria dos dragões, lhe contaram, soltavam chamas cor de fogo comum. Mas haviam exceções, outros tipos de chamas.

Chama de cor vermelha, azul, verde, amarela, roxa e índigo, representavam, reativamente os dragões da Tempestade, da Chuva, do Trovão, do Sol, da Nuvem e finalmente, da sombria Névoa. Esses eram não eram dragões, e sim Dragões, com “D” maiúsculo. Os mais fortes entre os mais fortes.

E se você acha que acabou por aí, está muito enganado. Ainda piora, e muito.

Esses Dragões não eram as criaturas mais fortes do planeta. Haviam outros, os líderes e senhores de todos os dragões. Que era exatamente quem estava nas cordilheiras. Os Dragões de chamas alaranjadas.

Dragões do Céu.

Mesmo os Dragões do Céu sendo os mais poderosos, pela quantidade de chamas ela teve certeza que havia pelo menos três deles nas cordilheiras.

As pessoas começaram a se dispersar, ninguém queria ficar próximo a uma luta entre dragões. Ela não conseguia entender o porquê, já que a luta acontecia há quilômetros dali.

Enquanto todos se afastavam ela continuou ali, assistindo. É claro que ela só conseguia ver as chamas, mas a curiosidade era muito forte. Ela queria saber o que acontecia.

Descobriu mais cedo do que imaginava.

Tudo aconteceu tão rápido que ela mal teve tempo de raciocinar. Uma sombra gigante passou voando há alguns metros acima da sua cabeça, trazendo consigo uma nuvem de poeira. Ela voava rápido, mas oscilante, inclusive esbarrando em um dos prédios mais altos da cidade.

 Logo atrás da primeira veio outra, que voava mais rápido do que imaginou que qualquer coisa pudesse voar. A pressão do ar que a criatura trouxe fez com que a garota fosse jogada de encontro ao chão.

A segunda criatura rapidamente alcançou a primeira, com sua enorme boca agarrou a primeira e a atirou contra a fogueira, fazendo com que pedaços de madeira em chamas e cinzas fossem lançados para todos os lados, a moça se encolheu temendo ser atingida.

Quando finalmente levantou os olhos ela o viu, e mesmo que todos os seus instintos dissessem para correr ela não conseguia fazer nada além de observá-lo.

Um enorme Dragão do Céu havia pousado no chão da praça, e ele era muito maior do que que ela imaginava. Aquela era a maior, mais assustadora e fascinante criatura que já vira. Com as 4 patas sobre chão ele possuía pelo menos 4 metros, imaginou que se ele ficasse de pé teria no mínimo o dobro, já que da cabeça até a ponta da longa calda havia pelo menos 13 metros.

Possuía escamas entre o dourado e o marrom. Patas enormes, com  enormes garras afiadas negras, uma enorme boca cheia de dentes enormes e… bom, tudo era ENORME!

Até os olhos. Olhos alaranjados viraram em sua direção, olhos tão belos e profundos que ela se sentiu presa a eles, como se tivesse fios invisíveis que a impedisse de desviar o olhar. O Dragão a encarou por alguns segundos, até que desviou os olhos para o que estava a sua frente. E por mais estranho que pareça (nem ela própria entendeu), se sentiu decepcionada por isso.

A frente do Dragão um homem se levantava por entre os destroços da fogueira. O Dragão rugiu como um trovão, e o chão estremeceu novamente, só que desse vez, por causa da proximidade, ela teve que tapar os ouvidos para não ficar surda.

Só então entendeu que aquilo era uma ameaça, o Dragão iria atacar o pobre homem. Ela precisava impedir! Sem pensar no que fazia (até porque se pensasse, ela teria certeza que estava completamente louca) ela se levantou e correu em direção a ele.

Aquela era coisa mais insana que já havia feito, diria ela a si mesma depois que tudo acabasse.

O Dragão pareceu se preparar para o ataque, mas com a aproximação dela, por alguma razão, ele parou. Ela continuou correndo até o homem, mas o que a fez parar foi o que ele gritou:

— Maldito! Maldito seja Tsunayoshi di Vongola!

Ela encarou o homem assustada. Seus olhos furiosos brilhavam com a cor índigo. Ele era o outro Dragão? Então Dragões podiam tomar a forma humana? Sempre achou que aquilo era só um mito. Na sua cabeça era inconcebível uma criatura como aquela se transformar em um simples humano.

Como que para responder suas duvidas um brilho alaranjado envolveu o Dragão do Céu. A luz se tornou mais intensa a ofuscando e ela teve que fechar os olhos. Quando finalmente os abriu, no lugar do Dragão havia um homem.

Mas não era um homem comum. Era simplesmente o homem mais lindo que já tinha visto! Era um homem esguio, na faixa dos 20 anos. Cabelos castanhos arrepiados emolduravam um lindo rosto triangular. A única coisa que a fez ter certeza de que era o Dragão do Céu foi os olhos. Os mesmos belos e fascinantes olhos alaranjados se voltaram novamente em sua direção.

— Saia do meu caminho - ele disse, e a moça sentiu um frio percorrer a espinha. Não que ele tenha sido grosseiro (também não foi o que se poderia chamar de gentil), ele foi apenas firme, muito firme. Ele não precisou falar duas vezes, ela prontamente obedeceu, embora não conseguisse desviar os olhos dos dele.

— Nufufufufu - riu o Dragão da Névoa (ela demorou pra entender que esse som era uma risada, por um momento pensou que o cara tava engasgando) - Você sempre teve um fraco para humanos, mestre Tsunayoshi - as palavras vieram carregadas de deboche.

Tsunayoshi o encarou com uma frieza cortante e então sorriu. Um sorriso encantadoramente assustador.

— Daemon, não seja patético. Não tente debochar de alguém quando está tremendo como um cão assustado. - Tsunayoshi inclinou levemente a cabeça, sem alterar 1 mm da expressão - Onde está aquele seu irritante sorriso, Daemon?

Olhando para o Dragão da Névoa ela percebeu que sua expressão estava tensa. Ela sabia que já deveria ter corrido dali, mas estava presa entre o medo e o fascínio que aquele homem lhe causava.

—Você vem comigo, ainda temos assuntos pendentes.

Num piscar de olhos, Tsunayoshi estava ao lado de Daemon, que pareceu tão surpreso quanto ela. Ele agarrou Daemon pelo colarinho e deu um salto que faria um campeão de salto com vara morrer de inveja. Lá no alto ele tomou sua forma alada e voou de volta para a cordilheira carregando Daemon entre as garras.

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Soltou Daemon no chão que rolou até bater em uma rocha. Tsunayoshi pousou e voltou a forma humanoide.

— Agora podemos conversar ex-Conselheiro da Névoa - Daemon tentou fugir novamente, Tsunayoshi o chutou de encontro a rocha e pressionou o pé contra seu peito, impedindo que ele se movesse - Você sempre foi e sempre será um covarde.

— Por favor mestre, não me mate. Me perdoe - disse Daemon, os olhos implorativos, e isso o enojou. Daemon que sempre teve um ar petulante e sorriso cínico, mas no final era apenas um fraco.

— Não acha que é tarde demais para pedir isso?

— Giotto e eu eramos amigos, ele nunca me machucaria…

Ao ouvir aquele nome o rosto de Tsunayoshi se contorceu, e ele teve que se segurar para impedir que as lágrimas viessem aos olhos.

— Como ousa? - disse entre dentes e aumentou a pressão sobre o peito de Daemon, até sentir os ossos se quebrarem sob seu pé e Daemon gritou de dor - Como ousa dizer o nome dele com sua boca imunda?

A tentativa de Daemon de usar a memória do irmão para lhe provocar piedade teve o efeito contrário. Ouvir o nome de seu benevolente irmão saído da boca suja daquele homem fez com um ódio descomunal lhe subisse a cabeça.

Ele ergueu o pé e acertou o rosto de Daemon três vezes, até se obrigar a parar. Se continuasse batendo o Dragão da Névoa iria morrer antes de lhe dizer o precisava saber. Deu um passo para trás para recuperar a compostura. O rosto de Daemon estava completamente machucado e ensaguentado.

— Ele confiou em você e você o traiu.

— Se você já sabe de tudo, então o que quer de mim? - Daemon já havia percebido que não adiantaria implorar, então desistiu de tentar parecer humilde. Ele tentou se levantar, mas os ferimentos o impediram.  

— Por que Daemon? Ele fez de você um dos 6 Conselheiros do nosso reino, te considerava um de seus homens de confiança, mais do que isso, te considerava um amigo. Ele teria dado a vida por você. - o desgosto e a raiva eram perceptíveis na voz do Dragão do Céu - Então por quê?

Daemon cuspiu sangue antes de erguer o olhar para Tsunayoshi cheio de ódio.

—Porque eu me cansei. Me cansei de obedecê-lo. Cansei de ter que aturar um pirralho mimado como você. E principalmente, cansei de viver na sombra do Grande Giotto.

O Dragão do Céu trincou os dentes, tentando conter a raiva que sentia pelo traidor.

—  Nufufufufu - riu ele antes de se engasgar com o próprio sangue, mas logo se recompôs - Justamente por ser um dos homens de confiança que ele nunca desconfiou de mim.  

— Então você o traiu por inveja.

— Ele não merecia ser o líder dos dragões do Oeste! - berrou Daemon. Sem conseguir se conter, Tsunayoshi o socou e ele caiu de cara no chão.

— Onde ele está?! - gritou Tsuna. - Diga-me onde o maldito Byakuran está!

— Eu não sei. - Tsuna chutou Daemon na boca do estômago, fazendo com que ele perdesse o ar. - Eu realmente não sei - respondeu com a voz fraca, enquanto tossia e respirava convulsivamente.

Tsuna ergueu a mão para acertá-lo, só então percebeu que elas estavam tremulas. Cerrou os punhos. Se Daemon não respondia o que ele queria saber, então o torturaria até que ele implorasse pela morte. Daemon deve ter visto isso em seus olhos.

— Estou falando a verdade - Daemon se ergueu sobre os braços, para afastar o rosto do chão, enquanto o sangue escorria por entre seus cabelos e pingava no chão e ele o encarava - Ele está em algum lugar do sul, mas você não precisa se preocupar em encontrá-lo.

Tsunayoshi franziu o cenho e Daemon o encarou com um sorriso.

— Ele virá atrás de você.

— Então por que não veio até agora? Por que esperar seis anos?

— Ele estava se preparando. A luta contra Giotto o deixou gravemente ferido, ele demorou muito tempo para se recuperar. Depois ele ficou decidido a nunca mais perder. Você não é único que ficou mais poderoso nesses anos. Ouvi dizer que ele fez pactos com criaturas sombrias e está muito mais poderoso do que Giotto algum dia já foi.

Daemon esperava que aquelas palavras o assustassem. Que tocasse lá no fundo, lá naquele garoto fraco e medroso, que se escondia atrás do irmão, o garoto que um dia ele foi. Em vez disso Tsunayashi gargalhou. Um som assustador que ecoou por vários quilômetros e o sorriso de Daemon desmoronou.

— Ótimo! Isso torna as coisas bem mais interessantes.

Por um momento Daemon o encarou chocado e depois sentou-se encostado na pedra, o sorriso voltando aos lábios.

— Você realmente mudou muito. Parece que ajudei a construir o líder que o Oeste precisava, um líder forte. Giotto se orgulharia muito de você.

Dessa vez foi o sorriso de Tsuna que desmoronou, e seu rosto voltou a se encher de ódio. Aquele era seu ponto fraco.

—  Nufufufufu. O objetivo de Byakuran é ser o rei de todos os dragões do mundo. Quer saber por que começar com Giotto? Porque todos sabiam que Giotto era o mais poderoso entre os Dragões do Céu, se ele caísse, os outros ficariam com medo e se renderiam.

— Dino jamais se renderia! - disse Tsuna se lembrando do líder dos Dragões do Leste.

— Byakuran nunca considerou o Cavallone um obstáculo. Talvez um pequeno incômodo, mas se conseguisse derrotar o mais poderoso dos Dragões, então Dino não significaria grande coisa.

— O que ele ofereceu a você?

— Além da chance de ter a cabeça de Giotto e do odiavel G? Ele me daria o cargo que Giotto deu a aquele ruivo maldito. Eu seria o comandante de seu exercito e comandaria o Oeste. Mas infelizmente as coisas não ocorreram como planejado, pelo menos não ainda.

Daemon abriu um sorriso largo ao ver o ódio de Tsunayoshi aumentar.

— Você deveria me agradecer. Agora você é um homem forte e destemido. Ao contrario de seu irmão fraco, que evitava matar. Ele não era o que os dragões precisavam....

— Cale essa boca! - Tsunayoshi o ergueu pelo pescoço - Se você quer adiantar sua morte, farei isso.

— Posso até morrer, mas você irá junto comigo. - disse com a voz rouca, enquanto Tsunayoshi o sufocava.

Por um momento ficou confuso, mas então seus instintos lhe avisaram do perigo. Soltou Daemon e pulou para o lado, infelizmente um pouco tarde, sentiu algo lhe perfurando o lado esquerdo do corpo.

Olhou na direção de onde viera o golpe e viu um dos subordinados de Daemon. Se irritou consigo mesmo. Daemon estava lhe distraindo, brincando com sua raiva para que abaixasse a guarda. Giotto sempre dizia: O ódio é uma força poderosa, mas muito perigosa, quase podia ouvir Giotto falando isso a ele; Muitas vezes ele se volta contra você mesmo.

Se sentiu um idiota por cair nesse truque barato. É claro que se seus instintos não lhe tivessem avisado ele teria sido cortado ao meio, mas se não tivesse se deixado levar por seus sentimentos não teria caído naquela armadilha.

Rosnou para o subordinado de Daemon, que sabendo que não poderia derrotá-lo se preparou para fugir. Antes que tivesse a chance, um enorme dragão prateado pulou em cima dele lhe estraçalhando o corpo.

— Gokudera! Eu mandei que fosse embora - um luz avermelhada envolveu o Dragão e logo ele estava na forma humanoide.

Ele fez uma mesura.

— Me perdoe mestre. Eu voltei, pois achei que havia acabado com o traidor. Pensei que pudesse precisar de mim.

Ignorou o que o subordinado disse e se voltou para Daemon que estava caído no chão, o sangue espalhado ao seu redor. Tsunayoshi se aproximou, o sangue escorria de sua ferida, mas ele parecia não se importar.

— Vá para o inferno e espere Byakuran por lá, maldito - vociferou Tsunayoshi, e atravessou seu peito com uma das mãos.

Daemon arregalou os olhos.

— Mal-dito - disse fracamente, antes de finalmente morrer. Os olhos vidrados encaravam algum ponto atrás de Gokudera. Por incrível que pareça, não era a Tsunayoshi e muito menos Gokudera a quem Daemon ofendia, era outra pessoa. Antes de morrer, ele viu um certo ruivo lhe observando.

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— Mais um vez peço desculpas pela minha ousadia, mestre. Eu fiquei preocupado - logo Gokudera se arrependeu do que disse - Eu sei que o senhor é capaz de se virar sozinho, eu não quis dizer....

— Basta Gokudera, eu entendi. - respondeu Tsunayoshi de costas para ele.

— O senhor está bem? Precisamos cuidar desse ferimento - apontou para a ferida, de onde o sangue escorria sem que o homem desse importância a ela.

— Não se preocupe, eu mesmo cuido disso.

Gukudera suspirou. Depois de tudo o que aconteceu Tsuna tinha dificuldade em confiar nos outros, e isso era triste. Tsuna se virou para ele e o encarou, a expressão mais tranquila agora.

— Eu estou bem, Gokudera-kun. - Gokudera se surpreendeu. Fazia muitos anos que Tsuna não o chamava de “Gokudera-kun”. Vendo sua expressão o Dragão do Céu abriu um largo sorriso - Obrigado pelo trabalho duro.

E por um momento, Tsuna era de novo aquele garoto gentil e amistoso que conheceu na infância e ele não pôde deixar de sorrir.

— Disponha, mestre.

Mas isso logo passou. Tsuna voltou a ficar sério e tomando sua forma alada alçou voo em direção a algum lugar desconhecido.

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Gokudera observava o horizonte onde o sol dava seus primeiros sinais de vida e as estrelas iam sumindo, como se fugissem dele.

A névoa já havia desaparecido, e atrás de si uma fogueira com chamas avermelhadas queimava o corpo do traidor e de seu subordinado. Olhou para a parte do céu que ainda estava escura, procurando pela lua que sabia que não estava lá. Aquele dia terrível, seis anos antes  também teve uma noite assim.

— Quando a guardiã fecha os olhos, coisas ruins acontecem - se assustou ao ouvir a voz atrás de si. Virou-se preparando-se para atacar.

De trás das chamas da Tempestade um homem de cabelos ruivos surgiu.

— Mestre G? - perguntou completamente chocado - É você mesmo?

— Não, sou uma alucinação da sua cabeça oca, aluno idiota -  respondeu com irritação, uma veia saltando da testa. Nem a mais criativa das alucinações poderia criar um G tão característico.

— Tá, já vi que é você - passou um longo tempo encarando o homem que lhe ensinou tudo o que ele sabia, e que ele não via há anos. Mesmo que não quisesse admitir, sentia falta de seus ensinamentos. G fora como um pai para ele, já que Gokudera não tinha um.

— Que foi? Está me achando bonito? Para de me olhar com essa cara de bobo.

Gokudera bufou.

— Você passa tanto tempo sumido, de repente aparece e não quer que eu ache isso estranho? Você que é o idiota.

G acabou rindo da petulância do aluno. Se fosse há alguns anos, Gokudera teria levado uns bons tapas.  

— Você fala como se eu tivesse saído para fazer um longa viagem.

Gokudera desviou o olhar novamente para o horizonte.

— Prefiro pensar que foi - um longo silêncio se formou.

— Ótimo trabalho ao encontrar Daemon - disse G quebrando o silêncio. - Pelo menos rastrear alguém você aprendeu direito. Achei que não tinha conseguido enfiar nada nessa sua cabeça de polvo.

Gokudera olhou novamente para o professor e deu de ombros.

— Não foi tão difícil. - era mentira, é claro. Encontrar Daemon deu um trabalho dos diabos.  O maldito era mais escorregadio do que qualquer coisa que já tentou caçar, mas ele não diria isso ao G  - Por que disse aquilo? Sobre os olhos fechados da guardiã. Considera a morte de Daemon uma coisa ruim?

G encara a fogueira onde os corpos terminavam de queimar, havia tristeza em seus olhos.

— É claro que não. Esse maldito deveria ter morrido há muito tempo. Por causa dele, todos os meus amigos estão mortos.

— Então…

— O que eu considero ruim é outra coisa. E é o motivo por eu estar aqui.

— Que seria?

— Eu perdi tudo Gokudera. Eu nunca vou me perdoar por não ter percebido antes. Havia um milhão de coisas que eu poderia ter feito para evitar tantas vidas perdidas, tanto dor causada. É tarde demais para mim, mas não é para você. Você ainda tem a chance de salvar o que resta.

Gokudera ameaçou falar alguma coisa, mas G ergueu a mão o interrompendo e prosseguiu:

— Preciso que faça uma coisa para mim. Quero que salve aquilo que Giotto tanto se esforçou para preservar.

— Tsuna? - G confirmou - Acho que ele não precisa de mim para isso. Ele se tornou mais poderoso e destemido do que qualquer um.

— Não seja estupido, Hayato!  - ralhou ele - Você viu os olhos dele, ele está…

— Assustador - completou a frase. G concordou, jamais imaginou que seu destemido mestre teria medo de qualquer um, muito menos de Tsuna, mas ele não podia discordar.

— Tsuna se tornou forte, mas ele perdeu muita coisa no caminho. - continuou G - Você deve ter percebido que Tsuna está andando em uma corda bamba sobre um precipício, basta um pequeno empurrão para ele cair em direção ao vazio.

Gokudera suspirou irritado, estava ai algo que ele se recusava enxergar, mas que no fundo ele sabia que estava lá. Ele ainda era o Tsuna que se importava mais com os outros do que consigo mesmo, mas o resto era completamente diferente. O único motivo que Tsuna tinha para continuar vivo era a vingança, e esse não poderia ser considerado um bom motivo.

— O que eu posso fazer? Ele não ia querer que eu me metesse na vida dele e eu tenho que obedecer suas ordens.

G bufou, já perdendo a paciência, que era bem curta, por sinal.

— A sua lealdade chega a ser irritante, Hayato. Um subordinado deve obedecer e  apoiar seu chefe em tudo - G colocou a mão sobre o ombro do aluno, a voz mais calma agora - Mas um amigo, deve ajudar mesmo quando a pessoa acha que não precisa de ajuda. Um amigo não serve para passar a mão na cabeça, e sim para ajudar a encontrar o caminho certo.

Abaixou a cabeça para pensar sobre aquilo e respondeu sem encará-lo:

— G, eu não sei…

— Hayato! - chamou uma voz conhecida.

Olhou em direção a voz e viu um homem moreno de olhos castanhos vindo em direção com um sorriso enorme. Quando se virou para o G, ele não estava mais lá. Seis anos se passaram e G ainda tinha a maldita mania de lhe deixar falando sozinho!

— O que foi Takeshi? - perguntou com irritação. O homem piscou confuso com seu mau humor, mas acabou ignorando e continuou sorrindo. Aquele cara não perdia o bom humor com nada, e isso lhe dava nos nervos.

— Você está bem?

— Por que pergunta isso?

— É que você está meio pálido e… - Takeshi se calou e olhou significativamente para a fogueira, entendeu o que ele quis dizer.

— Estou ótimo! Agora me deixe em paz ou quebro esse seu sorrisinho de idiota - ameaçou estreitando os olhos. Takeshi pareceu aliviado e seu sorriso se alargou.

— Que bom que está bem. Vamos embora.

Sabia que Takeshi ainda estava preocupado com ele. Na verdade, até ele estava meio preocupado, embora não pelo mesmo motivo. Em sua mente a conversa com G se repetia várias vezes. O que deveria fazer?


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?
Criticas construtivas são bem vindas.
Beijinhos :*



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