Amor nos Tempos da HYDRA escrita por DrixySB


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Um diálogo mais esclarecedor entre Doctor Fitz e Jemma Simmons



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É possível que ele esteja falando a verdade?

Ela aproveitou aquela proximidade e o fato de não conseguir se expressar através de palavras ou gestos, para perscrutá-lo. Identificar algum vestígio, em seu olhar, de que dizia a verdade. Mas como ela permaneceu paralisada por muito tempo, sem nem mesmo emitir alguma interjeição de surpresa, Fitz se afastou. Ele não conseguiu interpretar o que ela queria dizer com aquela inércia. Esperava algo diferente, alguma reação, qualquer reação.

Fitz pigarreou, um tanto desapontado, movendo-se pelo apartamento, em busca de mais uma bebida. Jemma o sondou atentamente. Seus gestos eram mais seguros e confiantes do que os do Fitz que ela sempre conheceu. Tinha uma postura tão altiva quanto elegante. Parecia inabalável.

— Sabe...? Sua amiga, Skye e aquele homem, Radcliffe, me falaram acerca de... – ele engoliu em seco, querendo rejeitar aquela versão dos fatos, mas ao mesmo tempo não conseguindo evitá-la. Sua força parecia opressiva, esmagadora... Como se tratasse da verdade incontestável – me falaram acerca de outro mundo. Eu esperava que você soubesse algo sobre isso, uma vez que ambos não hesitaram em tocar no seu nome... Pensei, a princípio, que se tratasse de um ardil, que estivessem me subestimando achando que eu iria ser pego em um plano elaborado por eles para me atrair até você. Depois... Passei a ponderar a respeito disso, me perguntando o quanto de verdade poderia haver nessas histórias. Soavam muito bem fundamentadas para se tratarem de simples mentiras. Achei que você era a pessoa mais indicada para sanar minhas dúvidas, mas vejo que parece tão confusa quanto eu.

— Não! – enfim Jemma se pronunciou após tanto tempo calada – quanto a isso eu não estou confusa.

— Então? – perguntou, tomando seu drink e tentando disfarçar sua inquietude.

— Estava só observando... – respondeu um tanto sem jeito, levando uma mecha de cabelo que caía a frente de seu rosto para trás da orelha – assim como você, me perguntando o que é verdade e o que não é.

Ele assentiu com a cabeça, compreendendo aonde ela queria chegar, ao mesmo tempo em que se sentava sobre o braço estofado de uma requintada poltrona.

— Desconfia das minhas intenções? Acha que estou tramando algo?

Com um longo suspiro, Jemma cruzou os braços.

— Deve concordar comigo que, até agora, não me deu motivos para pensar diferente a seu respeito.

— Radcliffe e Skye me falaram que você e eu... – ele fez uma breve pausa – que temos uma história do outro lado.

A bioquímica desviou o rosto, suas batidas cardíacas alterando-se consideravelmente. Ele a fitou com interesse.

— Tem algo que possa me dizer a respeito? Sobre essa réplica...?

— É ao contrário. Este mundo que é uma réplica do real – ela o corrigiu.

Fitz balançou a cabeça, anuindo.

— É plausível. Do contrário, como eu poderia... Sentir que algo está errado neste mundo? Algo de errado comigo... Um simulacro não teria implicações neste mundo e em quem eu sou, não é mesmo? Apenas o original poderia ter efeitos sobre a cópia.

Jemma entreabriu os lábios, o coração em disparada dentro do peito.

— Sabe... – ele levantou-se, caminhando devagar na direção de Jemma que permanecia no mesmo ponto fixo, desde o começo daquela conversa confusa e enigmática – o que me foi dito é que havia uma versão diferente do nosso mundo... Deste mundo – ele corrigiu a si mesmo, parando a uma distância razoável de onde ela se encontrava – um mundo completamente diferente, no qual pessoas com as quais sempre me importei aqui, foram feridas ou vítimas de intenso sofrimento. Um mundo no qual meus inimigos venceram. E que você e outros, como Skye, invadiram este mundo – disse, apontando para o chão – na tentativa de transformá-lo um lugar tão aterrador quanto aquele de onde vieram.

— Não é isso – ela negou, sacudindo a cabeça freneticamente, o olhar baixo – é totalmente o contrário.

— Então, você está dizendo que o meu maior temor no momento trata-se de um fato concreto. O mundo que eu conheço não existe? – perguntou, o tom de voz controlado; calmo e baixo, quase um sussurro – nada disso é real? – apontou ao seu redor.

Jemma não respondeu, apenas o encarou fixamente.

O Doctor, por sua vez, deu uma risada sem humor, levando uma mão à nuca, como se para dissipar a tensão acumulada naquela região.

— É quase como um pesadelo. Alguém dizer que o mundo, como você o conhece, não existe. Que sua vida não passa de uma mentira, mas... Ao mesmo tempo, é um alívio.

Um vinco formou-se na testa de Jemma. Ela o encarou, confusa e atordoada.

— Um alívio somente pelo fato de que isso significa que não estou enlouquecendo – ele pausou por um instante, então prosseguiu – Aquele olhar... Você estava lá, certo? Quando atirei naquela pobre mulher – seus olhos se estreitaram, como se estivesse tentando forçar sua memória a recordar os traços de Jemma – Pela primeira vez na vida, eu questionei minha atitude. Quando apontei a arma na cabeça daquela garotinha – ele referia-se à filha de Mack – pelo fato de ela poder, ou não, se tratar de uma potencial inumana... Eu não queria cometer o mesmo erro que Melinda May cometeu no passado; de deixar um ser perigoso escapar unicamente por ter a aparência de uma inocente criança. Eu estava disposto a apertar o gatilho. Mas simplesmente não consegui. Ainda hoje, pedi para que parassem de torturar o Radcliffe... – ele assumiu um ar reflexivo, de súbito – o fato é que nunca havia acontecido. Eu nunca parei para questionar minhas ações. Mas, de repente, comecei a sentir que algo estava errado. Como essa não fosse a minha vida. Como se esse não fosse eu.

— E não é! – Jemma exclamou após ouvir calada e atônita as palavras que Fitz despejava diante de si. Ela não conseguiu evitar o sorriso, ainda que retraído, que foi se formando em seu rosto – Não é, Fitz. Você é um homem totalmente diferente.

Gradativamente, ele se aproximou dela. O semblante frio e apático do Doctor cedendo espaço àquela expressão curiosa e intensa do Fitz que ela conhecia. Ele chegou bem perto dela novamente. Olhando de maneira penetrante dentro de seus olhos.

— Desde aquele dia... Em que eu a vi após matar aquela mulher... Tudo mudou. Eu comecei a perceber que havia algo de estranho.

— Sim! – ela o incentivou a prosseguir, seu sorriso se ampliando.

— Mas embora aquele olhar tenha desencadeado tudo isso, como se tentasse me despertar e me fazer lembrar de uma vida que eu simplesmente esqueci de viver...

Jemma arqueou as sobrancelhas em expectativa, esperando que ele concluísse a sentença.

— Eu não consigo me lembrar de você. Por quê?

Aos poucos, o sorriso dela foi esmorecendo. A melancolia tomando conta de seu semblante. A bioquímica suspirou pesadamente, encolhendo os ombros.

— Você não... – ela recomeçou a falar, em uma voz frágil – não teve vislumbres deste outro mundo?

— Não – ele negou com a cabeça – não são vislumbres. É apenas... Uma ideia fixa e persistente de que não pertenço a esse lugar. De que tudo o que estou fazendo é errado... Como se eu fosse outra pessoa, julgando os atos que cometi aqui desde os primórdios. Como se eu estivesse cego durante todo esse tempo... É uma sensação que não sei explicar. Mas pensei que pudesse me ajudar... Visto que foi ao ouvir sua voz e ao olhar para você naquele dia que tudo mudou. E, depois, era recorrente que me dissessem que você fazia parte da minha vida. Que você... Me ama?

Ela engoliu em seco, sentindo algo se agitar dentro de si. Uma sensação que ela não conseguia definir se era boa ou ruim.

— Nós nunca nos cruzamos por aqui? – ela perguntou, cerrando os olhos.

— Não! – ele foi firme em sua resposta.

— Você nunca ouviu falar de mim? Digo, antes de todo esse incidente... Que me caracterizou como subversiva?

— Não...

— Na Academia... Não estudamos juntos? – tentou, já desesperançosa, não conseguindo aceitar a existência de um mundo em que um não fizesse parte da vida do outro.

Fitz negou com a cabeça.

— A única pessoa com quem iniciei um relacionamento na Academia... É hoje a minha noiva – tornou ele com simplicidade.

Noiva. O peso esmagador daquela palavra atingiu em cheio seu coração.

— Noiva? Madame Hydra? – ela inquiriu, a respiração descompassada devido ao choque gerado por aquela informação – como a conheceu?

— Como eu disse. Na Academia – respondeu – aos dezesseis anos. Ela é que veio até mim. Tornamo-nos inseparáveis. Parceiros de laboratório a princípio. Um casal, alguns anos mais tarde... Mas por que exatamente isso é importante?

— Ela me substituiu em sua vida. Apagou meus traços – Jemma falou, soando magoada. Era algo que ela não poderia alterar – É compreensível, embora não aceitável – seu tom soou rude, rancoroso de repente – foi o que Aida fez. Era o que planejava desde o início – sua voz caiu para um sussurro. Agora, ela falava mais consigo mesma do que com Fitz.

— Aida? Ophelia, você quer dizer – corrigiu Fitz.

Jemma cruzou os braços, puxando fôlego por entre os dentes.

— Foi ela quem armou tudo isso – disse, cerrando os olhos.

Fitz a encarou, confuso.

— Espera... Quer dizer que ela é a responsável por esta realidade na qual nos encontramos agora? Como uma só pessoa poderia ter tanto poder? Isso não é possível.

— É uma longa história – respondeu Jemma, sem olhar para ele – envolvendo livros mágicos e inteligência artificial...

— Se a sua intenção era explicar tudo o que não estou entendendo... Sinto dizer que falhou em seu propósito.

— Fitz – ela pediu, levando uma mão à cabeça, sentindo-se desamparada – Tudo que precisamos é sair daqui. Só assim terá todas as respostas.

— Você quer dizer abandonar este mundo?

A bioquímica viu algo que não queria na expressão que agora ele ostentava. Não apenas hesitação, como relutância. Ele não quer renunciar a essa falsa realidade? Foi o questionamento que passou a atormentá-la.

— Você quer ficar? – perguntou, sua voz se partindo na última sílaba.

— Não me leve a mal. Eu disse que passei a me questionar, mas ainda não estou inteiramente convencido. É tudo real demais para se tratar de meros códigos...

— Como você poderia saber? – ela tentou – Fitz... O que de fato sentiu naquele dia? Em que me viu? Depois de... – ela engoliu em seco, ainda doía relembrar e pronunciar aquelas palavras – de matar aquela pobre mulher?

Ele encolheu os ombros, retorcendo os lábios.

— É difícil de explicar... – ele largou o copo com whisky em cima de um aparador próximo –  O efeito foi despertar a minha consciência, mas o que senti na hora foi... Como se eu já tivesse ouvido sua voz de algum lugar. Como se já tivesse visto seu olhar... Foi como um...

— Déjà vu?

— Isso!

— Por acaso, você já ouviu falar na teoria de... Richard Terrile?

— De que vivemos em uma simulação controlada por um agente do futuro? Uma espécie de programador...

— Capaz de criar a realidade ao nosso redor e definir o curso da humanidade.

— Uma espécie de Deux ex Machina.

— Exatamente – Jemma não queria admitir para si mesma, de modo a não elevar suas esperanças e não ser tombada por elas depois. Mas falar a respeito da teoria da Matrix real com Fitz era quase como ser arremessada de volta ao seu mundo legítimo. Era como estar em casa novamente.

— Por causa dela, Terrile foi perseguido e posteriormente internado como louco.

Jemma ficou boquiaberta.

— No seu mundo, não?

— Não! – ela negou com veemência – ele é o Diretor do Centro de Computação e Design de Automação do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA – completou, dando ênfase a cada palavra.

Fitz assobiou, admirado.

— Um cargo de alta importância.

— Faz sentido – cruzou os braços, indignada – não me admira que Madame Hydra queira acabar com todas as suspeitas de que este é um simulacro.

— Espere aí, quer dizer que Ophelia está por trás disso também? Alterar a realidade de quem nem mesmo faz parte da nossa vida – ele inquiriu em um tom enérgico.

— Seja lá como você a chama... – tornou Jemma, incomodada com o fato de que ele falava sobre ela com tanta pessoalidade –  Fitz, quer você acredite ou não, foi ela quem arquitetou este mundo. E a teoria da Matrix real explana muito bem o que está acontecendo aqui.

Jemma verificou as horas em seu relógio de pulso, dando um suspiro fatigado.

— Preciso ir – disse, fracamente – preciso falar com... Com meus amigos. Eu já estou fora há muito tempo. Eles vão começar a investigar...

— Skye? – perguntou Fitz.

Simmons engoliu em seco. Falar sobre Daisy na frente do Doctor, após ela ser responsável pela invalidez da Madame Hydra era um tópico altamente perigoso.

— É com ela que você vai falar, não é?

Ela apertou os olhos em resposta.

— Fitz... Há uma explicação razoável para o que ela fez...

— Ela e May estão foragidas. Sendo caçadas pela Hydra pelo que fizeram – tornou, inexpressivo.

— Sim, mas...

— Ambas devem me odiar agora – disse, desviando o rosto e surpreendendo Jemma – eu subordinei May durante todos esses anos. Ela foi meu melhor soldado, cumprindo todas as tarefas delegadas a ela, inclusive as mais cruéis... Porque a fiz acreditar que era culpada pelo que houve em Bahrein e por suas consequências. E torturei Skye... – comentou com o olhar perdido, afastando-se um pouco.

Jemma percebeu que ele falava consigo mesmo, não mais com ela. Tentou dizer algo que atenuasse a situação, mas como fazê-lo se sentir melhor ou menos culpado quando a culpa era realmente dele?

— Fitz... Eu preciso falar com Daisy... Skye. A respeito de tudo isso... Ela, de repente, pode me dar uma luz...

— Você pode ir – ele tornou com simplicidade – não é minha prisioneira.

Ela assentiu, baixando o olhar.

— Você vai voltar?

Surpresa pela pergunta, Jemma o fitou novamente, encontrando um novo fulgor em seus olhos azuis. Ele a encarava com expectativa. Em resposta, a bioquímica deu um meio sorriso e assentiu.


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Notas finais do capítulo

Daisy/Skye no próximo.



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