A Lenda dos Dragões escrita por Hakiny


Capítulo 18
Os Rumores no Oriente




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O dia havia acabado de nascer, e era incomum que pessoas visitassem o templo nesse horário, mas naquele dia, uma jovem princesa orava para a estátua do grande dragão branco.

Ela era impecavelmente linda. Possuía longos cabelos negros que mantinha presos em um coque, com apenas algumas mechas escorridas próximo as suas orelhas.

Era estritamente proibido que monges tivessem qualquer ligação, sentimental ou sexual com alguém. Mas o segundo monge daquele templo, era completamente apaixonado por aquela mulher, que já frequentava o templo há alguns anos.

— Veio orar ao dragão branco hoje? Não precisa mais da força do dragão ciano? — O jovem se aproximou da garota.

— Agora que perdi a batalha, preciso de um pouco de paz. — A mulher respondia de forma educada enquanto se levantava.

— O que houve, Azumi?

— Ah, Kishan! Meu pai me prometeu em casamento ao príncipe do país dos tigres!

A garota abraçou o jovem monge, sem conter as lágrimas. Kishan a abrigou em seus braços, compartilhando a dor de sua amada.

— Vamos dar um jeito nisso… — O garoto acariciava os cabelos da princesa.

Perdido em suas memórias, Kishan admirava o enorme quadro de Azumi que enfeitava o seu quarto.

— Sinto tanto a sua falta, meu amor… — O rei acariciava a tela.

Do lado de fora do castelo, Ana contemplava a paisagem que rodeava o reino. Sua pele branca, há muito não sentia o calor do sol e apesar de incômodo, aquela sensação era agradável. Os rumores da saída de Karin se espalharam pelo reino, muitas pessoas especularam teorias, uma delas era a de que a princesa havia fugido com um dos soldados para viver uma aventura amorosa. O rei não gostava dessa versão, tinha muito apreço por Chow e sabia que ele jamais faria algo assim. Se por acaso tivesse intenções com a sua filha, seria respeitável e pediria sua mão oficialmente.

Por outro lado, Kishan não havia mandado nenhuma equipe de busca ao continente, e se recusava a falar com qualquer pessoa sobre o assunto, essa atitude deixava Ana intrigada. Apesar de estar chateada com seus dois amigos fujões, a sacerdotisa guardou o segredo dos dois com veemência.

Já fazia uma semana que eles estavam fora e Ana sentia um pouco de preocupação, apesar da força de Chow, não se sabe quais perigos aguardavam os dois no desconhecido. Sem falar que eles haviam saído em busca de dragões e provavelmente isso seria perigoso. Se ela ouvisse isso há alguns dias atrás, estaria dando risada, mas depois de tudo que aconteceu no dia da invasão, ela entendeu que dragões não estavam “instintos” naquele mundo.

Ana esfregava o braço enquanto as memórias do dragão negro viam a sua mente.

Espero que ele nunca mais volte.

Não muito longe dali, escondido entre as árvores que compunham a floresta que cercava a cidade do dragão, Zeng meditava em seu templo.

— Chang, se manifestou! — O velho se levantou com brutalidade — É hora de fazer alguma coisa.

O velho caminhou para a porta do templo e começou sua caminhada pela floresta. Não andou muito até chegar em um pequeno estabelecimento. Uma lanterna de papel enfeitava a entrada e uma cortina vermelha servia como porta.

Zeng caminhou até o balcão e se sentou ao lado de um homem de cabelos loiros que cobriam suas orelhas.

— Mais uma! — O homem acenou para o atendente.

— Há quanto tempo esse ninho de ratos em sua cabeça, não vê uma navalha? — Zeng resmungou.

— Hem? — O homem quase bêbado se preparava para brigar quando reconheceu o autor da fala — Mestre Zeng! — O homem se curvou.

— Olá Zon! — O velho sorriu para seu discípulo.

— O seu cabelo também está comprido… — O bêbado questionou.

— Não seja atrevido! — Zeng bateu na cabeça do homem — E além do mais, não se pode comparar o meu cabelo disciplinado com essa erva daninha que você cultiva.

— Ai… — Zon esfregava o local da batida — A que devo essa visita tão “agradável”?

— Preciso de bons guerreiros! As força do inferno estão se manifestando no oriente e a besta de três cabeças se moveu no ocidente! — Zeng dizia em voz baixa.

— Está falando do Chang?

— Shhhh! — O velho repreendia o rapaz — Sabe que é proibido falar dos dragões por aqui! As pessoas acham que eles estão mortos e melhor que fique assim…

O homem apenas acenou positivamente com a cabeça.

— Você sabe onde posso encontrar a Ling e o Thai? — Zeng se levantava da cadeira.

— Eles moram em uma pequena fazenda ao norte do templo da montanha. — Zon respondia com desgosto.

— Juntos? — O monge arqueou uma das sobrancelhas.

— Se casaram em março! — Zon virou o copo de bebida.

— Se você não fosse um bêbado sem vergonha, talvez tivesse alguma chance! — Zeng zombava.

— Ou se eu tivesse uns 100 quilos a mais! — O homem estava completamente depressivo.

— Já diziam os sábios: Denegrir a aparência do seu rival não faz dele menos vitorioso. — Zeng dizia de forma poética.

— Você acabou de inventar isso. — Zon revirava os olhos.

— Você não pode provar essa acusação. Um monge sempre tem razão! — O velho dizia com confiança.

— Diz isso para os seus dois amigos malucos! — Zon também se levantou.

— Chang e Kishan se desviaram dos seus caminhos há muitos anos! — O monge dizia com peso na voz. — Se eles fossem monges de verdade não teriam cometidos tantos erros! O que apenas reforça a minha teoria.

Muito distante dali, em um teatro em chamas, onde a luz do sol ainda não havia chegado, Tereza posicionava sua espada a frente do seu corpo.

— O seu fogo não me atinge, Tereza! — Chang rodeava a mulher como um predador.

Ele estava blefando, apesar de imunidade ao fogo não permitir que ele tome muito dano, o fogo de um dragão não é comum, e apenas um dragão de fogo é completamente imune a sua própria chama.

O medo havia tomado por completo o corpo de Tereza, ela se cercava de fogo para se sentir protegida, mas sabia que mais cedo ou mais tarde ele a alcançaria.

— Eu sinto muito, Sophia… — A mulher sussurrava. — Eu estava tão carente e fui tão egoísta que não pensei em você.

A memórias de Tereza a levaram há 10 anos atrás, ao dia em que ela conheceu Caleb.

Depois de anos solitária, de diversas tentativas e ao fracasso diário, ela se deixou aos cuidados de um homem.

Um homem bom, que a abrigou em um dia de chuva e foi um ouvinte fiel de todos os seus traumas. Para quem ela se entregou em um amor tão ardente quanto o fogo que queimava dentro de si.

Quando ela ficou grávida de Sophia, permaneceu morando com Caleb até o dia em que a criança parou de mamar.

— Eu não sou uma mãe, sua uma guerreira!

— Eu entendo.

Tereza ainda se lembrava da conversa que antecedeu a sua partida, e se lembrava também da dor em seu peito por deixar a sua felicidade para trás.

Eu estava agindo bem…

Mas ela observava o crescimento de Sophia todos os dias, na espreita sem que Caleb a visse, pelo menos era o que ela pensava.

— Você não precisa lutar sozinha… podemos ser a extensão da sua força!

Naquele dia ele segurou suas mãos tão firmes, que ela foi incapaz de dizer não.

E viveu com eles os dias mais felizes de sua vida, até hoje.

— Esse é o meu legado!

A voz de Tereza preencheu todo o salão.

— NÃO! — Chang se desesperava na tentativa de alcançar a mulher, mas já era tarde. A espada que a guerreira carregava, já estava cravada em seu próprio peito.

— Você não terá o fogo de meus ancestrais… — Tereza sussurrava enquanto se desfazia nos braços de Chang.

— Eu acharei a sua filha e ela sofrerá o destino do qual você escolheu fugir! — A voz do homem carregava ódio.

— Não… — Tereza balançava a cabeça de um lado para o outro — Ela encontrará os dragões e a minha morte será o ponto de partida para a profecia celestial. — A mulher respirou fundo e continuou — Mas se por acaso ela falhar, tomará a atitude necessária para preservar o legado de Hao! Um clã, nunca é um indivíduo apenas...

Tereza deu um último suspiro antes de se entregar nos braços da morte.

— Descanse em paz, descendente de Hao. — Chang fechou os olhos de Tereza e curvou a cabeça em sinal respeito, enquanto o teatro desabava em suas costas.


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Notas finais do capítulo

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