Mais uma vez escrita por Suguro Ryuji


Capítulo 2
Ajuda inesperada


Notas iniciais do capítulo

hallo again, people... Demorou, porém, todavia, entretanto, aqui está mais um capítulo da história. :3 espero que gostem, sejam felizes lendo XD ^--^



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A tribuna era uma casa imensa, cheia de magníficas vigas que iam do chão ao teto abobadado. Cada detalhe da arquitetura da casa era incrível, as tapeçarias e pinturas eram simplesmente estonteantes com uma realidade transcendental. Estava estupefato com as luzes que entravam pelas delicadas janelas, cheia de belas flores em seu entorno, iluminando tudo com um brilho suave. Um candelabro estava pendurado no alto da casa, tomado por velas apagadas, porém que já tinham sido acendidas em algum momento, pois a cera estava escorrendo tampando, em algumas partes, a cor dourada daquele. Havia uma ampla mesa onde os deuses acomodavam-se em cadeiras ao seu redor. Estava tão maravilhado com a beleza do lugar que quase esqueci o porquê de estar ali e quando vi todos os olhares de reprovação avançando em mim, olhares de cólera e sangue, voltei a mim, tendo calafrios da cabeça aos pés, sem saber o que fazer, pensar ou falar. Só sentia vontade de simplesmente desaparecer. De que um buraco me engolisse e me levasse para um lugar onde ninguém nunca mais conseguisse me olhar daquelas forma, de que alguém aparecesse para me salvar. Mas, nunca tive amigos de verdade, então as chances de alguém me salvar eram nulas. Tinha cometido um terrível erro ao pegar aquele livro. Pensava que eles nem perceberiam que o livro sumiu. Os deuses gastam aproximadamente todo seu tempo direcionando energias para os mundos, os espíritos que chegam quase sempre são analfabetos ou querem mais do que tudo voltar logo para a Terra ou conhecer outros planetas, não durando muito mais do que alguns dias no cosmos. Tive muita sorte por minha mãe ter me ensinado a ler na minha infância, lembrar dela me passa um pouco de conforto mas também uma sensação repentina de saudades me assola. Senti-me um pouco mal por nunca ter perguntado dela ou nem ao menos ter perguntado sobre ela, focando-me apenas em livros e mais livros. Porém esse sentimento vai tão rápido quanto chega, substituído por medo que me tomou por completo no momento em que avistei Artemis, que me fitava com seus olhos de caçadora, aquele olhar mortal que te machucava apenas pousando em você.

Alguns poucos cochichos maldosos sobre mim, era tudo o que se ouvia no  grande salão. Sentia-me nauseado,  não havia comido ou bebido algo durante os últimos 30 dias, mas alguma coisa queria sair. Aquela atmosfera nada convidativa e cheia de ódio, pesada. Alguns deuses pareciam estar incomodados com aquela energia também senti-me um pouco melhor por saber que nem todos tinham repulsa por meu espírito. Hécate era uma dessas, por isso, ao longo dos anos, nos tornamos amigos, mesmo com as intervenções de Zeus.

Depois de todos os assentos terem sido ocupados, o silêncio foi estabelecido e deus Pã iniciou dizendo todos os conhecimentos que haviam sido perdidas do livro, todas as páginas que haviam sido recuperadas e sobre o que minhas anotações diziam.

—Esse espírito perdeu nosso grandioso livro, Constelações e Ciências do Cosmos. Nele estavam as informações astronômicas sobre todas as constelações de todos os universos, conhecimentos de química, física, matemática, biologia das espécies principais de cada planeta, entre outras ciências que levaram milênios para serem colhidas e armazenadas de forma correta e objetiva. Conseguimos recuperar pouquíssimas páginas sobre constelações e espécies de Thualius. E sobre as anotações que fez, para conseguir lembrar-se de nossa existência e de seus conhecimentos aqui aprendidos, não tenho nada a dizer. - disse o deus pronunciando cada palavra pausadamente e com voz clara.

—Isso é tudo Pã? - perguntou Artemis, sua voz áspera como uma lixa. - Não aguento mais saber que esse rato está no mesmo lugar que nós. Roubou de nós e perdeu milênios de conhecimento. Ele merece exílio e… - dizia esbravejando para os outros quando Vixnu a corta, deixando-a perplexa.

—Artemis, isso não foi o combinado! Vamos seguir o que todos decidimos sem alterações súbitas. - disse sustentando o olhar de raiva de Artemis até que a mesma solta um suspiro de desaprovação jogando-se estrondosamente em sua cadeira.

—Esse ladrão pagará por seus atos de forma adequada. Sua sentença é vida imortal por tempo indefinido na Terra, retirando espíritos daqueles que ama ou que morrem por perto, não podendo pronunciar nossa existência e esquecer todos os conhecimentos que adquiriu aqui. - termina Pã.

—Agora, vamos para a parte onde sua experiência nos ajudando na colheita começa. - sorriu Zeus, que já estava pondo-se de pé.

Todos o seguiram, se levantando e saindo da tribuna. Quando fiquei sozinhos com os guardas, os mesmos me levaram para a Praça reencarnatória. Fui jogado no meio da praça e enviado à Terra, sem nem ao menos pronunciar uma palavra. Foi algo bem rápido, quando dei-me por mim, já era mais uma vez, uma criança. Uma criança que consegui falar com deuses.

Minha primeira lembrança terrena, são os risos dos deuses ecoando por minha cabeça, excitados para que eu ficasse aflito com meu castigo. Minha segunda vida na Terra até que não tão foi ruim, cheguei a pensar que meu castigo tinha sido bobo nos primeiros anos, no entanto, quando tive que tirar a primeira alma, ouvindo as vozes dos deuses reverberando o que fazer, foi então que entendi o quão ruim meus dias seriam. Conviver com a dor das pessoas, ver todas aquelas cenas terríveis de mortes e mais mortes. Sentia-me mal, principalmente por reconhecer a vontade, quase palpável, dessas de continuarem vivendo, de verem o rosto de seus parentes e pessoas amadas. Aquele sentimento tão excruciante de medo e incredulidade. Foi só então, depois de séculos, que percebi como a vida é importante e como deveria ter aproveitado melhor a minha última. Decidi, nesse momento, virar o jogo sendo o mais feliz possível no tempo que era permitido, conseguindo deixar o sofrimento de lado em alguns momentos também irritando os deuses, entretanto os mesmos nada fizeram visto que eu sofria ainda. Depois disso parei de ouvir os risos com a mesma intensidade até que se degradaram a nada.




2015



Chegou o grande dia, Vinicius. Depois de esperar três meses estava mais do que na hora de você convencer seu pai, sem usar suas habilidades mentais, a te deixar fazer o curso de desenho. Comprei todos os materiais com minha mãe semana passada e não foi nada barato, mas agora você vai mostrar pra eles como valerá a pena o investimento. Estou muito animado para começar e espero que o professor não seja chato ou algo do gênero.

Acordo mais cedo que o despertador, acho que é por culpa da ansiedade que sentia. Aquela manhã estava deslumbrante, o céu azul sem nuvens, apenas o suave brilho do nascer do Sol. Tomo um banho rápido, vou para a cozinha onde encontro minha mãe tomando café com leite e comendo alguns pedaços de pão. Essa está com uma cara horrível de sono.

—Você não dormiu, né? - pergunto usando o mesmo tom que ela usa comigo quando eu deixo de dormir.

—Não enche, Vinicius. - diz sonolenta. Eu solto com risinho com a reclamação. Ela boceja soltando um grande suspiro no final.

—Você não pode ficar sem dormir porque senão fica de mau humor. - digo com calma para não levar uma pancada.

—Eu sei, mas a série tava muito boa. - e dá uma risadinha, aliviando a tensão do ambiente.

Pego o cereal e começo a pôr no pote quando ouço o som de tilintar do sino da bicicleta de Júlia. Olho para o relógio percebendo que havia gasto mais tempo maravilhando o céu do que pretendia. Jogo o cereal em um pote com tampa e o leite gelado em uma garrafa térmica. Enfio tudo em minha bolsa, dou um breve beijo em minha mãe e saio de casa aos pulos. Conheci Júlia nesse meu primeiro ano do ensino médio dessa vida, ela foi a primeira com quem tive coragem de falar, crianças de ensino médio são muito más às vezes, mas o brilho de Júlia era diferente. Não sei como explicar, apenas sei que sinto isso. Deve ser alguma intuição desenvolvida com os séculos. Minha amiga era muito boa em agradar os outros, sempre sabia o que falar, como se fosse um dom e adorava conversar. Quase todos os dias nós passávamos conversando e conversando, parando apenas para ouvir as explicações dos professores. Ela era uma pessoa muito especial pra mim.

—Você demorou pra aparecer hoje, Vini. O que fez você demorar tanto? - perguntou curiosa, cerrando os olhos.

—Nada de mais, só perdi tempo de mais olhando o sol nascendo. Desculpe. - digo coçando a cabeça e subindo no banquinho de carona da bicicleta. - Ainda não sei como te agradecer por me levar pra escola, Jú. Você é uma pessoa muito boa. - dou um risinho.

—Não seja por isso, passo na frente de sua casa todos os dias e é legal ir conversando com alguém. Mas se realmente quiser me dar algo em troca, aceito alguns desenhos. - falou começando a pedalar, rindo.

—Tudo bem, vou dar o meu melhor nesse curso. - falo caindo no mundo dos sonhos, meus olhos brilhando.

—O curso começa hoje, né? Sexta-feira. Agora a gente não vai mais poder sair de sexta. - exprimi queixosa.

—Bom, a gente tem o resto da semana inteira.

—Sim, vamos começar a sair todos os dias a partir de hoje. - afirma voltando a ficar alegre.

Assim que chegamos na escola, Gustavo veio com uma cara nada boa na direção de Júlia. Não sabia direito o que tinha acontecido entre os dois no passado, apenas sabia que não era nada bom. Ela nunca tocou no assunto do que havia acontecido entre os dois, e nunca perguntei receando estar invadindo o espaço da mesma. Os dois viviam a todo momento brigando no começo do ano e sempre que ficavam um perto do outro, uma discussão mais agressiva acontecia. Agora as coisas mudaram um pouco, os dois quase não se veem mais, pois ele mudou de sala, entretanto os encontros ainda são imprescindíveis na escola.

—O que você quer, Gustavo? - perguntou Júlia fechando a face, cruzando os braços e observando-o dos pés à cabeça.

—Então é com esse magricela que você está agora? Patético. - escarnia cuspindo no chão.

—Se for só isso já pode ir embora. - disse dando um passo à frente. De repente a atmosfera fica pesada, como se um peso enorme estivesse escalando meus ombros, fazendo-me pensar em me estirar no chão desejando que aquela horrível sensação desaparecesse.

Um ódio recíproco se espalhava pelo ar, expulsando qualquer oxigênio que meus pulmões pudessem absorver. Aquele momento durou apenas alguns segundos, porém sentia como se estivesse os observando há séculos. Tanta ira, tanta fúria, tanta indignação, aquele relacionamento com certeza tem fundos de outras vidas, já vi esse olhar em algumas pessoas no passado. Essa cólera não é algo que se forma do dia para a noite.

—Tudo bem, deixarei você com seu querido magricela, Júlia. Só não sabia que você gostava de chupar osso. - debocha sozinho virando-se e andando em direção à escola.

Júlia parecia um pouco abalada, como sempre ficava, depois dos encontros com Gustavo. Sua raiva, quase palpável, seu rosto vermelho e seus punhos cerrados. Deu uma longa inspirada no ar frio da manhã, aliviando a tensão dos punhos, expulsando os pensamentos ruins de perto e, finalmente, expirando.

—Não liga pra o que aquele babaca diz, você é um ótimo amigo e não quero que você se afaste de mim. Ainda mais por causa dele. - fala com uma voz doce, porém sei que ela ainda está nervosa.

—O cara é um babaca, isso é algo indiscutível. - afirmo quebrando a pesada atmosfera que pairava por entre nós e caímos na risada. - E você também é uma ótima amiga, Jú. Agora vamos pra aula antes que fechem a porta.

—Você é realmente um ótimo amigo, Vini.

—Você também é, Jú. - dou um largo sorriso e pouso uma de minhas mãos em seu ombro. - Mas o que aconteceu entre vocês dois? - indago deixando a curiosidade que me consumia falar, esquecendo de ser discreto enquanto subimos as escadas.

—Longa história. - diz distante e vaga.

—Tudo bem se não quiser me contar, mas fico preocupado às vezes e não sei o que fazer. - explico.

—Tudo bem, eu te falo, eu já ia te falar mesmo. - entramos na sala e sentamos em nossos lugares. A sala já está meio cheia. - Nós nos conhecemos desde o quarto ano do fundamental, deveríamos ser grandes amigos, porém começamos a namorar no oitavo ano, pior coisa que eu já fiz na vida. Acho que você percebeu que a gente já teve um relacionamento, né. Isso é meio óbvio. No nono ano o peguei me traindo com uma garota de outra escola que eu nem conhecia e fiquei uma fera, quase bati na garota, mas ela também não sabia e parou de ficar com ele também. Então fui até a casa dele e joguei vários cocôs das minhas cachorras nas paredes na porta, janelas. - diz com um sorriso brotado em seu rosto lembrando-se da cena. - A mãe dele o fez limpar, não acreditando que eu fiz aquilo. Depois que o fiz me senti uma pessoa nova, toda a raiva tinha sumido. Mas sempre que vejo a face do animal, sinto uma pontada no estômago. Por isso ele me odeia e por isso eu o odeio. - o professor já estava na sala, escrevendo na lousa, eu assenti. - Ele é um escroto. - bufa jogando as costas na cadeira.

—Concordo com você. Mas você nunca pensou em perdoá-lo? Se livrar dessa raiva que você sente. Não é saudável pra você nem pra ele. O que ele fez foi realmente ruim. O que você fez também. Essas coisas não se anulam, claro. Mas imagina como seria melhor se você simplesmente esquecesse o que ele fez, o perdoasse e seguisse em frente. - exprimo calmo e gentilmente, ela me olha perplexa.

—Olha pra minha cara de pessoa que gosta de perdoar ex que me trai. - diz séria, fitando-me fixamente nos olhos, procurando algo que dissesse que estava apenas brincando com ela.

—Você nunca considerou a alternativa? - insisto.

—Não, nunca tinha pensado nisso, do jeito que você fala realmente parece melhor mas parece difícil. - confessa confusa.

—Sim, a parte de perdoar é sempre a mais difícil. Mas uma hora, você percebe que aquilo foi preenchido por momentos felizes e que não precisa desse sentimento dentro de você. - explico abraçando-a. - Sério, Jú. Vai ser melhor, confia em mim?

—Okay então, mas vou aceitar só porque é um conselho vindo de você. E obrigado, Vini. - ilumina o rosto com um sorriso. - Então hoje você vai sozinho pro seu curso, vou ter que resolver uns assuntos pendentes. - diz com um certo desgosto, mas ainda assim é um começo.

—Tudo bem. - falo sorrindo de volta. -Toma cuidado, viu. Vai que ele quer te bater.

—Ele não é louco de encostar um dedo em mim. Pode ficar tranquilo. - Diz confiante.

—Agora estou com medo de que você bata nele. - reprimo um risinho e levo um soquinho de leve no braço.

—Besta, vou bater em você. - e gargalhamos. O professor começa a falar cortando nossa conversa.



2307



Cabeça enevoada em devaneios, imagens indo e vindo. A pergunta que me assolou nesses últimos 10 anos e ainda perturba é: onde você foi parar agora? Me pergunto toda a noite torcendo para conseguir alguma pista dos deuses, mas como sempre, o que ouço são apenas risos idiotas de escárnio. Tomei o hábito de meditar nas últimas vidas, tinha tempo de sobra mesmo. Ganhei alguma experiência com essa prática, achando-a interessante. Se eu me concentrasse o suficiente conseguia ir aonde quiser com meu espírito. Uso essa técnica toda tarde para buscá-lo pela imensidão do mundo. Já fui ao Japão, à Alemanha, Índia, China, França, procurei até aqui pelos arredores de onde moro, mas não acho que os deuses seriam tão bonzinhos, fazendo ser fácil assim pra mim te deixando reencarnar no Brasil. Não importa quanto tempo demore, vou te encontrar.

Sento-me em lótus e me concentro em minha respiração, deixando todas as emoções negativas de lado e me focando na energia de Rafa.

“Você sabe que não vai conseguir encontrá-lo assim. Então porque continua tentando?” - pergunta Zeus.

“Eu não posso ficar sem fazer nada, tenho que pelo menos tentar enquanto não posso sair andando por aí com minha próprias pernas, a final, tenho só 15 anos ainda e nem terminei a escola nessa vida.” - explico ainda tentando sentir calma, assimilando as emoções e esquecendo o estresse.

“Tome cuidado. Nunca sabemos o que vamos encontrar.” - anuncia com calma.

“Desde quando você se preocupa comigo?” - questiono hesitante.

“Me preocupo com todas as almas filho, com você não é diferente.” - diz  sério. E por um momento posso jurar que sentiu pena de minha situação, porém não passou de um segundo.

Não ouvindo mais nada vindo lá de cima, continuei a concentrar-me. Vejo luzes de diversas cores, percebo a presença de espíritos próximos sentindo-me cada vez mais leve e imperturbável, até o momento em que noto meu espírito separando-se de meu corpo com um movimento lento e contínuo. Passo, finalmente, para o plano astral sentindo a enxurrada de energias distintas dispostas naquele plano. Uma coisa muito interessante na Terra é que além do mundo material, existe um mundo inteiro imaterial, totalmente invisível ao olho humano. Não sei se em outros mundos também acha-se uma parte física do mundo e uma parte espiritual, mas é algo que acho bem intrigante. Os espíritos têm empregos como os humanos, cada um com seu papel no mundo sobrenatural, uns tem poder de cura, outros ajudam no crescimento de flores, árvores, florestas, alguns compartilham energias boas com os outros e claro, tem aqueles que só querem importunar a vida alheia, fazendo com que pessoas se não se sintam bem, causando mortes, mal estar, dores, etc. Nesse mundo meu espírito não tenho muita influência, mas posso ajudar pessoas se quiser, passando energias positivas e limpando energias negativas.

“Para onde vamos hoje, Luís?” - penso, já flutuando para longe, vendo o mundo incorpóreo funcionando. - “Hoje vou para a Argentina, vamos ver se sinto algo por lá.”

Flutuando para cima, cada vez mais alto vejo nuvens, pássaros, aviões e por fim, o início do contorno costeiro do país. Finalmente, num ponto quase tão alto quanto a estratosfera, vejo onde a Argentina se localiza e em que direção seguir. Aproximo-me vagarosamente, esperançoso. Querendo mais do que tudo sentir a energia de Rafa. Porém, repentinamente, manifesta-se uma emoção negativa muito forte, causando aflição ao meu corpo psíquico. Olho em frente, para cima, paras os lados não avistando nada além de céu aberto. Não entendendo o que havia acontecido e ainda sentindo dor, torno à vagarosa descida, enxergando cada vez mais detalhes do país vendo pessoas andando, luzes de estabelecimentos, sinto cheiros de comidas, assim, chegando ao solo sem mais interrupções.

“Agora é só procurar, Luís. Vamos lá.” - encorajo-me, andando pelo lugar onde estava.

Caminhei em direção a uma praça, sentando-me ao pé de uma árvore, em sua raiz exposta. Observo o movimento de pessoas e energias ali presentes. Algumas acompanhadas, outras sozinhas, algumas bem outras mal. Uma menininha exibia seu deslumbrante vestido com um picolé que deveria ser de limão em mãos, correndo de alguns meninos em uma brincadeira de pega-pega, alguns casais andavam de mãos dadas e alguns passavam praticando a corrida.

Concentrei-me na energia que havia sentido no dia em que Rafa desceu de volta para Terra, canalizando-a. Sentindo todas as energias a volta, todavia nem sequer um fio de energia dele. Fiquei alguns minutos na praça, tentando sentir as energias por perto, as filtrando. Quando vi que não tinha mais nada para mim lá, segui em uma direção aleatória, em busca de mais energias. Estava me sentindo muito cansado e com uma forte dor de cabeça, não demorou muito até que desistisse de procurar e falasse para mim mesmo que voltaria outro dia.

Subo outra vez em direção às estrelas que começam a pontilhar em um dos lados do céu. Avisto São Paulo, aquela imensa lâmpada começando a brilhar, indo em direção à minha casa. Entretanto, subitamente, sinto um forte estalo em minha cabeça e rodopio alguns metros pelo céu aberto. Quando dou minha última pirueta, fico de cara com meu agressor, uma nuvem negra, com imensos tentáculos e seu interior, radioativo, brilhava em tons arroxeados me espreitava. Não faço ideia de como não havia a visto antes, energia negativa condensada dessa forma deveria ser fácil de ver. Minha cabeça explodia naquele silêncio descomunal, sentia-me tonto, ainda com a visão meio turva enxergando as imagens girando. Congelado de medo, permaneci parado, como um rato esperando para ser abatido pela cobra, fitando aquela imensa massa. Essa, entendendo meu estado de pânico, deslizou um de seus muitos tentáculos até mim, sufocando-me e arrastando-me até ela. Não sabia o que fazer, não conseguia raciocinar, a energia da criatura havia me tomado por completo. Aceitando a morte de meu espírito, fechei meus olhos esperando o fim. Depois de mais alguns dolorosos segundos de visões devastadoras, sensações indescritíveis percebo que o aperto do tentáculo diminui seguido por um estridente guincho de agonia. Arregalo meus olhos, assustado com o grito, vislumbro de um estonteante arco-íris que descia na vertical entre o monstro e meu espírito, cortando seu tentáculo fazendo com que o mesmo se dicipasse. Neste momento, estava livre, porém, nem um segundo havia passado e a fera contra-atacou acertando-me em cheio, apago.

Quando recobro a consciência, sinto minha cabeça pesada e uma terrível dor pelo corpo. Abro os olhos lentamente descobrindo que estou num lugar que nunca havia visto antes, janelas de madeira branca, um lustre com sete velas coloridas, teto e paredes em  tons de lilás, prateleiras cheias de ervas e armários rústicos. Tento me levantar, mesmo com a insuportável dor pelo corpo e no crânio, mas caio de volta no sofá onde estava deitado fazendo alguns ruídos.

—Ah, você finalmente acordou. - diz uma voz feminina cheia de ânimo, me dando um susto.

—Quem está aí?! - indago tentando me levantar mais uma vez.

—Não, não, não! - fala se aproximando às pressas segurando minha cabeça e deitando-a suavemente sobre o travesseiro. - Você deve descansar agora, está ferido e não vai conseguir voltar pro seu corpo assim. - afirma. - A propósito, eu sou a deusa Íris, é um prazer te conhecer pessoalmente. - e dá um largo sorriso iluminando seu rosto, voltando a ficar fora de vista.

—Onde estamos? - questiono voltando a olhar tudo que estava no alcance de minha visão.

—Estamos em minha casa. - afirma com um risinho. - bonita, não?

—Ela é bem bonita. - respondo. - Estamos no Cosmos?

—Não essa é minha casa terrestre.

—Entendi. - digo um pouco decepcionado. - Eu não estou no meu corpo?! - pergunto lembrando o que a deusa havia dito.

—Não. - e dá uma risadinha. - Fazem uns 5 dias que você está desacordado.

— 5 DIAS?! - grito. - Minha mãe, meu pai e meu irmão devem estar loucos! - tento me levantar.

—Você deve descansar! - fala alto. - Mesmo que você consiga rastejar até seu corpo nessa sua condição, você não vai conseguir entrar nele ferido dessa forma! Depois é só apagar esse acontecimento da cabeça deles.

—Okay, okay. - me rendo. - Quanto tempo mais vai demorar pra me curar?

—Talvez mais 2 dias, mas não tenho certeza. - diz séria.

—O que aconteceu lá atrás com aquela… coisa? - pergunto curioso.

—Eu exterminei o contensor. Às vezes acontece de muitos sentimentos ruins se encontrarem e se tornarem uma nuvem daquelas. Você deve ter visto coisas horríveis enquanto ele te segurava. São essas emoções que criam aquela fera.

—...- reflito por um momento sobre as imagens que vi. Sangue, ódio, dor, guerra. Afasto esses pensamentos o mais rápido possível. - Só queria achar uma pessoa, mas parece que o contensor me achou primeiro. - exprimo meio triste.

—Sim, eu sei. Não param de falar sobre isso no Cosmos. Virou o entretenimento deles. “Quando será que ele vai achar o amor dele.” Parece até novela. - diz com um suspiro.

—Você não pode me dizer onde ele está, né? - indago esperançoso.

—Nem se eu soubesse poderia. Zeus não deixou que ninguém visse onde o garoto escolheu. De acordo com Zeus, “é pra dar um toque de suspense.” - damos um risinho depois da imitação improvisada da voz de Zeus. - Mas acho que ele deve estar mais perto do que você imagina.

—Bom, não custou nada tentar. - sorrio para a deusa. - obrigado mesmo assim. - sinto o cheiro de algo bom. A deusa se aproxima.

—Deixe eu te ajudar a se sentar pra você comer algo e você deve estar morrendo de sede. - entrega-me um copo com água. - Tome.

—Não sabia que espíritos encarnados, fora de seus corpos comiam. - digo confuso, porém com uma imensa fome e uma sede que achei que fosse possível sentir apenas no deserto.

—Depois de tanto tempo longe do seu “carregador”, que seria seu corpo, você tem que tirar energia de algum lugar. - e me dá um pote com sopa, puxa uma cadeira e a posiciona ao lado do sofá, sentando-se próxima de mim.

—Está uma delícia, deusa. Muito obrigado pela sopa e por salvar meu espírito. - tomo mais uma colher da sopa.

—Bom, não ia te deixar morrer lá, né. - diz encabulada. Parece que não recebe elogios a um tempo.

—Porque você está fazendo isso? - indago. - Achei que os deuses me odiassem pelo que fiz há milênios atrás.

—Faria isso por qualquer um, Luís. - diz fitando-me profundamente com seu lindos olhos verdes. - O perdão é uma virtude que alguns deuses e espíritos não possuem. E outra coisa, ninguém lia aquela velharia, ficava lá acumulando pó se decompondo. Achei que pegaram muito pesado com você. - toma uma colherada de sopa. - bom, mas tudo caminha para que o melhor aconteça.

—Assim esperamos. - sorrimos um para o outro. - Não me lembro de seu rosto no dia de meu julgamento. Você estava lá?

—Não, eu prefiro passar meus dias em planetas. O cosmos é muito cheio de frescuras, vou pra lá raramente quando sou convocada. - diz lembrando-se de suas aventuras. - Do contrário, fico vagando pelos universos, adquirindo conhecimento prático.

—Leve-me como seu discípulo. - digo e ambos caímos na risada.

—Quem sabe, um dia quando seu castigo terminar. - sorrimos um para o outro e permanecemos em silêncio até esvaziarmos nossos potes de sopa.

Fiquei lá por mais três dias, a deusa Íris era muito divertida, me ensinou várias  coisas sobre outros mundos, outras criaturas existentes, universos paralelos, entre outras coisas. Foram os três dias mais proveitosos em anos.

Quando me senti curado, voltei para meu corpo que estava em uma cama de hospital. Minha família sentada em cadeiras à beira da cama. Assim que voltei a acordar, lágrimas escorreram do rosto de minha mãe que me abraçou com força. Meu pai e irmão se abraçaram, sussurrando um para o outro “eu sabia que ele ia conseguir.” Depois de minha mãe, meu irmão me abraçou e logo em seguida meu pai que deixou escorrer uma gota de seus olhos a secando em meus ombros. Tive alta no hospital e fomos comer fora. A energia de todos estava muito boa, nem tive que apagar a memória deles, o que me deixou muito aliviado.

Exausto, deixei meu corpo cair em minha cama, permitindo que o sono viesse. Sonhei com arco-íris a noite toda o que foi muito relaxante. Obrigado deusa.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Não gostou? O que achou? Comenta aqui pra mim, por favor :3 nunca te pedi nada hauahauahuah Espero que tenham gostado e até a próxima XOXO ♥



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