Mais uma vez escrita por Suguro Ryuji


Capítulo 1
Confusões


Notas iniciais do capítulo

Yei, Yei!! Primeiro capítulo, leiam com carinho amiguinhos do meu ♥



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—Ele está aqui! - penso alto na sala de minha casa. Minha mãe e meu irmão

me olham com caras de espanto.

—Quem está aqui, Luís? - pergunta minha mãe com uma cara de alegria.-

Você não me disse que viria alguém aqui hoje. - diz com um tom um pouco mais

repreendedor.

—Desculpe, mas não virá ninguém. Só estava pensando alto, mamãe. - e dou uma risada sem graça, virando a cara em uma tentativa de esconder a vergonha.

—Ah, estava animada para conhecer mais um de seus amigos. - disse com uma voz meio chorosa. - Bom, só não deixe de avisar caso algum amigo seu venha aqui. Você sabe que gosto de estar preparada para esses encontros. - com um maravilhoso sorriso em seu rosto redondo.

—Sim, sim. Pode deixar comigo. - digo sorrindo de volta com a vergonha já extinta.

Depois dessa repentina conversa, fui para meu quarto refletir sobre o que tinha sentido. Joguei meu frágil corpo na cadeira que fica de frente pra janela. Aquela energia, tão familiar, tão nostálgica e melancólica. Será que é ele mesmo? Tem que ser! Nunca me esqueci de sua energia, de como ela fazia me sentir bem, de como me acolhia nos momentos difíceis, como se agitava comigo nos momentos felizes e de como queria me afogar nela. Tem que ser ele, finalmente. finalmente ele voltou. Achei que esse dia nunca chegaria. uma lágrima de alegria correu por meu rosto naquela tranquila noite de 2297. Quando eu tinha apenas 5 anos, de novo.

“Nós imaginávamos que você sentiria a energia dele, mas não pudemos fazer muito. O desejo dele de voltar era grande.” - ouvi em minha mente.

“Vocês me fizeram ficar rodando o mundo por todo esse tempo sem nenhuma dica, e agora vejo que ele nem tinha reencarnado ainda.” - pensei de volta.

“Não podíamos ter dito nada, e você sabe que isso faz parte de seu castigo.” - a voz ecoou por minha mente, direta e dura.

“Não estou me lamentando, adorei viajar a Terra nesses últimos anos. Mas podem me dar uma dica agora? - perguntei sereno

“...” - apenas silêncio.

“Obrigado pela resposta.” - bufei. Falar com deuses é exaustivo às vezes.

“Bom, tenho muito em que pensar.” - cantarolei em minha mente com a calma sendo restaurada. Já faziam muitos séculos que essa relação entre nós tinha sido estabelecida. Me pergunto quanto tempo mais eles me farão viver assim.

deitando em minha cama, encarando o teto, fui envolto por pensamentos de vidas passadas. Em específico, aquela em que te conheci. Foi, com certeza, a melhor de todas. Apaixonar-se é tão bom. Pensando em como minha busca incessante por ele tinha sido boa, porém, frustrante. Foram quase 3 séculos! Isso é muito tempo, não acha, Rafa? Mas eu imaginava que você fosse querer estudar mais antes de voltar. Seu espírito deve estar mais culto agora. - dei uma risadinha boba.

—Mal posso esperar pra te ver de novo. - sussurrei para o escuro do meu quarto, sentindo o fogo voltar a queimar aquecendo o frio de minha alma. Imaginando seu rosto, com todos os contornos e detalhes, indagando-me de como esse seria nesta encarnação. Virei de lado, deixando o sono vir. Já era tarde mesmo, e queria mais do que tudo voltar a ser adulto agora. Bom, sem pressa, eu tenho bastante tempo para pensar… - enquanto deixava minha imaginação trabalhar fui atingido pelo sono sem sonhos que me assolava na maioria das noites.

2017

—Vinicius, ACORDA! - grita Júlia em minha orelha.

—AH! - levanto em um pulo. - Quer me matar de susto? - meu coração estava batendo mais rápido que asas de beija-flor. Sentia minha cabeça pesada e meu ouvido doendo. - Você machucou meu ouvido, besta. - digo com a palma da mão cobrindo a orelha enquanto ela solta um risinho.

—Desculpa, Vini. Mas tá na hora de fazer a lição. - tinha esquecido completamente que estava na escola. Não ando dormindo direito ultimamente e o jeito é dormir quando dá.

—Obrigado por se preocupar com a minha lição. - digo meio sonolento e um tanto irritado.

—Que nada. Só queria te assustar mesmo. - e ri da minha cara. - Logo mais é o final da aula e não queria perder a chance. - diz pousando a mão no meu ombro.

—É bom você fazer a lição também. - dando de ombros, olhei para a lousa e comecei a copiar. A professora abriu a boca para explicar, porém eu não estava mais lá. Tinha, mais uma vez, me perdido nas curvas de seu rosto. Pensar em você fazia-me sentir vivo, feliz e de bom humor.

Senti meu bolso vibrar, me trazendo de volta do mundo dos sonhos. Peguei meu celular e meu coração quase saiu pela boca, batendo a mil quando vi de quem era a mensagem.

“Calma, Vini! Respira e aja naturalmente” - pensei meio trêmulo, mas muito feliz pela repentina mensagem.

—Oi, Vini. Tudo bem?

—Tudo sim, Rafa :3 e você?

—Eu tô ótimo! Você vai pra aula hoje? Tenho uma surpresa pra você! :) he he

*Engasgo.* - “Ele tem alguma coisa pra mim?!”

—Sim, eu vou. E estou curioso agora. ;-;

—Essa é a intenção XD haha

“Mas o que será!?” - penso com a felicidade quase transbordando do corpo.

—Ah, você é muito mal! (T-T)

—Haha. Sou 3:) te vejo na aula então?

—Sim, sim, Rafa! ^-^

—Okay, até lá, beijos :)

—Até, beijos ^3^

— ^3^

Quando tirei a cara do celular a aula já tinha terminado, todos estavam fazendo as malas e a Júlia estava me olhando com cara de brava.

—Tava falando com o Rafael, né? - indagou olhando fixamente para mim.

—Sim... - disse baixinho, desviando o olhar e corando.

—Nós dois sabemos que entre vocês não vai rolar nada. Então por que insiste? - perguntou amolecendo o olhar.

—EU NÃO INSISTO! - digo um pouco mais alto.

—Fala isso por sorriso que tava no seu rosto enquanto você tava no celular. - reprimiu um risinho.

—Ele me deixa muito feliz. Quando falo com ele me sinto… vivo, nossa amizade já é algo muito bom pra mim. Faz eu me sentir bem. - digo pensativo olhando pela janela.

—Nossa… Terra pra Vinicius. - disse rindo. - Isso não deve fazer bem pro seu cérebro.

—Ah! fica quieta! - e rimos juntos enquanto pegávamos nossos materiais.

2102

Andando pela rua, sem rumo. Sinto que a hora chegou novamente. Deixo meus instintos me guiarem até a cena de uma ambulância estacionada em frente a um imenso prédio. Barulho, pessoas, gritos, medo. Caminho calmamente até a porta da ambulância avistando uma mulher que não deve ter passado de seus 30 anos deitada na maca, sua aparência horrível e seu pulso instável. Tento não me comover com a situação. Mesmo fazendo séculos que venho fazendo essas passagens não me acostumei com a dor muito menos com o sofrimento. A vida é cruel, mas também, uma lição necessária, onde repetimos e repetimos até aprendermos com nossos erros

—Sua hora chegou, você vai voltar pra casa, me dê sua mão que te mostrarei o caminho por onde ir. - Digo docemente à com um sorriso gentil no rosto. Ela me encara com olhos marejados sem conseguir dizer uma palavra.

Sua mão toca a minha e seu belo espírito abandona o corpo e a dor, acionando os alarmes das máquinas. Ainda de mãos dadas, saímos do meio da multidão invisíveis e imperceptíveis. Andamos até um parque que ficava próximo do prédio, então viro-me para observar a moça que parece um tanto assustada, com algumas escassas lágrimas escorrendo sobre seu belo rosto.

—Eu morri? - pergunta  ainda fungando um pouco.

—Sim, mas não se preocupe, pois agora vai voltar pra casa. - digo com calma renovando o sorriso.

—Como assim?

—Você verá. - solto sua mão e seu espírito flutua para longe voltando para unir-se ao Cosmos, estudar e esperar a próxima encarnação.

Vejo-me sozinho de novo e reflito em como minha vida vem sendo chata, se é que se pode chamar de vida. Venho fazendo isso a séculos, esse “emprego”, e ainda acham que não é o suficiente, continuam me culpando por aquilo. Sei que o que fiz foi errado e imprudente, porém acho que eles não ligam para o que penso agora.  

Com a cabeça enevoada por maus sentimentos, sento-me em um banco do parque que fica de frente para uma imensa lagoa, sem pássaros ou pessoas andando em volta. Observo a água verde tremeluzindo com o vento gélido de outono e pego-me pensando nele mais uma vez, naquele sorriso que de alguma forma conseguia tirar meu fôlego e alegrar meu dia magicamente. Hoje fazem 21 anos desde a última vez que te vi, e cada dia é um peso a mais em meus ombros, cada vez a saudade me sufoca mais e mais. Lembro do modo como você ria, como comia, observava o mundo, pensava, sentia as coisas e de como o sentimento que tinha por você não mudou. Não esqueço também do dia de seu enterro, de como me senti mal, de como você ficou incrédulo quando tirei seu espírito do corpo, das questões que você levantou e de como você era lindo flutuando para longe de mim, acenando com os olhos gotejando algumas lágrimas e repetindo a frase: “eu prometo que volto, Vini!”. Pena que nessa minha “nova vida” não me chamo mais Vinicius, gostava daquele nome, principalmente quando você falava, mas eu precisava trocar para não suspeitarem de nada. Mesmo nossos sentimentos não sendo exatamente recíprocos, acho que de alguma forma eu lhe faço falta. Às vezes me pergunto se, quando não estão olhando, você vai até o observatório e espia meus feitos. Ficaria feliz em saber que não fui esquecido. Eu realmente sinto sua falta, de todas as formas possíveis. O que eu mais queria era te ver e te abraçar bem forte, sentir seu cheiro doce e seu suave toque. Por ora vivo no preto e branco, na dor e tristeza mesmo com mais pessoas maravilhosas em minha vida. Sei que o que senti por você não é algo que se sente sempre, esse amor ardente e perigoso que queima como fogo, consumindo tudo a sua volta até que você enxergue somente a pessoa. Todo o amor começa com uma fagulha, e a sua fagulha queimou, queimou e continua ardendo, brilhando, clareando a escuridão e extinguindo meus medos. Mal vejo a hora de te rever e ter este vazio que sinto em meu espírito preenchido novamente.

2015

—Ai, que tédio! - resmungo baixinho enquanto assistia TV. - A vida anda tão parada.

—Para de reclamar, Vinicius! - disse minha mãe meio irritada. -Por que não arruma alguma coisa pra fazer? Algum curso, aula, alguma coisa pra ocupar o seu tempo?

—É uma boa ideia. - digo pensativo

—Tem algo em mente? - indaga mostrando mais curiosidade do que desejava.

—Sim, acho que quero fazer curso de desenho. - imagino meus desenhos ficando mais realistas. Sempre gostei de desenhar e acho que é uma boa hora para aprimorar essa habilidade.

—Mas você desenha tão mal, será que curso adianta? - disse tentando manter-se séria, mas solta um risinho e depois outros gradativamente até uma risada. - Brincadeira, brincadeira, adoro seus desenhos e acho que são bonitos. Você desenha bem, acho que é um bom investimento. Vou falar com seu pai. - me deu uns tapinhas no ombro.

—Obrigado, mamãe. - sorrio e ela volta a ver TV.

Olho pela janela, encaro o horizonte. Vejo as linhas tênues de luz alaranjada em degradê até um roxo escuro de fim de tarde. É umas das coisas mais bonitas que já vi em vida, as nuvens salpicadas aqui e ali, um brilho suave, que a algumas horas atrás te cegaria, delicado, delineando o céu com tons vivos e belos. Pássaros voam para lá e para cá, em sua dança cheia de piruetas e giros, cantando com suas vozes agudas e afinadas. Deve ser bom ser um pássaro, voar para onde quiser, sentir o vento em seu rosto e asas, preocupando-se apenas com o que comer e onde dormir no final do dia.

“Você já foi um pássaro, sabia?” - disse em meus pensamentos a deusa Hécate, com sua voz baixa e misteriosa.

“Sério? E como lembro de todas as minhas outras vidas e em nenhuma delas eu sou um animal?” - perguntei curioso.

“Isso acontece porque a única coisa que trazemos das nossas vidas não humanas são os instintos. Humanos não os possuem e o espírito tem que aprender a avaliar as coisas rapidamente. Um humano que não passa por essas fases de vida seria alguém completamente sem sentimentos e que não conseguiria julgar nada.” - explica calmamente.

“Entendi. Então os pássaros que estão voando ali vão se tornar humanos em próximas encarnações?”

“Sim, em alguma encarnação eles vão. Mas por ora os espíritos deles pertencem à mãe natureza e só quando ela sentir que eles estão prontos os mesmos se tornarão espíritos humanos, adquirindo a memória. Enquanto isso não acontece o espírito nasce, encarna e desencarna em animais, plantas, bactérias, até vir para o Cosmos onde é moldado e enviado a algum planeta para começar a aprender outras lições, tornar-se sábio o suficiente, em algum ponto, para tomar conta de civilizações, planetas e até mesmo universos.”

“Quer dizer então que isso nunca vai acabar e todo esse processo é para proteção? Proteção de que se todos ficam bons?”

“Nem todos ficam bons e nem todos são regidos pelas mesmas forças. Existem espíritos que querem apenas o mal e como os que querem o bem, eles também crescem em número por isso estamos sempre protegendo as sementes, para que possamos colher os frutos mais tarde. Existem espíritos ruins em todos os lugares, entretanto os mais fortes e os com maior influência são barrados por nós e espíritos que atingiram o estado de sabedoria mínima”

“Mas o que esses espíritos querem? E como eles viraram maus?E…”

“HÉCATE! Você já falou de mais!” - troveja Zeus. e sinto suas energias ficando mais fracas.

Aceitando que não teria uma resposta tão cedo coloquei-me a refletir sobre como deveria ser a vida antes da humana. Como deveria ser voar pelos céus ou nadar pelos oceanos e rios do planeta sem conhecimento nenhum, apenas com os instintos.

Como deveriam ser essas tais “forças más” que a deusa havia se referido? Acho que já tive contato com um desses, uma vez senti uma boa dor de cabeça. Bom, espero não esbarrar com um desses tão cedo. E volto a imaginar como seria ser um pássaro regido apenas pelas forças da mãe Terra.

467 a.C

Foi aqui onde tudo começou, minha primeira vida humana. Nascido na Grécia e com um nome que nem me recordo mais de tantos outros que o cobriram. Fui filho de pessoas simples e que me ofereciam o básico para a sobrevivência. Nossa relação era muito boa, pena que nunca mais os encontrei na Terra, eles provavelmente devem ter ido para outro universo. Espero que estejam bem, os espíritos deles eram puros e cheios de amor. Aqui também foi onde meu castigo foi imposto. Viver com pessoas que vou amar e ter que mandá-las de volta ao infinito.

Aos meus 10 anos estava caçando com meu pai algo para a janta, algum coelho, cervo, pássaro, quando um lobo com a pelagem acinzentada pulou em meu pai de supetão levando-o ao chão.

—Corre, meu filho, o papai vai ficar bem! Corre e se proteja dentro de casa! - gritou meu pai com um certo desespero disfarçado com calma na voz.

Virei-me em direção à minha casa e corri como se não houvesse amanhã, ouvia os gritos de meu pai e o som de pele sendo rasgada, mas o medo tinha me consumido por completo, nós estávamos longe de casa e eu teria que correr muito rápido. Na penumbra da tarde, tropecei em um galho baixo e cai com a cabeça em uma pedra, desmaiando. Tudo o que lembro é de ver sangue no chão.

Quando acordei no dia seguinte, era cedo. Ouvi gritos temerosos de minha mãe. Sentia-me fraco mas consegui balbuciar algo alto o suficiente para que essa ouvisse. Quando ela me encontrou me pegou em seus braços e chorou sentindo-se aliviada, porém ainda preocupada perguntando como me sentia e onde estava meu pai. Apontei na direção que havia corrido noite anterior, sentindo-me sortudo por não ter virado comida de lobo, então lembrei de meu pai. Com as forças renovadas de alguma forma, corri de volta os poucos metros que havia percorrido, chegando à pavorosa cena de roupas rasgadas e sangue que os lobos haviam deixado para trás. Lágrimas quentes queimavam meu rosto quando caí de joelhos no chão, impotente. Minha mãe chegou minutos depois de mim guiada por meu gritos de angústia, sentou-se ao meu lado com as mãos sobre a boca reprimindo gritos de terror, lágrimas jorravam como nascentes de cachoeiras molhando suas roupas e alma.

Ficamos ali por algumas horas tentando assimilar o que havia acontecido sem falar nada, apenas nos abraçando e pedindo aos deuses que tomassem conta de meu pai. Voltamos para casa extasiados e não comemos nada aquele dia todo. Nos anos seguintes, passei a tomar conta de minha mãe, caçando e vendendo carcaças na venda. Quando fiz 25 anos minha mãe foi embora também me deixando só no mundo. Eu não era de ter muitos amigos naquela época, gosta de ficar sozinho e não me dava bem com outra pessoas. Quando morri, morri infeliz, sem nem um pingo de felicidade em meu espírito, sem nada que pudesse me fazer melhor. Viajando de volta ao Cosmos e conhecendo os deuses. Eles eram bons, porém, imperfeitos como qualquer espírito, pois almejavam coisas materiais, brigavam, guerreavam, enganavam, entre outras coisas que seres humanos faziam. O que mantinha o equilíbrio era o todo, o consenso de todos ou votação.

Eu era e ainda sou ávido por conhecimento, e quando vi o tamanho da biblioteca que eles possuíam em seu lar, mal pude esperar para começar a ler, passaram quase 4 séculos e eu tinha que voltar para a Terra mas não queria, de forma alguma. Passar novamente por todo aquele sofrimento e dor? Prefiro ficar aqui onde meu único objetivo é aprender. Mas os deuses insistiram que eu deveria voltar pois eu faria uma diferença enorme na Terra com os conhecimentos que eu havia adquirido. Então, aceitei voltar a encarnar mas fiz a escolha errada.

—Tudo bem! Eu aceito reencarnar. Dê-me apenas mais três dias, então irei. Quero aprender um pouco mais sobre algumas coisas antes de voltar para aquele lugar. - digo com um pouco de irritação na voz.

—Apenas três dias e isso é tudo. - disse o deus Sol. - você não faz ideia de como um espírito trabalhado pode fazer a diferença na humanidade. Todas essas guerras e toda essa dor podem acabar. Tenho fé em você. - disse com um sorriso fraco em seu rosto, pousando uma de suas pesadas mãos em meu ombro.

—Obrigado, deus. Vou dar o meu melhor. - viro-me em direção a biblioteca e caminho com calma até o piso superior da escada. Vejo que o deus ainda está a me olhar, então passo pelas portas às pressas adentrando na grande casa, enfiando-me em livros.

Com esse escasso tempo que tinha conseguido não podia esperar, fui direto à seção de livros com maior conhecimento da biblioteca e folheei um por um incessantemente. Escolhi o que achei de melhor utilidade, fiz anotações sobre os outros e as coisas mais importantes que havia aprendido. Voltei para meus precários aposentos, trazendo o imenso livro comigo. Escrevi mais notas para que me lembrasse que reencarnaria, pois esquecemos nossas vidas passadas e boa parte de nosso aprendizado temporariamente quando reencarnamos. Fiz isso durante os três dias sem nem ao menos dormir. Quando o grande dia chegou escolhi uma túnica bem larga e de coloração escura que combinasse com a cor da capa do livro. Costurei dois bolsos interno igual minha mãe tinha me ensinado séculos atrás e coloquei o livro em um e as anotações no outro. Encaminhei-me à grande praça reencarnatória, que é um imenso pátio onde os espíritos são direcionados para os planetas. Quando cheguei vários deuses e espíritos estavam lá para verem a reencarnação de mais um. Avistei Zeus que logo se direcionou à tela de direcionamento.

—Você vai para a Terra. Já escolheu sua família? - indagou com ar de desinteressado.

Aproximei-me da tela e vi várias famílias que estavam prestes a ter filhos em diversos lugares do globo. Escolhi na Grécia de novo, gostava de lá, e a família que eu escolhi era dona de uma papelaria, então estaria envolto de conhecimento mais uma vez. Apontei a Zeus qual família havia escolhido, ele se virou para mim e pediu que tomasse meu lugar no centro da praça. Eu estava nervoso, todos aqueles olhares sobre mim e a sensação de que algo iria dar errado. Não sabia o que podia acontecer mas sabia que, com certeza, não era algo bom. Agarrei-me às minhas vestes quando Brahma, deus hinduísta, fitou-me com ar de desconfiança e caminhou em direção a Zeus. Eu sabia que naquela hora todo o plano tinha ído por água abaixo, torcendo para que Zeus apertasse logo o botão de “enviar”.

Relaxei um pouco quando vi Brahma se afastando de Zeus e soltei minhas vestes. Comecei a flutuar e um buraco colocou-se a abrir. Senti-me deixar a forma que tinha, ser moldado e com uma força enorme, fui arremessado em direção a Terra. Agora a parte do plano com a qual eu não contava, minhas roupas rasgaram no processo de arremessamento e todas as anotações e o livro se despedaçaram perdendo-se no infinito universo congelante. Fui encolhendo e encolhendo até ficar minúsculo, quando avistei a Terra senti algo me puxando, ou melhor, alguém. Shiva, o deus da transformação, me puxou de volta com seu enorme poder psíquico para a praça reencarnatória, segundos antes de chocar-me com a Terra. Meu espírito voltou a tomar a forma de senhor que eu tinha, foi um processo bem doloroso. Quando volte a me materializar, Artemis me pegou pelo pescoço, pois estava nu, e levantou-me até meus pés deixarem o chão frio.

—Você tentou roubar conhecimento divino?! - indagou a mesma gritando. - Que livro você pegou? Seu rato imu... - Zeus a corta, fazendo um estrondo e uma luz forte emana de seus olhos, com um gesto diz para Artemis soltar-me. A mesma obedece,  fazendo com que eu caia no chão, um baque surdo de carne batendo em pedra é ouvido. Artemis me fita com seus olhos ameaçadores, solta um risinho de escárnio e recua. Um silêncio assustador toma a praça onde os únicos sons ouvidos são o de minha pesada respiração. Todos observam sem dizer uma palavra.

—Que livro você pegou? - pergunta aproximando-se de mim com a voz dura.

Eu não consigo achar ar para responder, continuo respirando pesadamente, tentando recuperar o fôlego.

—Que livro você pegou? - indaga novamente um pouco mais alto, com a raiva em sua voz clara como um raio de Sol.

—Con... ah... te… - é tudo o que consigo dizer, e isso claramente não deixa Zeus contende.

—QUE RAIO DE LIVRO VOCÊ PEGOU? - a praça inteira é atingida por uma forte luz e um som ensurdecedor de milhares trovões.

—Constelações e ciências do Cosmos. - finalmente consigo dizer e um suspiro de terror mútuo é ouvido.

—Você faz ideia de que livro era aquele? - indaga Zeus com uma voz ameaçadora. - VOCÊ ACABA DE PERDER NO ESPAÇO O LIVRO MAIS VALIOSO QUE O COSMOS POSSUÍA.

—Me descu… - não consigo terminar de dizer.

—ME DESCULPE!? VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO! E NÃO VAI SER NEM UM POUCO BARATO! - com um estalar de dedos uma jaula aparece sobre mim, sou carregado por espíritos para fora da praça e jogado em uma cela.

—Ai, o que eu fiz? - indago-me às lágrimas. Sem poder fazer nada, me encolhi em um canto da cela e esperei pelo que viria a segui.

Passaram-se mais ou menos 30 dias e vieram me buscar da cela, estava morrendo de fome e com muito frio. Todos os deuses haviam se reunido na tribuna, e  já tinha decidido qual seria meu castigo, sabiam o meu medo de viver na Terra e usaram isso contra mim incrementando, não me permitindo mais morrer, e tendo que mandar todos os que amo e que morrem próximos a mim para o Cosmos. Então, quando fico velho e não tenho mais quem amar eu sou obrigado a me tornar criança e mexer com a mente de pais para que acreditassem que eu era filho delas. Sim eles me deram o poder de controlar minha idade e o de mexer com as mentes humanas, mesmo que de forma limitada. Porém ainda acho que esse era realmente o pior castigo que eles podiam ter escolhido.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, leitores ^-^ por favor, comente, me deem dicas de como melhorar, etc, etc. beijinhos e até a próxima :3



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