Depois do Outono escrita por Arabella


Capítulo 1
Prefácio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Os primeiros raios de Sol acabavam de aparecer no horizonte quando Vênus saiu de casa, seu corpo envolto em um sobretudo marrom que não fazia jus ao clima quente e abafado do dia.
Verona aparentava estar abandonada e seus prédios ganhavam um ar fantasmagórico sob a suave luz da manhã. Os cachorros de rua estavam dormindo próximos ao meio-fio e não havia um carro sequer passando pela avenida principal.
Vênus gostava de como toda a cidade parecia pertencer à ela naqueles curtos momentos da madrugada. Mas, naquele dia em especial, ela não tinha escolha se não dividir Verona com a última pessoa que queria ver no mundo.
Seu estômago revirava enquanto dobrava as esquinas e vielas com a determinação de quem sabe exatamente para onde quer ir. Finalmente, Vênus parou em frente à uma das numerosas praças da cidade. Os familiares anjos esculpidos em mármore lhe sorriam de uma fonte circular a poucos passos de distância e as árvores, despidas pelo inverno, formavam um arco sobre sua cabeça. Vênus não precisou procurar por mais de dois segundos: a praça estava obviamente deserta.
Ela não pôde deixar de sentir uma leve decepção, embora soubesse que estava muito adiantada.
Foi quando uma mão apertou seu ombro por trás.
Vênus virou no mesmo instante, usando o braço direito para afastar o estranho e se preparando para levantar o punho quando ouviu uma risada familiar.
Um alto rapaz loiro a encarava, os cantos dos lábios repuxados em um meio-sorriso. Na penumbra da manhã, seus olhos pareciam ainda mais escuros que o normal, quase pretos. A pequena rosa na bochecha esquerda parecia apenas uma pinta, mas isso não impediu que Vênus sentisse o familiar arrepio que a tomava sempre que via a flor, lembrando-se do porquê da tatuagem.
—Nunca mais faça isso, Paris. -Ela murmurou, tentando ao máximo se manter séria.
O loiro soltou uma risada alta enquanto se aproximava, entrelaçando seus dedos com naturalidade. Vênus trincou os dentes e virou para o lado, evitando o olhar de Paris. Sabia que o rapaz não hesitaria em rir mais de seu nervosismo e ela ainda estava tentando se apegar aos resquícios de dignidade que conseguia manter quando o loiro estava por perto.
—Ei, você tá com raiva mesmo? -A familiar voz rouca sussurrou, próxima o bastante para que sentisse o hálito dele fazendo cócegas no alto de sua cabeça.
Um instante de silêncio se passou enquanto Vênus procurava algo pra dizer, sua respiração acelerando devido à proximidade do rapaz.
—Eu podia ter quebrado seu braço. -Finalmente falou, sua voz soando mais dura do que esperava.
O riso do rapaz recomeçou e Vênus finalmente girou os calcanhares para encará-lo de frente. Seus olhos castanhos se estreitaram enquanto ela erguia uma sobrancelha.
—Você tá duvidando de mim?
—Por Deus, não. É só que... -ele sustentou um sorriso, agora encarando com intensidade o rosto de Vênus.
Ele prolongou a pausa, parecendo escolher as palavras.
—O que? -A garota incentivou, erguendo as sobrancelhas enquanto aproximava o rosto do dele.
—...você nunca faz o que eu espero. Me deixa totalmente no escuro, mesmo depois de todos esses anos. -Paris finalmente completou, uma seriedade momentânea tomando a sua voz.
Seus rostos estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro contra a pele. Suspirando, Vênus teve de juntar toda a sua determinação para se afastar do jovem, dando dois passos para trás e desentrelaçando seus dedos. Paris pareceu levemente desapontado, mas não surpreso.
Ele sempre fora o melhor em manter a cabeça no lugar nos momentos certos. Também foi o melhor em lidar com a separação, ignorando completamente o clima pesado entre os dois e continuando a agir como se nada tivesse mudado entre a amizade deles. E, claro, foi ele quem terminou com ela, o que provavelmente justificava a facilidade com que tinha seguido em frente.
—Bom, vamos para o assunto que interessa. -Vênus murmurou enquanto sentava em um banco e abraçava as pernas junto ao peito.
—Sim, comandante. -Ele respondeu, apoiando o corpo em uma das árvores ao redor deles.
—Imagino que você já tenha sido informado sobre o fracasso na última investida contra o Norte. -Ela continuou e o rapaz concordou com a cabeça. -Muito bem. O chefe está furioso. Aparentemente, algum dos nossos nos traiu e ajudou Noah a fugir com informações estratégicas ou qualquer coisa do tipo. -Vênus fez uma pausa, suspirando. -Nossas suspeitas estão sobre os seus homens.
Paris pareceu ter sido pego de surpresa, franzindo o cenho automaticamente.
—Por que os meus homens?
—São mercenários, Paris. Eles não são leais a você, são leais ao dinheiro.
—Eles já salvaram minha vida várias vezes! -Ele protestou.
—Só porque você sempre pagou mais do que o Rei do Norte oferece pela sua cabe... -Vênus revirou os olhos.
—Eu não vou ficar aqui ouvindo enquanto você acusa os meus homens sem nenhuma prova. -Paris a interrompeu, a voz lívida.
—Ah, mas você vai ouvir sim. -Vênus se levantou, erguendo o queixo para encarar o fundo dos olhos de Paris. -Porque existe uma hierarquia, amor. E, se você virar as costas para mim agora, no meio de uma reunião oficial com a sua comandante, pode se considerar um pária na Fraternidade Sulista. Estamos entendidos?
Vênus pôde ver todo o corpo de Paris se retesando, uma fúria muda travando seu maxilar. Ela estreitou os olhos, ainda esperando por uma resposta.
—Sim, comandante. -A voz do rapaz saiu inexpressiva, seca.
—Certo, então eu vou te dizer exatamente o que fazer.
...
Noah ainda estava na enfermaria, inconsciente, quando Gaia voltou do banheiro. A garota se deitou no sofá ao lado da cama do jovem, tentando não pensar sobre o que aconteceria depois daquele dia. Acima de tudo, tentando evitar os flashes do tiroteio e tentando bloquear o sentimento de ansiedade que crescia dentro dela quando pensava na iminência de uma nova guerra urbana entre as mais antigas famílias mafiosas de Verona.
Ainda se lembrava de Noah gemendo no chão quando uma bala atravessou sua coxa, imobilizado em uma poça de seu próprio sangue. Parecia tudo tão irreal.
Gaia se inclinou sobre o rapaz, afastando os cachos escuros da sua testa. Ela ainda o amava. Mesmo após os três anos que passara em um intercâmbio no Canadá, Gaia continuava a mesma garota apaixonada que chorou durante toda a viagem de ida.
Noah falou que a esperaria, mas, desde que ela havia chegado, eles mal se encontraram e ele a tratava com indiferença nos eventos públicos. Quando ela buscou explicações, o amigos dele lhe falaram que o rapaz havia sofrido muito com sua partida e talvez não estivesse preparado para reviver tudo aquilo. Então, ela decidiu esperar por ele.
Mas, enquanto encarava a atual fragilidade do amado, Gaia sentiu um forte arrependimento por não ter exigido que eles ficassem juntos enquanto tinham tempo.
O jovem se mexeu na cama, acordando a garota de seu transe. Ele se virou para o lado dela, ainda dormindo, com um semblante tenso. Será que está tendo um pesadelo?
Gaia se aproximou, estudando as feições de Noah. Seus traços fortes estavam contraídos e os ossos das bochechas saltavam para fora, as sobrancelhas escuras franzidas.
—Ele ainda não acordou? -Uma voz grave soou atrás dela.
Gaia suspirou, sem se atrever a desviar o olhar do rapaz adormecido.
—Não. Mas as enfermeiras dizem que ele está estável.
—Isso é bom. Eu tinha bastante certeza de que ele não sobreviveria àquele ataque.
—E não sobreviveria mesmo se não fosse por você. -Gaia sorriu, afagando o cabelo de Noah. -Obrigada por ter nos avisado sobre o ataque.
—Não foi por ele. Tenho questões pessoais com a Fraternidade.
—Bom, eu não confio em homens que traem a mão que os alimenta. Mas, não importa a razão pela qual você tenha feito o que fez, sou eternamente grata.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem dado uma chance para a fic e por terem lido até aqui! Se tiverem tempo, por favor deixem um retorno sobre as suas impressões sobre a estória e tudo mais ♥



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