Catherine escrita por honeymooon


Capítulo 6
Capítulo 5: Entender


Notas iniciais do capítulo

Blossom e Bubbles são as personagens das meninas super poderosas. Blossom é a florzinha e Bubbles a lindinha :)



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Ingenuidade? Alguém viu a minha por ai? Meu rosto sem marcas de expressão denuncia a pouca idade. Mas, ingenuidade não deveria ser sinônimo de idade. Sabemos do fato das crianças serem ingênuas, pois o mundo tende a protegê-las dos perigos dele mesmo. Sabemos também do toque putrefato da vida adulta, levemente realizado durante alguns anos até termos noção de que a sociedade é uma selva, a natureza humana é ruim e todos estão contra todos.

Seria surpresa se eu te contasse que comigo foi diferente? Seria estranho ouvir uma moça lhe dizer do quanto é assustador não ser protegida enquanto jovem? É dramático, não é? É real. O mundo é assim. Isso me fez forte e me protegeu. De certa forma, acabou com parte de quem eu era, mas isso é só um detalhe. Saber que eu não poderia confiar em ninguém foi quase um presente.

Então posso afirmar com simplicidade sobre meu corpo e mente estarem em coalizão e ambos em uníssono, gritarem constantemente para mim sobre os perigos de deixar Ethan por perto, desde quando ele flertou comigo pela primeira vez, até nossa primeira semana de trabalho juntos. Ethan tinha malicia, jogo de cintura e atitude. Ele também tinha dinheiro e se eu fosse um pouco interessada em bens materiais, aceitaria suas investidas. Mas, mesmo com dinheiro nas mãos, não seria possível comprar minha saúde mental. Quer dizer, dá pra comprar uns remédios, porém não existe uma química para a criação da paz interior, não é mesmo? Dopada eu durmo. Dopada eu não como, não falo alto ou penso direito. Isso não é paz. Isso é uma simples ilusão, um jeito fácil de enxergar o que eu poderia muito bem mudar.

Não era só com ele a minha desconfiança. Catherine era uma mulher madura, mais velha do que eu, mais capacitada. Todos nós temos que realizar as mesmas tarefas, mas o que nos difere um do outro é a nossa capacidade. Eu não tinha capacidade de liderar uma equipe como ela! Além de sua retórica ser bem construída. Eu não havia adquirido os poderes do charme, nos quais ela parecia muito bem dominar. Eu não tinha o otimismo daquela mulher. E ela sabia. Mas, aproximou-se mesmo assim e deixou-me tomar parte desse mundo maravilhoso dela. Mesmo assim, eu desconfiava.

Amigas para sempre? Eu suspeitava. Ela era diferente das meninas do meu antigo trabalho, ela tinha lá seus trejeitos. Era meio estúpida no volante, um pouco grosseira no telefone, com certeza não a mais delicada enquanto desfrutava de um doce grudento e ignorava os pudores quando afastada de muita gente importante – digo, afastada de seus superiores, mas perto de outros da equipe de supervisão – e talvez não fosse um exemplo de feminilidade, mas seus cabelos eram longos e bem cuidados, as unhas sempre pintadas, a maquiagem algumas vezes desfeita – ela não retocava – e eu pensava se era não tinha suas segundas intenções. Ela era muito legal para ser uma amiga. Os dedos longos de sua mão se assemelhavam aos meus e ela passeava com eles por sua coxa, propositalmente após nosso desastroso encontro – olhares são destrutivos. Ela agia disfarçadamente, contudo às vezes também era descarada. Então eu me pegava na pergunta: ela me quer, ou não me quer? Será que eu queria ouvir a resposta?

— Bubbles – Catherine manifestou-se após um longo intervalo calada, degustando seu sanduiche. A carona para casa contava com direito a uma janta – Bubbles!

Eu arqueei as sobrancelhas, levantando o rosto.

— Você me chamou de Bubbles? – ela assentiu, sorridente – Por um segundo achei que tava falando sozinha sobre algum cachorro, sei lá.

— Você é muito parecida com ela – contrai a testa, soltando um pequeno e tímido “hãn?” – A Bubbles, daquele desenho. A loirinha.

— Nossa – eu sorri amigavelmente – Ela não tem nada comigo.

— Tem sim! A cor do cabelo é quase igual... E é tão doce quanto... Ah! – ela riu, agora ruborizada. Eu enxergava a vergonha invadindo todo seu corpo – Eu acho que vou pedir uma sopa. Está frio.

Não respondi. Ainda estava tentando decifra-la em minha mente. Minha pequena e cômica incógnita. Guardava magoas no peito e muitos segredos, eu tinha certeza. Porém, mesmo sabendo totalmente de que nada me agradaria se alguém tentasse descobrir coisas sobre mim, eu sentia como se precisasse saber as dela. Afinal, nosso encontro não foi um mero sinal, foi o sinal. Foi parte de um destino oculto e bem mais forte do que eu.

— Blossom – era minha vez de quebrar o gelo. Eu sabia da má interpretação causado pelo silencio incomodo ditado por mim e queria mostra-la que não estava irritada com seu jeito peculiar de demonstrar afeto. Olha! Eu também sabia dizer palavras bonitas. Posso ser colocada em uma caixa estampada com frases de impacto “essa boneca fala cinquenta frases em três línguas” “acessórios não inclusos” “manual em japonês” (essa ultima escrita no rodapé da caixa – Blossom, Blossom! – ela me mirou tão sorridente quanto eu poderia imaginar – Desistiu da sopa?

—Não sei... Eu estou pensando ainda.

—Deveria pensar menos e agir mais.

Te peguei em seus joguinhos, Blossom. Arrependa-te por me fazer corar com aquelas mexidas indelicadas de perna.

— Eu sou impulsiva, eu sempre ajo por impulso.

—Mentira! – afirmei entoando a alegria. Nossa, como um agudo meu poderia ser forte – Catherine, você é a pessoa mais controlada que eu já encontrei naquele lugar. Sério. Acho que se eu fosse você, eu iria, sei lá, abandonar tudo aqui e fugir para Nova York.

—Isso é impulsivo.

—Sim, e ainda você não fez isso. O que prova a minha teoria de ser uma pessoa controlada.

—Sou inteligente, nada mais. Não que você não seja – ela corou com o equivoco – Mas, eu não teria onde ficar em Nova York, nem deve ter emprego o suficiente pra demanda de gente que mora lá.

—Seu irmão não vivia lá? Ou irmãos.

—Vive – e ela passou as mãos no cabelo, alisando-os. Então como em um impulso, ela se calou, usando a boca para sorrir ternamente para mim – Seus cabelos não ficam tão armados como os meus. Queria ter esse dom – ela olhos através da janela do restaurante, perdida em alguns pensamentos. Deixei, pois era obvio a linha tênue que eu já havia escorregado em poucos minutos de conversa – É uma longa e complicada situação – disse finalmente – Tão longa e complicada que não posso te contar agora.

—Não precisa me contar nunca. Eu realmente não preciso saber de nada – e eu estava sendo sincera. Eu não precisava mesmo.

—Você vai, porque uma hora alguém vai comentar isso com você. De um jeito ou de outro.

—Do que estamos falando, exatamente? Eu me perdi.

Ah! Aquele sorriso novamente. Eu tinha fome. Eu tinha fome de vê-la sorrindo daquela forma. Por que aquilo não saia da minha cabeça e tumultuava minhas ações diárias? Por que ela tinha que ser tão misteriosa?

—Não tem problema, Bubbles. A única coisa que importa nesse momento é a escolha da sopa que vou comer. Você me ajuda?

Nós todas temos segredos, não é verdade?


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