Três anos atrás...

Estava me arrumando para sair com a Jasmin, hoje será seu aniversario e eu vou conhecer o famoso primo dela, Dash, ele acabou de entrar para faculdade e segundo Jasmin se encantou ao ver uma foto minha.

— Quem sabe, Dash não seja aquele que eu estava esperando. – disse pra mim mesma enquanto passava a base. Ao pensar nesse assunto meu coração se apertou, lembrei-me dele, o meu primeiro amor, toda a sensação de borboletas no estomago quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, o meu coração partido quando tive que deixa-lo e depois a indignação de descobrir pelos meus irmãos mais novo e meu primo, que ele iria se casar.

—Falando sozinha Su? – Lucia havia entrado no meu quarto e agora me observava meio receosa, já que ontem havíamos brigado por ela tocar no assunto que eu mais odiava.

— Não Lu, apenas refletindo sobre minha vida.

— Su, você ainda está brava? – perguntou ela enquanto admirava um dos meus batons.

— Não Lucia, porque a pergunta? – respondi já respirando fundo, conhecia bem minha irmã e sabia que ela ia tocar em algum assunto indevido ou pedir algo sobre essa merda de assunto.

— Mamãe disse que eu posso começar a usar maquiagem, mas bem leve, queria saber se você pode me ensinar. – quando ela disse aquilo meu coração ficou apertado, minha menininha só queria minha ajuda e eu estava pensando o pior dela, Susana, Susana, em que merda você se tornou, pensei. -- Eu até ia pedir para mamãe, mas ela sempre se irrita fácil, já você lida bem com maquiagem e também gostaria de passar mais tempo contigo.

—Claro que eu ensino Lu. – disse sentando mais para o lado. -- Vem senta aqui, hoje você pode usar as minhas amanhã saímos para comprar algumas coisas pra você.

Ela sorriu largo pra mim me abraçando forte, comecei a ensinar ela e me divertia com ela se enrolando toda com algumas coisas, há muito tempo eu não ria assim com a Lucia, na verdade há muito tempo eu não me divertia com nenhum dos meus irmãos, depois que Lucia e Edmundo voltaram de Nárnia nos afastamos, eu não conseguia entender como eles poderiam continuar acreditando naquilo, sendo que tudo aquilo se resumia a mentira e dor, principalmente dor.

— Su, tá certo passar o rímel assim? – disse Lucia me despertando dos meus pensamentos, olhei pra ela e não pude me conter e caí na gargalhada. -- Su para de rir, o que eu fiz de errado? – continuou ela com voz de bebê. Lucia estava toda borrada de rímel, parecia até que tinha tomado um soco e o olho tinha ficado preto.

— Lu, você tem que tomar cuidado, não pode deixar borrar assim. Se não a base vai ficar arruinada e você parecendo um palhacinho! – disse pegando o lencinho e limpando todos aqueles pretos do seu rosto.

Depois de um bom tempo consegui ensinar algumas coisinhas para ela, olhei no relógio e percebi que estava atrasada. -- Lu amanhã a gente continua, pode ser? Agora tenho que sair. Mas amanhã sem falta a gente vai comprar algumas coisinhas pra ti e depois as testamos. – Lucia me olhou sorrindo e concordou, quando menos esperava ela se jogou nos meus braços e me abraçou forte, um abraço que eu não me permiti sentir a muito tempo.

— Obrigada Su, serio, foi demais usar maquiagem e melhor ainda passar um tempo com você. – algumas lágrimas insistiam em cair dos meus olhos, e dentro de mim só uma pergunta ecoava na minha cabeça; Susana porque você se afastou tanto dos seus irmãos? -- Acho que a ultima vez que apenas eu e você nos divertimos juntas, foi quando você estava me arrumando para coroação do Caspian. – quando Lucia pronunciou aquele nome a resposta da minha pergunta veio à tona, eu me afastei porque não aguentava mais ouvir falar daquele lugar e daquele homem.

— Lucia, pra que falar disso? Você sabe que não sou mais aquela menina idiota que ficava criando historias com vocês. – me soltei dela indo pegar minha bolsa.

— Su você precisa voltar a acreditar, o que houve pra você mudar assim? É pelo Caspian? Su as coisas podem mudar entre vocês existia amor. – disse Lucia segurando minha mão falando como se estivesse implorando.

—Lucia chega! – disse gritando. -- Não ouse falar que entre mim e o Caspian existia amor, aquele ser nojento e mentiroso nunca soube o que era amar, ele me enganou e me usou, não quero nem lembrar que ele existe. -- pelo volume que eu falava Pedro e Edmundo já haviam chegado ao quarto e olhavam tudo assustados.

—Su, calma, por favor, sei que não gosta de falar dele, mais calma. – disse Ed vindo até mim, enquanto Pedro abraçava Lucia.

—Susana, não precisava gritar com a menina, já sabemos que você a senhorita madura não acredita mais. – Pedro sempre defendia Lucia quando o assunto era Nárnia, aquilo nem me incomodava mais.

— Se não quer me deixar irritada é simples, não falem sobre aquele lugar nem aquele ser nojento perto de mim. – disse me soltando do Edmundo pegando minha bolsa. -- E quer saber Lucia? Eu não acredito mais naquilo, porque eu fui à única idiota que sofreu lá. – quando terminei de falar, engoli as lágrimas que queriam sair e fui rumo a minha festa, pude ouvir Pedro dizendo a Lucia que eles iriam ao café, assim ela poderia se animar.

Sempre era assim, quando estávamos muito perto, eles tocavam no bendito assunto e nos brigávamos e eu sempre era a errada, a egoísta que esqueceu aquele lugar lindo, só queria que às vezes eles fossem capazes de entender a minha dor, as cicatrizes que aquele lugar me causou.

Cheguei à festa e fui de encontro aos meus amigos, o primo da Jas ainda não havia chegado, porém algo dentro de mim me dizia que eu não devia estar ali, algo me dizia para ir pra casa, deitar na minha cama e lá ficar, antes mesmo que eu pudesse ignorar essa sensação, meu celular tocou, era um número desconhecido, atendi. E conforme o homem do outro lado da linha ia falando eu ia sentindo o chão se desfazer sobre meus pés, tudo estava ficando preto, fui perdendo o foco nas coisas e a ultima coisa que eu ouvi foi a Jas gritando para alguém me ajudar.

Uma semana, havia passado uma semana que meu mundo desabou, agora eu não conseguia comer, me arrumar, sorrir e nem viver.  A sete noites atrás um policial me ligou, falando que havia acontecido um acidente de trem, e nesse maldito trem estavam as pessoas que eu amava. Pedro o irmão mais velho que era como um pai chato, Edmundo meu eterno bebê, aquele que eu protegia nas noites de chuva pesada e Lucia a minha bonequinha viva que havia acabado de descobrir o mundo das mulheres. Era uma dor que eu mal conseguia descrever, me sentia acabada, abandonada, sozinha, de uma vez só a vida me tirou tudo e me tacou no buraco mais fundo que eu conhecia. Meus pais só sabiam chorar e imploravam para que eu não saísse de casa, já que era a única que havia sobrado, como eu queria ter morrido no lugar ou junto deles, preferia qualquer coisa a não ter que passar por aquilo.

— Me perdoem, por favor, eu juro que acredito em Nárnia, eu acredito em tudo. – disse chorando enquanto observava o tumulo dos três. -- Eu errei demais, só que eu amo vocês, por favor, voltem, eu não posso continuar assim. – o choro era tanto que meu corpo já ficava sem forças, meus joelhos falharam e para o chão eu fui, podia sentir que o concreto havia feito feridas serias neles, porém nenhuma dor física se comparava a dor que eu sentia. -- Deus, Aslam ou qualquer outro ser divino, me respondam. Por que fizeram isso comigo? Por quê? Em? Alguém me diz por que eu tive que passar por todo esse sofrimento?

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, alguém colocou a mão sobre meus ombros, olhei na direção da pessoa e perguntei com medo. --- Quem é você? – o loiro, forte cheio de tatuagem ficou apenas me encarrando.

— Jace Wayland e você deve ser Susana Pevensie. – respondeu ele me olhando com olhos de admiração.

— Sim sou eu mesma, como me conhece? – perguntei tentando me levar, entretanto pelos meus machucados minhas pernas acabaram falhando. Ele me segurou firme e continuo a me encarrar, aqueles olhos azuis era tão familiares que nem assustada eu estava.

— Te conheço há muito tempo e agora é sua vez de me conhecer e conhecer a sua história.