Sangue nas Areias do Foguete escrita por Pierre Ro


Capítulo 12
"Não sou capaz de opinar"


Notas iniciais do capítulo

E aí? Como vocês estão?
Nesse capítulo, mais revelações!!!
Adivinhem quem vai soltar essa pérola do título do capítulo??



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735156/chapter/12

Após almoçarem, a perita criminal levou Vinícius e Camila de volta para a casa de praia do governador Rodrigo Drummond. Eles desembarcaram do carro e continuaram o trabalho.

— Você confia nela? — Louise Ferguson, desconfiada, perguntou ao seu ex-aluno sobre Camila.

            Ele parou um pouco para pensar e virou a cabeça.

— Para falar a verdade, sim. Mas não sei se devo. A gente namorou por uns quatro meses. Eu gostava dela. Mas não deu certo. Somos muito diferentes. Sou mais simples e ela é uma pessoa materialista demais. Quer tudo do mais caro. Não que isso seja ruim, mas não faz o meu perfil. E então, devido a essa e outras divergências, terminamos. De vez em quando ela parece ainda gostar de mim, consolando-me e tentando encontrar o assassino da Alice. Outros momentos, ela me ignora.

— Ela pode estar querendo só a sua amizade. Mesmo assim, vou pedir para manter em sigilo tudo o que te conto sobre a investigação. Entende?

— Entendo perfeitamente. Pode deixar!

— Afinal, devemos desconfiar de qualquer um. Devemos ser imparciais. De qualquer forma, ela será útil nos passando as informações sobre o que os outros andam falando entre si.

— Sei bem. Até eu sou um suspeito.

            Ela confirmou. Quando viram, já entraram na casa. Alguns estudantes ainda estavam ansiosos com tudo o que acontecia. A detetive respirou fundo e prosseguiu com o seu trabalho.

— Senhor governador Rodrigo Drummond — chamou ela, ao homem que assistia TV aparentemente sério e estressado — Posso interroga-lo nesse momento? O senhor sabe... Para acelerar as investigações.

            Ele a olhou com desprezo, mas a detetive deu de ombros e repetiu a pergunta. Ele bufou e foi junto com ela até um dos quartos femininos, que foi ambientado para realizar o interrogatório.

— Já vou dizendo que não matei aquela garota! — Ele afirmou, assim que fecharam a porta.

— Oh, não tenho a menor dúvida disso, senhor Drummond — mentiu, sentando-se em sua poltrona — Mas essas perguntas serão feitas para tentar esclarecer melhor o que houve na noite do crime.

— Entendo. Mas não poderei ajudar muito. Fui sair com minha mulher para um motel, e Jorge, meu empregado, me ligou falando que essas crianças organizaram uma festa na minha casa. Com bebida, música alta, drogas, suruba... Tudo o que proibi! Acredita que Jorge foi dopado?

— Você sabe que foi seu filho quem fez isso, né? — Ela indagou, sem muita paciência para a hipocrisia de Rodrigo.

— Não o culpe assim. Ele foi influenciado por esses dementes! — ele gesticulava com as mãos, cerrava o punho, demonstrando bastante rancor — Como me arrependo de ter deixado esse povo vir para cá!

— Entendi. O senhor recebeu a mensagem por volta de quê horas?

— Cerca de duas horas da manhã. Pode confirmar isso olhando o meu celular. Cheguei aqui por volta das duas e quarenta e cinco. Vi a bagunça. Entrei no meu quarto. E encontrei meu filho fazendo sexo com uma “vadiazinha” dessas na minha cama! Nem sei direito quem ela era. Mas aquilo me deixou furioso.

— Ela é Isabela Ribeiro. Amiga da sua filha. — Ele gelou, sem palavras. Ainda assim, continuava defendendo o filho.

— Ah, agora me lembro! A filha do secretário do ministro da Saúde. Claro! Ele é meu amigo. Ele estará ciente sobre o ocorrido. Aposto que não sabe das atitudes dela. Inadmissível!

            Louise ficava pasma. “Como conseguiram eleger esse homem extremamente machista e corrupto para ser governador?” Pensava, mas precisava se concentrar nos fatos.

— Entendi. E depois que descobriu tudo? O que o senhor fez?

— Mandei Christian para o quarto dele de volta, é claro. E a menina de volta para o dormitório dela. Esperei o resto da turma voltar. Às três horas e meia, aproximadamente, voltaram e eu lhes dei aquela bronca. Depois disso, às quatro horas, voltei ao motel e dormi.

— Enquanto estava em casa, alguém desconhecido apareceu?

— Definitivamente, não.

— Ótimo. Então temos a certeza de que, no intervalo de duas horas e quarenta e cinco, e quatro horas, ninguém entrou na casa.

— Exato. Quando cheguei, deixei minha esposa no carro. Falei com meu filho e, depois disso, chamei Emily para casa. Então, só estavam eu, ela, Christian e a Isabela.

— Sei. E o senhor duvida de alguém que possa ter feito isso? Ou alguém que queira matá-la?

— Oh, por favor. Eu nem conheço aquela mulher, quanto mais quem gostaria de fazer algum mal a ela. Não sei dizer isso!

— Tem certeza que o senhor não conhece? Pois ela parecia conhecer o senhor muito bem...

            Rodrigo franziu o cenho, verdadeiramente confuso.

— Como assim? Ela estava louca. Só pode!

            Louise parou para refletir. Pôs a mão no queixo, e arqueou as sobrancelhas.

— Sério? Talvez o senhor lembre se eu te contar o verdadeiro nome dela: Caroline Bezerra.  Pelo que soube, ela te conheceu há catorze anos. Quando a família dela sofreu um acidente de carro e o senhor a resgatou.

            Rodrigo gelou. Seus olhos arregalaram e seu coração palpitou. Não acreditava no que estava acontecendo. Não imaginava que aqueles acontecimentos de anos atrás poderiam vir à tona logo naquele dia. Aquilo não parecia real. Engoliu a seco, e pensou bastante para responder.

— Não faço ideia. Agora, só quero terminar com essas perguntas, chamar a minha família e sair para qualquer lugar daqui! — respondeu, gaguejando.

— Excelente, mas relembro que o senhor não pode sair da cidade enquanto há um inquérito policial acontecendo. De qualquer forma, agradeço sua participação na investigação, senhor governador. Pode ir e chamar sua esposa, por gentileza?

            Ele assentiu com a cabeça e, rispidamente, dirigiu-se para a sala novamente. Assim que ele saiu, Louise o xingou de diversas coisas. Poucos minutos depois, Emily Drummond entrou no recinto, apressada e sorridente. Estava maquiada como sempre, vestindo uma blusa branca e uma saia florida.

— Boa tarde! — A esposa de Rodrigo cumprimentou, e a policial retribuiu.

— Sei que é chato fazer isso, mas acredito que não tomarei muito do seu tempo. É importante fazermos esse procedimento.

— Oh, não precisa se desculpar, querida! — Ela disse, simpática, esboçando um largo sorriso para a moça — Uma mulher morreu aqui em casa. Daqui a pouco virão os jornalistas querendo fazer entrevistas e interrogando. Não suporto isso! Quero que descubram logo. Eu, como esposa de um governador, não admito injustiça. O culpado precisa ser descoberto! E eu colaborarei com isso com o que quiser. Mas diga, o que quer de mim?

— O quanto a senhora conhecia Alice Ferreira?

— Eu? Bem, quase nada. Só que era a psicóloga do colégio de Beatriz. Mas ela era uma moça muito bonita. Devia causar muita inveja. Não em mim, é claro. Você sabe, sou casada, e amo minha aparência. Não a troco por nada. Acho tão feio esses jovens, tão novos fazendo diversas cirurgias. Não que eu não goste, mas precisa mudar a cara toda? Acho que, no máximo, botóx e silicone. E redução de estômago também, né? Sou toda natural e, por isso, meu marido me ama. Mas, respondendo a sua pergunta... Aliás, qual era a pergunta mesmo?

            Louise perdia a paciência com ela também, mas manteve a postura. Respirou fundo e continuou. Ela ouviu atentamente a fala da mulher, mas não anotou nada. “Meu Deus, falou tanto, mas não disse nada de importante!” pensou.

— Perguntei se conhecia a vítima, mas a senhora já me respondeu. Agora, preciso que diga sobre seus passos na noite de ontem.

— Ah, claro! Ontem, bem... Eu e Rodrigo fomos para um motel cinco estrelas que existe aqui perto. Chiquérrimo! Chegamos lá por volta das seis horas da noite. Eu e Rodrigo nos amamos. Só nós dois. Jorge ligou para nós, às duas, mais ou menos, disse que estava acontecendo uma bagunça lá. Não entendi direito no começo. Tipo... “Como assim uma festa?” Isso não é comum. Christian sempre foi meio “vida louca”, como dizem os jovens. Mas não para isso... — ela deu uma pequena pausa, e então, continuou — Então, onde eu parei? Ah, Jorge ligou e Rodrigo se preparou para ir até a casa. Eu pedi para ir junto. Ele falou que não, mas eu insisti muito. Não ia deixar meu marido ir sozinho para lá. Ele parou o carro ali na frente e pediu para que eu permanecesse no carro. Achava que era bobeira, mas quando viu, estava muito bagunçado e desorganizado. A comemoração foi enorme! Na hora, eles estavam em outro lugar, parece. Rodrigo me chamou para entrar, ele tinha dito que Christian estava transando com uma menina que veio com a gente. No nosso quarto. Pouca vergonha! Aí ele ficou lá esperando o resto do povo. Quando chegaram, ele brigou com eles e me levou de volta ao motel. Quando voltamos hoje, às nove horas, um garoto nerd e uma gorda preta disseram que essa tal de Alicia morreu. Eu fiquei horrorizada! Um crime bárbaro! 

            Louise bufou, entediada. Revirou os olhos e se voltou para a mulher a sua frente. Pensou em perguntar se percebeu algo estranho quando chegou na casa, ou se ela desconfiava de alguém, mas pensou melhor e desistiu. Emily Drummond era tagarela demais para a paciência dela.

— Entendi. Muito obrigada pela sua ajuda! — agradeceu, cordialmente, com um sorriso leve.

— Eu fui útil na sua investigação? — Ela questionou, demonstrando preocupação.

— Oh, claro! Anotei tudo que dissera. Agora, eu creio que descobriremos logo quem é esse assassino.

— Ou será que é assassina?

— É! Pode ser também. Agora, peço-lhe para chamar Christian, por favor.

— Ah, claro! Já vou chamar ele. Se houver alguma coisa para ajudar...

— Eu lhe chamo! — Louise interrompeu, ficando nervosa — Pode deixar, querida!

            A mulher fechou a porta, e a policial respirou aliviada. “Está para nascer pessoa mais chata que ela!” pensou. “Pergunto-me se tudo isso é fingimento, ou ela é insuportável assim mesmo” falou para si mesma.

            A porta se abriu, e Christian entrou no quarto. Estava nitidamente nervoso, com o cabelo bagunçado. Vestia uma regata azul e uma bermuda jeans. Mordia os lábios e seus olhos não paravam de mexer. Sentou-se na cadeira em frente a detetive e começou o interrogatório.

— Então detetive, eu não fiz nada. Juro. Sei que pode achar que fui eu, mas não foi! Nem sei nada sobre esse crime. Quero que o verdadeiro assassino vá para a cadeia. Ou melhor, que morra de uma vez! Não tenho nada a ver com isso!

            Louise deu uma risada, mas por dentro reprovava o rapaz. Lembrava do que Alice disse ao seu respeito. Que era cúmplice do pai. Ou seja, para a detetive, ele não passava de um criminoso hipócrita escondido nas asas do governador.

— Acalme-se, Christian. Esse interrogatório não é para instigar o culpado a se declarar. É para esclarecer o que ocorreu na noite do crime. Garanto que pegarei esse assassino! Mas, para isso, preciso que o senhor conte tudo o que ocorreu nessa última noite.

— Oh, está bem. Essa última noite, né... — Ele gaguejava. Não percebia, mas estava suando também. Pensou nas palavras, e respondeu — Bem, eu fiquei muito bêbado, mas lembro que, por volta das 17 horas eu tive a ideia de ir a uma festa. Mas seria em outro lugar. Só que o pessoal ficou pedindo para fazer aqui. Não resisti e fiz. Distribuí tarefas a todos e fui comprar a bebida. No meio da festa, dancei com Isabela. Gostei dela. Você sabe, sou homem e ela, bem, é uma mulher atraente. Seduziu-me. Quando deu meia noite e pouca, quando o pessoal foi ver os fogos, fomos para o quarto dos meus pais fazer, você sabe, “aquilo”. Estávamos embriagados. Depois, dormimos profundamente. Até umas três horas, quando meu pai nos acordou e brigou comigo por ter feito aquilo na sua cama. Acordei às nove com a notícia da menina morta.

— Sim, está anotado. Só, responda-me uma pergunta: Você escolheu quem para ficar com as bebidas?

— Miguel. O estagiário de biologia deles — ele respondeu, cauteloso. Engolia saliva e mexia descontroladamente as pernas.

— Mas, por quê?

— Ah, se não me engano, ele que se voluntariou por já ter experiência com bebidas e tal.

— Certo... — ela disse, enquanto digitava no seu computador. Christian suspirou — O senhor tem a ideia de quem poderia ter matado Alice?

— Não sou capaz de opinar, senhora! — Ele respondeu rapidamente.

— Tudo bem. Senhor Christian, se o senhor esconde algo, é melhor falar agora. Fale para mim, o senhor conhece Alice? — Ela questionou, séria, mas queria rir do nervosismo do jovem, que respirou forte ao ouvir a pergunta.

— Ah, tudo bem! Tudo bem! Eu confesso! — Ele lançou as mãos sobre a cabeça. Não aguentando a pressão. Fechou os olhos. Não conseguia olhar na face da detetive. Porém, criou coragem e, devagar, encarou a mulher novamente. Dessa vez, com os olhos avermelhados e lacrimejando. Louise se sentiu vitoriosa — Há um tempo atrás. Cerca de um mês, não lembro, encontrei com ela em uma choppada da faculdade. Mas ela estava bem diferente. Toda maquiada e com um cabelo maior e mais claro. Mas ela dizia que se chamava “Luana”. Levei ela para o meu apartamento. Mas, ela conseguiu pegar o meu celular. Só fui descobrir que essa “Luana” na verdade, é “Alice”, anteontem. Acho que ela queria fazer algo comigo... Mas não deu certo pois, agora, está morta. Mas não por mim! Eu juro!

            Louise ponderou, sabendo que ele estava omitindo algo. Mas, assentiu.

— Está bem. Fique tranquilo e saiba que, fazendo isso, você está contribuindo para a investigação. Só a última pergunta... Seu pai sabe disso?

— Oh, não! Ele jamais poderá saber disso.

— Então, é isso. Pode ir. Chame o empregado de vocês, Jorge Rodrigues, por favor.

— Sim. Claro! — ele concordou, aliviado por ter acabado isso. Saiu apressadamente pela porta e fez o que foi pedido.

            Cerca de cinco minutos depois, Jorge Rodrigues entrou. O homem vestia um blusão de botão e uma calça jeans. Sua barba e cabelos eram grandes e bagunçados.

— Boa tarde, senhora policial — ele cumprimentou, com sua voz grossa — em que posso lhe ajudar?

— Bom, creio que já saiba. Uma mulher que acompanhava os jovens no passeio foi morta. Lançada da janela do quarto de Beatriz. Arrastaram-na até os arbustos e, lá, a deixaram.

— Oh, sim. Sei sim! Trágico!

— Pois é. Preciso da ajuda do senhor para esclarecer esse crime. Pelo que fiquei sabendo, o senhor é como um mordomo do governador. Certo?

— Sou mais um zelador, digamos assim. O governador só vem aqui em temporada de férias ou feriados. Ele me contratou para sempre estar fazendo a manutenção da casa. Também dirijo o seu carro quando precisa. Creio que me entendeu.

— Oh, compreendi sim. O quanto o senhor conhecia a vítima?

— Ah, muito pouco. Só a via passando pela casa e, ontem, quando ela me visitou.

            Louise arregalou os olhos. Surpresa com a informação.

— Ela te visitou? Conte-me mais!

— Sim. Por volta das 17:30. Ela disse que veio para conversar, apenas. Falar da festa que planejavam. Eu, obviamente, fui contra. Inclusive, ia lá para não permitir que isso acontecesse. O governador não ia gostar disso. Mas, aí, ela veio até a mim e colocou um troço no meu nariz, que eu apaguei. Quando acordei, já eram duas da manhã. Aparentemente, não tinha ninguém em casa. Liguei para meu patrão e ele veio. Às nove horas, recebi a notícia de que tinha alguém morto lá. E é isso.

— Entendi. O senhor notou alguma coisa suspeita de alguém? Alguém que poderia tê-la matado?

— Não exatamente. Mas hoje cedo, quando acordei, senti falta do pé de cabra que deixei na cozinha. Dentro de um galpão. Eu ia usá-lo anteontem, mas acabei adiando. Deixei lá e não senti falta.

— Quando você o colocou lá?

— À noite, quando comiam o sanduíche que fizeram.

— Essa foi a arma do crime. — ela afirmou, refletindo — Mais alguma coisa?

            Ele fez que não, e Louise suspirou.

— Muito obrigada pela colaboração. Agora, pode ir. Mas, vou pedir ao senhor chamar alguém. Pode ser?

— Ah, claro! — Respondeu, levantando-se — Quem?

— Beatriz Drummond.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Detestaram? Por favor, comentem tudo o que estiverem achando! Alguma teoria sobre o que aconteceu?

Agora vai começar a fase da investigação de interrogatório. Vai ser uma fase cheia de revelações e mais mistérios. Espero que gostem!

Vejo vocês nos comentários!