Riddle e ela não haviam trocado mais nenhuma palavra desde aquele dia na biblioteca.

De certa forma, isso  fora um alívio para Aurora, mas ao mesmo tempo preocupações surgiam em sua cabeça. Ela percebia os olhares intensos que recebia do sonserino nas aulas que tinham juntos, nos corredores e quando estavam no Salão Principal. Porém não se aproximavam.

Até que na aula de Poções, em uma quarta-feira chuvosa de fim de setembro, professor Horace Slughorn dividiu os alunos em duplas. Por dentro, Aurora torcia para que continuasse ao lado de Anastácia, mas o professor tinha outros planos. A corvinal sentiu seu sangue gelar ao ouvir "Aurora Cromwell e Tom Riddle" sair da boca de seu professor. Anastácia havia feito uma careta e a desejado boa sorte.

Pegando suas coisas e indo se sentar ao lado de Tom na frente da sala, a garota se surpreendeu quando o rapaz sorriu de leve e acenou com a cabeça a cumprimentando, embora seus olhos estivessem críticos, como se a avaliassem completamente. Nesse caso, ela não poderia culpa-lo; era péssima em Poções, e tinha certeza que só fazia parte do famoso 'Clube do Slug' por conta de sua família e seu talento em outras áreas da magia.

Tom Riddle parecia perfeito em tudo o que fazia, por isso ela não ficou surpresa ao vê-lo dar a definição perfeita da Poção do Morto-Vivo que precisariam produzir.

Enquanto Riddle posicionava o caldeirão, Aurora, timidamente, pegou as raízes de valeriana e começou a cortar cuidadosamente.

— As raízes, por favor. - a voz de Riddle a tirou de seus pensamentos. Ela as entregou e ele jogou no caldeirão, e a poção assumiu uma cor groselha - Perfeito, agora as vagens. - ele pareceu murmurar para si mesmo.

— Não seria mais eficaz amassar as vagens ao invés de cortar? - Aurora disse, observando a adaga nas mãos do sonserino. Ele ergueu uma sobrancelha e ela pressionou os lábios - Provavelmente faria sair mais seiva. - deu de ombros.

— É, acho que você está certa. - disse ele, de forma hesitante e levemente aborrecida, provavelmente com o fato de não ter percebido isso antes.

Essa foi a última conversa que tiveram durante todo o preparo da poção. E então Aurora soltou uma risada e tentou disfarçar, mas seu parceiro já havia se virado para a encarar.

— O que é? - ele perguntou, impassível, embora seus olhos demostrasse uma leve curiosidade.

— Nada, importante, é só que... - ela respirou fundo - Tem um conto trouxa chamado A Bela Adormecida, sabe? Da princesa que fura o dedo em uma roca e caiu em sono profundo? - deu outra risada - Eu tenho o mesmo nome que essa princesa, Aurora, e aqui estou eu fazendo a Poção do Morto-Vivo, que coloca a pessoa que a beber em sono profundo. Estava rindo da ironia.

Um dos lados do lábio de Tom se ergueu, mas ele logo pareceu voltar a ficar inexpressível.

— Eu conheço o conto. - ele falou, a surpreendendo - Na verdade, existiu mesmo uma dama, na história bruxa, que por ser muito bela despertou a inveja de uma outra dama, que decidiu mergulhar uma agulha na Poção do Morto-Vivo e induzir sua vítima a usar o objeto. Ela então furou o dedo e caiu em sono profundo. - ele abaixou os olhos para a poção - Um nobre homem, viajante de um lugar bem longe, parou para descansar na casa dos pais da dama adormecida, e encantando-se com a beleza dela, disse que tinha como desperta-la. Dotado nos conhecimentos de poções, ele fabricou um antidoto, que passou nos lábios, e beijou a bela adormecida. - voltou a encara-la e deu um leve sorriso - Ou pelo menos, é especulado que tenha existido, mas é uma história passada e escrita como um conto.

Aurora ficou momentaneamente sem palavras.

— Você daria um bom corvinal. - ela disse por fim, e se virou para frente.