Sombras do Futuro - Final escrita por Cary Monteiro


Capítulo 3
Monstros antigos, temores antigos




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Xavecão estava na padaria do Seu Joaquim se distraindo com o restinho de milkshake de morango que havia tomado. Mexendo com o canudo lentamente, em sua mente os pensamentos o levavam longe. Ele lembrava com tristeza dos seus amigos e do seu grande amor, e como tudo nunca mais voltaria a ser como antes.

    - Que tempinho estranho, a uma hora atrás estava um dia tão ensolarado. Eu heim… - Quim comentava enquanto limpava o balcão. Xavecão estava próximo e prestou pouca atenção, mas foi o suficiente para fazê-lo sair do transe que ele se encontrava e olhar para o lado de fora. Ele observou perplexo o conjunto de nuvens escuras se formando acima do parque do Limoeiro. Essas não são nuvens de chuva, ele pensou. Jogou uma nota de vinte no balcão para Quim e saiu correndo.

    - O que raios está havendo? Será a Denise? Eu preciso chegar lá o quanto antes!

        Já próximos do parque, Mônica, Magali e Cascão puderam observar a gigante parede de folhas que se estendia por todo o parque e mudava completamente sua arquitetura original. Como se isso não fosse o bastante, havia uma densa névoa e o céu acima estava completamente escuro. O elefante tocou sua tromba como um trompete avisando sua chegada. Uma escada feita de raízes começou a se formar e o animal caminhou por ela, olhando para trás rapidamente, chamando pelos garotos.

           Mônica foi na frente, seu rosto tinha um misto de determinação e desespero. Magali e Cascão a seguiram logo atrás. Um rugido ao longe foi ouvido. Quando a turma subiu os últimos degraus e o grande elefante saiu da frente, os três perceberam estar numa espécie de plataforma de aço, mais à frente haviam duas pessoas. O elefante chamado Jotalhão prestou continência para um dos vultos e o mesmo movimentou a mão para que ele descansasse.

    - Vocês estão vendo a mesma pessoa que eu? - Cascão perguntou para as amigas.

    - I-isso é possível? - Magali olhou para a sua amiga Mônica e de volta para a Mônica amazona. - É você, Mônica!

        A morena encarou para a pessoa estranhamente parecida com ela. Ambas se fitaram como se uma guerra estivesse acontecendo no ar e só elas pudessem ver.

    - Isso é algum tipo de ilusão?! - Mônica vociferou, irritada.

    - Não sou ilusão nenhuma. Eu sou você, vinda de um futuro devastado pelo Cebola e seu exército de máquinas sanguinárias. - A guerreira explicou. Mônica então passou a entender um pouco melhor o que se passava e trocou sua feição de raiva por uma mais complacente. Ela se lembrou de tudo o que Xavecão já havia lhe contado na praia a alguns meses atrás. A morena se aproximou lentamente até a sua versão mais velha e a mesma permaneceu quieta, curiosa, seguindo-a com os olhos.

     Mônica ainda estava tentando entender se aquilo era tudo real mesmo, como ela poderia ter certeza? Porém algo veio em sua mente, não, em seu coração. Algo que ela precisava fazer. Quando ela chegou perto o suficiente da Mônica amazona, ela a abraçou. A guerreira não teve reação diante da inesperada ação vinda dela mesma de uma dimensão paralela. Ela sorriu e a abraçou de volta com vontade.

    - Oh, eu não sabia o quanto eu precisava deste abraço. Obrigada! - Ela agradeceu e depois se desfez do gesto carinhoso. A feiticeira Magali ao lado sorriu e observou sua versão mais nova chegar perto cuidadosamente junto do seu amigo Cascão.

    - Não temam, está tudo bem. - Ela disse para aliviá-los.

    - Mas… O que fazem aqui? Eu achei que Xavecão tivesse resolvido tudo na sua dimensão. - Mônica comentou para a amazona.

    - É por isso que eu vim. Nada mudou e eu precisava fazer algo quanto à isso.

               Mônica escutou o grito de alguém. Alguém que ela conhecia muito bem. Ela se aproximou da beira da plataforma e assustada avistou Cebola correndo de uma criatura que lembrava uma mantícora.

    - Cebola!

    - Mônica?! Ahh, a verdadeira! Lindo dia para correr por sua vida de uma besta mitológica, não acha?!

    - O que ele está fazendo lá?! Tira ele de lá! - Mônica suplicou para a guerreira.

    - Desculpe, mas eu não posso. Ele deve morrer para que deixe de existir na dimensão de onde eu venho. Mas eu me mantive justa e dei a ele três desafios para passar. Se ele sobreviver eu poupo sua vida. - A guerreira explicou.

    - O quê?! Que ideia idiota foi essa? Só podia ter vindo de mim mesmo! Ele não sabe da verdade! Só eu e Denise sabemos! Como pode fazer isso?

    - Isso é estranho, porém previsto. Aliás, Mônica, eu já contactei a Denise, ela está à caminho. Sobre o Xaveco eu não tenho ideia, mas ele também não deve tardar a vir. Conhece bem os vestígios da minha magia. - A feiticeira comentou.

       Sem que os outros percebessem, Mônica saltou da plataforma e caiu no labirinto.

    - Hey, o que pensa que está fazendo?! - A amazona questionou.

    - Se você não vai tirá-lo de lá o mínimo a se fazer é ajudá-lo! Não vou deixar que minha versão do futuro mate ninguém, ouviu bem?!

         A Mônica guerreira sorriu e sentiu uma pitada de orgulho. Você ainda tem rios de esperança que em mim secaram faz tempo, ela pensou.

    - Hey, isso é só um gatinho gigante, não é? Talvez se eu encontrar um novelo de lã pra ele, mas onde eu vou encontrar isso por aqui, não é mesmo? - Cebola procurava no chão algo que pudesse usar contra o leão com cauda de escorpião. Ele avistou um galho e o pegou. - A-HÁ! - O leão virou a esquina e encarou o garoto mostrando os os grandes caninos. - Não pode me vencer agora, bichão, eu tenho um galho e não tenho medo de usar! - Ele empunhou o galho para o monstro que por sua vez deu uma patada, arrancando o galho longe. - Oh, droga, hora do plano B: CORRER!

       Cebola correu disparado, virando em cada esquina o mais rápido que podia para poder despistar a fera. Rezava para não encontrar um caminho sem saída até que…

    - Ah, não, caminho sem saída?! - Cebola se viu encarando um paredão e precisava retornar antes que fosse tarde, mas assim que tentou o animal chegou e o encontrou novamente, andando lentamente até ele. - Esse narrador só pode estar de brincadeira comigo, viu…

        A fera rugiu e se preparou o bote de ataque. Cebola fechou os olhos com força, este era o seu fim. Ele ouviu então um estrondo seguido de um terremoto. Arriscou abrir os olhos e avistou o animal ao chão, desmaiado. Na cabeça havia um galo vermelho enorme que pulsava e até saía fumaça.

    - E fique longe dele! - Mônica berrou para o bicho desacordado. Cebola correu até a morena e a abraçou forte, deixando-a surpresa.

    - Eu nunca fiquei tão feliz em te ver, Mô! - Ele agradeceu. Mônica desfez o abraço afastando de leve o garoto.

    - Tá bom, tá bom, não exagera...

    - Felizmente veio você. Eu já estava aqui me perguntando quem havia feito lavagem cerebral com você porque não era possível que aquela lá da plataforma fosse a verdadeira.

    - Ela sou eu e é verdadeira, e a história é longa. Temos que sair daqui! Vamos! - Mônica pegou no braço dele e o puxou para correr junto dela.

    - Como me encontrou tão rápido?

    - Eu segui as pegadas da mantícora e os seus berros também.

    - Ah, garota esperta! Espera, eu berro tanto assim??

    Magali e Cascão observaram Cebola e Mônica correrem pelo labirinto, procurando pela saída e mais a frente havia outro monstro indo na direção deles.

    - Magá, precisamos ajudá-los de alguma forma! - Cascão disse.

    - Eu sei, mas como?

          Cascão puxou da mochila uma espada medieval, surpreendendo Magali.

    - Que bom que eu sou precavido e sempre trago comigo a Excalibur, nunca se sabe quando vai se precisar! - O garoto desceu da plataforma e entrou no labirinto.

    - Cas, espere por mim! - Magá gritou indo atrás. Antes de seguir o amigo ela olhou para a Mônica amazona e para a versão do seu futuro, a Magali feiticeira. Ambas permaneceram quietas, observando-a. Após isso Magali se juntou ao Cascão.

    - Isto estava dentro dos seus planos, Mônica? - Magali do futuro perguntou. A guerreira cruzou os braços e suspirou pesadamente.

    - Não, não estava, mas não importa. Eles não vão passar do último desafio… Eu só não queria terminar desses jeito. De qualquer forma eu já me decidi desde o momento que viajamos para cá e você me conhece, Magá, eu não volto atrás na minha palavra por nada deste mundo.


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