The Black Rose escrita por Chibi Anne


Capítulo 2
Reencontro




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The Black Rose


Capítulo 2 – Reencontro.


E foi assim que os anos se passaram. Três anos, exatamente. Rosa Negra foi um nome que se tornou famoso com o passar do tempo, não só em Paris, como no mundo todo. Um herói para o povo, um vilão para grande parte dos nobres. Assim era conhecido aquele ladrão que vagava pelas noites, em busca da própria Justiça. Não temia a sociedade, muito menos aparecer em público.


- Peguem ele! Peguem ele logo e tragam o meu dinheiro de volta! – O homem ordenou para os guardas. Estava desesperado desde o momento em que havia visto o bandido vestido de negro adentrar em seu escritório e lhe tomar o dinheiro que havia conseguido com certas doações que ‘usaria’ na construção de novos orfanatos.


- Você disse que usaria este dinheiro na construção de novos orfanatos, mas na verdade, o estava usando para comprar uma nova mansão em Barcelona. – Rosa Negra disse, enquanto corria na direção de um dos altos muros da mansão.


- Cerquem esse patife! – O homem gritou. – Não ouçam o que ele está dizendo! Eu darei uma recompensa para quem me trouxer a cabeça deste maldito! – O homem gritava em estado de fúria e o rapaz sorriu, saltando aquele enorme muro sem dificuldades. Parou no topo deste e virou-se na direção da multidão. Era um dia de comemoração naquela casa, por causa do ‘evento beneficente’ que aquele homem havia organizado para arrecadar o dinheiro.


- Peguem o seu dinheiro de volta! Esse homem queria apenas usa-los para conseguir dinheiro fácil!- O garoto abriu o saco de moedas de ouro e lançou-as ao público, que apressou-se em tentar pegar o máximo que conseguiam.


- Meu dinheiro! – O homem gritou, tentando pegar as moedas a qualquer custo. Não conseguiu. Era vencido por uma multidão descontrolada que também tentava alcançar as moedas de ouro. – Ele está fugindo! Peguem ele! – Ordenou quando viu uma rosa negra cair sobre seus pés e o misterioso bandido sumir sob a fraca luz da lua. – Peguem o Rosa Negra!


Rosa Negra...assim era o nome que o público tinha escolhido para si quando ele escolheu trilhar aquele caminho. Lembrava-se de sempre ouvir a mãe lhe contar histórias sobre Robin Hood. Sim, aquele bandido um dia havia tido uma mãe. Era uma pessoa como todas as outras, não era? Só que, agora, era um fugitivo da noite que tentava despistar alguns policiais que não conseguiriam pegá-lo.


Foi assim que aconteceu o segundo encontro dos dois. Coincidência, muitos poderiam pensar. Mas não ele. Já fazia tanto tempo e, mesmo assim, ainda havia guardado a feição daquela garota. Os dois esbarraram na rua, enquanto ele fugia dos policiais e, para não ser pego, ele puxou-a para um beco escuro que havia ali, tapando-lhe a boca e segurando-lhe pela cintura firmemente.


- Mas o q... – A garota arregalou os olhos e primeira coisa que tentou fazer, foi se livrar de seu ‘seqüestrador’ que havia esbarrado nela. Mas ao ver a polícia ali, ela parou de se debater. Já estavam atrás de si? Não. Ainda era muito cedo. Tentou olhar de canto para a figura que lhe segurava, mas a roupa negra que ele usava e a pouca luz que a lua proporcionava, tornava muito difícil identifica-lo.


- Essa foi por pouco...- Ouviu ele murmurar quando afastou-a de si e recostou-se sobre uma das paredes. – Uma garota como você, não deveria andar sozinha por aí. – O rapaz disse. Só agora ela havia notado o modo como ele estava vestido: Usava um terno negro, revestido por uma capa também negra. Haviam alguns detalhes em roxo na roupa e forro interno da capa possuía este tom, assim como a fita que havia em sua cartola. Usava uma máscara negra, com alguns detalhes em roxo. Era difícil de ver os olhos dele, mas Anna tinha a impressão de já ter sentido...aquele toque.


- E quem é você para dizer se eu devo ou não andar por aí sozinha? – Anna disse de maneira cortante. Não demonstrava ter medo dele, como a maioria das pessoas teria. – Rosa Negra...que nome mais patético.


- Patético? – O rapaz olhou para ela e Anna o teria visto arquear as sobrancelhas, não fosse a máscara que usava. – Não me importa a opinião de uma garotinha mimada como você. Mas não fui eu quem escolhi o nome. – Justificou. - As pessoas começaram a me chamar assim, pelo meu costume de deixar rosas negras por aí. Confesso que é um apelido bem engraçado.


- Mimada? Eu? – Anna arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços, olhando para ele. – Pelo menos eu não preciso me esconder atrás de uma máscara. – Ela disse com indiferença e ele sorriu. Aquele sorriso...onde já havia visto um igual?


- Será mesmo? – Ele perguntou de maneira sarcástica.


- O que você está insinuando? – Ela perguntou com um olhar mais sério. O tom de voz não se alterava sequer por um instante.


- Você sabe bem o que eu estou insinuando. – Ele disse com calma. – Eu me escondo atrás de uma máscara para ajudar as pessoas que precisam de mim. Você poderia dizer o mesmo, Anna? – Pronunciou o nome dela com todas as quatro letras e ela arregalou ligeiramente os olhos.


- Onde é que ouviu o meu nome, ladrão Rosa Negra? – Anna perguntou, deixando os braços penderem ao lado do corpo. Aquela expressão de frieza que ela possuía, não se alterava por nada.


- Um nome deveras comum entre os nobres da França, devo dizer. – O rapaz respondeu. – Como o bom ladrão que sou, devo me manter a par de todas as notícias,não é?


- Mas não estamos na França. – Ela respondeu com a típica seriedade. Inabalável era a palavra que ele estava procurando. Inabalável era, definitivamente, a palavra que definia aquela garota.


- Você não tem medo de mim? – Ele perguntou, aproximando-se mais dela. – Não tem medo do que um ladrão como eu, possa fazer com uma dama como você, no meio de uma noite escura, dentro de um beco, onde a luz quase não chega?


- Sinceramente? – Ela arqueou uma das sobrancelhas e deixou escapar um sorrisinho que poderia ser considerado uma provocação. – Não. – Respondeu secamente e o sorriso sumiu de seu rosto.


- Que pena. – Ele respondeu e aproximou-se dela, apoiando ambas as mãos ao lado de seu rosto, encarando-a nos olhos. Que olhos teriam por trás daquela máscara que ela não podia enxergar? A curiosidade a estava matando...


- E agora, senhor ladrão? O que vai fazer? – Ela perguntou. Era como se o tentasse a fazer algo consigo. Imaginem só a capa de jornal no outro dia: Ladrão Rosa Negra atrai garota indefesa para dentro de um beco e comete atos de pura maldade com ela. Claro, aquilo era apenas fictício.


- Agora...- O rapaz segurou-a pelo queixo, olhando-a nos olhos. Apenas por um segundo ela teve a impressão de enxergar aqueles olhos. Olhos tão penetrantes...Anna sentiu o sangue gelar ao pensar naquilo, mas não teve tempo o suficiente para pensar em mais nada, quando sentiu os lábios dele se juntarem aos seus.


Anna ficou...estática. Ficou estática diante da reação daquele rapaz que agora lhe beijava. Os braços pendiam ao lado do corpo e os olhos se mantinham tão arregalados que, as orbes pareciam que iam saltar do rosto a qualquer momento.

Durantes alguns segundos, Anna achou que não teria forças para reagir. Até que despertou para a realidade. Viu um rapaz vestido de negro lhe roubando um beijo.


O estalado som de um tapa foi a única coisa ouvida num raio de metros daquele beco. As pessoas mais próximas (se é que havia alguma) poderiam ter a impressão de terem ouvido um estouro, mas isso passaria logo.


O rosto do rapaz estava levemente inclinado para o lado e a forma avermelhada dos cinco dedos da mão esquerda dela, já se desenhavam em seu rosto. Por alguns segundos, ele apenas ficou assim.


- Ali está ele! – Ouviu uma voz dizer, não muito longe dali, da entrada do beco.


- Nós voltaremos a nos encontrar, dama da noite. – Rosa Negra pronunciou e deixou uma rosa de cor negra aos pés dela, saltando para o telhado daquela casa e correndo.


- Ei! Você está bem, garota? – Um dos homens aproximou-se de Anna, que tinha uma das mãos sobre a boca. Olhava na direção que ele havia ido e olhou para a rosa negra no chão, pegou-a com a mão livre e limpou o beijo com as costas da mão, apertando a rosa contra a outra, até que suas pétalas voasse na direção que o vento ordenava. Não respondeu ao chamado do homem, apenas virou-se e saiu caminhando na direção oposta, deixando um homem muito confuso para trás.


- O que você está esperando?! Ele foi por ali! – Um outro homem surgiu na entrada do beco e logo desapareceu, correndo na direção de onde Rosa Negra havia ido.


- Que...estranho. – O homem comentou, antes de seguir caminho com os outros.


X


Insuportável.”


Irritante.”


Arrogante.”


Quem aquele ladrãozinho pensa que é?!”


Anna pensava enquanto adentrava a sala da própria casa de verão, na Espanha, em passos mais pesados do que uma dama realmente deveria dar. Passos até mais pesados do que os passos de um homem. Estava irritada, muito irritada com a atitude daquele tal Rosa Negra. Quem ele pensava ser para trata-la daquele modo? Para roubar um beijo dela?! Um beijo!


- Anna! – Um Yoh tentou barrá-la antes que subisse as escadarias, mas recebeu um olhar tão gélido que foi obrigado a afastar-se alguns passos.


- O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou, subindo o primeiro degrau e o noivo a acompanhou.


- Hoje nós tínhamos um jantar, você não lembra? As nossas famílias iam se encontrar com negociantes importantes aqui da Espanha e você prometeu ao seu pai estar aqui até as nove horas. – Yoh apontou para o relógio. As badaladas da meia-noite já haviam passado há muito, muito tempo. O relógio marcava três horas e trinta minutos da madrugada.

Anna ia comentar algo, quando notou que Yoh estava um pouco...diferente. Olhou-o da cabeça aos pés e o viu vestindo um terno completamente branco. Mas não era apenas a roupa que era idêntica a daquela noite. Aquele cabelo...talvez tivesse ficado muito tempo sem vê-lo?


- O que houve com o seu cabelo, Yoh? – Anna perguntou, olhando para o noivo. A expressão havia mudado um pouco, não era mais tão fria e irritadiça, mas ainda era muito séria.


- Ah! Eu deixei ele crescer um pouquinho! Eu tinha pensado em cortar ele, mas...acho que fico bem assim, não fico? – Ele abriu um largo sorriso para ela.


- Hum...- Foi a resposta que ele obteve. Se é que aquilo podia ser chamado de resposta. – Se perguntarem por mim, estou no meu quarto e não quero ser incomodada. – Anna disse quando chegaram à porta do próprio quarto. – Boa noite, Yoh. – Ela disse antes de bater a porta “gentilmente” contra a face do noivo.


Yoh tentou dizer algo, antes de ter uma porta como única companheira. Provavelmente iria dizer para Anna que o jantar tinha sido cancelado para um outro dia, mas ela não lhe deu esta chance. Por isso, falou para a porta mesmo.


- Bem eu...só queria dizer que o jantar foi cancelado pra semana que vem, no mesmo dia e no mesmo horário, Anna. – O garoto suspirou pesadamente e coçou a cabeça levemente. – Boa noite, Anna.- Ela ouviu, antes de Yoh partir dali.


Havia trancado a porta do próprio quarto, para ter certeza de que ninguém lhe incomodaria. Foi caminhando até a varanda e abriu a porta desta, tendo total visão da lua, agora. Suspirou pesadamente, olhando naquela direção e foi dando pequenos passinhos para trás, até cair deitada sobre a própria cama, olhando na direção da lua.


Por que? Por que me incomoda tanto lembrar daquele olhar? Por que eu não consigo me lembrar da verdadeira feição daquele garoto? Até pouco tempo atrás, eu jurava que era o Yoh. Mas será que me enganei? Quem é Rosa Negra, afinal? Quem é a pessoa que se esconde por trás daquela máscara?”


Anna encolheu-se ali na cama, descalçando os sapatos que já lhe incomodavam. Por um instante, fechou os olhos e viu a imagem daquele ladrão formar-se em sua mente. Abriu os olhos rapidamente, tentando afastar aquela louca idéia e sentiu uma raiva tremenda tomar conta de si, quando lembrou-se do beijo roubado.


Mas nem por isso, menos desejado...” – Pensou.


Mas o que estava pensando afinal?! Tentou afastar aquele pensamento o máximo que pôde e olhou na direção da lua mais uma vez, como se procurasse alguma resposta em sua fraca luz. Fraca luz da lua, que ainda estava em sua forma crescente. Ainda seria necessária mais uma transformação, para que atingisse o seu total resplendor. Novamente, Anna fechou os olhos. Mas desta vez, não tornou a abri-los, o sono lhe pegou devagar e, aos poucos, sentiu como se mergulhasse em um mundo de sonhos. Havia dormido.


X


- Que estará fazendo a minha doce dama da noite? – Uma voz se perguntava, de pé no alto muro daquela propriedade. O relógio já apontava as quatro da manhã. Mais um pouco e o Sol surgiria. – Deveria ir vê-la, talvez? – Abriu um sorrisinho ao pensar nesta possibilidade que, de todo, não era uma loucura.


Foi por impulso que o ladrão da noite, invadiu aquela casa. Foi caminhando sorrateiramente por entre as sombras daquele imenso jardim, como se o conhecesse com a palma da própria mão. Viu o vento soprar mais forte, levando as cortinas daquele quarto para fora. A varanda, ainda aberta, não tinha nenhuma iluminação senão a da lua. Seria aquele o quarto de sua dama perdida? Desejou ardentemente que sim. Respirou profundamente.


Onde é que você está com a cabeça entrando neste lugar? E para ver uma garota!”


Balançou negativamente a cabeça e girou nos calcanhares. Estava pronto para ir embora, quando lançou um olhar na direção da janela e abriu um novo sorriso.


- Mas já que já estou aqui mesmo...- Saltou na direção da varanda e parou agachado sobre a pequena muretinha. Teria se arrependido profundamente se não tivesse o feito.


A primeira visão que teve, foi a de uma linda garotinha, dormindo sobre a luz da lua. Em passos lentos e leves, ele se aproximou. Parou, porém, ao notar que ela se remexia na cama. – “É o frio.” – Pensou ele, e sorriu. Arriscou aproximar-se mais alguns passos e pegou uma coberta deixada de lado. Cobriu a garota que agora lhe lembrava mais uma mulher. Estendeu uma das mãos para tocar-lhe a face, porém hesitou. Ficou observando-a durante dez..vinte...trinta minutos, talvez até mais. Inclinou-se sobre Anna e recostou os lábios sobre os dela, durante alguns instantes. Afastou-se e deixou uma rosa negra ao lado da cabeceira da cama, virando-se para sair dali. Não sem antes lançar um último olhar na direção de sua dama da noite, como a tratava e fechou cuidadosamente a porta que dava acesso à varanda, antes de sair dali, junto com os primeiros raios de sol.


X


Abriu os olhos lentamente quando ouviu as batidas na porta. Olhou em volta e viu os falhos raios de sol entrarem por pequenas frestas deixadas pela porta entreaberta. Perguntava-se mentalmente se não havia deixado a porta aberta e caído no sono, mas as batidas na outra porta se tornaram tão intensas, que ficava difícil ignora-las.


- O que é? – Anna perguntou, sentando-se na cama.


- Só vim avisar que o almoço já vai ser servido, senhorita Anna. – Ouviu a voz de uma das empregadas, como era mesmo o nome dela? An...Ang...Anglina...Angelina...Não importava, mas achava que não era aquele. Mas...espera aí.
Ela disse almoço?


- Que horas são? – Anna limitou-se a perguntar, por não ter nenhum relógio fácil, naquele momento.


- São 12:10, senhorita. – A empregada respondeu. – O almoço será servido em vinte minutos.


- 12:10 e ninguém me avisa... – Anna suspirou pesadamente. – Tudo bem, eu já estou descendo...- Tentou lembrar o nome dela para pronuncia-lo. Ang...Angel...Ângela! Era isso! Mas agora ela já havia partido, não importava mais.

Anna ergueu-se da cama, tentando lembrar o único momento em que se levantou para fechar a porta que dava acesso à varanda. Por mais que forçasse à própria memória, aquela lembrança não vinha. Foi caminhando até a penteadeira e sentou-se no banquinho que havia ali, para escovar os cabelos devagar. Foi olhando pelo espelho que ela notou algo em cima de sua cama. Franziu a testa e olhou fixamente naquela direção por alguns instantes. Como não chegou a nenhuma conclusão do que se tratava, deixou a escova de lado e foi até a cama. Qual foi a surpresa de Anna, ao ver que aquela coisa que observara do espelho era, na verdade, uma rosa negra.


- Aquele ladrãozinho esteve aqui...-Cerrou os dentes com certa força ao pensar naquela possibilidade e, sentiu-se ainda mais irritada, ao pensar no que ele poderia ter feito enquanto ela dormia. – Nada. – Ela chegou nessa conclusão. Se tivesse feito algo, ela teria acordado. Mas ele era um ladrão, não era? Poderia muito bem ter entrado ali e ter feito qualquer coisa. – Não. – Ela balançou negativamente a cabeça e tentou afastar aquelas idéias. Preferia pensar que tinha trazido aquela rosa para casa consigo. Suspirou longamente e deixou à rosa ali ao lado, descendo as escadas, já preparada para o almoço.


X


- O que foi, Anna? – Yoh perguntou. – Está tão distante...

- Não é nada, Yoh. – Ela disse, após o almoço. Estava sentada no balanço que possuía no jardim da casa e Yoh sentou-se ao seu lado.


- Desde ontem. – Ele comentou. – Por que não me conta o que há de errado? – Perguntou de maneira calma, mas Anna pôde sentir o tom de preocupação em sua voz. Ele não a olhava, apenas fitava à frente, onde viam uma enorme árvore.


- Eu já disse. – Anna virou o rosto para ele. – Não há nada de errado. –Revirou os olhos e deu um pesado suspiro, fazendo menção de erguer-se. Yoh a impediu.


- É por causa do nosso noivado, Anna? – Ele perguntou com calma. – Se...você encontrou alguém que você gosta...- Ele começou.


- Não é nada disso. – Anna cortou Yoh. Mas não era? Não. Definitivamente, não. Odiava aquele ladrãozinho e ponto. Ele apenas...a deixava incomodada. Apenas incomodada.


- Eu não sei, sabe. Acho que devíamos tentar falar com os nossos pais. – Yoh disse com calma.


- Não há nada para ser dito. Depois de três anos você vem me dizer isso, Yoh? – Anna tornou a olhar para o garoto. – Não é você quem está gostando de outra pessoa? – Ela perguntou com tranqüilidade. Yoh abaixou o rosto. – Como é o nome dela?


- ...- Yoh deu um longo suspiro, como se sentisse uma enorme culpa tomar conta de si. -...Marion. – Ele disse por fim. – Uma mestiça de italianos que mora lá na França.


- Uhn...aquela garota do baile? – Anna perguntou, olhando para o chão agora.


- Sim. – Yoh respondeu. – Você não fica triste, não é? Nós prometemos que, se algo assim acontecesse, nós contaríamos um ao outro...- O tom de voz foi diminuindo aos poucos e ele abaixou a cabeça.


- Rosa Negra. – Anna murmurou, cerrando os punhos com força. – Eu o vi na noite passada, Yoh.


- O Rosa Negra? – Yoh arregalou os olhos ligeiramente. – Ele está aqui? Aqui, na Espanha???


- Sim, mas...por que a surpresa? – Anna perguntou, olhando para o garoto.


- Nada em especial...- Ele abriu um sorrisinho bobo para ela. Apesar de tudo, Yoh era um bom amigo. Anna gostava de tê-lo por perto e, desconfiava que, não podia viver sem ver aquele sorriso pelo menos uma vez a cada ano. – Mas o que houve, que mexeu tanto com você, Anna? Você voltou tão irritada pra casa...


Anna lançou um olhar assassino a Yoh que, fez o garoto pensar, ter feito a pergunta errada, na hora errada. Ele ia abrir a boca para dizer algo, quando ela começou a falar. Ela contou tudo o que havia acontecido naquela noite. Desde o fato de terem esbarrado, até terem conversado e...sobre o fato de: “aquele idiota ter lhe roubado um beijo e ter levado um merecido tapa no rosto.”


Yoh não pôde deixar de soltar um gostoso riso após esse comentário de Anna.


- O que é TÃO engraçado? – Ela virou-se bruscamente para ele e lançou um olhar cortante que, pela primeira vez em três anos, ele pareceu ignorar.


- É que...- Yoh tentava conter o riso à medida que o olhar de Anna tornava-se cada vez mais assustador. -...você ficou tão brava e...- Voltou a rir e levou um forte tapa de Anna por isso.


- Pare de rir, Yoh! Não é engraçado! – Anna bufou e revirou os olhos ao ver que, mesmo depois do tapa, Yoh ainda continuava a rir, mas de maneira mais moderada.


- Me desculpe, Anna. – O garoto tentava parar de rir, recobrando o ar aos poucos. – É que eu fiquei imaginando a cena...- Limpou algumas lágrimas do canto dos olhos. Sim, Yoh havia chorado de tanto rir.


- Hunf. – A garota cruzou os braços e virou o rosto para o lado. – Você é um idiota, Yoh.

Ele sorriu para ela e constatou que já haviam passado das três da tarde, pela altura do sol.


- Daqui há um mês, haverá uma festa na casa de uma tal Kanna Bismark. A festa vai ser lá na França, então acredito que voltemos para casa até lá. – Yoh disse com calma. – Parece que ela é muito influente lá na França. Não sei muito sobre ela.


- Uma imigrante alemã que casou-se com um velho senhor, cheio da grana. Dentre os negócios dele, haviam muitos cassinos que envolviam lavagem de dinheiro. – Anna disse com calma. – Ela deixou os negócios a mercê de um homem chamado Luchist. É ele quem cuida de tudo, ela só gasta o dinheiro. – Anna respondeu categoricamente e deixou um Yoh boquiaberto com todas aquelas informações.


- Não sabia que conhecia assim tanta coisa assim...sobre as pessoas...- Yoh coçou levemente o queixo, olhando-a.

- Eu tive que aprender, por causa do meu pai. – Anna encolheu os ombros e ergueu-se. – Acho melhor voltarmos para dentro.


- Sim. – O garoto sorriu e ergueu-se, seguindo caminho com ela. – Temos que encarar as feras.


X


- O QUÊ?! – Mikihisa ficou estático ao ouvir o que os dois, Anna e Yoh, haviam dito. O pai de Anna, porém, não pareceu surpreso.


- Eles eram muito novos, Miki. Era algo que deveria ser esperado. – O pai de Anna respondeu com um suspiro.


- Não. Não. Não. Definitivamente, não. – Mikihisa levou ambas as mãos à cintura. – O que você acha que todos vão falar sobre o rompimento de um noivado como esse, Yoh? Anna? – O homem lançou um olhar de reprovação para os dois.


- Nós não podemos nos casar, papai. – Yoh disse com uma convicção que surpreendeu a todos, até – principalmente – Mikihisa.


- Sim, ele tem razão. – Anna prosseguiu, sem dar brecha para que nenhum dos dois falassem. Estavam todos – exceto Mikihisa que estava de pé - sentados em uma pequena salinha, como haviam feito lá na França. – Acontece que...- Anna baixou o rosto, procurando as palavras certas. – “Eu acho que gosto de um cara arrogante, metido a ladrãozinho.” – Anna balançou a cabeça negativamente ao ter esse pensamento, chamando toda a atenção para si.


- Eu gosto de outra pessoa, papai. – Yoh disse calmo. – Não me leve a mal, sabe? Eu sei o quanto esse casamento seria importante para a família, mas a Anna e eu...nós somos amigos. Eu não consigo ver ela como minha esposa, papai.


- Você não vai dizer nada, Anna? – O pai dela perguntou, olhando-a fixamente.


- Eu não posso ficar com o Yoh, papai. No inicio, achei que isso poderia dar certo. Mas nós somos amigos, como ele disse. – Anna ergueu o olhar. Aquele olhar sem expressão, que quase nunca mudava. – Além disso...


- Além disso...? – Mikihisa interferiu, ao ver o longo silêncio que havia se instalado naquela casa.


- A Anna também gosta de outra pessoa! – Yoh disse com tom animado e passou um dos braços pelos ombros da garota.


- Eu não gosto não! – Ela respondeu num impulso e afastou-se de Yoh. Ele riu.


-Eu tenho certeza que gosta! – Yoh insistiu e dois pais confusos assistam à cena.


- Não tem certeza de nada! – Anna disse e não esperou resposta de Yoh. Desferiu-lhe um forte tapa que o fez cair do sofá onde estavam sentados, ele e Anna, de cara no chão.


- Ahn...- Um Mikihisa olhava a cena confuso e, por instantes, Yoh lhe lembrou outra pessoa. Ele balançou negativamente a cabeça. – Então o noivado está cancelado, não é?


- Sim. – O pai de Anna concordou com um sorriso. – Mas eu espero que isso não impeça que nossas famílias trabalhem juntas, Miki.


- Oras, mas claro que não! – Mikihisa abriu um largo sorriso.


- Vocês...- Yoh começou.


- Não vão querer dar uma festa para isso...- Anna continuou.


- Vão? – Yoh terminou e os dois pais se entreolharam caindo na gargalhada.


- Seria até divertido, mas...nós temos que voltar para a França. E temos muitos compromissos por lá. Dentre eles, a festa que vai ser dada na casa da madame Bismark. – Mikihisa disse com calma.


- E eu quero que vocês dois compareçam na festa, me ouviram? – O pai de Anna disse. – Essa vai ser uma importante concentração de poderosos nobres e são em festas assim que nascem os grandes negócios, não é Miki?


- Com certeza! – O outro respondeu com um largo sorriso. Anna e Yoh apenas se entreolharam como se dissessem: “Esses caras são mesmo os dois caras mais ricos da França?”. Ambos, Yoh e Anna, deixaram um singelo sorriso escapar.


- Quando partiremos, papai? – Anna perguntou.


- Logo pela manhã. Então eu aconselho que os dois já deixem as malas preparadas. Não queremos nenhum eventual atraso, pois eu e Mikihisa temos uma reunião em Paris, com um produtor de chás vindo de Londres.


- Certo. – Os dois disseram juntos e se entreolharam mais uma vez. Cada um subiria para o próprio quarto, prontos para arrumarem as malas e saírem dali o mais rápido possível.


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Notas finais do capítulo

Essa fic acabou ficando maior do que eu pensei que ficaria. Quando eu comecei a escrevê-la, pensei que seria oneshot. Acabou ficando com três capítulos e, acho eu, que bem distribuídos.

Btw, quem já leu até aqui, pode ler mais um capítulo, né?

Até mais!



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