IV escrita por Ane


Capítulo 7
Jungkook


Notas iniciais do capítulo

Capítulo que eu não pude postar ontem, já que aconteceram alguns imprevistos :(



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Ao dar o primeiro passo na sala de prática, Jungkook soltara um suspiro aliviado por perceber que a mesma se encontrava vazia, o que era quase raro naqueles dias. Bem, talvez encontrá-la assim não teria sido uma grande surpresa para ele, pois justamente por querer que isso acontecesse, ele havia esperado até de madrugada para poder treinar individualmente. Ele sabia que precisava praticar mais vezes com os outros trainees que provavelmente seriam os seus companheiros de grupo num futuro próximo, porém o fato dele estar ali há pouco tempo e ainda não se sentir à vontade o suficiente, o impedia de considerar essa alternativa por mais vezes. Sabia que, querendo ou não, teria que quebrar essa barreira e começar a se enturmar, mas não queria pensar sobre isso naquele momento. Como sempre, ele achava que provavelmente muita gente ali nem gostava dele, por achar que talvez sua timidez fosse arrogância ou algo do tipo. Preferia continuar na sua zona de conforto por mais algum tempo. Afinal, em apenas três semanas, Jungkook começara a morar com várias pessoas desconhecidas e teria que conviver por sabe-se lá quanto tempo com elas por conta de um projeto no qual poderia significar o seu debut. Era muita coisa ao mesmo tempo. Assim como estava feliz por ter provavelmente a chance de debutar, estava aflito pois ele sabia que tinha que mudar várias coisas em si mesmo, incluindo principalmente sua introversão. Como ele iria um dia poder olhar bem nos olhos dos seus fãs se nem ao menos conseguia ficar por muito tempo junto com os seus futuros companheiros de grupo? Ele pensava enquanto se maldizia em silêncio.
          Mas ele estava se esforçando, gostava de pensar assim.
          Ele nem mesmo se lembrava de quando começara a agir dessa forma, provavelmente era apenas um traço de sua personalidade. Gostava de ficar sozinho desde quando se lembrava e, até há algum tempo atrás, ele se sentia bem com isso. Contudo, nessas últimas semanas, alguma coisa estava diferente. O eco dos seus passos naquela sala o deixava com um gosto estranho na boca. Estava se sentindo sozinho, e não estava gostando disso. Fazia semanas que estava longe de seus pais, sua família e de seus poucos amigos. Quando foi a última vez que teve uma conversa maior que um cumprimento? Desde quando isso o afetava tanto que o deixava com uma irritante vontade de chorar a todo momento? Estava dando passos que considerava muito grandes em sua vida e sentia que não tinha ninguém ao seu redor.  
          Respirou fundo novamente e começou a se alongar, tentando focar o máximo possível no que estava fazendo e mesmo mal tendo começado a fazer sequer algum exercício, ele já estava começando a se sentir melhor. Se movimentar, de qualquer forma que fosse, era uma coisa que ele gostava desde sempre. Quantos tipos de esporte ele já tinha feito? Nem se lembrava mais. Mas foi na dança que ele encontrou algo especial, porque nela ele podia se mover e ao mesmo tempo expressar o que muitas vezes não conseguia em palavras. Cantar também o fazia sentir assim. Enquanto a música tocava, era como se todos se calassem ao seu redor e ele pudesse finalmente falar, fosse girando o seu corpo e movendo os seus pés pelo chão, ou cantando com toda a expressão que pudesse, como se estivesse falando em seu primeiro idioma. Mesmo que ele tivesse suas dúvidas sobre ser um idol, Jungkook acreditava que poderia ser um bom artista um dia, porque pelo menos em sua música ele se mostraria sincero e sem máscaras. Acreditava verdadeiramente nisso pois, por conta dessa mesma linguagem, ele pudera entender e se identificar com vários artistas que admirava, sentir o que eles sentiam. Queria trazer a mesma sensação para outras pessoas.
           Apesar disso, grande parte dele ainda se perguntava se isso seria realmente o certo a se fazer. Quer dizer, ele era muito novo, e por conta disso ele pensava que nada garantiria que suas escolhas seriam as escolhas certas. Amava dançar, cantar, e sentia que estava onde queria. Mas e se? E se nada desse certo? E se ele estivesse tão longe da família e amigos por nada? E ele sentia falta. Era tudo muito novo pra ele. Era tudo muito assustador também. Tinha horas em que grande parte dele só queria poder deixar tudo isso de lado e voltar para Busan. Ainda tinha tempo para descobrir outra coisa que gostasse, mesmo que um pouco menos do que estava fazendo. Mas ele estava ali, e por mais medo que tivesse, não deixaria essa chance passar.
          Respirava fundo em cada alongamento, tentando expulsar de si o peso que vinha junto desse misto de sentimentos negativos já tão frequentes que ele nem mesmo prestava tanta atenção como antes. Respirava, devagar e concentrado, tentando focar apenas em sua imagem refletida no espelho e nas coisas boas que poderiam mudar nos próximos anos. Encarava a si mesmo e torcia que em um futuro próximo fosse alguém diferente. Que, quando estivesse olhando novamente para o seu reflexo, naquela mesma sala, sentisse pelo menos um pouco de orgulho do que visse.
          Pôs uma música que havia escolhido mais cedo e começou a dar alguns passos improvisados, incluindo vez ou outra algum passo que houvera aprendido em algum vídeo na internet ou das lições dadas pelo coreógrafo há alguns dias. Ele ainda lembrava de como fora o primeiro de alguns vários trainees que havia aprendido o que Hoseok 一 um outro trainee que muitas vezes os ajudava 一 havia ensinado e de como se sentira feliz por isso, mas desconfortável pelos olhares que recebeu. O mesmo aconteceu na aula de canto. Os professores estavam começando a lhe chamar de garoto de ouro, por conseguir fazer quase tudo o que era pedido de maneira eficiente. Eram coisas como essa que o faziam suportar muita coisa nos últimos dias.
          Depois de alguns minutos de tentativas, erros e recomeços, ele pôde ver pelo espelho alguém entrando na sala um tanto distraído para pegar alguns papéis em cima de uma mesa no canto da sala, mas que ao notá-lo ali, parou no meio do caminho e soltou uma pequena expressão de surpresa.
— Jungkook-ssi! Você ainda está por aqui?
    Era Namjoon, um dos trainees mais antigos dali, no qual ele admirava muito. Inclusive, foi por ver alguns vídeos de performances do mesmo com outros trainees que quase debutaram alguns anos atrás, que ele se sentiu inspirado a tomar a decisão de entrar na mesma empresa. Mas Jungkook, apesar de admirá-lo, nunca havia mantido conversas muito longas com ele. Talvez por se sentir intimidado pela figura que emanava um certo temor, até mesmo para pessoas não tão introvertidas como ele mesmo. Ou por sentir medo que o outro de fato não gostasse dele, um pensamento que não queria comprovar, principalmente sendo Namjoon alguém que ele admirava. Jungkook estava sentindo isso e mais algumas outras milhares de coisas naquele momento, mas tentava ao máximo não demonstrar para não parecer mais estranho do que ele já se sentia.
— Sim… –  ele respondeu depois de alguns segundos, um pouco nervoso –  eu achei que tinha que praticar mais um pouco… pra melhorar algumas coisas.
— Uau, você realmente se esforça muito. – Namjoon ria enquanto falava, quebrando um pouco a impressão forte que Jungkook tinha dele – Não é a toa que é um dos melhores dançarinos. Ah... talvez eu nunca consiga fazer algo assim…
          Jungkook riu e abaixou a cabeça envergonhado. Namjoon realmente parecia uma pessoa muito simpática e, para seu alívio, provavelmente não o odiava. Agradeceu em um tom baixo curvando-se em uma reverência. Namjoon seguiu, pegou os papéis e depois de um tempo, virou-se novamente para ele. Parecia pensativo, tentando formular o que iria falar em seguida.
— Jungkook-ssi – iniciou de repente, depois de um momento, se aproximando um pouco –  eu sei que... talvez seja o seu jeito e você goste de ficar sozinho às vezes, mas você sabe que se você quiser, não precisa passar por tudo isso sozinho, não é? – ele falava cada palavra com uma certa cautela e reflexão –  Digo, eu sei que é complicado chegar aqui e ter que conviver com tanta gente desconhecida e tudo mais, mas bem… se a gente chegar um dia a ser um grupo, seria melhor que todos fossemos amigos… ou sei lá, mesmo que talvez esse projeto nunca dê certo, a gente poderia pelo menos levar algo bom disso tudo… – Namjoon passou a mão pela sua nuca – Então, qualquer coisa que precisar, ou se quiser conversar, você pode vir falar comigo ou com os outros hyungs, não precisa ficar sozinho se não quiser. – sorriu. –  Eu sei que… a gente não é obrigado a isso, mas eu acho que seria legal se a gente fosse unido desde o início, sabe? Todos nós aqui temos o mesmo objetivo e se a gente conseguir realmente debutar, vamos ter que passar por tanta coisa e acho que seria melhor para todos se pudéssemos passar por tudo como uma família, sabe? – Namjoon riu novamente, escondendo o rosto. – Você pode achar isso meio brega, não sei... você entende, não é?
           Jungkook definitivamente entendia. Não aguentava mais se sentir sozinho ali. Não apenas fisicamente, mas de uma forma que ele não sabia entender e nem explicar muito bem. Nem conseguiria imaginar como aguentaria se sentir da mesma forma depois do debut.
           Ele concordou com a cabeça, pensativo, se sentia aliviado por ter ouvido isso dele. Estava com cada vez mais receio que ninguém gostasse dele por conta do seu jeito, mas Namjoon parecia tão sincero falando aquilo que aquela sensação irritante que o deixava com vontade de chorar estava dando seus sinais novamente. Tinha tanta coisa acontecendo em tão pouco tempo e era bom sentir que pelo menos alguém tinha interesse de mantê-lo por perto.
— Eu entendo sim… obrigado... hyung? –  ele falou incerto, mas recebeu um aceno do outro em aprovação. – eu sinceramente não sou muito bom em me enturmar, mas ouvir isso de você me deixou melhor… eu vou me esforçar.
— Certo então. Te vejo mais tarde... ou amanhã, porque eu acho que já vou indo dormir. – Namjoon sorriu para ele mais uma vez, curvou-se e então  deu alguns passos em direção à porta novamente – Não demore muito, você também precisa descansar um pouco.
— Não vou… – ele respondeu prontamente com uma breve reverência e continuou observando-o, esperando que ele passasse pela porta
          Já estava quase se virando para voltar à prática, mas Namjoon parou e voltou-se em sua direção novamente, antes de cruzar a porta.
— Jungkook-ssi... – ele dizia um pouco hesitante.
— Sim?
— Bem é que… como você ainda tá por aqui e eu vi que você tava praticando um daqueles passos que a gente aprendeu semana passada…você poderia me ajudar com alguns deles? Eu até pediria para o Hoseok, mas ele provavelmente riria de mim até amanhecer por me ver cedendo à dança que … – suspirou – mesmo que eu não goste e seja péssimo nisso, é algo que eu preciso tentar aprender… Claro, se você puder…E não vai ser por muito tempo, é só que bom.., eu já tô aqui mesmo...
           Jungkook olhou para ele, surpreso. Mesmo se quisesse, não poderia negar.
— Ah, claro... hyung! – Jungkook respondeu quase imediatamente. Apesar de ainda estar se sentindo um pouco tímido, com certeza se sentiria muito feliz se pudesse ajudar uma das pessoas que ele mais admirava naquele prédio.
          Namjoon sorriu animado e fora em direção do mais novo, pronto para aprender o que queria, mas acabou sendo, de certo modo, repreendido para que fizesse alguns aquecimentos antes de tudo, nos quais ele começou a fazer, já não tão animado assim.
           Algum tempo depois, alguns outros trainees entraram e se juntaram a eles, e estes iam acrescentando dicas, assim como também recebendo ajuda dos dois, trazendo assim um clima de ajuda mútua para a sala de prática. Eventualmente, Jungkook não se sentia mais como um intruso, e até mesmo se pegava rindo com os outros enquanto a madrugada aos poucos se estendia.
           E, depois de tantos dias, Jungkook já não se sentia tão só. Os ecos dos seus passos já não eram mais tão solitários e o gosto amargo começava aos poucos a ir embora. Talvez tudo daria certo, afinal.
           Quem sabe, ele estava aos poucos achando o seu lugar. E talvez, a partir dali, ele já não precisaria mais ter medo de se sentir sozinho.


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