Broken Crowns escrita por Space Ace


Capítulo 7
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora! Eu estava doente esses dias pra trás e também a inspiração tava zero. De qualquer jeito, aqui está o capítulo, está um pouco mais curto que a maioria dos outros.



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O Rei Alfor apareceu na porta das masmorras antes de Shiro e Keith.

— Vossa Majestade. — Shiro disse, se curvando. Keith fez uma breve referência, não tão profunda quanto a do outro paladino, mas não estava se preocupando com aquilo; sua mente estava em outro lugar. Ele olhava em volta, mas não encontrava quem procurava.

— Shiro, Keith. — O rei disse. — Quem são esses homens que falavam sobre a morte da rainha? — Ele parecia irado com aquela informação.

— Não sabemos, Majestade. — Shiro disse. — Eles não tiraram suas máscaras em momento algum, e não pudemos reconhecer suas vestes.

Keith finalmente avistou quem procurava. O príncipe havia trocado as vestes de plebeu para suas vestes reais; as calças brancas habituais, as botas pretas, o casaco azul e branco, o manto azul marinho. Ele parecia ter tomado banho, considerando que parte de seu cabelo ainda estava molhado e colava a sua testa. Ele não parecia perceber, e se percebia, não se importava. Ele andava encarando o chão, perdido em seus pensamentos. Provavelmente pensava sobre os galras que estavam nas masmorras e na ligação que eles tinham com a morte de sua mãe.

Keith, como sempre, não conseguia decifrar o olhar de Lance. Não conseguia entender todo o oceano que se escondia por trás daqueles dois olhos azuis como safiras, não conseguia compreender os pensamentos do príncipe, por mais que tentasse. Ele era muito bom escondendo seus sentimentos, e aquilo era, de certa forma, assustador.

Alfor interrompeu sua conversa com Shiro e se virou para Keith, que não percebia que o olhar de Sua Majestade se encontrava nele. Procurando o que o paladino olhava, um pequeno suspiro escapou de seus lábios. — Keith. — Ele chamou, tirando o galra de seus pensamentos. — Vá conversar com Lance, distraia-o do que quer que esteja em sua mente, sim?

Keith ficou com vontade de retrucar e esclarecer que não era servo do rei, apenas um soldado que queria o melhor para seu povo. Além do mais, ele deveria interrogar os galras capturados.

— E os homens? Quem os interrogará? — Ele perguntou, franzindo levemente o cenho.

— Nenhum de vocês dois, certamente. — Alfor suspirou. Então, virando-se para as masmorras. Duro e frio, ele completou: — Eu quero saber o que esses galras fazem aqui. Com certeza não têm as mesmas intenções que vocês dois. Além do mais, — Ele se virou, com um olhar um tanto triste. — Se eles sabem algo sobre a morte de minha amada.... Obviamente serei eu o primeiro a ouvir.

Talvez fosse o olhar do rei que o convencera, talvez fossem suas palavras, mas Keith decidiu fazer o que ele lhe mandava. Sabia como era perder alguém importante, e não queria ficar no caminho do rei. Não podia negar, também, o fato de que queria conversar com Lance. Simplesmente assentiu para o rei e deu-lhe uma pequena reverência, antes de se virar e sair para conversar com o príncipe.

— Vossa Alteza. — Ele disse, quando estava próximo o suficiente. Lance ergueu a cabeça e virou-se para Keith, um tanto surpreso com a sua presença.

— Ah, Keith. — Ele disse. — Não deveria estar interrogando aqueles homens?

— Seu pai o fará. Ele disse que se aqueles homens sabem algo sobre a morte da rainha, ele quer ser o primeiro a saber. — Disse o paladino. Dando de ombros, ele completou: — Talvez seja melhor assim. Tenho certeza de que se Sua Majestade precisar de mim e de Shiro, nos chamará.

Lance pressionou seus lábios um contra o outro, meio incerto. Ele colocou uma mão no ombro de Keith, como se o pedisse para segui-lo. — Sei que é tarde, mas não será problema ler um pouco antes de ir para a cama, huh? — O príncipe disse, lançando um leve sorriso para Keith, que assentiu.

— Se isso tirará sua cabeça desses lugares sombrios.... — O paladino murmurou, certo de que o príncipe não o escutara.

Lance reprimiu um suspiro ao ouvir o comentário de Keith. Se ao menos fosse tão simples controlar os lugares em que sua mente ia....

× ֍ × ֎ ×

Shiro andava pelos corredores do castelo, sem sono algum. Queria saber quem eram aqueles homens presos nas masmorras, o que queriam, porque estavam em Altea, logo naquele momento. Mas, acima de tudo, queria saber se eles trabalhavam para a corte fielmente, ou se sabiam que Rei Zarkon não merecia lealdade ou respeito algum depois de tudo que fizera com pessoas inocentes.

Bem, não era como se Shiro pudesse opinar sobre aqueles feitos, já que também fizera coisas das quais não se orgulhava.

Ele suspirou. Tinha dito para Keith deixar o passado para trás, mas ele mesmo era incapaz de fazê-lo. De qualquer maneira, não era fácil esquecer, ainda mais quando era o tipo de coisa que te fazia ter vergonha de si mesmo, medo do que você é capaz de fazer.

Mesmo perdido em seus pensamentos, estava suficientemente na realidade para perceber que alguém que já deveria estar na cama perambulava os corredores do castelo.

— Lady Isabella. — Ele disse, o que chamou a atenção da menina. — O que está fazendo aqui? Não deveria estar na cama? — Ele se aproximou, agachando-se quando chegou perto o suficiente para colocar uma mão na cabeça da menina, bagunçando-lhe os cabelos.

— Eu estava procurando o tio Lance. — Ela disse. — Ele sempre vai me dar boa noite, mas hoje ele não foi.

— Seu tio Lance estava ajudando Sir Holt em algo muito importante, e creio que agora ele esteja com Keith. — Shiro disse. — Quer que eu o encontre e o chame para você?

— Ah, não. — Ela disse. — Se ele está com Keith, não precisa.

Shiro franziu as sobrancelhas. — Por que diz... — Alguns barulhos no final do corredor chegaram aos seus ouvidos, e ele sabia que a garotinha estaria com problemas se alguém a pegasse fora da cama. Com uma velocidade incrível, ele a pegou nos braços e se escondeu atrás de uma pilastra. Não demorou muito para que quem quer que estivesse passando por aquele canto do castelo fosse embora. — Essa foi por um triz. — Ele suspirou, colocando-a no chão. — Que tal eu te levar para a cama e continuarmos nossa conversa no caminho, em?

Ela assentiu, segurando a mão de Shiro. — Por que disse que se seu tio Lance estivesse com Keith, eu não precisava chama-lo? — Shiro perguntou baixinho. Não queria que ninguém os escutasse. A garotinha deu de ombros.

— Tio Lance gosta de passar tempo com Keith. — Ela disse.

— Como assim? — Shiro perguntou.

— Não sei. — Ela respondeu. — Eu só sei que ele gosta. Ele fica calmo e ri.

Shiro suspirou. Não esperava que Isabella entendesse que os risos de seu tio não significavam felicidade. Não esperava que ela entendesse que eram só uma máscara para toda a dor que ele sentia por dentro. Afinal, ela era só uma criança.

— Quando tio Lance não gosta de alguém, ele fica sério e não sorri. — Ela continuou. — Mas quando ele gosta, ele faz piada e brinca e ri bastante. O papai já disse que não é assim tão simples, mas eu acho que é. — Ela disse. — Todo mundo acha que eu não entendo nada porque eu sou pequena. Tio Lance é o único que não acha isso. Ele me diz que os adultos não enxergam a visão de uma criança, mesmo que ela esteja certa. Ele disse que eles se acham mais inteligentes e importantes e por isso não ouvem.

Shiro franziu as sobrancelhas. Por que Lance era diferente dos outros adultos? Por que ele se importava com o que Isabella e Dante tinham a dizer? Ninguém mais era assim, nem mesmo os pais das crianças ou Rei Alfor. Deus, nem Shiro era daquele jeito. Por mais que ele se importasse com o bem-estar das crianças, ele não confiava nelas quando o assunto era sério. Por que Lance confiava?

Não demorou muito para que os dois chegassem ao quarto de Lady Isabella depois disso. Não havia ninguém por perto, o que era perfeito para os dois entrarem no cômodo discretamente.

O quarto estava escuro. Shiro tateou a parede ao lado do sensor para ligar as luzes, e quando o encontrou, se deparou com algo que definitivamente não esperava.

— Olha só, o que temos aqui. — Uma voz rabugenta disse. Allura se sentava em uma cadeira no canto do quarto, com os braços cruzados e o cabelo preso em um coque bem apertado. Ela batia seus dedos em um dos braços, impaciente. — Onde você estava, Isabella? — Ela pergunta, a voz claramente irritada.

— Eu estava procurando o tio Lance. — Isabella diz, apertando a mão de Shiro e correndo para trás dele.

Allura se levanta da cadeira, descruzando os braços. Ela se dirige para os dois e se ajoelha na frente de Isabella. Olhando-a de perto, Shiro percebia como suas mãos estavam trêmulas. Aquilo era raiva ou preocupação? Talvez uma mistura de ambos. De qualquer maneira, ele não queria ficar entre as duas. Ele deu um passo para longe das duas, deixando a pequena enfrentar a tia sozinha. — Quer saber? Não importa! Você não deveria estar fora da cama uma hora dessas, Isabella! Imagine o que poderia ter lhe acontecido! — Allura colocou as mãos nos ombros de sua sobrinha. — Imagine se acontecesse com você a mesma coisa que aconteceu com el... — Antes de completar a frase, ela parou, como se Isabella estivesse com um terceiro olho. Parecia profundamente chocada ao pensar no que quer que aquela frase insinuava. O que ela queria dizer com aquilo? Shiro não saberia dizer.

Allura tirou as mãos dos ombros de Isabella para esconder seu rosto. Ela pressionava suas palmas contra seus olhos como se quisesse que eles fossem esmagados. Ela respirou fundo, entrecortado, e Shiro ponderou se não seria melhor ele sair dali.

O momento de Allura não demorou muito. Logo, ela se levantou e acariciou os cabelos de Isabella. — Vamos dormir? Foi um dia cansativo. — Allura disse, pegando a mão de Isabella e guiando-a até sua cama. Ela cobriu a sobrinha e deu-lhe um beijo na testa, dizendo boa noite logo depois. — Tenha bons sonhos.

— Você também, tia. — Isabella sorriu.

— Não saia a essa hora nunca mais, entendeu? É perigoso, até mesmo dentro do castelo.

— Tudo bem. Mas não é como se alguém já tivesse entrado aqui antes, não é? — Isabella perguntou, um tanto séria.

O sorriso de Allura falhou por alguns segundos. — É claro que não, querida. — Ela disse. — Mas é melhor prevenir do que remediar.

— Tudo bem. Boa noite. — Isabella por fim se convenceu. A pequena virou-se para o outro lado, e Allura deu as costas para a sobrinha, se dirigindo para a porta. Shiro foi atrás dela e apagou as luzes, fechando a porta logo depois.

Allura estava parada no meio do corredor. Ela suspirou, levando uma mão até sua cabeça. Ela esfregou o rosto e segurou a ponte de seu nariz. Depois de mais um suspiro, ela se virou para Shiro. — Obrigada por trazê-la de volta ao quarto. — Ela disse.

— Não foi nada, princesa. — Disse Shiro. — Entendo que Isabella não deva passar muito tempo acordada, mas porque parece que você estava preocupada com outra coisa?

Allura arqueou as sobrancelhas, surpresa, por alguns segundos, mordeu o lábio e desviou o olhar. Não queria contar para ele. — Eu entendo se não quiser contar. — Disse Shiro. — Mas saiba que, cedo ou tarde, Keith e eu descobriremos o que estão escondendo de nós. Eu só acho melhor saber delas por vocês.

A surpresa de Allura desapareceu. Lá estava seu olhar frio novamente. — Eu duvido muito, Shiro. — Ela disse. — Todos temos segredos. Há coisas sobre mim que nem mesmo meus irmãos, meu pai ou qualquer outro saiba. Principalmente, há coisas sobre nossa família que nem mesmo Coran ou Sir Holt saibam, e eles são os homens em que meu pai mais confia.

Aquilo desarmou Shiro. Foi uma coisa um tanto convencida de se dizer, mas não era por esse total fora que ele se surpreendeu. Por que a família real de Altea tinha tantos segredos? Que segredos eram aqueles? Será que todos esses segredos eram ligados à morte um tanto misteriosa da rainha, ou será que era ainda mais profundo? Seria a realeza de Altea tão podre quanto a realeza de Doom, como Keith sugerira? As respostas para aquelas perguntas estavam longe de Shiro, e ele não sabia se gostaria de sabê-las.

— Entendo. — Ele disse, dando uma pequena reverência. — Desculpe por minha declaração arrogante, Vossa Alteza. — Ele olhou nos olhos de Allura. — Se me concede sua licença, irei para meus dormitórios. Como disse, foi um dia cansativo. Boa noite. — Ele disse, desviando-se dos olhos de Allura, passando por ela pelo corredor, decidido a conversar com Keith sobre o que acontecia naquele castelo.

Era apenas um sussurro, e talvez ele estivesse ouvindo coisas, mas ele pôde jurar que tinha escutado a voz de Allura. — Boa noite. — Ela disse. Quando ele olhou para trás, encontrou os dois olhos azuis de Allura de uma maneira que nunca viu antes. Não estavam frios como de costume, não mostravam alegria como quando ela estava com sua família. Estavam tristes, quebrados, exaustos, e ao mesmo tempo, pareciam completamente vazios. Não tinham brilho algum, não tinham faíscas, não tinham nada além de vulnerabilidade e tristeza. Aqueles olhos partiriam o coração de qualquer um, porque Allura não era daquele jeito; ela não era fraca, não era vulnerável; ela era como um jardim protegido pelos muros mais resistentes e altos do mundo. As coisas não a afetavam daquela maneira.

Shiro pôs-se a pensar. O que levara a princesa a ser forte daquela maneira? O que levara Lance a ser daquela maneira? Pelo que a família real havia passado para que os dois tivessem se tornado tão céticos quanto às intenções das pessoas?

A cada segundo que passava, Shiro encontrava mais e mais mistérios naquele reino, naquele castelo, naquela família. Ele não sabia se deveria se assustar ou se irritar com tudo aquilo. Ele suspirou e decidiu afastar sua mente daqueles pensamentos, cansado demais para insistir em um mistério que parecia indecifrável.


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Notas finais do capítulo

Keith e Lance não apareceram tanto nesse capítulo, mas irão, nos próximos.
Até o próximo capítulo!