Por favor me ouça... escrita por Hideki4500


Capítulo 8
A Queda...


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, minhas teclas de assento estao quebradas e a internet está escassa.



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Mas... Eu parei por um instante a meio caminho da delegacia, eu nao posso ser heroi, não foi isso que escolhi... Afastei esses pensamentos e continuei meu caminho para a libertaçao de Layla, entrei correndo pelo hall da delegacia onde policiais, vitimas e criminosos iam de um lado para o outro, um policial me perguntou o motivo da minha visita, nao respondi. Há um canto, cerca de cinco metros de onde eu estava parado, o homem, responsavel pela vida que Layla levava hoje, responsavel pela desgraça de Erick, pagando a um engravatado um gordo bolo de dinheiro, bem ali, em meio a varios policiais, sem medo nenhum.

—Qual o motivo da sua visita a delegacia? - Perguntou mais uma vez o policial, olhei pra ele por um instante antes de sair correndo dali.

Queria dizer que não choveu, queria dizer que deu tudo certo, que agora Layla nao precisaria mais se preocupar com clientes abusados... Mas o que eu posso dizer é que vi com meus próprios olhos o motivo de ter gente como Big John nessa cidade, vi com meus proprios olhos a falsidade e a corrupçao...Posso talvez ter me enganado? Talvez eu tenha julgado rapido e quem recebeu dinheiro não era o chefe de policia e quem pagou tambem não era o Big John e sim alguem muito parecido... Se restasse algum tipo de esperança no meu corpo, talvez eu acreditasse nisso.

Em casa não falei com ninguem, Hikaru notou alguma coisa e resolveu que seria melhor me deixar esfriar a cabeça sozinho, Marlo porem subiu até a porta do meu quarto, bateu algumas vezes.

—Stuart, querido? Algum problema? Quer conversar? - Abri a porta, ele procurou meus olhos porem os desviei. - O que foi?

—Nada, eu só, preciso ficar um pouco sozinho, sabe... Como quando eu era mais novo...

—Tudo bem, mas, por favor, nao guarde tudo só pra você, okay? - Concordei com a cabeça, Marlo desceu.

Sentei na cama, minhas maos deslizam sobre meus cabelos e meus dedos se fecham agarrando algumas mechas, seguro-as firmes, a dor deveria afastar pensamentos ruins, não, se fosse facil assim eu não seria o que sou hoje... Mas... O que eu sou? Observador? Ou isso nao existe? Obviamente existe, afinal eu sou um... Pedir desculpas a Layla e tudo que posso fazer no momento. Peguei meu celular e encarei o nome dela na lista de contatos, cliquei e coloquei na orelha, chamou por alguns momentos e entao caiu na caixa postal.

Levantei e sai do quarto, desci as escadas, sai de casa. Peguei o onibus e desci no mesmo ponto no bairro mais acabado que conheço, caminhei até o prédio dela, subi e bati na porta do apartamento. A colega dela me atendeu, abriu um sorriso.

—Oi lindinho, posso te ajudar?

—A Layla está em casa?

—Não, mas... por que nao me deixa substitui-la hoje? - Disse pegando uma das minhas maos e colocando por dentro de sua blusa de modo que eu tocasse diretamente o sutiã. Tirei a mão rapidamente e a coloquei no bolso.

—E... Quando ela volta? - Perguntei, ela mudou de expressão e ate sua voz se tornou mais fria.

—Eu nao sei, em algumas semanas, talvez meses, alguma coisa aconteceu entre ela e um cliente e ela pediu pra mudar de ponto por um tempo.

—Obrigado...

Nao sei o que estou sentindo, so sei que e desconfortavel, quero me desculpar o mais rapido possivel, quero que volte a ser como antes, ela ali comigo, mas, apenas me ouvindo, apenas ouvindo? É isso mesmo que eu quero? Sim, obviamente, ou será... Em casa havia um rapaz mais ou menos da minha idade me esperando, ele se levantou assim que entrei e entao ele sorriu pra mim.

—S/N... Oi, faz... Bastante tempo... - Nao o reconheci imediatamente, olhei para seu rosto tentando pegar qualquer aspecto familiar...

—Erick... Realmente... Faz... Um tempo. Como está? E Liza? Ainda... Tem contato com Liza? - Perguntei, forcei um sorriso, ele nao pareceu notar.

—Ah sim, eu e ela, bem, voce sabe que eu, bem, gostava dela ne? Nos casamos, eu e ela, ha pouco tempo.

—Ah, legal... - Eu nao sabia que haviam se casado, afinal nunca recebi aviso ou convite algum.

—Nos queriamos te convidar mas, não sabiamos onde estava, nao sabiamos que tinha voltado pra...

—Nao tem problema, eu estou feliz por voces, e Liza? Não sente falta das garotas?

—Nao, nos temos uma relaçao... Bem aberta... -Ele pareceu ter perdido um pouco da naturalidade no sorriso. - Eu concordei que quando ela se cansasse poderia sair e passar um tempo fora, com outras mulheres...

—Entendo, e entao o que faz da vida? - Mudei de assunto, vi que ele parecia um pouco infeliz de falar naquilo.

—Nao faço nada que nao seja cuidar da casa... Sabe... As pessoas não ficam muito animadas em te contratar depois que descobrem que usava drogas... Mas Liza conseguiu entrar pra policia... alias... foi por isso que vim aqui...

—Do que está falando?

—Liza te viu na delegacia, disse que entrou e depois saiu correndo, olha, eu sei como grande parte dos policiais de la sao uns canalhas, mas tambem tem alguns bons... Liza e um deles... Se precisar de ajuda é só falar, okay?

Ele foi embora mais tarde, o observei enquanto o taxi que ele havia chamado virava a esquina e o levava.

Fui ao apartamento de Layla todos os dias durante duas semanas, durante esse tempo so o que encontrei foi a colega dela, hoje vou ir de novo, não acho que ela vá estar la, mas sinto que deveria ir, "sinto", é uma palavra engraçada, não estou acostumada a ela. Olhei-me no espelho uma ultima vez antes de sair de casa, demorei admirando o reflexo dos meus olhos, ele pareciam muito cansados, mas tinha algo diferente neles, pareciam mais vivos, motivados a algo.

Sai de casa, peguei o onibus e desci de novo naquele bairro esquecido por deus, fui ate o predio dela e subi as escadas. Bati na porta do apartamento e a porta se abriu revelando a figura um pouco baixa que eu conhecia, Layla olhou pra mim, seus olhos nao pareciam conter a furia que seu rosto tentava demonstrar.

—O que quer? - Ela perguntou, sua voz era agressiva.

—Posso entrar? - Ela pareceu pensar e entao abriu um pouco mais a porta e saiu do caminho, entrei e olhei para toda aquela bagunça, um arrepio passou por todo o meu corpo.

—Para de dobrar minhas roupas. - Ela tomou uma blusa das minhas maos que trabalhavam sem eu nem mesmo notar. - Veio aqui só pra isso? Se for pode ir embora, estou ocupada arrumando minhas coisas.

—Vim me desculpar... Disse arrumando suas coisas? - Minha voz pareceu muito surpresa, Layla levantou a sobrancelha estranhando tambem.

—Sim, vou me mudar, permanentemente... Mas... - Ela olhou para o chao e se sentou no braço do sofá, seus pés balançavam inutilmente sem alcançar o chao e a frase seguinte saiu tao baixa que quase nao ouvi - voce... pode impedir...

Nao respondi, ela olhou para mim por um instante e se levantou e me guiou ate o quarto onde me pude ver que a maioria das coisas ja estavam encaixotadas.

—Nao vai. - Falei de repente, ela olhou para mim, esperançosa.

—So me de um motivo, um bom motivo e eu fico.

—Eu preciso de você...

—Precisa? Como ouvinte? - Era o que eu ia dizer, mas uma vozinha no meu interior me mostrou uma resposta melhor.

—Sim, voce e minha amiga nao e?

—E, e eu sou... Mudo ate o fim do mes... Aparece por aqui as vezes ate lá... Quem sabe ate la... - Pareceu sorrir pra si mesma e virou o rosto, sinalizou para eu sair, obedeci, ouvi som de choro dentro do quarto, fui embora.

No caminho liguei para o numero que Erick me deu, eu so preciso fazer uma coisa, Liza e Erick e alguns policiais vao me ajudar, se tudo der certo eu... Eu vou ser sincero comigo mesmo e vou dizer a Liza o por que nao quero que ela va. Se tudo der certo.

—Erick?

"Oi, S/N? Aconteceu alguma coisa?"

—Sera que eu posso passar ai qualquer dia? Queria falar com a Liza.

"Tudo bem, vou passar o endereço."

Na semana seguinte eu estava batendo novamente na porta do apartamento de Layla, ela me atendeu e sorriu, sorri de volta, mas foi involuntario, entrei.

—Oi, podemos conversar? - Ela assentiu e sentou do meu lado na cama do quarto dela.

—O que aconteceu? - Ela tinha certa preocupaçao na voz, senti como se algo me cortasse e me estraçalhasse por dentro.

—Eu queria pedir que prometesse uma coisa. - Novamente ela me pareceu pensar antes de assentir, mas dessa vez foi diferente, ela nao parecia raivosa ou triste, mas preocupada. - Promete que nao importa o que aconteça hoje, nao me odeie... Promete? - Ela nao respondeu imediatamente.

—Eu...

—Promete?

—Prometo.

Conversamos o dia inteiro, chegou um momento porem que ela me pediu para que eu me escondesse, Big John batia na porta e berrava a plenos pulmoes para que ela fosse aberta.

"Quando cheguei na casa de Liza no outro dia, ela me atendeu sorridente, feliz por me ver depois de tanto tempo.

—Oi, Erick saiu, foi comprar algo para comermos. - Concordei com a cabeça antes de entrar, ela me convidou a me sentar no sofa.

—Antes de eu começar, eu queria perguntar se... voce trai mesmo o Erick, sabe, ele me disse que as vezes você sai para transar com outras mulheres.

—Disse? Ah... E no que eu deixo ele acreditar. Nao faço isso de verdade.

—Se não o trai, entao o que faz quando fica tanto tempo fora?

—Bem... Tenho muitos trabalhos em que tenho que me misturar em meio ao crime, sabe... Ele já fica preocupado sem saber disso... Não quero que ele fiquei ainda mais paranoico...

—Entendi.

—E entao, por que queria me ver? - Perguntou ela, resolvi que queria ir direto ao ponto.

—Preciso de ajuda... "

Layla foi jogada na cama com violencia, estou dentro do guarda-roupas, ela deixava ele fazer tudo o que queria, mas mesmo da onde eu estava dava pra ver as lagrimas de humilhação e ódio escorrerem pelo rosto dela.

"-Deixe o microfone ligado, e peça ajuda se precisar, eu e mais alguns chegaremos o mais rapido possivel, mas e melhor que va sozinho pra nao chamar muita atençao. - Liza me disse enquanto mostrava o microfone que era tao pequeno que podia ser facilmente escondido.

—E o que estarao fazendo enquanto eu entro lá?

—Nós estaremos ouvindo tudo o que dizem, vamos ficar em um carro civil a algumas quadras de distancia, para nao chamar atenção. - Disse um policial ao lado de Liza, ele era negro e bem grande, fora ele tinha mais um que tinha os cabelos loiros e bem penteados.

—Tudo bem. - Peguei o microfone"

Big John começara a desafivelar o cinto, saltei de dentro do guarda-roupas e o agarrei pelos ombros antes de joga-lo sobre uma gaveteira que não conseguiu sustentar o peso e desabou.

—Você... Eu disse que se voce se metesse no meu caminho de novo eu o mataria. - Ele disse se levantando e puxando lentamente a pistola de dentro das vestes. - Eu cumpro o que digo...

—Stuart... Por que fez isso? - Gritou Layla, o rosto completamente molhado de lagrimas, nao consegui responder.

—E DE VOCE EU CUIDO DEPOIS, SUA PUTINHA. - Berrou ele para Layla enquanto lentamente levantava a arma e encostava o cano no meu peito, não consegui me mexer, apenas o encarei com todo o ódio que podia, os policiais já deviam estar chegando com Liza, mas nao a tempo de impedi-lo de puxar o gatilho.

Um barulho alto e um impacto, sinto o sangue quente começar a escorrer pela minha camiseta, a dor aguda no peito e sinto-me caindo muito lentamente, uma voz ao longe anuncia a prisao do Big John, mais tiros, os braços finos de Layla me envolvem e sinto suas lagrimas cairem sobre o meu rosto, seus labios macios nos meus, mas outra vez seu beijo não sera retribuido, nao tenho força para isso.

Essa historia nao e nenhuma grande aventura, ao contrario, assassinatos, prostituiçao, trafico de drogas, homofobia entre outros crimes acontecem todos os dias e ninguem dá a minima, tambem não é nenhuma história de amor gloriosa. Essa é a história de como Layla mudou minha vida...


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Notas finais do capítulo

Ate o Prologo pessoal.



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