The Fire escrita por 001


Capítulo 1
1. You let the fire out and it's in front of me


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente:
O título da história e o nome desse capítulo são da música The Fire, da Kina Grannis.
Segundamente:
Eu costumo dividir os capítulos em números (1- um pedaço 2- outro pedaço), e a escrita pode variar de número pra número (uma mais emocional, outra mais descritiva, mais flashback, enfim, vocês acostumam).
Terceiramente:
Boa leitura!



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1.

Gelo era bom. Gelo era ele, a mãe dele, sua metade de interesse vinda para nascer mais forte. Era sua personalidade, seu foco e, junto com o fogo, o orgulho de seu pai com metas ridiculamente impostas contra a sua vontade. Todoroki teve uma vida gélida, tão seca por partes, tão dura por outras. Essas metades compuseram o adolescente, diferente do que muitos pensavam, por quase a sua vida inteira.

A primeira vez que queimou foi por mera curiosidade. Soube quando criança instantaneamente quando sua individualidade despertou: Eu posso fazer gelo e fogo. Já estava cravado na genética desde que ele se formava, mas ali, teve a certeza de que não gostaria de usar aquele lado seu. Não queria queimar.

No entanto, queimou. Até pelas mãos de sua mãe.

Sentiu a pele arder, dilatar, mexer, borbulhar, até a mudar de cor. A consequência daquilo foi a cicatriz que marcou seu rosto. Todoroki estava enganado sobre uma coisa em sua vida inteira: não é somente o fogo que queima; gelo também deixa feridas inquestionáveis na pele, no coração e na alma. Mas um dos piores machucados e ignorâncias definitivamente é o orgulho.

 

Esse poder é seu!

 

E então, no meio da batalha, com a cabeça vazia e toda a adrenalina fluindo em suas veias, nem certeza teve tempo de ter. O fogo que saiu de dentro do seu corpo correu de uma vez para fora, clamando por liberdade, cantando, esquentando, fazendo o ar ondular. Saiu de sua gaiola, mesmo com tantas dúvidas após aquilo.

A partir dali que surgiu um marco hermético no miocárdio.

A partir dali, ele percebeu que desenvolveria seus sentimentos, tão parados até então.

 

Fogo era bom. Fogo era tudo aquilo que ele sentia nas pessoas à sua volta, aquilo que fazia sua mente rodopiar desde que se libertara. Acabava pensando em coisas mais fúteis mesmo não tendo tanto tempo.

Em classe, com todos os alunos sentados em suas carteiras, divagava olhando para um rumo só. E só depois da maioria das pessoas ali perguntarem para onde seu foco estava que ele percebeu que era em Midoriya.

Seu raciocínio era bem lógico e reto; todas as coisas ficaram claras num instante para ele que estava processando demais os sentimentos naquele alvo, Midoriya. Disse que estava somente olhando a parede, mas paredes somente são atrativas em aulas chatas ou estudos forçados, como a maioria das pessoas sabem. O que supera mesmo o mais interessante assunto da classe 1-A da U.A. só poderia ser outro tipo de individualidade.

 

2.

Finalmente as férias chegaram! Tempo curto e, ainda assim, de muita atividade. A maioria dos alunos da U.A. já tinham em mãos suas licenças de heróis e não só poderiam como deveriam atuar em situações de perigo. Com a queda de All Might, os vilões intensificavam seus movimentos e cada mínima ajuda era bem vinda para manter a paz.

Ainda assim, havia alguns períodos pouco mais tranquilos, nos quais as horas de descanso valiam a pena. Ler algum livro, ouvir alguma música ou simplesmente desfrutar dos céus azuis tornaram-se atividades extremamente prazerosas àqueles sem sossego.

Mas o treino não parava para Midoriya! O jovem aproveitava para estudar de qualquer maneira e não tinha tempo para vacilos inócuos, pois teria de herdar o título de símbolo da paz. Administrando seu tempo (ou não) para fazer as coisas, tirava alguns intervalos para descanso (apesar de acabar passando o tempo analisando os poderes de outros heróis ou de alunos de sua turma). Esperava que sua mãe estivesse orgulhosa depois dele obter sua licença, assim como All Might, e aproveitava aquele pequeno pedaço de felicidade.

Sabia que duraria pouco.

 

Deitado na grama com seus cadernos, viu Todoroki entrando na escola e passando pela entrada principal. Sem pensar duas vezes, chamou-o.

— Todoroki!

O garoto encontrou a voz de primeira. Desviou-se de seu curso e aproximou-se de Izuku, sentando na relva, ao lado dele e reparando no que estava vestindo, nas cicatrizes em seus braços e nas manchinhas em seu rosto. Eram marcas registradas.

— Oh, Midoriya.

— Veio treinar também?

— Sim. Não vai demorar para que os vilões nos ataquem.

Aquelas eram as únicas linhas que ele gostaria de dizer perto dele que fossem envolvidas a heróis e vilões. Tinha vontade de começar assuntos sem nexo, falar coisas atoas, saber coisas atoas, mas não sabia como começar. Nunca tinha feito aquilo antes e também não sabia qual seria a reação de Midoriya. Ironicamente, o outro quem começou uma conversa fora do normal, porém, normal, depois de alguma pausa entre os diálogos semínimos.

— É tão estranho como a escola é calma nas férias! Quase não achei ninguém por aqui. Fiquei surpreendido quando te vi.

— Não fiquei tão surpreso ao te ver — constatou exatamente o que se passava. — Até os cadernos você trouxe.

Todoroki, então, acabou percebendo que já tinha se aproximado de Izuku de alguma maneira, mesmo que pouco, por saber alguns de seus hábitos. Não sabia como descrever, mas algum tempo já se passara desde a batalha entre os dois, assim como diversos acontecimentos entre esse intervalo. Só não soube distinguir se interpretou essa aproximação de maneira errônea, acirrada ou ilusória. Porém, manteve a postura de sempre.

— É claro que trouxe. É só meu hobby, mas acaba sendo útil para mim alguma hora. Apesar de que eu…

— … Deveria estar descansando? — completou, após olhar um dos papéis caídos na grama com um cronograma de treinamento.

— Mas eu estou! Isso não é um grande esforço e não ocupa muito do meu tempo, e levando em conta que eu não posso fazer isso nos treinamentos e devo tirar um tempo considerável para dormir e não me sobrecarregar, eu…

Continuou balbuciando seu raciocínio em voz alta, deixando Shouto sem fala. Aquele era o Deku de sempre.

— Mas enfim, Todoroki, você já sabe seu movimento especial? — Midoriya disse, pegando seu lápis e ficando pronto para anotar as informações. Ele anotou tudo o que pôde nos treinamentos, mas ainda faltavam dados sobre muitos alunos (inclusive sobre ele mesmo).

Shouto estava prestando atenção nas voltas do cabelo esverdeado de Deku e demorou a processar as informações.

— Não faço ideia. Ainda não sei bem controlar fogo e gelo ao mesmo tempo. Acho que devo treinar mais essa parte antes de definir algo.

— Não notou nenhuma mudança na sua individualidade depois que começou a usar fogo?

Não na individualidade, pensou.

Todoroki já tinha guardado coisas demais só para ele. Seria melhor se dissesse tudo agora. Poderia até melhorar sua situação, ainda mais se fosse com a pessoa com a qual falava. Ela quem lhe ajudara a sair de toda aquela prisão interna.

 

Se não fosse por esse garoto, não existiria fogo em mim. Essas chamas não são somente minhas.

 

No meio termo, escolheu as palavras e disse, sem ideia do que poderia vir:

— Às vezes, meu rosto esquenta.

Midoriya não entendeu como aquilo poderia influenciar em algo.

— Tipo um efeito colateral?

— Não — respondeu. Olhou para as mãos de Deku, segurou-as e as colocou sobre seu rosto. — É só em certas ocasiões.

Midoriya continuava sem entender nada. Ficou surpreso com aquilo, e realmente sentiu que o rosto dele estava quente… e um pouco ruborizado. Ocorreu-lhe se era febre, mas tinha a sensação de que não era; resolveu não perguntar.

— … Todoroki?

Shouto não estava muito ciente do que estava fazendo, mas as batidas do seu coração iam ficando cada vez mais caóticas. Um pingo de uma coragem diferente surgia dentro de si, além dos desejos brotados em devaneios que imaginava.

Izuku ocupava mais espaço em si do que lhe convinha. E por mais que já tivesse percebido isso, parecia que nunca era o suficiente. Nunca era o suficiente até ele nomear aquela distorção que remexia lá no fundo, incalculável, inquieta, explosiva.

Ele podia ser queimado de mais de uma forma, mas algo pedia para ser queimado pelo calor de outra pessoa.

No corpo.

Na alma.

Midoriya sentia o rosto do outro se ruborizando mais aos poucos, e a única coisa que Todoroki pôde fazer ao sentir todas aquelas constatações vindo à tona, foi fechar os olhos.

À céu aberto, na grama de algum lugar da escola de heróis, um garoto encarava outro garoto que estava na esperança de receber um beijo.

E quando Izuku finalmente começou a se dar conta do que estava acontecendo, Shouto levantou-se e despediu-se. Sem que olhassem diretamente nos olhos um do outro após aquilo, ele foi rumo à quadra para treinar.


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Notas finais do capítulo

Encerramos a programação de hoje com essa quebra de clima por aqui.
Izuku percebeu as intenções de Todoroki? Todoroki foi treinar os poderes ou a mão? Quanto tempo vai demorar pra eles se pegarem?
Acompanhe isso e tudo o mais, na próxima sexta, no Globo Repórter!



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