Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 41
Capítulo 37 ➳


Notas iniciais do capítulo

aproveitem com carinho ♥



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Sempre ao Seu Lado 

↠ .Cole. ↞ 

 

Era sábado mais uma vez e as palpitações do coração da Lee ainda repercutiam fantasmagoricamente dentro de mim. Não era fácil preservar a paciência e a fé; tudo parecia enlameado, desgostoso e sem cor. Todos os dias me lembro do calor do seu olhar, dos seus belos olhos castanhos. Me lembro dos sorrisos que me dava quando me dizia alguma coisa, das expressões ativas do seu rosto, do seu modo de reagir quando minhas mãos não se continham em correr por seus fios de cabelo, admirando o corte curto que moldura seu rosto. É inevitável. Dolorosamente inevitável. 

 

— Você só precisa assinar abaixo da data, Cole. — a voz baixa e sussurrada de Embry me fisgou de volta à realidade. Eu estava mais uma vez sonhando acordado, sendo tragado pelas memórias emergidas pela ausência dela.  

 

Pisquei os olhos, cessando o turbilhão que ocorria na minha cabeça, contraindo meu corpo e me atentando à postura que eu estava diante dos presentes no judiciário.  

A audiência já estava encerrada, mas advogada continuava a falar com o juiz, enquanto me esperavam. Movi a caneta entre meus dedos, lendo a data registrada que eu mesmo havia escrito: agosto, dia quinze... Ajustei meu punho, pondo a caneta no local indicado para a minha última assinatura. Repassei rapidamente o que eu estava fazendo aqui por milésimos de segundos, e respirando fundo, assinei o documento que garantia a inocorrência de que, de acordo com o magistrado eu havia sido isento de responsabilidade pelas incapacidades municipais e estatais de manter um bom vínculo com meus negócios pesqueiros em parceria com a prefeitura de Forks. 

 A agente fiscal da própria prefeitura de Forks, gerenciada por Renata, teve o dano aplicado à multa administrativa com base nos artigos que me favoreceram, comprovando que eu não tinha nada a ver com a grave infração ambiental que eles acusaram, a multa foi nada mais e nada menos que de cento e quarenta e oito milhões da moeda nacional, acrescido pelo agravante das esferas administrativas, criminal e cível. Eu estarei recebendo garantias e indenizações pelo dano moral sofrido, injuria, e danos causados à integridade da minha empresa e aos colaboradores. 

Registrei minha assinatura ao documento, e momentos depois minha digital foi colhida. Os demais procedimentos jurídicos foram passados para a responsabilidade de Carl e Embry, e quando minha presença poderia ser substituída pela performance de Embry e a supervisão competente da advogada, ele mesmo me fez o favor de me enxotar do lugar, mas não antes de eu deixar claro mais uma vez de que não queria que a leva de co-capitães soubessem sobre esse envolvimento judicial. 

 Caminhei pelos corredores de salas até sair do foro, saindo pelo amplo estacionamento, até entrar no meu carro e dirigir diretamente para a casa da minha mãe. Hoje o almoço em família será lá e teremos algo pequeno para comemorar. 

 

 

 

↣ ↢ 

 

 

 

 Kaylee foi a primeira a me receber, seu rostinho se esgueirando entre a porta acompanhou a chegada do meu carro desde longe, aguardando-me em expectativas enquanto manobrava o carro entre os demais ao meio fio. Quando saí do veículo, ela escancarou a porta por completo e gritou para a sua mãe que eu havia chegado, não esperou qualquer resposta que Rebecca pudesse lhe dar e saiu correndo ao meu encontro, os bracinhos estirados dispostos a me receber, permaneci na calçada esperando por sua recepção. 

 

— Padrinho! — gritou quando a encaixei em meus braços, abraçando seu corpinho miúdo macio, seu sorriso infantil exibia a janelinha inferior, logo o dentinho despontaria dali. Ela buscava o ar em pequenos arfares, sua mão direita descansou sobre minha nuca, a mãozinha leve tocando meus cabelos — Tio Cole, — cantarolou meu nome quando a deixei mais à vontade em meus braços e caminhei a passos largos para a entrada — onde você estava durante a manhã todinha? — seu rostinho alegre expressava puramente o quanto ela queria saber. 

 

— Resolvendo a incompetência de outros adultos. — a respondi entrando na casa, adentrando no ambiente dominado pelo aroma do almoço sendo preparado. O sorriso dela aos poucos foi se desfazendo, os olhinhos castanho-escuros me encaravam enquanto analisava minhas palavras por um instante. 

 

 — Isso deve ter sido bem chato. — concluiu. Ri de suas palavras, concordando plenamente. 

 

— Muito chato mesmo. — concordei, fechando a porta atrás de mim. 

 

Caminhei pela sala de estar vazia, indo em direção a sala de jantar, ouvindo o fluxo de vozes entre esse cômodo e a cozinha; eu já sabia quem estava aqui dentro antes mesmo de Kay ter corrido ao meu encontro. Allie e Hugo foram os primeiros a entrar no meu campo de visão quando adentrei no espaço, o casal estava assentado a mesa, e como sempre e sem nenhuma novidade, Allison mapeava seus novos interesses turísticos na tela do seu tablet. Martim estava ao lado da irmã, acompanhando o que ela fazia com tanto entusiasmo e tio Joseph aguardava o retorno da neta no arco entre a sala de jantar e a cozinha. Kay se remexeu sobre meus braços querendo descer, a liberei, vendo-a correr em direção do avô. O som de seu movimento chamou a atenção de Allie, que ergueu seus olhos para onde a sobrinha surgiu, encontrando-me. Ela não parecia surpresa em me ver, eu tinha certeza de que já me esperavam, mas a reação de expectativa e ansiedade surgiu em seu rosto. 

 

— Cole! E aí?! Como foi? — ela quis saber sobre o processo. 

 

 Seu tom alto e ansioso foi escutado por quase todos os presentes da casa, fazendo com que o restante da família que antes estava na cozinha, apertassem o passo para dentro da sala de jantar o mais rápido que podiam, dispostos a ouvirem o veredito. Esperei que todos se reunissem a minha volta, enquanto eu afrouxava o nó da gravata ao redor do meu pescoço para tirá-la de mim, desabotoei as mangas da camisa social, dobrando-a até nos cotovelos deixando meus braços mais livres; tia Olívia; minha mãe; Rebecca; meu amigo Collin, e meus avós, se ajuntaram em expectativa, tio Joseph convencia Kaylee a ficar quietinha para que eu pudesse falar. 

 

— Como o esperado. — dei de ombros — Tenho boas indenizações para receber. 

 

 Houve um coro de comemoração e alívio, cada um reagindo da sua maneira e muito barulho para minha audição, o pano de prato que minha mãe retorcia em seus dedos, foi chicoteado no ar quando ela ergueu suas mãos em agradecimento, tia Olívia abriu os braços para me abraçar enquanto exclamava que essa era a única notícia que esperava ouvir de mim. Kaylee olhava de um, para outro, seu rostinho expressava o quanto estava confusa entre a gente. Cada um teve uma pequena palavra de comemoração para me dar, aceitei-as de bom grado, e não permiti que elas ficassem só para mim; Embry esteve tão envolvido quanto eu. 

 

— Papai se dá bem com adultos chatos, né mamãe. — ouvi Kay comentar apenas para Rebecca. Os que podiam ouvi-la, disfarçaram o riso continuando a conversar com o restante da família. 

 

— Seu pai tem a paciência de um monge, minha filha. — consentiu com a menina, passando a mão direita nos fios longos do cabelo da Kay, e com a mão esquerda pegou o celular, procurando meu olhar — Ele ainda tem muitas coisas para fazer em Forks? — indagou diretamente para mim. 

 

— Não sei ao certo Amy. — passei a mão minha mandíbula, sentindo a pele lisa e os pelos recém aparados — Ele está respondendo por mim, então tem algumas papeladas para assinar, mas não acho que isso demore mais que uma hora. 

 

— Vou ligar pra ele então. — seus olhos voltaram para o visor do celular — Quero que ele também esteja presente, é tão difícil toda a família estar... 

 

— Eu quero falar com o papai também, mamãe! — Kaylee estendeu os bracinhos para a mãe, como uma criança que pede por colo; os pulinhos fizeram parte do seu drama para que Rebecca a pegasse e fosse para a sala de estar, tentar alguma comunicação com o marido. 

 

Interagi com minha família, sentando-me entre Collin e tio Joseph; Allie e Hugo trocaram de lugar para se sentarem nas banquetas do balcão da cozinha, minha mãe e tia Olívia intercalavam entre a culinária, o almoço estava quase pronto, mas elas preferiram desacelerar para que Embry pudesse estar presente, vovó Emily já tinha separado o jogo de sousplat para que a Kay os organizasse sobre à mesa e bancada sob sua supervisão e Martim conversava com vovô Sam sobre as próximas programações da reunião com os anciões. 

 Só almoçamos quando Embry estava debaixo do mesmo teto que nós. 

 Minha família foi bem empática durante o almoço, evitando qualquer assunto que fugisse muito além da vitória judicial que eu e Embry tivemos. Não que eu considero as perguntas sobre Amberli um terreno perigoso, ou muito menos os trataria hostilmente por causa da situação delicada que ela se encontra. Seria muito imaturo, e desrespeitoso agir com grosseria apenas porque minha família está preocupada com a minha imprinting. E quando as tímidas perguntas surgiam, dentro de mim eu os agradecia pela preocupação; ela significa muito mais que eu mesmo e eles também se importam e querem o bem dela. 

 

 Collin estava aqui por isso também, eu o conheço desde sempre, ele sendo primo de primeiro grau do Jake tornava-o mais visível entre os mais novos da matilha, e como sempre teve facilidade do autocontrole tanto dele, quanto de qualquer outro lobo-homem, sua presença já ajudava a apaziguar os ânimos do Lobo. Eles se importam comigo e querem notícias dela, não há nenhum escândalo nisso. É uma puta consideração. 

Quando meus tios, primo e primas partiram, logo após a sobremesa; minha mãe convidou Collin e eu para ficarmos mais um tempo com ela. Eu sabia que isso significava o contrário, eram eles dois que queriam mais um tempo comigo. Fariam isso quantas vezes fossem necessárias enquanto eu permitisse; e não houve motivos para que não nos reuníssemos durante toda a semana. 

 

 

 

↣ ↢ 

 

 

 

Durante todos os dias em que estive na companhia de Collin eu pude fisgar mais da vida dele fora da alcateia, eu estava contente pela maneira de como a vida de Collin seguia, sua dedicação com a segurança da tribo e dos lobos, e gerência no maior supermercado de Forks estavam bem conciliadas. Dediquei toda a minha concentração às suas palavras, estendendo a conversa em mais outros assuntos durante os dias. Não permiti que qualquer palavra nos levasse à minha vida, eu queria escutar sobre acontecimentos que estavam além de mim. Hoje em especial, é quinta-feira e assistíamos a uma partida completa do campeonato dos semifinalistas de baseball, nada de bebidas ou aperitivos, apenas ocupando o tempo com entretenimentos. Conforme a hora foi passando, o papo aos poucos foi findando, e logo ficamos confortáveis com o silêncio. Deitei minha cabeça no encosto do sofá e fechei os olhos, desejoso para que as noites bem dormidas estivessem logo ali, prontas pra voltar à minha rotina. Me concentrei no som da minha respiração, ouvindo com atenção o chiado ritmizado de cada vez que o ar entrava e saía, para que isso fosse abafando o excesso de som ao meu redor, logo eu focava também nos meus pensamentos tumultuados, quentes e lentamente borbulhantes como lava incandescente. Se eu me aproximasse demais delas, me queimaria mortalmente. 

 

Abri os olhos, encarando a sala, Collin se encontrava exatamente da mesma maneira ao meu lado, seus olhos encaravam a entrada do corredor que interliga o cômodo ao restante da casa. Ergui a cabeça, e não demorei muito a entender que ele esperava por mais uma presença no local, e ela logo se aproximaria. 

 Nossos olhos iam de um lugar ao outro acompanhando os movimentos da minha mãe pela sala, suas vestes já não eram as mesmas de quando a vi logo pela manhã e seu cabelo estava preso num rabo de cavalo, ela agrupou seu cesto de linhas e agulhas do lado do sofá, perto dos seus pés e enquanto não juntou todas as linhas e apetrechos necessários, ela não se sentou, e só se manifestou quando começou a retorcer a agulha entre a linha felpuda na cor branca. 

 

— Eu não sei o porquê de todo esse silêncio... — olhou-nos por baixo dos cílios, o rosto abaixado para o trabalho em suas mãos. Olhei para Collin, e ele já me olhava, levantamos os ombros numa concordância mútua; nós não tínhamos mais nada pra conversar — Anda Bee-Bee, — insistiu sem parar de mover as mãos, as agulhas produziam leve tinir quando se chocavam — quais são as novidades? Como estão as meninas? 

 

 — De qual delas você quer saber primeiro, mãe? — me larguei mais um pouco sobre o sofá. 

 

— Me fale sobre a mais nova primeiro. — seus dedos trabalhavam ávidos com a agulha trançando a linha — Aquela criatura miudinha precisa de tanta atenção... 

 

— Nada do que você não saiba, mãe; Ela continua chorando. — não tive muito para responder. Eu não tinha muitas coisas para falar a respeito da Helena, mesmo se eu quisesse. Principalmente por Rosalie cuidar dela integralmente, e eu evito a vampira sempre que posso, o que faz com que eu mal tenha interação com a bebê. 

 

— Ainda? — sua feição se entristeceu muito, como se a notícia lhe doesse — Eu não entendo... Quando é que vão deixá-la ter contato com a mãe? — soou um pouco irritada, parando por poucos segundos até de fazer o crochê, que já criava forma. Revirou seus olhos, quando meus olhos encararam os seus — Estão negando o contato. — soou acusatória. 

 

— Mãe, eu não sei do que você está falando. — franzi as sobrancelhas, confuso. Foi como ter perdido parte do que ela falava, aquela acusação foi estranha para mim — Eu não sei nada sobre bebês, os médicos são eles. 

 

— Por isso mesmo! — parou os movimentos das mãos por mais três segundos outra vez, seus olhos puxados se arregalaram — Não é normal um bebê ter tanta energia para chorar por tantos dias assim, é quase bizarro e me corta o coração, filho. Mesmo que ela seja um bebê diferente, isso já ultrapassa os limites do absurdo. 

 

— Eu sei disso, — eu condisse — e eles também devem saber, mãe. A menina é diferente mesmo, até a Nessie faz comparações; ela não se sente muito confortável em estar tão próxima da menina. 

 

— Talvez tenha ciúmes? — Collin se manifestou, cessando seu silêncio observador. Olhei para ele, negando seu argumento. 

 

— Não. No começo também achei que sim, mas ela já conheceu outros da sua espécie. Nessie é adulta há muito tempo, ela pode ser mimada em muitas coisas, mas não por causa da atenção que sua família tem dado a elas. Ela pode até não admitir, mas da forma que ela fala da menina, me passou a impressão de que ela se sente intimidada pela Helena. 

 

— Isso é ridículo! — minha mãe se indignou. A essa altura, o crochê já havia sido esquecido e as linhas foram emboladas de volta para dentro do cesto — Helena é a que mais precisa de ajuda. — externou sua inquietação, o que perturbou a mim e ao Lobo profundamente.  

 

 — Mãe... — a censurei com seriedade, minha feição retorcendo em desgostoso e agressividade — A única que vejo estar entre a vida e a morte por lá, é a Lee. E convenhamos, eu só entro naquela mansão para saber sobre ela primeiro, pois é a única em coma naquele lugar. — não filtrei o que saía por meus lábios. O olhar profundo que ela me direcionou fez com que eu me arrependesse das palavras proferidas na mesma hora. Podem ser verdadeiras, mas não menos grosseiras. Collin ficou desconfortável com a situação, ele não demostrou muito, mas para mim seu leve movimento foi perceptível. 

 

— Escolha bem suas palavras para falar comigo, eu sou sua mãe, exijo respeito. — seus olhos tempestuosos pareciam ter o poder de lançar raios sobre minha cabeça. 

 

— Eu sei, — sustentei seu olhar — peço que me perdoe. — pedi, ante o respeito matriarcal. Ela suspirou. 

 

— Não sei por que ainda insiste em se apegar na ideia de que ela não irá melhorar. — sua postura se amansou um pouco ante o meu recuo — Eu tenho te avisado isso desde o começo Cole, pensei que tivesse mais confiança em minhas palavras e no elo divino que correm em nosso sangue. Não é possível que seja cético mesmo ainda, meu filho. 

 

— Não é ceticismo, mãe. Estou refletindo tudo o que está acontecendo, e o que está acontecendo é bem real, eu posso quase sentir o cheiro da morte a rondar aquele lugar, e ela me paralisa. — minha mandíbula apertou os dentes. 

 

— Está com medo. — conscientizou com ternura, falando na língua quileute. 

 

 Desviei meus olhos dela, olhando para os cantos da sala, não que isso tivesse muita interferência em perceber quando ela se levantou do móvel e caminhou até a mim. Suas mãos carinhosas tocaram minhas bochechas, subindo o carinho até os meus cabelos. Aos poucos o movimento de seus dedos causou pressão, o suficiente para eu entender que ela queria mover a minha cabeça. Cedi ao seu comando, deixando que ela ajustasse a minha posição até a sua face, para que pudéssemos nos encarar olhos nos olhos. Seus olhos escuros eram calorosos como labaredas familiares, ardentes de seu amor maternal. Ela sempre me olhou com emoção, mas havia momentos de que isso parecia arder dentro de si de uma maneira tão profunda que chegava a me aquecer também. 

 A troca de olhares não durou muitos segundos, apesar da intensidade, cheguei até mesmo a conseguir esquecer a presença de Collin ao meu lado presenciando cada detalhe. Pigarrei, sentindo seus dedos soltarem meu cabelo, descendo para os meus ombros, num afago. 

 

— Isso muda muita coisa. — Collin declarou. Minha cabeça deu uma guinada em sua direção, ele parecia apenas afirmar para si, propositalmente alheio e intimamente interessado. Percebendo minha atenção sobre ele, seus olhos encontraram os meus — É irmão, você precisa encontrar uma maneira de credibilizar a esperança que os Espíritos de nossos ancestrais garantiram a você. — sua sobrancelha se espichou, como se me dissesse que eu precisava já estar fazendo isso.  

 

Bom, o lado dele já estava definido, seus pensamentos eram os mesmos da minha amada mãe, de que eu ainda alimentava o ceticismo do sobrenatural da cultura quileute, mesmo vivendo-o desde antes de nascer. 

 

— Está vendo?! — gesticulou a mão na direção dele — Isso muda o suficiente e me basta, eu preciso ir para lá! — falou rápido dando as costas, se aprontando para partir. 

 

— Agora? — me levantei, indo atrás dela. Sua mão esquerda já agarrava a chave de seu carro. 

 

— Claro que sim! Eu ainda demorei para aparecer por lá de novo. Não que eu tenha ido para o covil deles antes da Lee chegar nas nossas vidas... — suas mãos gesticularam no ar — Lembre-se que em tudo existe um propósito e que muitas vezes não entenderemos o motivo no agora, mas tudo está acontecendo da maneira que é para ser. Aconteceram coisas na minha vida que não entendi até hoje, mas não podem ser mudadas, eu sei que talvez eu não estaria aqui se não tivessem acontecido. Até mesmo nas vezes em que eu deixava os copos de vidro da minha mãezinha se espatifarem no chão. — passou a mão no cabelo e suspirou cansada pela sua falação, um sorriso pequeno afastou sua expressão cansada — Se quiser ir, fique à vontade, mas vá no seu carro. Eu não quero te prender lá por minha causa. Assim que quiser sair, estará livre; só traga a chave da minha casa para mim, tá? — caminhou até a porta da entrada, abrindo-a — Eu te amo, até daqui a pouco meninos. — saiu da casa e fechou a porta. 

 

Pisquei minhas pálpebras, desviando meu olhar da porta, para mirar a Collin, que continuava no mesmo lugar. Podíamos ouvir ela fechando a porta do seu carro, devagar os olhos castanhos do meu amigo também deixaram de encarar a porta e se levantou do sofá. 

 

— Você quer esperar ela andar alguns quarteirões à frente para podermos ir? — indicou o exterior da casa com um aceno do seu queixo. 

 

— Você está disposto a ir para lá também? — franzi as sobrancelhas pela estranheza que as palavras soaram vindas dele. 

 

— Sim, mas não agora. Deixe-a conversar com quem precisa, podemos passar por lá para devolver a chave, e ver se está tudo bem. — deu dois tapas no meu ombro direito — Eu estou com uma fome..., que tal a gente parar naquela lanchonete na saída de La Push? — abriu a porta de entrada, convidando-me a sair também.  

 

—  Você quem manda! — acompanhei seus passos, pegando a chave para trancar a casa. 

 

 

↣ ↢ 

 

 

 O som da minha própria mastigação, era motivação o suficiente para ignorar tudo o que eu podia ouvir e sentir ao meu redor. Aproximei o hamburguer da minha boca, farejando o cheiro delicioso e quente, mordendo um pedaço generoso e suculento enquanto olhava as gotas de chuva colidirem contra o vidro do para-brisa deixando leves sombras sobre o painel do carro. Collin fazia o mesmo na poltrona ao lado, e eu sei que continuaremos assim, até que um de nós queira me manifestar em algo; o que não demorará muito para acontecer. 

 

— Vamos dar um tempo para a tia Franchesca, — disse após engolir metade do alimento que estocou dentro da boca — Ela quer muito saber como a sua imprinting está. 

 

— Tudo o que eu sei, ela também sabe. — respondi como pude, e continuei a mastigar, já preparando o próximo lugar para ser mordido. 

 

— Sim, pode até ser, mas ela precisava conversar com os caras pálidas sem você. — virou o potinho de ketchup no seu lanche. 

 

— Sem mim? — deixei de morder o hamburguer — Minha mãe tem algum motivo? — mordi mais voraz do que devia, mas talvez ele sequer tenha percebido, está tão delicioso que poderíamos comprar mais uns cinco desses para cada um. 

 

— Sim, mas nenhum que te chateie Cole. Isso é algo dela com os Espíritos da tribo, ou nem isso, pode ser apenas uma preocupação muito grande com a Amberli, até porque, ela é a sogra da moça. Mesmo que... 

 

— ... Ela ainda não saiba. — concluí sua fala. Eu ia reclamar de até quando ela não saberia, ou até mesmo se isso aconteceria, mas preferi o silêncio. Era melhor evitar o poder das palavras ruins e prendê-las apenas nos meus pensamentos — Por enquanto. 

 

Deixei o ambiente à vontade para que ele pudesse falar tudo o que quisesse no momento. Antes tínhamos muito mais assuntos, entretanto depois de alguns anos evitando a reserva, e tendo retomado há menos de um ano o convívio direto, algumas coisas deixaram de ser, nossa amizade principalmente; e mesmo que nossos assuntos não se estendam mais como antigamente, Collin se fez presente na minha vida e eu na dele desde o momento que eu retornei de modo definitivo. Me surpreendo por ainda sermos grandes amigos, estamos no mesmo nível, nosso convívio se estende além da ligação entre os Lobos. 

 

— Estamos comendo há quarenta minutos. — comentei olhando o horário no visor do painel — Já tá na hora de ver como minha mãe está. 

 

— Você estava de olho nisso? — fez uma careta, esfregando o lenço de papel contra os lábios. 

 

Recolhi toda a bagunça de papéis do fastfood, empurrando para ele, por conseguinte ele reclamou, preocupado de que algum molho pudesse manchar suas roupas; mesmo ligeiramente emburrado ele juntou todo o lixo e o descartou pela janela na lixeira mais próxima da saída do estacionamento. 

 Meti o pé no acelerador, a velocidade só diminuiria quando eu me aproximasse da entrada do território dos Cullen. 

 

 

↣ ↢ 

 

 

“Não houve nada demais na mansão dos vampiros”. Foram as primeiras palavras da minha mãe quando eu liguei para ela, informando de que estávamos próximos. A ideia era esperar ela sair de dentro da mansão e acompanhá-la até a sua casa, porém não fiquei tão surpreso quando minha mãe esperou que nós chegássemos lá para nos obrigar a entrar para que só assim ela fosse embora dali. 

 Entrar no território deles nunca foi minha parte favorita, mas era um pequeno sacrifício constante desde que fui presenteado em ter a Lee na minha vida; só que entrar sem sua presença ativa, acompanhado de outro lobo tão incomodado quanto eu, me deixou em estado de alerta e pele em arrepios, e o som de fundo não ajudou em nada. Bella estava naquele quarto montado, velando o monitoramento preciso de seu corpo e cuidando de suas mínimas funções básicas. 

Collin demonstrou abertamente sua perturbação pelos reclames infindáveis da pequena Helena durante os minutos que ficamos ali, seu rosto expressava mais que quaisquer palavras que ele quisesse sussurrar, seus membros trêmulos davam-lhe o aspecto de um homem em estado de choque, o que nos empacou de entrar logo para dentro do covil. Conhecendo Collin como eu conheço, ele só aceitaria entrar lá no momento em que ele estivesse tranquilo o suficiente para lidar consigo, sozinho. 

 

— É sempre assim? — reclamou com a voz era contida, o nariz franzido evitando desperdiçar o oxigênio. O cheiro excessivamente doce dos vampiros sempre causa um embrulho profundo no estômago dos lobos. Apenas confirmei com um aceno da cabeça, a sensação sempre é a mesma, com o tempo, só é ignorada. Sua expressou era desgostosa quando se impulsionou a andar — Altamente repulsante. 

 

 Naquela noite, Helena estava nos braços de Esme, a troca havia sido feita por um capricho à Hilary, dando-nos a oportunidade de rever a criança que pouco era exposta. 

 A bebê tinha sua beleza irreal vampírica e pálida, mas eu não sabia se sua palidez era pelo fato de só vestirem roupas brancas nela. Seu sangue é quente e a pele macia como Nessie, seus bracinhos eram roliços até, coberto por pelinhos que a envolviam com leveza como um véu preto. A cabecinha farta de fios parecia ter dobrado de volume, não aparenta ter crescido muito, apenas estavam realmente mais fartos de fios extremamente escuros, brilhantes e cacheados. Seus lábios pendiam tristonhos, as bochechas pesadas acompanhavam dramaticamente, a borda dos olhos era muito bem delineada pela carreira de cílios escuros, que contratavam com a vermelhidão ao redor da região. Entre todo o contraste que Helena era, o que mais chamava a atenção eram seus olhos azuis, tão claros quanto um azul pastel, e pela frequência que eles permaneciam inundados em lágrimas, adquiriam um tom ainda mais claro como um azul champanhe. Belíssimos e tristes ao mesmo tempo, algo bizarro e desolador de se ver nos olhos de uma bebê. Lembro-me do instante em que ela me percebeu no cômodo, seus olhos ergueram-se firmes até os meus, muito consciente para os poucos dias de vida que tinha ou até dos meses que ao menos ousava aparentar. Foi a primeira vez que ela olhou para mim, diretamente para mim, como se soubesse exatamente quem eu era e o que eu representava. Seu olhar travou meus passos em leves hesitações por milésimos de segundos durante o tempo que eu alternava de uma perna para a outra. Seu lábio se apertou num beicinho choroso e magoado, os olhos claríssimos ainda fixos em mim. 

 Minha mãe e Esme estavam de prontidão para ela, atentas aos movimentos da pequena menina amparada no corpo da matriarca vampira, com olhos solidários e cheios de compaixão, dispostas a afagarem o corpinho dela para que pudesse continuar minimamente calma, temerosas de que o choro aflitivo voltasse a estremecer o lugar. Acompanhei o momento em que os olhinhos cansados voltaram a se encher de lágrimas, o corpo se remexeu inquieto e irritado contra Esme, os resmungos de choro aumentando gradualmente quando ela apenas estendeu suas mãozinhas rechonchudas e pálidas para mim. Para mim! 

  Paramos de respirar nesse momento, surpresos, confusos e temerosos. As lágrimas continuavam a inundar seus olhinhos, porém mantinha-se firme em contato com os meus, chamando-me, pedindo com fervor para que eu me aproximasse mais, mais, ainda mais, até que ela pudesse me tocar. 

 Helena soltou um resmungo fino quando suas mãos pequeninas tocaram em meus braços. Minha mãe estava com seus olhos bem abertos como uma coruja sobre ela, mal piscava, e talvez evitasse piscar para não perder nada do que acontecia diante de seus olhos. Ergui meu olhar para os olhos dourados de Esme, aspirando seu cheiro docemente ardido, esperando sua permissão para tirar Helena de seu colo, aos poucos ela foi afrouxando o aperto ao redor da bebê, dando o espaço para que eu pudesse encaixar minhas mãos debaixo dos bracinhos roliços da criança, puxando-a devagar para mim, até que ela estivesse sustentada em meus braços pela primeira vez desde que ela nasceu. Eu me sentia trêmulo e estranhamente gelado diante dessa situação, o coração acelerado e um frio retorcido dentro da barriga. 

 Olhei para o rostinho miúdo da criança engolindo em seco, Helena nunca esteve tão próxima dos meus olhos como está agora; sua expressão continua triste, chorosa e abatida, a respiração soluçada e exausta, e ainda assim eu senti como se algo estivesse mudando, talvez um sinal de melhora. Os olhinhos azuis champanhe inundados pelas lágrimas retidas continuaram me encarando por alguns segundos, e sua reação seguinte causou um vacilo na minha frequência cardíaca, sem dúvida alguma, foi como se meu coração parasse de bombear: Helena simplesmente tombou para mais perto e deitou sua cabecinha no meu ombro esquerdo, fazendo com que as lágrimas retidas, escorressem para fora de seus olhos, pingando na minha roupa. Sua mãozinha direita circundou meu pescoço e suspirando entre soluços ela ficou quietinha. 

 Fiquei imóvel com minha mãe, Collin e Esme de olhos arregalados ao meu redor por tempo o suficiente para eu compreender que ela fechou os olhos e adormeceu nos meus braços. Nos meus braços. Meu coração bombeava pesado dentro do peito, e talvez meus olhos estivessem arregalados como os deles. Ninguém ousou a soar uma palavra sequer, a única manifestação mais audível era o da pequena Hilary nos andares acima, e as máquinas auxiliando a Lee; a sensação que eu tive era de que o planeta passou a girar muito mais devagar, dando-nos tempo para tentar compreender o que estávamos presenciando. 

 Infelizmente o tempo não foi suficiente para compreender Helena. Seu silêncio durou dez minutos e dezessete segundos e a sensação de que o muro incessante de tentativas da família Cullen ruísse de volta ao chão, a derrota pesou nos ombros da amorosa Esme; que sem alternativas a tomou para si e subiu para um dos quartos da mansão, ninando a neném inconsolável nos braços. Isso foi motivo o suficiente para que minha mãe fosse embora dali, seus olhos ainda arregalados gritavam por respostas. 

 

 

 

↣ ↢ 

 

 

Ter um tumulto sonoro tão constante faz com que eu nunca me sinta muito sozinho ou em silêncio absoluto. Porém todos os dias desde que a Lee tem estado em coma eu me sinto sozinho mesmo com tanta coisa e barulho ao redor. Como um vácuo a ser preenchido, a sensação vinha das profundezas de dentro de um, tão fundo que eu não me arriscaria a saber até onde poderia findar. Demorou algum tempo para que eu percebesse o sentimento confuso e constante que refletia o vazio, era o profundo vazio, que nos momentos em que eu ficava muito parado ou sem conversar com alguém, o vazio parecia verbalizar comigo, causando a sensação de que nada mais estava fazendo sentido. Isso me soava um alerta de perigo, a situação ante a ausência da Lee precisava ser revertida de alguma forma, e até agora nenhum desses vampiros com inúmeras habilidades descobriram como. 

 

Levantei meu olhar para o alto quando um som interessante me chamou a atenção. Hilary estava entre Esme e Renesmee, suas mãozinhas levantadas segurando a mão delas enquanto caminhava. Seus pezinhos estavam suados, eu sentia o cheiro exalando de sua pele e dava pra ouvir quando eles se desgrudavam do assoalho a cada passo que avançava na minha direção, do alto da escada eu pude observar aquele toquinho de gente aparecer aos meus olhos. O cabelo castanho estava solto e bem penteado, moldurando seu rostinho, o vestido era azul e a textura estampada assemelhava ao jeans; um babador estava abotoado sobre seus ombros e como mais dentes estavam nascendo ela babava muito, e na ponta do babador a chupeta estava pendurada. Ela gritou e sapateou de empolgação quando me viu, apressou seus passinhos com euforia para que a descessem, o sorriso genuíno me fez lembrar mais ainda de sua mãe, mesmo que esse fosse mais infantil, com poucos dentes e melado de saliva. 

 

— Calma, Florzinha. — Nessie riu do comportamento espontâneo da menina, impedindo que ela avançasse para os degraus da escada. 

 

 Esme soltou a mãozinha dela, deixando-a aos cuidados de Nessie, que arrumou o pequeno cobertor por cima de seus ombros e agachou ao lado de Hilary; com a mão livre ela indicou os degraus, instruindo com leveza a maneira como ela deveria descer. Foi questão de paciência para vê-la descer pé ante pé, degrau por degrau, a euforia de Hilary ao me ver era surreal, dava-me alegria e a cada passo que ela descia para mais perto, eu me permitia sorrir para a receber. Quando ela estava a menos de dois passos meus de distância ela parou o caminhar, soltou as mãos de ambas as mulheres e chiou algo levantando o rosto para Nessie; e como se as palavras incompreensíveis não bastassem, ela ergueu as mãozinhas, pedindo por algo específico. Algo nos ombros de Nessie. 

 

— Eu ensinei algo bem legal pra ela. — olhou para mim, alargou os lábios num sorriso — Ela amou! — tirou a coberta de si, arrumando-a em suas mãos. A pequena olhava para ela com expectativas — Vamos lá Florzinha! — estendeu o cobertor sobre Hilary, escondendo-a ali o que ocasionou uma gargalhada. Nessie segurou-a pelos ombros miúdos e fez que ela rodasse, Hilary gargalhou novamente, o riso abafado pela coberta que a cobria não atrapalhava na vibração contagiante que saltava dela A pequena espichou os braços para frente, exclamando silabas sem sentido, mas que continham toda a alegria dela naquele momento — Vamos lá, tá na hora de assustar! — Nessie cantarolou e abriu espaço para que ela avançasse às cegas pelo local. 

 

— Buuh-Uuh! — ela exclamou por baixo da coberta. 

 

Eu mal podia acreditar, Renesmee simplesmente a ensinou a ser um fantasma! 

 

— Anda logo! — ela sussurrou me cutucando para que eu saísse do sofá — Ela vai te procurar! 

 

— Col! — Hilary exclamou a maneira que ela chama por mim, dando dois passinhos para frente — Buuh!... — olhei dela para Nessie, e a feição da mulher me cutucando era claro o bastante para a ordem não verbalizada: “Colabore!” 

 

Não medi esforços para levantar-me, flexionando os joelhos para ser mais acessível à Hilary e chamei-a de volta usando uma voz trêmula e característica a algo fantasmagórico: 

 

— Hilary!.... 

 

Ela soltou um gritinho, se chacoalhando toda por debaixo do seu pequeno cobertor, seu movimento ligeiro quase fez com que o tecido a descobrisse, mas Nessie manteve-a escondida em sua fantasia improvisada incentivando-a à me capturar; e entre risinhos infantis ela chamou-me mais uma vez, estendendo seus bracinhos para frente e procurando por mim. Facilitei a brincadeira, ficando bem próxima dela para que pudesse sentir minha presença, isso a deixou mais eufórica ainda, fazendo com que ela se sentisse mais motivada a ser uma boa fantasminha e me perseguisse até me tragar. Mais feliz do que pensei que ficaria, entrei de cabeça na brincadeira, deixando Hilary me perseguir de um canto ao outro da sala, vez ou outra ela tropeçava na ponta do cobertor, mas não desistia; logo ela estava coberta mais uma vez, rindo e imitando um fantasma bem fofo, bem-disposta a me capturar quantas vezes fosse possível, e eu estava disposto a ser capturado por ela quantas vezes ela quisesse mesmo que meus tímpanos hipersensíveis parecessem estourar a cada vez que ela gritava pelo êxito. 

 

— Êeh!! — seu grito de vitória repercutia entre os profundos miolos do meu cérebro quando a levantei ao alto da minha cabeça para celebrarmos mais uma captura. 

 

Bella me aguardava lá em cima, o acesso estava livre para que eu pudesse ver a Lee. Chutei a cobertinha na direção da Nessie para que ela escondesse isso o mais rápido possível, enquanto eu ainda a mantinha suspensa no ar, movendo meus dedos contra ela ocasionando cócegas; o corpo miudinho se contorceu o quanto pode para se livrar das investidas que faziam altas gargalhadas escapar dela. Talvez isso a fizesse esquecer momentaneamente da brincadeira. Flexionei os braços, abraçando-a, Hilary envolveu minha cabeça em seus bracinhos macios e largou-me quando me agachei para que ela fosse ao encontro de Nessie, que já a esperava de braços abertos. Olhei ao redor, e já não havia nenhum sinal do cobertor por perto. Nessie a encantou o suficiente para levá-la à sala das fotografias, eu não titubeei nem mais um segundo quando ela deu às costas, deixando-me sozinho naquele cômodo. Saltei pelos degraus das escadas e só parei quando minha mão fechava a porta do escritório hospitalar. 

 

 Todo o agito nutrido por Hilary que eu sentia dentro de mim, foi sugado abruptamente, a atmosfera silenciosa e expectante desse lugar, pesando em meus ombros e comprimindo meus órgãos dolorosamente. Recuperei a postura, obrigando o sentimento triste a não me abater e respirando fundo ignorando caminhei até a Bella, esperando alguma notícia vindo dela.  

 

— Boa noite, Cole. — sua voz receptiva chegou aos meus ouvidos quando eu ainda caminhava ao seu encontro. 

 

— Boa noite, Bella. — correspondi ao seu cumprimento. 

 

— Fico feliz em te ver aqui hoje, com certeza seu dia foi corrido... — ela virou-se para a maca, sua mão apenas ajustando uma das dezenas de fios inertes ao redor dela

 

— Não perderia por nada. — a segui, meu coração batendo forte no peito enquanto meus olhos percorriam ávidos pelo corpo adormecido da Lee, analisando. 

 

— Que bom, porque hoje é uma data especial, — suas palavras me chamaram a atenção, subi meu olhar para o rosto pálido meio perolado que ela apresenta. Seus lábios se moveram lentamente, um sorriso solidário se escondia ali — dia vinte de agosto é o aniversário dela; Amberli está fazendo vinte e cinco anos hoje. — isso me chocou. O aniversário dela..., assim, em coma... — Nós já a parabenizamos, Edward pode até dizer que não houve interação alguma, que o cérebro não captou nenhum estímulo sonoro, mas sabemos que coisas sobrenaturais acontecem a todo o momento, melhoras milagrosas ainda existem... — seus olhos dourados encararam-me — E eu sei que de alguma maneira ela nos ouvirá, ela é especial para nós e merece tudo de bom para a sua vida. — o piscar de seus olhos interromperam o contato que tínhamos, seu olhar passou por Amberli um breve momento — Fique à vontade. — deixou-nos a sós no ambiente. 

 

Esperei que ela se afastasse mais alguns passos no corredor para que eu me sentisse mais livre para contornar a maca, analisei em silêncio toda a junção hospitalar, enquanto minhas ideias giravam fervorosamente dentro da minha cabeça fazendo com que meus olhos ardessem em lágrimas retidas, eu queria que ela estivessem bem para comemorarmos juntos, em família, era dolorosa a realidade de que ela completava mais um dia de vida e menos um dia vivendo; os dias avançavam enquanto ela continuava parada, seus braços parados, suas pernas paradas, sua mente parada... Nos membros nós dávamos um jeito, a fisioterapia é diária e constante, mas sua mente estava bem mais complicada; parecia até um pouco inalcançável.  

A rodeei mais uma vez, parando aos seus pés, minha garganta apertada reflete o sentimento de que mesmo tendo tudo o que eu possuo, tenho me sentido um derrotado; a pessoa mais valiosa e significativa para a minha existência estava bem ali, e sequer poderia me receber. Estiquei meu braço e toquei a barra do cobertor, dobrando-o até os seus joelhos. Segurei seu pé direito, percebendo o leve cheiro de esmalte que exalava, analisei sua unha percebendo que Alice esteve aqui pela manhã para mudar a coloração; um verde claro brilhava em seus pés, que mesmo mais magro, deixava-o delicado. Pressionei com cuidado meus dedos recolhidos contra a sola do seu pé, massageando em movimentos circulares até a extensão da sua panturrilha. O sentimento de tristeza profunda e abandono me espremiam sem dó e com violência, e as lágrimas escorriam quentes de ressentimentos para fora dos meus olhos. 

 

— Eu não vou desistir de você. — minha voz soava frágil como de um menino — Eu só quero que saiba e entenda isso. Eu jamais vou desistir de você. Eu te amei desde o primeiro momento em que entendi o que eu vi; foi o seu jeito de olhar, sua forma de falar, até sua voz e seu sorriso contido me encantaram, junto com sua coragem e inteligência peculiar. Eu posso entender os motivos ocultos que te trouxeram para o lobo além das circunstâncias, e eu quero..., tudo em mim arde para que você não me veja como um homem qualquer, mas sim como o único capaz de te fazer sorrir com a alma e rir sem motivos extraordinários, como o único que sempre estará do seu lado; que nunca te abandonará e o único que sempre vai te amar... — engoli minhas palavras carregadas de verdades, sonhos e emoções. Enxuguei meu rosto, cobri-a novamente e pus-me ao seu lado, inclinando-me em direção ao seu rosto para falar no seu ouvido direito — E eu quero que você esteja olhando para mim, ouvindo tudo isso ser falado para você com olhos nos olhos. — respirei fundo trazendo a leve e misturada fragrância dela para dentro de mim. Acenei positivamente com a cabeça, crente de que isso ainda iria acontecer — Quando você acordar, saberá. — aproximei meus lábios de sua fronte e beijei — Feliz aniversário, Lee. 

 

 

 

↣ ↢ 

 

 

 

— Essa criança é qualquer coisa; menos parecida com a Amberli. — o resmungo escapou dos lábios lamuriosos.  

 

Renesmee estava encolhida com as pernas dobradas em cima do sofá, seus braços brancos abraçavam a si mesma, os olhos castanhos-chocolate estavam fixos sobre as fotografias, sem ao menos realmente vê-las. Ali estavam alguns álbuns de fotos que pertencem à Amberli, expostos escancaradamente a qualquer um que ela permitisse ver. Ela, nesse caso, era Nessie, que ainda não havia me explicado o motivo exato da necessidade de estar expondo os pertences da Lee dessa maneira, e eu não estava com saco para realmente saber, então para passar um pouco o meu tempo, até ter a permissão de Carlisle para subir ao quarto de UTI, eu estava jogando conversa fora com ela tendo Edward grudado ao seu piano de cauda abafando um pouco o som de Helena. 

 

— A genética dominante não foi a da Lee, infelizmente. — ela murmurou mais uma vez. Tive que concordar, a criança não mostrava nenhuma compatibilidade física com sua mãe, o que não é necessariamente uma regra de se ter, mas eu esperava que sua personalidade fosse. Bom... Só saberíamos assim que ela pudesse se expressar de maneira saudável e se desenvolver o suficiente para isso. 

 

A pequena criança tinha sua beleza, o fator da sua espécie apelava demais para isso. Sua fragrância tinha o teor vampírico assim como o da Nessie e bem ao fundo eu conseguia sentir um leve mesclar do cheiro da Lee, não tão quase perceptível como é com a Hilary, mas ainda existia. 

Naqueles segundos, ninguém se manifestou sobre as palavras de Nessie e acredito que silenciosamente todos concordavam com suas palavras, a menina não tinha muitas familiaridades com a mãe. É um pouco frustrante que Helena não tenha um minúsculo traço que remetesse à Lee, eu só jamais falaria um “a” sequer sobre isso. 

 

— Não menospreze a criança, Nessie. — minha mãe a repreendeu agitada, a feição fechada e descontente. Renesmee se encolheu desconcertada, e um dos vampiros solícitos puxou uma conversa para que a repreensão não pesasse mais ainda o ambiente, já estamos na semana do vigésimo dia, não está fácil para nenhum de nós aqui.  

 

 Mais um sábado se arrastava, a diferença era que desde quinta-feira minha mãe passou a montar guarita ao redor da família, atenta a tudo que podia ser relevante para ela e sua comunicação ancestral, eu mal estive em casa desde então; estive mais ausente do trabalho entregando de olhos fechados tudo nas mãos de Embry, iniciando o ciclo entre estar presente na casa dos Cullen, cumprir meu horário de ronda e ficar de olhos atentos à minha mãe, ela está tão enérgica que daqui a pouco eu estou convencido que por um mínimo acontecimento ela possa sair voando de dentro da sua casa para vir ao encontro de notícias sobre a Lee. Se eu não delirar e isso se realizar, eu farei o possível para que minhas mãos fiquem firmes em seus tornozelos. 

 O toque aconchegante que soava das teclas do piano deu uma guinada, pude ouvir um riso contido escapar do músico que outrora dedilhava, demorou um tempinho para que as notas soassem calmas e harmoniosas de novo e quando estava no mesmo ritmo mais uma vez, eu passei a prestar a atenção ao que estavam conversando perto de mim; minha mãe conversava abertamente com os presentes, porém o que mais parecia muito mais interessado no que ela tinha para dizer, era Jasper, o loiro quase se inclinava em sua direção, como se inocentemente não estivesse a ouvindo, só que meu lado Lobo se atentou para a possibilidade da atração inevitável pelo sangue humano. Me levantei de onde estava e caminhei na direção deles, me pondo ao lado da minha mãe, atento aos movimentos do loiro, vi o momento que suas pálpebras se franziram para mim, bem ciente do que eu estava fazendo. Sua manifestação discreta não me intimidou, muito menos fez com que eu parasse de fazer, mas resolvi ouvir o que minha mãe tinha para lhe falar. 

 

— Eu bem que achei muito insensível que ela nunca tenha contato a Amberli. Os bebês precisam do primeiro toque da mãe logo quando nascem! — gesticulou — Isso já é afirmado por pesquisar médicas e acredito profundamente que isso pode ser benéfico para ambas. Você deve sentir como essa convicção chega a arder dentro de mim. 

 

A reação de Jasper foi nessa seguinte maneira, muito rápida: primeiro ele arregalou os olhos como se uma compreensão íntima fosse muito bem esclarecida, para logo um sorriso leve que não disfarçava o fascínio surgir em seus lábios. 

 

— Carlisle, — pediu a presença do outro — ele vai gostar de saber isso. 

 

— Ele pode descer? — minha mãe se alegrou com a possibilidade. Encarei um ao outro um pouco perdido, a parte mais interessante eu não havia escutado? 

 

— Sim, só vamos esperar mais um pouquinho. — Jasper a respondeu com as mesmas palavras proferidas quase simultaneamente por Carlisle. 

 

— Ótimo! — minha mãe sorriu, seus olhos brilharam — A espera não pode matar minha esperança. 

 

“Já eu, sobrevivo dessa espera tão constante.” pensei. Percebi um olhar vindo de Jasper. Tratei de ignorar. 

 

Minha mãe esperou apenas por cinco minutos, uma espera curta até, Carlisle desceu num piscar de olhos, a porta de onde estava sequer havia se fechado quando ele chegou caminhando diretamente até a minha mãe. Com toda boa educação que ele sempre teve, nos cumprimentou e atendeu ao chamado dela, pedindo com gentileza para que minha mãe pudesse explicar tudo o que sentia que precisava falar. 

 

Sua boa aceitação à opinião dela e deixou deslumbrada por um momento, gaguejou no início antes de desatar a falar sobre aquilo que ardia seu peito desde alguns dias atrás, seu reclame insistente era de que a Helena precisava sim do primeiro contato com a mãe, pois isso essa indispensável, muito importante para ambas. Minha mãe foi imbatível com a oportunidade de expor seus ideais, instruindo até a maneira da preparação do banho que a pequena bebê teria que ter antes de entrar no mesmo ambiente que a mãe. Jasper acrescentou seu ponto de vista a favor dela, como ele compreende a fundo sensações pessoais que eu não sou capaz de sequer imaginar, foi indiscutível contrariá-los e Carlisle já estava adepto a tudo que eles apresentaram para nós. 

 

 — Eu só não vou desentubar Amberli agora, ela não apresenta sinais claros de melhora para que eu, ou a Bella possa fazer, mas faremos o que nos instruiu, Rosalie preparará o banho de Helena para que isso aconteça, não teremos perigo pois a Amberli não está com nenhuma infecção e não conseguimos causas neurológicas que justifique o que estamos passando com ela. Não há riscos, isso acontecerá hoje mesmo. 

 

A notícia me deu um frio na barriga, e o Lobo se alegrou, a esperança retumbou em calor dentro de mim, foi forte como há dias esperei para acontecer, a chance de vê-la retornar para mim e suas filhas me encheu e revigorou profundamente. Passei meu braço direito sobre os ombros da minha mãe, apertando-a contra mim com carinho. Me senti bobo, como um menino teimoso, mais uma vez eu estava sendo um cabeça dura, negando-me a acreditar na sua majestosa ligação com os espíritos da tribo. 

 

A espera dessa vez não pareceu tão longa como nos dias anteriores, minhas mãos até suavam de ansiedade no momento em que me autorizaram a entrar primeiro, e logo após, quase toda a família se reuniu ao redor para testemunhar o que poderia vir a acontecer. 

 Olhei para a minha mãe, que sussurrava em nossa língua um convite para que Deus permitisse a presença dos espíritos da tribo nesse lugar, ela os chamava a cada permissão que tinha, e cada uma delas era registradas pelas voltas que ela dava em sua tira de couro para prender seus cabelos num rabo de cavalo rente à nuca. Ela continuava a chamar por eles e agradecia pela ajuda, esperança e força e quando ela deu a última volta da tira nos cabelos e deu o nó, foi muito notório para todos aqui que os espíritos estavam ali, a quentura abrasiva que eu sentia era autoconsciente, deixando-me à flor da pele, visualizando o que acontecia com meus olhos humanos e lupinos, ao mesmo tempo. Algo humilde e altamente poderoso trazia à tona tudo o que os Quileutes tinham de especial. Minha mãe me tocou, sua mão estava quente e seus olhos bem fechados, como outrora já esteve, em nossa língua ela pedia proteção para nós e forças para suportar o que eles tinham para nós no momento. Ela declarou o quanto os amam, e agradeceu a benção dela ser a escolhida entre tantas mulheres boas da tribo, quando abriu os olhos, olhando-me profundamente, ela pediu para que eu pudesse traduzir para eles tudo o que ela iria falar, um riso escapou por suas narinas quando ela disse que tentaria falar mais devagar. Eu também ri, talvez ela não conseguisse. 

 

 Ela respirou fundo, suas mãos, ainda em contato com as minhas se aqueceram um pouco mais, e tentei não me preocupar com sua pele naquele momento. Ela me pediu para que eu chamasse a presença de Helena naquele lugar. Olhei para os nossos espectadores ansiosos, Edward cuidava de Hilary no momento e Rosalie aguardava para entrar. 

 

— Minha mãe não conseguirá intercalar de um idioma para o outro agora, então eu vou traduzindo. — respirei fundo — Pode trazer a menina. — dei a permissão. 

 

 Minha mãe soltou minhas mãos, e ainda de olhos fechados estendeu suas mãos em direção ao rosto da Lee. Intercalei meu olhar a tempo de ver que foi Alice quem abriu a porta para que Rosalie pudesse entrar, a bebê lutava contra sua investida de tentar fazê-la deitar a cabecinha cabeluda em seus ombros e até mesmo tentava fincar seus dentinhos contra a mão dela, os passos da loira foram ligeiros até nós. Minha mãe estava com sua mão esquerda posicionada exatamente sobre o lugar onde Nessie também havia tocado, não que havia aumentado as possibilidades de acessá-la com todos os equipamentos ali. Meu coração batia a mil competindo voraz com os dois corações híbridos, a esperança resplandeceu a frente dos meus olhos, clareando minhas ideias, explodindo a convicção de que algo bom está prestes a acontecer, de que a Lee voltaria para mim. 

 Senti o lobo clamar por ela, senti o desespero pela sua presença me atingir de uma maneira avassaladora, quase me fazendo perder as palavras da minha mãe, que me pedia para que Helena fosse entregue aos seus braços. Reprovei seu pedido, temendo que a menina a machucasse, minha mãe apenas riu, banalizando meus tremores dizendo que Helena jamais faria algo assim, pois os espíritos não deixariam a menina fazer algo que a machucasse. 

 

— Pode entregá-la para a minha mãe. — as palavras traduzidas pareciam um auto comando, minha mãe abriu os olhos, tirou sua mão da testa da Lee e se endireitou para receber a criança em seus braços. 

 

Helena ainda chorava, mas não esperneou ao seu colocada deitada nos braços dela ou muito menos tentou mordê-la, minha mãe a ninou um pouco, antes de sussurrar que estava tudo bem agora, que a dor iria acabar, que a mamãe estava pertinho dela. Eu não sei se a menina chegou a entender alguma coisa, mas em resposta aos sussurros misteriosos ela intensificou seu choro, gritando perturbadoramente. Minha mãe a manteve deitada, não fez questão de balançar ou ninar, apenas ergueu seu olhar para mim e pediu para que eu dissesse para Helena se acalmar, pois ela iria conhecer a mamãe. 

 As palavras me causaram muitas sensações, arrepios, frio na barriga, medo, esperança, ansiedade, desejo, felicidade, e amor, profundo e inenarrável; o desejo do lobo era de uivar para que meus irmãos soubessem e se alegrassem comigo. Os olhos de minha mãe focaram em mim de novo, e afirmou que os espíritos fariam isso pelo lobo. Meus olhos se iluminaram, dando-me coragem de me aproximar delas, inclinar-me ao encontro da bebê e sussurrar com ternura perto de sua orelha. 

 

— Está tudo bem, Helena... Shh...shh..., se acalme, você irá conhecer a mamãe. — as palavras queimavam minha garganta. 

 

A reação corporal dela não foi a que eu esperava, por sorte eu me afastei a tempo de sentir o leve vento que seu punho causou ao chacoalhar com violência no ar, a pulseira que eu havia comprado brilhou em sua pele. Minha mãe a olhou profundamente nos olhos antes de olhar ao redor para algo além de nós, parecia ouvir, ou sentir os próximos direcionamentos seguintes, seus olhos se aguaram quando se virou em direção a maca mais uma vez, pedindo para que eu puxasse a gola do avental mais para baixo, rente aos seios da Lee e movesse os braços dela da maneira que ela instruísse. Assim fiz, e afastei os braços dela. Minha mãe ergueu o corpinho da Helena para que ela ficasse sentada em seus braços, olhou bem no fundo dos olhos claros da menina, dizendo que o fio rompido pela falta de elo entre elas seria costurado de uma maneira tão sublime e perfeito, que toda a dor que elas sentiam, passariam pelo elo religado. Ela passou a mão pelos fios de cabelo da menina, e embalando-a novamente, inclinou a pequena em direção ao tórax de Amberli, deitando Helena naquele espaço, pegando as mãos moles da Lee para que abraçasse a criança chorosa contra seu peito como se estivesse acolhendo a filha. Minha mãe ficou segurando as mãos da Lee naquela posição por mais de um minuto, e pediu para que eu pusesse as mãos sobre a de Lee também. Tocá-la me causou um tumulto de desespero desenfreado, me vi de olhos marejados, sussurrando para que ela voltasse; voltasse para Helena, Hilary e para mim. Nós não podíamos perdê-la, não quando acabamos de ganhá-la.  

 Minha mãe não teve forças para afastar minhas mãos delas, ela parecia me repreender, suas palavras eram sobre o que viria acontecer não dependesse de mim. Não consegui entender do que ela falava, mas recuei, passando a observar: Helena chorava, mas não gritava mais, seus olhinhos arregalados derramavam lágrimas que desciam para fora do seu rostinho, caindo contra a pele exposta da sua mãe, suas mãozinhas se espalmavam curiosa no tecido do avental que cobre a Lee, sua mão subia e descia, passando do tecido para a pele, ansiando pelo reconhecimento. 

 

  Todos ouviram quando o coração da Lee e as máquinas de monitoramento perderam por milésimos de tempo o registro e passaram a anotar um que há muitos dias atrás ansiávamos em ter. Eu estava maravilhado com o que escutava, via e sentia ao mesmo tempo, as palavras, arquejos e comemorações não foram capazes de me desconcentrar do milagre que eu presenciava. 

Os batimentos da Lee se aceleraram, acelerados de vida, bombeando forte, alto e claro para todos os ouvidos, propagando vida, e há as lágrimas, lágrimas quentes e visíveis escaparam pelos cantos externos de seus olhos fechados! Apesar do meu corpo estar paralisado olhando tudo isso, eu sentia e vibrava de alegria com o meu espírito, quase dançava com o Lobo. O mais impressionante, e imprevisível a meu ver, foi ver o avental ficar húmido na região central de seu seio direito, o leite estava vazando, molhando o avental que lhe cobre! Emoções tomaram conta de mim e eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que só quando enxuguei meus olhos pelas lágrimas que escapavam, fui reparar que pela primeira vez desde que nasceu, Helena não chorava! Nem mesmo suspirava de cansaço pelo choro ou qualquer reação parecida; foi como se não tivesse chorado há pouco tempo atrás. Suas mãos ainda espalmavam o corpo da mãe bem consciente, e para a minha surpresa ela lambia os lábios, as narinas dilatavam, atraída pelo cheiro do leite; deixando claro sua vontade de mamar. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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