Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 40
Capítulo 36 ➳


Notas iniciais do capítulo

Oi Oi para você! ♥

Poxa gente, nesse último capítulo postado, vocês combinaram de deixar meu coração molinho e meus olhos se encherem de lágrimas?! Rsrsrs, amei cada comentário, realmente me deixaram emocionada!



E falando em emoções, aqui estamos nós com mais um capítulo recheado deles! Aproveitem muuuito, escrito com todo o amor e carinho!



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Sempre ao Seu Lado 

↠ .Cole. ↞ 

 

 

 

 

Eu demorei uns bons minutos para me recompor. E creio que meu corpo ainda esteja se recompondo. 

 No início eu me senti realmente participante, foi fácil, logo no primeiro instante em que implantou a cena dentro da minha cabeça. Ela conseguiria convencer um humano de que aquilo era real, eles tinham pouca percepção, sua intromissão estava perfeita; diante daquela cena criada para ser vista pelos olhos da Amberli, eu sequer sentia sua mão me tocando para transmitir o que foi gerado dentro da sua imaginação. Me senti emocionado de ouvir os relances da manifestação vocal da Lee pela análise silenciosa que ela fazia no cômodo solitário. Aos poucos um alarme de perigo foi soando, pulsando, gerando desespero conforme a percepção daquela ilusória Amberli assimilava a solidão; não era apenas aquela sala que se encontrava vazia de presenças, era a sua vida. O cômodo só estava externando esse sentimento, angustiando sua alma. 

 Eu não podia permitir que Nessie atacasse a mente dela daquela maneira! Só de ter compartilhado aquilo comigo me causou um pavor terrível; eu consegui separar minha mente humana com a manifestação instintiva do lobo em mim, tive autonomia de intervir na sua concentração, para defender a mente da Lee contra o ataque mental que ela causava sem ao menos perceber. 

 Minha primeira reação foi abrir meus olhos ante aquela visão condensada para analisar o que poderia estar acontecendo a ela no ambiente externo. Renesmee continuava concentrada com seus olhos fechados e suas mãos imóveis sobre minha mão e a testa da Lee, minha visão se dividia no que meus olhos me mostravam da ala hospitalar real e o grito de Amberli ecoando pelo mesmo escritório dentro da minha mente. O que meus olhos me mostravam potencializava meus sentidos num nível de alarde, me forçando a identificar algo diferente do habitual. Minhas narinas inflaram puxando o ar denso para dentro dos meus pulmões, me ajudando a discernir e me desvincular mais ainda do universo limitado que Nessie reproduziu. Não levou mais do que sete segundos para que eu tivesse a convicção das pulsações irregulares do coração da Amberli, as alterações que antes se encontravam padronizadas e tediosas nas telas ligadas aos fios de monitoramento agora registravam claras alterações, e os seus olhos... Ah, os seus olhos fechados se humedeciam de lágrimas, as lágrimas do seu desespero, presas pela cadeia dos seus cílios castanhos. Não precisei de mais sinais para reagir ao seu socorro, intervindo as mãos de Nessie, mesmo que tivesse obtido o resultado idealizado. A cena que passava pela minha cabeça foi interrompida de supetão, causando um eco do silêncio absurdo. Sessou o grito, o sentimento desconsolador e o tormento silencioso, parecia que antes havia o som do desespero. 

 Renesmee me encarava com seus olhos esbugalhados, sua postura encolhida e receosa demorou para entender meus motivos, ela deveria estar tão concentrada, que quando a tirei da sua própria imaginação, ficou desnorteada.  

 Com a pouca calma que me tinha, eu a instiguei a entender o que estava acontecendo com a Lee, e quando conseguiu, ficou espantada, enchendo-se de esperanças, deixando que os outros presentes pudessem ouvi-la e logo depois irritou-se comigo por ter interrompido o seu maior feito na mente dela. Não vi necessidade de rebater suas palavras, mesmo que pela sua percepção estivessem certas, eu sabia e sobrenaturalmente sentia que sua maneira poderia estar ferindo a Lee de alguma forma, e de maneira alguma ela teria poder de causar algo nela com o meu consentimento, independente do bom resultado temporário que tenhamos alcançado. 

 

 Pensei que aconteceria um grande alarde com a situação, mas vampiros eram tão frios, que mantiveram o mesmo ritmo calmo e seguro de quando entraram, tomando todas as providências médicas necessárias para anotarem os registros de avanços positivos que a Lee estava tendo. Não sei se ali eu era tão insignificante, ou se preferiram me deixar existindo entre eles, mas pude acompanhar seus passos silenciosos sobre o assoalho enquanto o coração acelerado de Amberli persistiu em pulsações altas por quase cinco minutos, seus batimentos imutáveis por todo esse tempo como se gritassem: “Eu estou aqui, eu persisto, os sinto!”. 

 Meu instinto de proteção se intensificou de tal forma que a movimentação em torno da Lee era fácil de ser ignorada, eles me pareciam sombras cercando-a, tornando o oxigênio que nos envolve condensado de uma maneira que fazia com que a probabilidade dele se tornar tátil fosse muito mais real. Quando pude reagir contra aos seus movimentos leves e calculados ao meu redor, acabei por perceber que Renesmee havia escapulido do lugar, mais matreira do que um gato. Não fiz questão de me esgueirar pelo local, saí de maneira bem perceptiva, não evitando que a porta soasse mais alta do que os tímidos “clicks” que ela faz quando é tocada pelos vampiros. Marchei degrau por degrau até encontrá-la na sala, seus olhos castanhos bem abertos e atentos a minha aproximação. Seu corpo tenso sobre o sofá, dava-me claros indícios de que sua vontade era de sair dali correndo. Desci os últimos degraus que faltavam para que minhas dúvidas fossem esclarecidas, de um jeito ou de outro eu precisava saber, ou pelo menos conseguir entender como exatamente ela havia causado aquilo. 

 

— Como você fez aquilo dentro da mente dela, Nessie?! — Pairei ameaçador sobre ela, olhando-a de cima, não deixei muitos questionamentos vagos nas minhas palavras para que ela não agisse como uma desentendida. 

 

— Eu preciso acordá-la de alguma forma... — se encolheu expondo uma tímida justificativa. 

 

— Eu não quero saber seus motivos, e sim entender como conseguiu criar algo tão, abalante... — fui áspero, não deixando que ela percebesse a reação vacilante que meu corpo teve. Cruzei meus braços, apoiando minhas mãos entre meus bíceps, minha respiração saía pesada como os arfares de um touro. 

 

— Você está só curioso? — não pareceu acreditar em minhas dúvidas, as pálpebras apertando os olhos — Não está bravo comigo? 

 

— Você ainda está me perguntando se estou irado com isso? Deveria apenas responder o que tenho te perguntado. — fui curto e grosso, muito bem ciente da minha grosseria; mas estava sendo difícil de ser tranquilo e manso quando aqueles gritos desesperados ainda soavam ao fundo da minha mente.  

 

— A-ah... — gaguejou desconexa. Seu corpo foi reagindo conforme se movia para fora do sofá, diante dos meus olhos eu vi sua coragem e ânimo retornarem para si mais uma vez. Seus olhos ditavam a expressão de seu rosto, refletindo os indícios de seus pensamentos, como o espelho de sua alma. Recuei um passo, dando mais espaço para que ela pudesse se colocar de pé — Que a Amberli possa me perdoar então... — bateu suas mãos contra suas coxas — Como você insiste em saber com tão pouca insistência... Eu vou te mostrar de uma maneira que possa entender. — seus olhos desceram a vista de suas mãos antes de me olhar por debaixo dos cílios — E não será por toque.  

 

 

 

↣ ↢ 

 

 

Ela me levou na garagem da mansão junto a ela, e todos os bens pertencentes que a Lee havia trazido. O cheiro que predominava o interior do carro era quase completamente o dela e o da Hilary, dava-me até pena de sentir o leve odor dos vampiros a invadirem o espaço, na busca por mais informações que ela tinha para os oferecer. Renesmee comentou que muitas coisas já estavam fora do carro, mas havia uma caixa em especial que ela havia determinado de deixar no banco traseiro atrás da poltrona do primeiro passageiro com a justificativa de que ela precisava sempre lembrar a exatidão da fragrância que a Lee exalava. Compreensível, havia tantos medicamentos circulando em seu corpo poluindo o cheiro que me atraía e ofuscava minha percepção olfativa, tanto que só de eu rondar seu carro e farejar seu cheiro já fazia minha boca salivar e meu corpo baixar a guarda, diminuindo os altos níveis de irritabilidade.  

 

— Não é apenas por isso, é claro. Os pertences dela, e o próprio carro se tornaram um santuário... É algo bem esquisito, mas particularmente eu o acho assim. Há uma história toda sobre ela, e ainda assim, é a apenas a ponta do iceberg. — olhou-me por entre a lataria do carro, puxando a caixa para si — Eu não vou mostrar todos os tesouros que eu encontrei, isso é uma invasão de privacidade terrível. — fez uma careta — Mas essas já ajudam. Olha só: — abriu a caixa e reuniu algumas coisas nas mãos, papéis de fotografias foram entregues em minhas mãos — Alguma coisa nisso te parece familiar? 

 

Explorei as imagens que ela me apresentava como se eu estivesse à espreita na densa floresta para emboscar o inimigo. A primeira foto era apenas da Lee ainda adolescente, pelo ambiente estava claro que ela posava para a grade de estudantes concluintes daquele ano em especial; ela não mudara muita coisa, suas feições mais arredondadas tinham apenas suavizado, as bochechas menos salientes e agora tinha preferência em manter os fios de seus cabelos muito mais curtos do que a foto evidenciava. Durante sua adolescência, seu cabelo escorria abaixo da cintura, a foto não esclarecia até onde exatamente seus fios findavam, mas eram claramente longos. Em alguma das outras fotos seguintes ela estava à frente de paisagens e monumentos históricos durante passeios realizados, numa foto ela estava deitada de ponta-cabeça sobre um divã, em outras: jogava num Nintendo; estava sentada em cima de um lençol sobre o gelo; estava em algum parque segurando a coleira de um cachorro e até mesmo estava com um pijama com capuz de ursinho. Fotos aleatórias de adolescentes. Passei uma por uma até me atentar com mais detalhes em uma nova fotografia, nesta ela estava acompanhada de duas mulheres, uma mais velha e a outra era uma garota como ela, deveria ter a mesma idade. A garota tinha os cabelos lisos bem escuro contrastando com a blusa clara que vestia, seus olhos eram azuis-claros; na foto ela fazia uma careta com a língua para fora, apontando para o seu lado esquerdo, os olhos arregalados e estrábicos. A fisionomia da Lee não era diferente da possível amiga, vestia uma blusa vermelho vivo quase do mesmo modelo que o da garota, seus olhos também se apresentavam fora do eixo normal, e um sorriso largo apertavam suas bochechas, a mão direita sobre sua própria testa, o cabelo penteado todo para trás, preso num laço e entre elas, a mulher mais velha se encontrava. Seu sorriso amostrava uma covinha em sua bochecha direita; seu cabelo era marrom avermelhado, possivelmente tingido dessa cor, já que através da fotografia pude perceber a falta da mesma tonalidade na raiz. Seus cabelos não seguiam muito além dos seus ombros, se assentavam em curvas sobre a camisa de botões estampada de ferraduras e cactos saguaro. Passei por mais algumas fotos onde Amberli ainda era adolescente, até chegarmos a uma que fez o ar ser comprimido em meus pulmões, me deixando inquieto: os registros da sua primeira gravidez. 

 Senti quando Nessie se esticou um pouquinho mais pra frente, dando-se a oportunidade de poder enxergar o que eu via no momento. 

 O vestido cinza com xadrez era o mesmo. O mesmo que ela estava usando quando a vi de verdade pela primeira vez, seus cabelos continuavam longos, envolvendo-a como um véu castanho, seu corpo esparramado confortavelmente na poltrona reclinável e a barriga protuberante era nítida, evidenciada por suas mãos postas com carinho sobre ela, um sorriso largo abrilhantava seu rosto. 

A foto conseguinte relatava a mesma gravidez, em meses anteriores. Deveria estar de poucos meses, já que havia uma leve ondulação e ela ainda podia vestir calça jeans. Na outra, a criança já havia nascido, Amberli estava sentada no sofá, seus olhos atentos à bebê que repousava num berço portátil; não parecia saber que alguém a fotografava, sua atenção estava exclusivamente sobre a filha, sorria para ela. Passei por mais algumas outras que estavam nitidamente muito bem recortadas, faltando alguns centímetros da lateral dos papéis fotográficos. Todas as últimas seguiam dessa maneira, um sinal simplório de que alguma presença passada não era mais bem-vinda naquelas recordações, uma continuidade de sua primeira gestação e fotos com a mulher mais velha, que eu ouso ariscar ser sua mãe. Revi as fotos mais uma vez, analisando outra vez a foto onde sua mãe estava entre ela e sua colega, prestando a atenção aos detalhes ocultos que me chamaram a atenção desde a primeira vez que olhei a fotografia. Mantive meus olhos atentos à mulher, instigando minha memória a reconhecer o que estava me chamando tanto a atenção. Tinha alguma coisa ali. 

 

— Hum... Acertou na mosca. — Nessie comentou quando espiou o papel em evidência. Seus olhos iam de mim, para a foto. 

 

— O que eu acertei? — dei-lhe as outras fotografias, deixando apenas essa comigo — É ela, sua mãe e uma amiga... Nada de especial, eu acho. — dei uma olhadela em sua direção, sentindo o furor borbulhar dentro de mim, acelerando as batidas do meu coração — Dá pra me falar logo o que é? Por acaso estou em algum programa de resolução de mistérios, porra?  

 

Ela olhou para o teto da garagem, antes de fechar os olhos e respirar fundo por diversas vezes. Não me manifestei mais, esperando o tempo dela. Olhei para o ambiente ao meu redor, meus olhos analisando o conteúdo das prateleiras altas, os detalhes dos armários e carro por carro, até voltar a analisar Renesmee, suas longas respirações, seu silêncio e o som contínuo e forte da chuva que caía lá fora. Continuei quieto ao seu lado. Suas sobrancelhas se tencionaram antes de ela voltar a abrir os olhos e me olhar com solidariedade. Desviei meus olhos do seu olhar, sentindo dificuldade para pôr o ar para dentro dos meus pulmões, meus olhos se inquietaram pelo repentino acúmulo de lágrimas. Engoli a saliva com esforço, sentindo as paredes da minha garganta seca e áspera e tentei respirar fundo mais uma vez, estufando meu tórax para conseguir receber o ar necessário que eu precisava para poder falar. 

 

— Olha... — minha voz soou mais rouca e quebrada, sucumbindo no fim da palavra — Eu não tô dormindo bem, não tô comendo direito, me sinto desorganizado e vivendo no modo automático, somente cumprindo minhas disciplinas para não afundar tudo que depende do meu desempenho. —  olhei para ela mais uma vez — Isso têm me afetado, e admitir isso é horrível, e reagir contra isso tá impossível. 

 

— Tudo isso é temporário... — não dei espaço para que ela falasse quando tentou interpor meu desabafo. 

 

— Então se você puder me poupar de ter que decifrar seus enigmas, eu te agradeço. — ela se aquietou, olhando-me calma, aceitando apenas me ouvir — Eu... Se vocês soubessem o tanto que venho me esforçado nesses dias para lutar contra minha mente; é muito belo na teoria, sabe? Confiar... Crer... Na prática isso machuca e cria tanta merda na cabeça. Chega a ser irritante Nessie. — olhei para a foto em minhas mãos mais uma vez — Você pode me poupar? — indiquei o papel fotográfico. 

 

— Eu sei que você tomaria as dores dela, para nunca mais vê-la chorar. — me confortou tocando em meu braço direito. Seu olhar desceu para a foto — Olhe a estampa da camisa da mãe dela, — indicou — é a mesma do jaleco. —  se referiu a sua própria cena criada, por trás da minha visão eu via nitidamente o momento em que aos olhos de Amberli, sua mão pousava sobre o tecido acumulado no vazio da barriga — Eu coloquei pequenos detalhes que gerassem gatilhos afetivos nela, não só apenas com estampas ou decoração; em outros cenários eu faço o mesmo, uso pessoas, risos e circunstâncias, intensifico seus sentimentos e os manipulo para o impulso que eu quero. 

 

— Nessie. — chamei sua atenção hesitantemente. Seu rosto ergueu-se para encontrar meu olhar — Você manipula pessoas contra ela nesses... sonhos? — franzi o cenho, analisando suas próprias expressões. 

 

— Não exatamente. — murmurou enquanto ruborescia, o sangue começou a se concentrar em sua testa e laterais do pescoço — Tenho usado apenas pessoas que ela possa considerar importantes o suficiente para desencadear estímulos emocionais necessários para que ela desperte. Na maioria eu tenho usado a Hilary, e até mesmo você. Mas já implantei breves eventos com outras pessoas que foram importantes para ela, como essa amiga aí: Leonor. Eu até me aventurei em alterar alguns fatos mais pesados, como uma realidade em que Angie estivesse viva e com pelo menos dois aninhos, mas achei muito cruel. 

 

— Você já pensou em cometer essa loucura na mente dela?! — me espantei, as sobrancelhas se ergueram e meu corpo tremeu. 

 

— Não vou mentir para você, dizendo que não. É claro que considerei implantar, mas isso é tão cruel. — abaixou o rosto e encolheu os ombros — Não tive coragem, mesmo tendo criado a fisionomia mais adequada de como a menina poderia ficar... — engoliu a saliva, sua voz diminuindo a fluidez, tornando-se mais misteriosa aos meus ouvidos — Ela já carrega a dor de perder a bebê, não é justo trazê-la a vida. — sua voz sussurrada soou misteriosa como se soubesse muito bem do que estava falando — Já com a mãe dela, eu apenas recriei memórias do que ela tem gravado, mas mexer diretamente com a primeira filha, é um golpe baixo, e mesmo que pudéssemos ter o resultado esperado, o que nos custaria? O que custaria para ela? 

 

— Já tem lhe custado. — pontuei, claro de minhas palavras — Aquilo que aconteceu quase agora foi claro o suficiente, não acha? 

 

— Não foi a primeira vez que eu implantei aquela cena na mente dela. — rebateu na defensiva — Tudo está exatamente igual, mesmo que eu esteja satisfeita com o salto da interação cerebral dela, ainda não sei o motivo dessa reação com algo que não é inédito. 

 

Ficamos um momento em silêncio, refugiados nos próprios pensamentos. Pensei um pouco no que ela tinha acabado de me dizer, percebendo que o cérebro da Lee precisava ser estimulado sempre com o mesmo acontecimento, uma nova cena a cada relapso de atividade não geraria muitos resultados, estaria possivelmente só o sobrecarregando e retardando as chances de ela acordar, a não ser que Renesmee usasse sempre a mesma dinâmica, repetindo sempre a mesma situação. 

Ponderar a favor dessa invasão, causou-me a sensação um nó na boca do estômago e indecisão. Não havia sido exatamente por isso que eu tive vontade de lançá-la pela janela, para que não esmiuçasse o sistema psíquico da Lee? Então por que agora isso parecia a solução mais acessível? Constatar que esse meio era tanto construtivo, quanto destrutivo, deixou a mim e o lobo igualmente inquietos. Era uma invasão mental que poderia deixar danos irreversíveis, mas também a única alternativa que provou ser eficaz para trazê-la à consciência. Muito mais eficaz do que todas as drogas que já foram injetadas na sua corrente sanguínea, que prometiam essa eficácia. 

O tempo parecia escorrer entre meus dedos, impedir a maior possibilidade de trazê-la de volta para sua família e para mim, pesou contra meu zelo de querer preservá-la de possíveis ataques. Só que ela já foi atacada, sua mente não escapou da exposição, brutalmente adulterada e violada, e mesmo que só de absorver isso já me cause dores, eu tenho que admitir a mim mesmo que ela ainda não existia na minha vida para que eu pudesse evitar que o vampiro filho da puta sequer estivesse vivo para olhar em sua direção. 

 

— Talvez seja exatamente por causa disso, Nessie; — atraí sua atenção para que ouvisse minha teoria, não permiti em momento algum que ela notasse alguma fragilidade tosca que meu corpo pudesse ter o deslize de evidenciar — você repetiu isso para dentro da cabeça da Lee, deve ter fortificado a lembrança do suposto acontecimento na mente dela. 

 

— Como um delay? — franziu as sobrancelhas, levando a ponta dos seus dedos da mão direita contra o volume dos seus lábios. 

 

— Chame do que quiser. — devolvi a única foto em minhas mãos, para as demais que ela segurava, suas sobrancelhas se franziram quando analisou meu olhar, sua mão acolheu a foto junto das outras — Mas você precisa transmitir apenas um acontecimento, se quiser que ela reaja pelo dom de suas mãos. 

 

 Seus olhos perderam o foco no instante em que ela passou a pensar nas minhas palavras, não demorou muito para que ela pudesse trazer para si mesma a linha de compreensão. Seus dedos ainda sobre os lábios, exerceram mais pressão, contendo um sorriso que prometia sair. Seus olhos se alegravam quando ela olhou em meus olhos. Seus ideais muito mais otimistas que os meus. 

 

— Eu tenho que falar sobre isso com o tio Jasper. Nossa... obrigada, Cole; se isso der certo, nem precisarei repetir exatamente essa que você viu. Tenho algumas mais interessantes. — piscou uma pálpebra — Isso tem deixado minha mente exausta, você não sabe o quanto vai me poupar se eu apenas precisar trabalhar com uma circunstância. 

 

— Faça o que for necessário, só me avise quando for fazer. — seus olhos atentos me mediram, sua cabeça pendeu um pouco para o lado, inquirindo-me em silêncio — Assim eu evito estar muito próximo de você. — esclareci sem receio, amenizando o impacto que isso poderia trazer, emendando uma circunstância menos embaraçante — Já viu como você fica assustadora transmitindo essas coisas para a mente dela? É claro que não viu. Podem arrombar a porta, que você nem irá perceber. — ela revirou os olhos, um riso saindo entre sua respiração quando ela se afastou de mim para guardar as fotografias. 

 

— Que bom saber que você não quer mais chutar meu traseiro. — brincou com a situação olhando-me por cima de seus ombros, o cabelo sendo jogado para trás por causa do movimento da sua cabeça — Melhor ainda é saber que você não vai mais me encher o saco quando eu te disser que “é a minha vez de ficar com ela”. — pegou a caixa para guardá-la. 

 

— Eu não garanti isso. — flexionei as mãos, sendo sincero com ela. Ela parou de andar para poder me olhar mais uma vez — Eu quero saber o que sua imaginação sagaz tem pra oferecer, e sei que isso não acontecerá hoje. — dei de ombros, ajustando a jaqueta jeans sobre meu corpo — Você mesma disse que Jasper te ajuda a aperfeiçoar, então pelo que eu entendi, você só terá permissão para colocar tudo o que imaginar para dentro da mente da Lee, quando tiver o aval dele. — a encarei, ela parecia um pouco chocada ante a minha percepção — Estou correto? 

 

— Que inferno, hein? — sua feição se enrugou, como se ela estivesse lidando com algo que cheirasse mal. Ela voltou a se movimentar, se abaixando para poder ajustar a caixa no assoalho do carro — Vou pensar no seu caso. 

 

— É exatamente isso que estou te orientando a fazer. — mirei a porta de saída da garagem. Caminhei até ela para ver se estava destrancada. Forcei minha mão no trinco, a porta se abriu; virei-me para trás, olhando firme em seus olhos — Dê um jeito de me avisar quando estiver pronta. Não faça nada estúpido Renesmee, eu e as filhas dela ainda precisamos da Amberli mentalmente saudável. 

 

— Para onde você vai? — quis saber, ao fechar a porta do carro e caminhar atrás de mim quando saí porta afora, recebendo os pingos grosseiros da chuva a encharcar minha roupa. 

 

— Estou indo trabalhar, tenho uma empresa para colocar de volta nos trilhos, e famílias para alimentar. — caminhei apressado na direção do meu carro. 

 

Enfiei minha mão no bolso dianteiro, apanhando a chave do automóvel, e hesitei em entrar.  Virei para trás, recebendo a chuva contra meu rosto, apertei a pálpebra contra os olhos para protegê-los de serem acertados pelas gotas d’agua, ergui o queixo olhando mais especificamente para o andar onde Amberli ainda estava, as máquinas emitiam os sons tranquilos, uniformes e habitais; ouvia seu coração bater sossegado, preso num sono sem fim. Passei minha mão esquerda no rosto para tirar o excesso de água que caía contra mim e respirei com força, desejando do fundo do meu coração que os dias dela ficar naquele lugar estivessem contados. 

Meus olhos desceram em direção ao olhar de Renesmee, sua feição tencionada olhava-me com cuidado, retribui o encarar de olhos, tentando desvendar o que ela pensava quando me olhava dessa maneira. 

 

— Isso tudo é temporário. — dirigiu-se a mim, como se tivesse me ouvido pensar. Assenti guardando suas palavras esperançosas. Abri a porta do carro, me acomodando no banco e encharcando-o de água, fechei a porta e dei partida — Não se esqueça disso. — pude ouvi-la dizer nitidamente. 

 

— É. — concordei com um falso descaso enquanto manobrava o veículo. Pressionei meus dedos contra o volante, a voz da minha mãe sussurrou contra meus pensamentos confirmando as palavras dela — Eu sei.

 


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