Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 35
Esme ➳


Notas iniciais do capítulo

Apesar de escrever, eu nunca havia sentido o que era perder alguém que você ama. Infelizmente no dia 25 de Dezembro eu pude saber sobre essa infelicidade. Anthony foi o primeiro menino/homem que amei e até o presente momento, em meu luto, eu sinto borboletas no estômago, sempre que entrava na casa dele me sentia ansiosa para saber sobre ele, mesmo que não fosse trocar um olhar ou palavra sequer... Eu nunca mais poderei vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo ou procurar maneiras de ajudá-lo; mas o amor que sinto por ele permanecerá o mesmo. Outros amores virão, isso é fato; mas o meu primeiro amor permanecerá intacto. Não dedico esse capítulo, ou qualquer outro em memória dele, mas dedico o meu amor a ele. Descanse em paz amado



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734647/chapter/35

 

Sempre ao Seu Lado 

↠ .Esme. ↞ 

 

 

Amberli é forte. Posso afirmar que até mais forte do que um dia eu fui quando humana. Meu peito se apertava em piedade por ela, não havia muito o que eu pudesse fazer por ela além de dar toda a minha atenção naquelas horas, a consolei em meus braços da maneira que pude, estive ao seu lado, canalizei toda a queimação da minha garganta pela exposição excessivamente hedionda que manchou o lençol sobre suas pernas. 

 Ah se eu pudesse derramar lágrimas para que meu compadecimento transbordasse de mim! O pequeno acúmulo que havia em meus olhos não era suficiente para o aperto que eu sentia em vê-la lutando tão frágil desse jeito. Era apenas uma menina! Merecia todas as melhores bençãos que um humano poderia receber. 

 Mas eu estou nesse mundo a anos o suficiente para saber que não é bem assim que as circunstancias acontecem. 

 

— Ugh! — seu corpo se encolheu contra si mesma quando a dor da contração entrou em ação. Um gemido expressivo saiu por entre seus lábios. 

 

 Era notório que ela não gostava de fazer barulho ou escândalos para externar suas dores, então não bastou mais de um segundo para que ela prendesse seus lábios para abafar os sons que continha. Sua feição estava contraída pela concentração que fazia para conter a si mesma de expressar o desconforto que sentia naquele momento. Suas mãos desceram até o baixo ventre como se estivesse segurando a própria barriga, e engolia em seco. O tempo em que as mãos estiveram ali foi suficiente para que o tecido ficasse marcado pelo suor que saía delas. Ela não queria nossa aproximação nesses períodos; o que era imensamente compreensivo, porém tanto eu quanto Franchesca não deixávamos ela passar por aquele momento sozinha, independente da maneira, nós éramos atenciosas. Com o passar do tempo Amberli tornou-se mais tolerante, abrindo a barreira e mostrando-se vulnerável mais uma vez. Ela não parecia perceber, mas suas mãos tremiam a todo o momento. Voltei meu olhar brevemente para meu amado marido, perguntando silenciosamente se isso deveria ser algo preocupante; ele apenas fez um gesto humanamente imperceptível de não com o dedo indicador. Contive a mania de soltar um suspiro de alívio e priorizei o bem estar de Amberli junto com Franchesca que conversava com ela, incentivando-a conversar conosco, guiando-a de uma maneira que eu não seria capaz de fazer. Seu envolvimento obteve resultados depois de um tempo insistente e quando Amberli sentiu-se segura com a nossa parceria para com ela, foi difícil dela segurar suas lágrimas. Como uma mãe que acolhe seu bebê ferido, eu a acolhi contra meu corpo frio, transmitindo todo o cuidado e segurança que ela precisava no momento. Ela se permitiu chorar. Chorava de soluçar; de modo que não havia uma pessoa que estivesse por perto, que pudesse ouvi-la não sentisse seu coração se apertar de piedade pelo que ela está passando no momento. Não era pelo trabalho de parto em si. Seu choro não era por isso. Ela chorava pela circunstância que a colocava aqui a nossa frente. Amberli se derramou, mesmo soluçando muito ela tirou todo o peso que carregava em silêncio. Suas mãos tremiam excessivamente, de maneira que até mesmo Franchesca reparava com um olhar inquiridor, e ainda assim sua maneira quileute e calorosa não alterava sua maneira de lidar com o estado delicado da mulher em trabalho de parto aos nossos cuidados.  

 O corpo de Amberli tremeu contra o meu num choro tão sofrido que eu não entendia como Franchesca conseguia conter o acúmulo de suas lágrimas tão bem. Eu ouvia pelas batidas do seu coração que ela queria chorar tanto quanto eu. Apertei meus braços ao redor de Amberli e todas as palavras que haviam em meu coração, eu expus para ela. Afaguei seus cabelos já sujos pelo seu próprio suor. Falei tudo que tinha para lhe falar, sustentei-a entre suas contrações, sem jamais excluir a participação de Franchesca ali naquele lugar. Eu sabia seu significado ali, não compreendia totalmente, mas tinha ciência da autoridade que ela carrega no sangue com a benção da sua tribo; Amberli ficaria bem com ela num futuro próximo, o olhar carinhoso e de modo espiritual que Franchesca tinha sobre ela desde o momento que a viu me provava isso. 

 

 Ouvia a movimentação dos andares inferiores, assim como meu marido. Renesmee entrava em casa acompanhada, falava com Cole enquanto subiam os lances da escadaria, insistindo para que ele se transformasse de vez e ficasse numa distância que o impossibilitasse de ouvir os reclames de dor da sua imprinting. Veementemente ele rebateu contrariado se expressando em palavras rápidas a necessidade que tanto ele quanto ela sentiam de estarem juntos naquele momento. Meu marido andou até a porta ficando sobre a soleira, continuei com meu trabalho de ajudá-la com minhas mãos em suas costas enquanto os ouvia; aos poucos Amberli foi se acalmando; de tempo em tempo suspiros pesados saíam de seus lábios e conforme os minutos foram correndo, seu corpo foi relaxando. No momento em que seus olhos se abriram e suas mãos pousaram com carinho sobre sua barriga enorme eu soube que ela já estava melhor; então abri o momento para que Franchesca estivesse mais próxima e ativa com ela. Passei apenas a observá-las andarem e um lado a outro por várias vezes; suportarem juntas as contrações que vieram e conversarem um pouco durante esse período, até que Amberli estagnou na frente dos vidros colocando sua mão pegajosa de suor seco contra a superfície e ficou em silêncio olhando para o pouco que ela conseguia a ver a sua frente. Ouvi Cole encerrar sua conversa com Nessie no meio do caminho, deixou-a parada num dos degraus e continuou a subir o restante sozinho, vindo diretamente para o escritório. Renesmee fez um som baixo de desagrado e velozmente o seguiu. Amberli continuava parada a frente do vidro olhando para fora. 

 Renesmee tocava o braço do homem quando meu marido concedeu passagem para entrarem no escritório. Seu rosto estava concentrado num possível monólogo que ela projetava dentro da mente dele e não parecia nenhum pouco disposta a sair sem falar de modo exclusivo para Cole. Ele apenas assentia ao que ela possivelmente falava ou mostrava e sem direcionar um olhar significativo a mim, ou ao seu avô, ela saiu de casa. Franchesca olhou para mim e se afastou de Amberli sem que ela percebesse. Seus olhos vívidos de espiritualidade pareciam compactuar com a vinda do filho ao quarto, quase agradecida; Amberli tragou uma respiração forte para si, apercebendo algo, sua mão suou contra a superfície do vidro no mesmo instante.  

A reação instantânea do seu corpo ante a presença de Cole, teria feito meus braços e pernas se arrepiarem se eu ainda fosse humana. Houve uma entrega tão genuína da parte dela que de maneira nenhuma me parecia que ela já não sabia sobre a ligação que havia entre eles. Amberli estava se mostrando crua diante dele, não havia filtros ali, ela estava deixando que ele visse tudo que ela não queria ter que suportar sozinha e ele a acolheu a altura, na medida exata. Totalmente nascidos um para o outro.  

 Ah se eu tivesse lágrimas para chorar junto com ela! Não somente eu; toda a minha família estaria em prantos por vê-la nesse estado e nossas palavras não surtiriam efeito o suficiente para a dor que somente ela estava sentindo; nenhuma palavra além das que Cole proferiu; apenas ele conseguiu proporcionar algum tipo de alívio duradouro para ela. 

 

 

 

 

➳ 

 

 

 

 

Seu corpo estava exausto, principalmente pela energia gasta de tanto chorar, tanto que os sintomas foram aparecendo um a um. Sua respiração se acelerou sem aparentes necessidades e não bastou mais que meio minuto para que ela precisasse de apoio para se manter em pé. Suas mãos se moveram diligentes em direção a Franchesca, e percebemos que a mulher não seria capaz de socorrê-la; meu marido agiu antes que algo pudesse acontecer de fato. Amberli estava desfalecendo aos poucos. Ela passou a não ter noção do que estava a sua volta, com o raciocínio extremamente lento. Seu corpo apresentou uma pequena queda na temperatura e começou a suar muito. Agimos com calma e rapidez. Não havia motivos para pânico. Carlisle comandou nossas ações, direcionou Franchesca a colocar a máscara de oxigênio nela e a instruiu com a quantidade que era para ser distribuída no cilindro. Conectei todos os receptores no corpo dela mais uma vez, enquanto meu marido administrava doses intravenosas no corpo dela para agilizar a disposição lúcida e estímulos, para que ela estivesse respondendo ativamente mais uma vez. Deu certo. Amberli nos perguntou o que havia acontecido, só que antes mesmo que meu marido pudesse explicar, ela queixou-se de modo embolado que sentia uma dor no peito e desfaleceu mais uma vez. 

 Checamos tudo novamente. Ouvíamos a funcionalidade do seu corpo com muita atenção. Verifiquei os monitoramentos registrados nas máquinas dos últimos minutos; meu marido pediu para que Franchesca aumentasse a quantidade de oxigênio e prestasse a atenção na maneira que ela estava respirando. Nós ouvíamos perfeitamente como seu pulmão trabalhava, ele apenas queria deixar a mulher envolvida nos processos para que não gerasse nenhum pânico desnecessário para o momento. Dezessete segundos bastaram para que após seu comando, Amberli simplesmente parasse de respirar. Algumas máquinas emitiram um apito alto sem interrupções quando essa anormalidade foi registrada e em seguida, o coração dela teve um aceleramento brusco e a saturação despencou; não me parecia ser apenas pela falta momentânea de ar. Corri meus olhos para os sensores que captavam o máximo possível sobre o bebê para ver se tinha algo fora do comum. Graças a Deus que não estavam em desordem, isso significava que o que estava acontecendo era algo diretamente sobre Amberli. Virei meu rosto na direção do meu marido, observando qual seria suas instruções para solucionarmos o que estava acontecendo. Franchesca corria seus olhos escuros de modo frenético sobre Amberli e nós dois, suas írises gritavam por suas perguntas mudas. 

 Prontamente meu marido injetou mais dois tipos de medicamentos pelo tubo que havia na mão dela, acrescentou hidrocortisona no soro, estendendo a bolsa para Franchesca, instruindo-a enganchar no suporte mais próximo. Ela não teve motivos para se desesperar pelo modo calmo e controlado que agíamos ali; quando ela se moveu para fazer conforme ele disse, meu marido posicionou o tubo de ligação em uma das entradas venosas conectadas em Amberli e com pequenos intervalos, ele aplicou doses de algum medicamento que controlasse a pressão arterial e a frequência cardíaca. Não precisamos esperar muito para que Amberli apresentasse melhora no nível de consciência, e apesar dela ter apresentado estar confusa, suas tentativas de fala acabou realmente nos tranquilizando. 

 

 Nossos sentidos estavam vigilantes sobre Amberli. Meu marido a atualizou sobre o ocorrido, mantendo sua decisão sobre continuar com a opção do parto vaginal. Amberli aceitou positivamente as notícias. Foi um alívio quando ela se agitou sobre o colchão, ficando na posição que bem queria, notificando-nos sem palavras, que era hora. Foi um verdadeiro trabalho em equipe em prol do máximo bem-estar que podíamos proporcionar naquele momento.  

Foi intenso. Intenso. Intenso. Intenso. 

 Seu coração mesmo contido pelos medicamentos, era capaz de exercer o trabalho de bombear incansavelmente dentro dela; tivemos que aumentar mais a quantidade de ar e ainda assim ela parecia sentir algo que exigia mais do que ela estava fazendo. Seu corpo latente estava apresentando sinais de esgotamento e ainda assim ela se mantinha firme em fazer força, mesmo assim ela se importava em sentir o bebê cada vez mais perto de nascer. Franchesca inquiriu uma forte preocupação sobre a aparência dela. Flexionei sua perna no sentido contrário à expulsão, ajudando-a abrir mais ainda a passagem. Pude ver o rostinho inchado da criança aparecer, sua pele estava bem protegida pelo vérnix e os lábios formavam um beicinho de choro. Amberli soltou um rogo doloroso e urgente por entre sua respiração extremamente cansada, que nos chamou a atenção. Sua perna tremia em minhas mãos. Suas pálpebras se apertavam ao redor dos olhos. 

 

— O neném já está aqui, Amberli! — meu marido direcionou a ela enquanto trabalhava para ajudar o beber a escorregar um pouco mais para fora. Amberli parecia nem sentir seu toque — Ele precisa do seu último esforço para sair. 

 

Amberli resmungou alguma coisa incompreensível, seus olhos estavam avermelhados pela vasta presença de veias nos glóbulos. Ela se preparou, encheu todo o pulmão do ar que a máscara distribuía, seu coração tornou a acelerar. Posicionei sua perna mais uma vez, suas mãos suadas apertaram a de Franchesca e ela empurrou. 

Foi o último que faltava para que o bebê saísse de dentro dela num chorinho rouco e vibrante. 

Meu marido olhou para os ponteiros do seu relógio de pulso, marcando o horário de nascimento: vinte e três e quarenta e seis. Terça feira, dia vinte e oito de Julho. Amberli ofegou no momento em que a criança recém-nascida foi sustentada pelas mãos dele. Olhei Franchesca dar um beijo em sua cabeça, parabenizando-a. O coração de Amberli continuava acelerado, o que chamou imediatamente minha atenção. Movi sua perna de volta para o colchão e virei seu corpo para que ficasse deitada de barriga para cima. Amberli não estava realizando nenhum esforço no momento, não havia motivos para que o órgão se impulsionasse dessa maneira. Minha observação minuciosa sobre isso durou doze segundos. Franchesca não obteve retorno de suas felicitações, ao contrário, Amberli abriu a boca permitindo-se a chorar mais uma vez. Um choro diferente dos que ela já havia tido anteriormente, ela estava com dor, a reação do seu corpo naquele momento era totalmente reflexiva a dor. Olhei para o bebê bem agasalhado que estava aos primeiros cuidados nos braços do meu marido, seus olhinhos fechados se apertavam contra as dobras inchadas do seu rostinho miúdo. Ainda precisávamos mantê-lo conectado com a mãe através do cordão umbilical por pelo menos dois minutos e isso não me parecia ser o motivo da sua agitação. Franchesca reagiu de modo apaziguador perante a situação dela, tocou uma de suas mãos sobre a cabeça de Amberli ao proferir palavras extensas em sua língua nativa, enquanto a outra mão se balançou a frente dos olhos dela, as pupilas já dilatadas, tiveram um aumento quando a mão dela fez sombra sobre as írises castanhas de Amberli. Ela não teve reação nenhuma com a aproximação, apenas continuava a grunhir de dor. Franchesca balançou sua mão a frente de seus olhos mais uma vez, mas nenhuma reação contrária pela proximidade foi registrada, Amberli ainda piscava seus olhos, os mexia de um lado para o outro, mas não parecia enxergar. 

 

— Amberli? Amberli! Consegue me ver?! — Franchesca pediu por sua atenção. Sem respostas. 

 

— Bella. — meu marido chamou por sua presença. Mais que depressa ela surgiu no escritório. Como ela não estava dentro de casa, apareceu pela porta da sacada, fazendo com que Franchesca se assustasse com sua aparição — por favor, cuide da criança agora. 

  

Abaixei minha cabeça na direção dele e quase argumentei o contrário. Eu poderia cuidar do bebê. No mesmo momento meu marido olhou em meus olhos, eu sabia o que ele me dizia, e entendi perfeitamente antes mesmo que eu soubesse o significado do seu olhar, agora Bella era especialista em pediatria, seus conhecimentos médicos nessa área seriam valiosos agora para que ele pudesse priorizar o estado de Amberli.  

 

—  O que está acontecendo com ela? Edward disse que ela sente dor. — ela perguntou de um modo que apenas ouviríamos. Bella torceu seus cabelos num coque e ele entregou a criança que ainda chorava aos cuidados dela, assumindo a frente para analisar detalhadamente o que poderia estar acontecendo com ela nesse momento. 

 

 — Logo saberei. — foi o que meu marido pôde lhe responder. 

 

— Você quer cortar o cordão, Franchesca? — Bella perguntou a ela, posicionando-se onde meu marido estava, com o bebê amparado em suas pernas. 

 

Franchesca olhou-a receosa, mas aproximou-se. Meu marido checava os sinais de Amberli em silêncio: apesar de poder falar, ela não ouvia pois não respondia suas perguntas, parecia não estar enxergando também e seu corpo continuava dando sinais de sofrimento pois ela se encolhia quando era tocada. Ele me pediu para pegar alguns medicamentos dizendo que a pressão dela havia subido muito, e passou a aplicar dosagens pelo acesso intravenoso para que pudesse abaixar pelo menos um pouco. Bella posicionava a tesoura nas mãos da mulher mostrando a ela onde deveria romper o ligamento entre as pregas que ela havia colocado. A ligação foi rompida e Bella teve a total liberdade de atender o bebê num local mais confortável do ambiente. 

 Amberli gemia, não era mais reclames de desconforto, mas ainda assim demonstrava incômodo. Carlisle se posicionou a sua frente erguendo o apoio para posicionar suas pernas, pegou a parte exposta do cordão, movimentando-o para que o restante pudesse sair. Em sua língua nativa, Franchesca sussurrou algo para Amberli  e afastou-se dela para ver a pequena criança aos cuidados da Bella. 

 

— Awn!... — pude ouvir sua exclamação soar doce. Bella trocou algumas palavras de concordância com ela e pedindo licença, Franchesca saiu do quarto para buscar o enxoval. 

 

Mantive meu corpo posicionado atrás do meu marido assistindo-o realizar as manobras necessárias para tirar a placenta. Quando o órgão já estava praticamente fora do corpo dela, as pernas de Amberli se tencionaram sobre o suporte querendo juntá-las. Movi-me para segurá-las ali. 

 Franchesca entrou no escritório com as peças de roupas brancas nos braços caminhando diretamente para onde Bella estava. Direcionei minha atenção às minhas mãos sobre as pernas de Amberli mantendo meu aperto suave para não a machucar e me atentei ao que meu marido realizava. 

 

— Tem algo aqui. — ele comentou num volume que Franchesca jamais escutaria. E mesmo que tivesse falado de um modo baixo para um humano, o choro incessante do bebê não a deixaria escutar ou compreender sobre o que ele está falando. 

 

— Como assim? — perguntei alternando meu olhar de Amberli que ainda expressava dor, para o órgão sangrento em suas mãos enluvadas. 

 

— Não posso puxar, algo parece preso a placenta... — ele murmurou manuseando o órgão em sua mão. Arrumou sua postura para estar mais próximo da entrada de Amberli para poder ver o que havia — Oh... Isso... 

 

— O que há?! — perguntei curiosa. 

 

Ele ficou mais algum tempo em silêncio analisando suas conclusões a respeito do que havia ali. 

 

— Eu estou vendo mais uma membrana dentro da película do útero, o restante da placenta está fixado nisso. É espessa. — seus olhos estavam vidrados naquilo que via. 

 

— É a membrana revestida de pele de vampiro? — Bella palpitou concentrada naquilo que fazia na companhia de Franchesca sem que ela percebesse. A pequena criança aos seus cuidados continuava a chorar. 

 

— O que nos impossibilita de acessar o bebê. — ele concordou movendo-se velozmente para buscar apetrechos de iluminação e abertura — Sim, é claro. Tem uma parte dele que está se desprendendo da parede do útero, mas a placenta foi gerada sobre ele... Que interessante... — suas sobrancelhas se franziram — Mas não sei se devo puxar, ainda há líquido amniótico, e isso parece ser o suficiente para que ele se desprenda. 

 

— Ainda assim, deveria tentar, Amberli está com dor. — intervi por ela. 

 

— Tente retirar só a parte que falta da placenta, se aguardarmos mais um pouco, talvez essa membrana saia sozinha. — Bella dizia — Irá estudar os componentes? — ela acolheu o bebê de cabelos escuros que ainda chorava contra seu colo. Os primeiros cuidados já haviam sido realizados. 

 

— Com certeza não perderei a oportunidade. — ele assentiu — Querida, arraste o segundo gaveteiro a minha direita para cá, por favor. 

 

Deixei o móvel a sua disposição, observando-o pegar bandejas cirúrgicas e um monte de instrumentação posicionando-as nos espaços livres do colchão da melhor maneira possível com a mão mais próxima, a outra mantinha a placenta imóvel. Ele se dedicou e desprender o órgão da maneira mais segura e ágil que poderia fazer na situação que Amberli se encontrava. Fiquei encarregada de monitorar a pressão dela, dosando com medicamentos quando necessário; e segurar suas pernas no lugar, pois apesar de tudo, Amberli estava consciente. Não mantive minhas expectativas quanto a isso, ela estar nesse estado parecia deixá-la ainda mais sensitiva a sensações que não podíamos saber. 

 A placenta sangrenta foi removida e posta sobre a bandeja de aço, meu marido aguardou um minuto contado para poder puxar a membrana dura com as pinças. Quando a remoção com os instrumentos não deu em nada, ele utilizou suas mãos. Ouvi os líquidos naturais do corpo dela pingarem contra o assoalho. Movi meus olhos para além da paisagem aberta pelas janelas de casa, interrompendo minha respiração e aguçando minha audição para aquele local. Apenas quando distingui o barulho metálico das pinças tilintarem contra a caixa de biópsia, eu concentrei minha atenção ao que estava a minha volta. Afrouxei minhas mãos das pernas suspensas de Amberli, olhando-a com extremo cuidado; sua respiração estava um pouco acelerada ainda e suas pernas forçavam contra minhas mãos, querendo juntar. 

 

— Deu certo? — perguntei angustiada me inclinando para ver melhor. Nas suas mãos havia uma camada espessa, escura em tons arroxeados; se parecia com um saco. 

 

— Acho que sim. Estou verificando a dilatação da parede uterina... — foi o que me respondeu. 

 

Voltei a me ocupar com a vegetação lá de fora. Ignorando o cheiro do sangue que predominava o local. 

  

— Por quê há sangue pingando? — eu quis saber quando me incomodei o suficiente para isso. 

 

— Não posso me preocupar com isso agora, — retirou suas luvas e as jogou no descarte — isso é considerado normal na maioria dos casos. A placenta saiu, o útero está se contraindo para voltar ao normal, eu só estou averiguando a situação do útero para dosar a pressão dela. —se levantou da onde estava recolhendo cada utensílio, vedando as capsulas dos materiais colhidos para biópsia — Não pode subir mais do que já está. É fatal. 

 

Assenti dando-lhe espaço para trabalhar no que fosse preciso mantendo as pernas dela paradas no mesmo lugar. Bella passou o pequeno embrulho choroso para os braços de Franchesca, para que ela pudesse conseguir fazer a criança parar de chorar. A alguns metros distante de casa houve uma aproximação. Era Edward. Ele pedia para entrar no escritório. 

 

— Os pensamentos dela estão em intensa dor, ela não consegue ouvir, nem enxergar. — foi a primeira coisa que ele nos avisou quando se aproximou. 

 

— A pressão dela subiu. Estamos tentando normalizar, mas continua alta. — meu marido se locomovia entre os aparelhos de monitoramento tentando achar a causa da dor silenciosa que ela sentia. 

 

Edward passou a fazer o mesmo, seguindo e falando em códigos médicos entre si. Bella participou também, tanta coisa acontecia que minha parte ansiosa para saber sobre o bebê teve que esperar. De qualquer forma eu teria conhecimento do sexo, a espera poderia valer, não fazia mais que treze minutos que o bebê havia nascido. 

 O sangue continuava a gotejar contra o chão, formando uma pequena poça que impregnava o ambiente. Amberli continuava pálida, com o auxílio da máscara de oxigênio; Edward reportava suas reações intensas as suas investidas venosas e de modo analítico pediu para que eles prestassem atenção ao funcionamento do corpo dela de modo geral da maneira sensível que estava após o parto. Eles passaram a discutir sobre diversas causas que a mantinham da forma que está, entre toda a conversação médica, Bella se opôs ao marido. 

 

— Não devíamos buscar laudos de complicações tão extremas. — Bella temeu, seus passos pararam ao meu lado e ela tornou a se sentar à frente das pernas suspensas de Amberli, analisando com cuidado o que estava vendo — Se querem um, eu o tenho. — seus olhos foram de Carlisle a Edward — Preparem a ocitocina. Pois ela está apresentando hipotonia uterina. 

 

Eles trabalharam rápido, eu nem havia entendido sobre o que isso significava, mas havia sido alarmante o suficiente para que eu me colocasse ao lado que Franchesca, que segurava o bebê protetoramente contra si. Seus olhos puxados estavam arregalados diante da cena que acontecia ao nosso redor, a pequena criança ainda chorava desolada, era um chorinho baixo, rouco e insistente. Aqui já não é o melhor lugar para um bebê estar, mas eu estou tão absorta na minha família socorrendo a mãe, que não consegui encontrar minha voz para dizer isso a senhora ao meu lado. Eu estava tão vidrada quanto ela, apenas meus olhos se moviam para captar cada ação que realizavam, cada medicamento aplicado e ampolas esvaziadas, sensor conectado e reanimação feita. 

 Amberli ainda estava acordada. Eu não sei se essa seria a melhor palavra para descrevê-la nesse momento, mas ela estava. Resmungava palavras chaves e diretas ao que sentia, quando conseguia entender o que era inquirido, lamuriava e grunhia de dor. Num momento Edward pôde nos acalmar um pouco, Amberli estava dopada o suficiente para que não sentisse mais dores. Ele não havia dito exatamente isso, mas era o que significava. Bella teve que prender suas pernas no aparador para que auxiliasse meu marido a tratar com rapidez a hemorragia que estava acontecendo no seu útero. Ela se levantou, apareceu ao lado de Amberli e curvou-se com uma pequena lanterna, acendendo-a sobre as írises castanhas dela. Amberli reagiu imediatamente. Bella sorriu para ela, proferindo palavras carinhosas, afirmando que tudo iria passar. Amberli concordou, disse que sabia disso e fechou os olhos, franzindo a testa. 

 

— O que foi? Está sentindo alguma coisa? — Bella perguntou. Nossa atenção minuciosa sobre ela foi redobrada. 

 

— É tontura... — respondeu com esforço, como se isso atrapalhasse sua concentração em não sentir o mal estar — Está tudo girando... E giran-... — ela deixou de responder e isso pareceu me abrir um buraco no estômago. 

 

Esme. — Edward me chamou. Não o respondi, não consegui — Vocês precisam sair. Mãe! — insistiu. 

 

 — Ela está com pequenas complicações. — meu marido nos informou e tocou em meu braço para que eu reagisse — Ela está em choque... Tire Franchesca daqui. —  pediu sem que a senhora Uley pudesse ouvir. Olhei em seus olhos, vendo o pedido escancarado para que eu reagisse como se tudo estivesse sob controle. Não precisamos de mais pânico. Não precisamos. 

 

— Não é um bom ambiente para o bebê. — me virei para ela, demonstrando toda calma que não havia em mim — Vou preparar algo que o bebê possa beber, tenho algumas opções que usamos com a Nessie, o que acha de alimentá-lo? — sugeri direcionando-nos para porta. 

 

Franchesca assentiu, seus passos foram hesitantes para fora do escritório. Quando eu fechei a porta, afastando nossa presença da ala que estava se tornando caótica, ela respirou fundo, abraçando mais o bebê recém-nascido em seus braços, caminhamos em direção a escadaria em silêncio, ela ajeitou a posição da criança em seu colo, para ter equilíbrio para descer as escadas. Antes que desse o primeiro passo para o degrau ela parou virando para mim. 

 

— O que ela vai beber? — pareceu desconfiada — Precisa do leite da mãe. 

 

Olhei para ela, e me encostei no corrimão da escadaria como se estivesse cansada o suficiente para tal ação. Continuava ouvindo claramente o que estava acontecendo no escritório a poucos metros de distância, mas não deveria, tudo tinha que estar sob controle. Priorizei minhas funções a assimilar suas palavras com calma. 

 

— O que disse? — tive que perguntar, focando-me nisso. Franchesca franziu as sobrancelhas em confusão. 

 

— O que ela vai beber?... — repetiu. A interrompi. 

 

— Ela? — perguntei com um interesse genuíno. Me senti iluminada. 

  

— Sim... Ainda não sabia, senhora Cullen? — seus olhos puxados se compadeceram — Você estava tão envolvida lá, né... Veja Esme, é uma menina. — pediu para que eu me aproximasse. A notícia fortificou minha mente — Pegue-a. — fez seus braços virarem a pequena criança para mim. Comportei Helena nos meus braços com muita facilidade. Havia bastante cabelo envolvendo sua cabecinha, fios bem escuros, quase negros. A pele ao contrário do que eu esperava era muito branca, suas bochechas não estavam nem rosadas para contrastar sua cor; talvez ela não coraria com tanta facilidade como minha neta. Seus pequenos lábios tremiam num chorinho quase silencioso e muito insistente, seus dentes minúsculos eram perceptíveis e comprovavam sua raça — Se parece mesmo com uma recém-nascida, ela não abriu seus olhos em momento algum até agora, eu fiquei até preocupada; Cole praticamente nasceu de olhos bem abertos. — a senhora Uley continuava a falar. Me atentei ao seu comentário, observando os olhos inchados bem fechados — Bella disse que se chama Helena.  

 

— Sim, é Helena Adhara. — fiz carinho com a ponta dos meus dedos contra a pele flamejante e delicada da pequena menina em meus braços. 

 

— Como da estrela? — sua voz soou abalada. Como se não esperasse por isso. 

 

— Sim. — analisei seu comportamento ouvindo-a proferir palavras em sua língua nativa. Fiz menção de mover meus pés para mais perto dela, e talvez minha tentativa de aproximação tenha a intimidado, pois ela desceu o primeiro degrau. Não a alcancei com receio de amedrontá-la. 

 

 — Eu não compreendo o que está acontecendo com ela naquela sala. — disse sobre Amberli dando uma olhada no corredor atrás de nós. Sua mão se ergueu para afagar os cabelos escuros da menina. Seus olhos escuros olharam para mim — Mas entendo que ela precisa passar por isso, e precisamos ser fortes por ela. Ela precisará de muita ajuda depois. 

 

— Do que você sabe, Franchesca? — sondei suas palavras com desconfiança, ignorando o fato de que posso ouvir cada movimento que acontecia dentro do escritório. A bebê se mexeu em meus braços. 

 

— Sei daquilo que os espíritos querem que eu saiba, Esme. E sabe o que eu sei? — semicerrou os olhos ao fazer uma pergunta retórica — Que o coração dela vai continuar a bater do mesmo jeito que está agora, ou até melhor. — havia total convicção no que dizia.  

 

Me apeguei na força de suas palavras embalando a bebê em meus braços tendo a sensação fantasmagórica de um peso atordoante no estômago. Ouvia toda a movimentação dos meus filhos e marido atrás de mim, na correria de fazerem a reposição volêmica, coagulograma e hemograma. Edward argumentava com eles que não encontrava o foco hemorrágico significativo. Carlisle pediu para que ele e Bella trocassem suas funções; Bella focaria em achar o foco da hemorragia e Edward o auxiliaria a introduzir um tubo na boca de Amberli para que sua respiração fosse totalmente controlada. Assim eles fizeram. 

 

 — Acho melhor irmos dar algo para Helena se alimentar. — a voz de Franchesca surgiu entre tudo o que eu ouvia. Pisquei meus olhos tornando a me mexer. A pequena Helena chorava muito mais alto do que antes sem que eu tivesse percebido — Talvez todo esse choro seja de fome. — ela justificou alheia ao que eu era capaz de escutar. 

 

— A... — resmunguei algo incompreensível, ainda ouvindo-os — Tá! Vamos!... — decidi concordar; seguindo-a degraus abaixo. 

 

 Ninei a pequena menina contra meus braços frios, ela não havia aberto os olhos ainda. Concentrei-me em descer degrau por degrau enquanto meu interior ruía pelo que eu ouvia. Desejei ter a audição limitada de Franchesca nesse momento. Meus olhos foram incomodados pelo fluido de veneno enquanto eu ouvia Bella ofegar e apresentar um diagnóstico que os deixou sem reações por dois segundos antes de realizarem procedimentos o mais rápido possível. A ventilação mecânica foi ligada, líquidos foram injetados.  

Desci mais um degrau na companhia de Franchesca. 

Carlisle aplicou a noradrenalina no momento exato em que Edward iniciou a manobra de reanimação de modo humanamente agressiva contra o tórax de Amberli. 

Pisquei meus olhos. Nenhuma lágrima seria capaz de sair. 

Desci mais um lance de escada ouvindo-os trabalhar. O choro de Helena tornou-se mais alto e temi que o som pudesse chegar aos quartos e despertar Hilary. 

Um uivo ecoou pela mata chamando nossa atenção. A madrugada seria longa.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sempre ao seu Lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.