Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 34
27 e 28 de Julho ➶


Notas iniciais do capítulo

Cá estamos nós. Vivos concluindo mais um ano! Agradeço a Deus por isso, muito, de coração!
Esse é o capítulo que mais esperei para escrever desde o dia 07 de junho de 2017. Bastou eu olhar para a foto da primeira capa da fanfic para que tudo até hoje fosse nascido na minha mente. Mais do que isso; não me bastou escrever correndo a sinopse que está aqui até hoje, mas ter coragem para postar, estudar, analisar desenvolver minha escrita; pesquisar sobre cada assunto - principalmente da medicina - tratado... Vocês fazem parte disso! Foram meu fundo de incentivos!
Olhando para a imagem onde a Amberli abraça a Hilary, me sinto imensamente nostálgica e satisfeita com tudo o que escrevi até aqui. Claro que os primeiros capítulo serão melhorados mais pra frente, mas só de eu ter perseverado até hoje, me faz ver que valeu a pena! Obrigada gente ♥



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Sempre ao Seu Lado 

Capítulo 30 

 

 

AVISO: Dramatizações de trabalho de parto!

 

 

 

 Carlisle diminuiu a intensidade das luzes posicionadas acima de mim, deixando o ambiente bem mais confortável e tranquilo. De uma maneira muito manhosa, Hilary agarrou-me pelo pescoço assim que Esme deixou que ela viesse se deitar comigo. Estendi meus braços em antecipação e cruzei minhas pernas uma abaixo da outra para equilibrar meu corpo sobre o colchão, como Renesmee havia me dito, a posição de lótus. Abracei-a quando a peguei, dando um beijo em seus cabelos, colocando sua cabecinha apoiada em meu ombro esquerdo e sustentando seu corpo por cima da minha barriga, ela balbuciava as palavras da sua própria maneira, olhando tudo o que seus olhinhos curiosos podiam captar. Suas mãozinhas firmes se enrolaram nos cabelos curtos da minha nuca. Apertei seu corpo em meus braços sentindo o cheiro suave da loção infantil que exalava do seu corpo macio contra mim. Fechei meus olhos dando toda a minha atenção à sua presença, de modo que nem toda a barulheira dos equipamentos a minha volta, ou o bebê se mexendo a todo momento poderiam me incomodar. Engoli a saliva que havia na minha boca com dificuldade, pareceu arder por minha garganta. Respirei fundo sentindo meu coração bater forte contra meu peito. Suspirei apertando minhas pálpebras, passando minhas mãos por todo o seu corpinho. Eu precisava ignorar. Tudo se tornava mais suportável, quando eu simplesmente limpava minha mente dos pensamentos emaranhados, assim era fácil de ignorar. Tornei a beijar seus cabelos quando percebi que meus lábios tremiam; continuei me esforçando para limpar a mente e tranquilizar meu corpo. 

Suspirei longamente e satisfeita quando consegui. Tudo havia se tornado um plano de fundo muito fácil de ser evitado; priorizei meu momento. Eu estava com a minha filha ali agora, nada era mais importante do que priorizar o tempo com ela antes de colocá-la para dormir. Seus pezinhos se balançaram contra minhas costas, levei minha mão para trás e desatei os nós dos cordões dos tênis que ela calçava com os dedos trêmulos, a deixando apenas com as meias coloridas que já estavam ficando pequenas em seus pés. Esme nos deu privacidade, atentando-se ao que seu marido fazia, enquanto eu permaneci abraçada a minha filha, sustentando seu corpo em meus braços, apreciando seu cheiro e sentindo minhas estruturas emocionais se abalarem mais uma vez, mesmo com meus esforços. Fechei meus olhos de novo para que eu me concentrasse em deixar minha mente mais leve, minhas sobrancelhas até se franziram pelo meu esforço. 

 Não permiti que minha filha visse as lágrimas que escaparam dos meus olhos mesmo com eles fechados, exerci um pouco de força para que ela continuasse deitada com a cabeça em meus ombros e travei minha respiração nos meus pulmões receando pela minha postura. Eu tinha que ser o porto seguro da minha filha, não iria me permitir deixar que o desespero me desestabilizasse logo agora. Compreendia que Hilary não poderia fazer parte daquele momento, era demais até mesmo para mim deixá-la, mesmo sabendo que nos veríamos em breve, talvez até no dia seguinte. Fui soltando o ar aos poucos enquanto recitava mentalmente palavras positivas para mim: “tudo dará bem até ao final do próximo dia..., e não seríamos apenas duas, teremos mais um membro a família, seremos três!”... Recitei o suficiente para que eu conseguisse me acalmar. Quando estava mais segura de mim, abri meus olhos humedecidos e beijei os cabelos castanhos de sua cabeça mais uma vez, sentindo a textura acetinada dos fios. Hilary reclamou pela sua pouca mobilidade em meu colo e mesmo não querendo, eu afrouxei meu abraço, deixando que ela se visse livre de mim. Hilary soltou meus cabelos e sentou-se sobre minhas pernas, interessada em mexer nos cabos que estavam colados por todo o meu corpo; aproveitei sua distração para enxugar meu rosto e a parei antes que pudesse causar alguma desordem, ela reclamou eventualmente, mas comportou-se o suficiente para não tornar a colocar as mãozinhas curiosas em todos aqueles fios e faixas novamente; preferiu deitar-se quietinha no espaço disponível ao meu lado. A maneira como ela fez isso de modo espontâneo, me deixou curiosa, olhei para ela, deitadinha aqui ao meu lado, com os olhinhos castanhos a me encarar com expectativas de uma maneira tão fofa que quase não resisti em apertar suas bochechas. 

 

— Olha a chuva, mamãe! — ela apontou ingenuamente para o teto acima de nós.  

 

— Sim, está chovendo bastante lá fora. — assenti olhando para onde ela apontava. Não valia a pena tentar mostrar a chuva pela parede de vidro  para ela, estava escuro o suficiente para que não enxergássemos nada além de um breu — É água. Milhares de gotinhas de água. — a informei gesticulando com os dedos — Tudo para as plantinhas beberem, pois elas sentem sede. 

  

— ...Água? — Hilary balbuciou. Suas poucas palavras incompreensíveis foram o suficiente para que eu pudesse interpretá-la. 

 

— Sim, as árvores tomam muita água. — confirmei, respondendo sua pergunta. Hilary demonstrou uma feição surpresa, seus olhinhos se arregalaram e sua boquinha formou um “o” — Incrível, não é?! — sorri encantada por ela — As árvores bebem água. — gradativamente seus olhos foram perdendo o interesse pelo teto acima de nós, sua expressão surpresa foi se desfazendo aos poucos, até que seus olhinhos estivessem fixos nos meus. 

 

— Eu te amo mamãe. — sua voz suave e infantil declarou. 

 

 Sorri. Um sorriso cheio de amor que era capaz de cobrir qualquer reboliço meu, e até mesmo a dor maçante que esmagou meu coração no exato momento. Passei minha mão pela extensão do seu cabelo, percorrendo com a ponta dos dedos cada traço do seu rosto. Eu sempre me aliviava com a semelhança absurda entre mim e minha filha, e esperava que o bebê que eu esperava, nascesse da mesma maneira. Eu apenas poderia torcer por isso. 

 

— Eu também amo você meu amor. Mais que minha própria vida. — pigarreei quando minha voz soou fanha. 

 

Hilary ergueu suas mãos para tocar as minhas, brincando com meus dedos; logo ela se engatou numa cantoria sem fim, a música sobre a chuva era a que ela mais repetia incansavelmente. Em alguns momentos eu cantava junto com ela, já na maioria ela tinha preferência em solar; reparei isso após alguns momentos em que Hilary parava de cantar assim que eu tentava acompanhá-la, então, me sentindo sem graça deixei que ela passasse a conduzir todas as cantigas que ela já sabia. 

 

 Hilary não parecia disposta a dormir tão cedo e nem queria colaborar para que isso realmente acontecesse. Quando as horas correram o suficiente para que logo o dia se findasse de vez, Hilary pareceu se transformar. De alegre e cantante, ela passou para grudenta e chorona. Chorava por tudo, até mesmo pelo meu silêncio; ela estava com sono, o que naturalmente já fazia com que ela ficasse intolerante, então sua irritabilidade estava o dobro. Esme havia tentado me ajudar, havia trago o cobertor dela para mim, havia até mesmo levado sua mamadeira cheia de leite, mas ambas as coisas acabaram por serem lançadas contra a madeira que revestia o chão do cômodo. A atitude da minha filha me irritou, mas não era justo que eu quisesse puni-la por seu estresse temporário, ela apenas estava driblando seu sono para ficar mais algum tempo ali comigo. Hilary nunca dormiu comigo antes de virmos para cá, e ela estar novamente nesse cômodo possivelmente fez com que algo dentro dela se alarmasse. Da última vez que ela dormiu comigo aqui, eu não estava bem, ela tinha essa noção nesse exato momento, então a única coisa que me dispus a fazer foi ter paciência para tentar convencê-la de que eu estava bem. 

 Ficamos estagnadas nesse ciclo de cantoria e choro por quase duas horas; entre as idas e vinda de Esme, eu percebia sua inclinação em se dispor a cuidar da minha filha, porém mesmo com seu silêncio e hesitação eu me fiz ser clara sobre estar com ela até que seu sono vencesse, independente do horário que isso fosse acontecer. Não havia desistência nenhuma em mim; era a minha filha, não era a primeira vez e nem seria a última. 

 

 Seus olhinhos já estavam vermelhos por se manterem abertos por tanto tempo, mas Hilary não se dava por vencida. Não parou por nenhum segundo em cima da maca rolando de um lado para o outro, pedindo colo, cantando e chorando; quando ela queria conversar, conversávamos; quando queria duetar alguma canção, eu cantava junto com ela; havia momentos em que se arriscava a tocar minha barriga, mas se afastava sempre que algum movimento do bebê passasse por suas mãozinhas. Eu deixei, deixei ela fazer o que quisesse naqueles momentos, apenas não abri minha boca, ou fiz algum gesto que eu poderia me arrepender depois.  

Passado algum tempo, o humor da minha filha melhorou consideravelmente, ela continuava a cantarolar da sua maneira, bem mais rendida ao sono do que antes. Talvez logo dormiria. Talvez. 

 

Carlisle tornou a ter minha atenção, havia mais exames para serem repetidos e checagem do colo do útero mais uma vez. Hilary foi tirada da cama por Esme, que deixou que ela percorresse o cômodo sob sua supervisão para que eu deitasse meu corpo no colchão e suspendesse minhas pernas sobre o apoio que havia sido encaixado na maca, a posição não era a das melhores, a maneira de como minhas pernas ficavam fazia com que a barriga fosse empurrada para cima, gerando um peso a mais, ocasionando um esforço maior dos meus pulmões para que eu pudesse respirar. Do seu modo tranquilo e profissional, Carlisle me informou sobre alguns resultados, de modo geral, eu estava bem; o bebê continua sendo desenvolvido dentro de mim; houve um pequeno crescimento uterino, o que fez com que Carlisle refizesse suas contas sobre a gestação e aplicasse um novo medicamento intravenoso em mim. Ele disse o nome e para quê servia, mas já me esqueci. Talvez a leve pressão que passei a sentir na coluna fosse efeito do mesmo. 

 Olhei para o canto do escritório onde Hilary andava, enquanto Carlisle me ajudava a retirar minhas pernas do apoio para que eu voltasse a me sentar. Ela prendia o bico da mamadeira sobre seus dentinhos e arrastava seu cobertor com ela, com sua mãozinha livre, minha filha apontava para os quadros riquíssimos sobre a parede falando com Esme em sua própria linguagem, que era ainda mais incompreensível pela mamadeira em sua boca. Hilary tateava sua mão sobre a madeira robusta da porta quando alguém do outro lado bateu. Vi minha filha dar passinhos para trás, soltar o cobertor e estender seus braços para que Esme a pegasse, o que foi prontamente atendido. Esme autorizou a entrada, e logo o corpo magrinho, baixo e bem alinhado de Isabella passou para o interior do cômodo. Ela sorriu para Esme e deu atenção para minha filha também, eu não podia ver o rostinho da minha filha dali, mas não esperei muito para que ela fosse para os braços da Isabella também. Um sorriso fino surgiu em meus lábios, essa era a Hilary... 

 

          — Ah, você ainda se lembra de mim...! — foi o que eu consegui ouvir quando Isabella a sustentou com um sorriso bobo nos lábios e manejava o celular com uma das mãos. 

 

— Olha a mamãe! — Hilary indicou sua mão esquerda na minha direção, sua outra mão se ocupava com a mamadeira. 

 

Os olhos amarelos de Isabella seguiram a indicação dela, seus olhos nos meus. Não parecia estranhar o ambiente todo emparelhado. 

 

— Finalmente a mamãe me conheceu! — olhou por um momento a minha filha em seus braços. Hilary pareceu satisfeita com a atenção recebida, pois no momento seguinte ela fez seu reclame de que queria ir para o chão. 

 

Hilary voltou a ser supervisionada por Esme, pegando seu pequeno cobertor e Isabella caminhou na minha direção.  

 

— Oi, Amberli; Carlisle. — nos cumprimentou — Renesmee me deu uma ajudinha para que eu viesse até aqui sem o Edward, ela o convenceu a sair com ela, pois estava com fome. — ela comentou para eles soltando um riso nervoso, que não durou muito — Eu preciso falar com você. — direcionou a mim com seriedade. Seus olhos foram de Carlisle à Esme, como se avaliasse a reação de ambos. Esme não mudou sua postura e Carlisle tampouco expressou alguma objeção. 

 

— Pode falar então. — permiti quando ninguém mais se manifestou. 

 

Isabella pareceu aliviada, mesmo que seu lindo rosto mal tivesse se expressado para isso, apenas deduzi que sim quando ela se aproximou mais da maca em passos ligeiros e parou muito bem alinhada ao meu lado esquerdo. 

 

— Tenho muito mais coisas para te contar. —  ela começou a falar. Sua voz de timbre bonito soava calmo e explicativo, fazendo com que automaticamente meus ouvidos se atentasse bem às suas palavras — Aquele momento na sala não foi, e não é o suficiente para o que você precisa saber. Eu tive um ano de preparação para ser o que sou hoje, lutei com toda a minha vida pela minha filha e só tenho esse tempo para te dizer tudo que realmente precisa saber. 

 

— Tem certeza, Bella? A essa hora?... — Esme receou. 

 

 — Exatamente por isso!, nas últimas horas, últimos dias. Não há mais tempo. — ela insistiu direcionando seus olhos para Esme — Eu pensei que ela já estivesse lidando com isso... 

 

— Isso o que? — eu quis saber, olhando de uma para a outra. Por mais que ambas estivesse com a feição serena, eu podia sentir uma breve tensão. 

 

— Nós estamos confiantes de que você terá o melhor parto possível, mas não podemos de maneira alguma descartar os “e se”, se caso ele venha acontecer. — os olhos gentis de Isabella ficaram fixos em mim. 

 

 — Amberli, — ouvi a voz de Carlisle vindo em nossa direção, parando ao lado de sua nora — o que a Bella está dizendo, é que precisamos do seu consentimento para agirmos o mais rápido possível, se, por um acaso você chegar à beira da morte... 

 

— O que poderá não acontecer. — Esme ressaltou pegando minha filha no colo — Hora da troca de fralda. — me avisou, saindo do cômodo. 

 

— ...Pois como você pode ver, ela é como uma de nós agora. —  Carlisle continuou a falar e esforcei-me a ouvi-los — Não havia mais soluções que revertesse o estado de seu corpo humano por nunca termos visto algo sobre a possibilidade da existência de híbridos, e desde o princípio Bella já havia traçado seu destino para ser uma vampira. 

 

— Sei que havia nascido para ser uma. — Isabella e Carlisle intercalavam — Esse é o meu sonho, e o vivo todos os dias: viver eternamente com meu marido. Independente da queimação da sede por sangue também ser eterna, e de inúmeras pendências que podem me perseguir por um longo período; nada disso me impediu de ser quem sou hoje. 

Mas essa foi a minha escolha. Desde o começo, e lutei até o fim por ela. Mas não somos você, jamais tiraríamos seu poder de decisão.  

 

— Apenas precisamos saber se esse seria um desejo seu também. —  foi a vez de Carlisle. 

 

— Os primeiros meses não são fáceis, — Isabella avisou — você teria que ter autonomia sobre suas emoções, pensamentos e priorizar exclusivamente seus ideais, aquilo que vale a pena manter e preservar. Não se torna um esforço árduo se você estiver disposta a negar o instinto selvagem da sua nova vida como vampira. Eu estarei aqui para te ajudar, estarei ao seu lado, compreendendo cada receio e anseio que possa ter. Se estiver disposta a aceitar a transformação imutável, nós estaremos com você. Eu me responsabilizo pela sua transição e adaptação. 

 

— Continuaríamos a manter o segredo entre todos esses dias aqui e se você quiser, até lá, nossos braços estarão abertos para que faça parte da família Cullen efetivamente. — Carlisle falou. 

 

— Viver eternamente? — expus a palavra que ecoava na minha mente desde o momento que ela havia falado — Mas as possibilidades de que eu morra são poucas, não são? — perguntei incomodada por discutir sobre a minha possibilidade de morrer. 

 

— Sim. — Carlisle me confirmou — Estive recorrendo a todos os meios ao meu alcance para que nada saia fora do esperado. 

 

— E ainda assim Amberli, não significa que você realmente fique viva. — a voz de Isabella soou perturbadoramente calma ao insistir mais uma vez. Suas sobrancelhas caiam sobre as pálpebras como se lhe custasse muito a manter sua chamada ao assunto, passando a gesticular — Eu sei que posso estar soando negativa, mas eu preciso manter uma boa margem de possibilidade realista para você decidir. Se você chegar à beira da morte, Amberli; sem chances de revertermos medicinalmente, poderei te transformar em vampira ou não?  

 

Eles foram pacientes com meu silêncio após a proposta oferecida como um meio de salvação. Repassei o máximo da conversa entre eles, analisando pontos importante que ela havia exposto para mim, mas em nenhum momento consegui me adequar ao que me ofereciam no momento. Viver eternamente me parece algo tão utópico que meus pensamentos se tornavam uma confusão só de imaginar que isso fosse algo tão simples de se conseguir. Eu nunca fui uma pessoa que almejasse manter a juventude por tempo o suficiente que me pudesse cansar, pelo menos não eternamente como ela está sugerindo. Cocei meus braços pensando a respeito. Eu ainda quero envelhecer, me estressar em ver muitos fios brancos ocupando minha cabeça; ter uma carreira sólida, formar uma família, ter animais domésticos ocupando minha casa, alguns exóticos também. E não apenas por mim, mas e minha filha? Eu ficaria com a pele perfeita, eternamente em meus tantos anos de vida, enquanto Hilary cresceria, tornando-se uma mulher incrível, seguindo sua vida, conquistando tudo o que desejasse; não me havia dúvidas de que estarei lá para ela, mas quem eu aparentaria ser? Uma irmã? Uma amiga?... E esse outro bebê? 

 

— Quantos anos um híbrido pode viver? — me ouvi perguntar ao passar minha mão no local exato onde o bebê se mexia. Minhas pernas começaram a se balançar de maneira ansiosa. 

 

— Muito tempo. — Isabella respondeu imediatamente — Apenas não conhecemos nenhum que ainda tenha chegado ao fim da vida. Vivemos com essa dúvida... — sua sobrancelha se arqueou expressando sua incerteza — A parte humana pode torná-los mortais de causa natural?... — indagou — Ainda não sabemos. 

 

— E-eu não posso deixar de agradecê-los por essa preocupação, — balbuciei a respeito me sentindo desconfortável — mas não quero viver para sempre.  Isso não me agrada nenhum pouco... Pensar em estar... — as palavras saiam mastigadas pelos lábios, elevei meus olhos na direção deles, mantendo minha decisão firme. Ela queimava em meu peito como se fosse a decisão mais importante da minha vida até o presente momento — ... Eu sinto que vou conseguir, eu quero ser humana até os fins de meus dias. E se por um acaso eu realmente chegar a morrer, eu quero que façam algo por mim. — olhei para ambos. Suas cabeças balançaram em confirmação — Eu quero deixar as crianças de maneira legal com alguém, eu jamais me perdoarei em deixar a Hilary abandonada. — pedi. 

 

— Posso fazer isso por você também. — Isabella assentiu, se apressando pelo cômodo, arrumando um bloco de receituário em branco e uma caneta — Preciso que escreva uma procuração; é algo simples e direto. — deu-me os apetrechos. Segurei-os com as mãos trêmulas. Isabella aguardou pacientemente eu respirar fundo duas vezes e passou a instruir assim que eu consegui manter a caneta firme na minha mão — “Eu, -seu nome completo e seus dados-. — esperou que eu começasse — Direciono a guarda total legalizada de menores à -você pode direcionar para Rosalie Hale, ou Esme Cullen- nomeando-a responsável por... — esperou mais um momento — - aí você coloca o nome completo da Hilary e os documentos; e o nome completo da Helena, — fui escrevendo tudo que ela estava me falando — mas precisará repetir tudo para colocar o nome do Logan, pois se precisarmos emitir esses documentos, eles estarão com uma petição correta. 

 

— Está bem. — assenti puxando a próxima folha copiando o que eu já havia escrito — Quero que ela tenha contato com humanos. A minha filha; — especifiquei — Hilary. Que ela faça amigos e viva o máximo possível entre eles também. — apertei meus lábios — Acho que a reserva Quileute seja o lugar ideal, a Renesmee está sempre lá e todos os quileutes que conheci foram gentis com ela. 

 

— Ela estará em bons cuidados por lá também. — Isabella sorriu — E você estará aqui para ver. 

 

— Não pense, por momento algum, de que estamos ressentidos com sua decisão. — Carlisle se aproximou mais e tocou em meu ombro. 

 

— Vocês me deram esse direito, e agradeço. —  devolvi o bloco de receituário com os papéis preenchidos — Eu apenas não quero que a Hilary seja influenciada em momento algum. Quero que ela cresça, amadureça e trilhe uma vida muito melhor que a minha. 

 

Isabella recolheu os papéis, colocando-os numa pequena pasta que estava no espaço vago entre um gaveteiro que havia ali, despediu-se de mim dizendo que precisava estar em sua casa antes que o marido e a filha sentissem seu rastro fresco na floresta e saiu do escritório. Carlisle recolheu sua mão fria, pedindo licença para mudar a posição dos receptores conectados a minha barriga, comentei com ele de estar sentindo uma leve pressão repuxada no baixo ventre e concordei de deixá-lo verificar se já havia algum progresso lá embaixo. Aguardei em silêncio ele desprender a faixa fixada com velcro, que causava um barulho irritante, mas logo ele começou a falar comigo, perguntando sobre minha experiência com os partos anteriores. Nenhum havia sido por indução, até o momento eu não sentia tantos sinais da chegada do parto, então seria uma experiência diferente. Apenas espero que seja uma diferença boa. 

 

 — Estou em acordo com os avanços gestacionais, — pareceu satisfeito. Retirou o par de luvas, as lançando no lixo e abaixou meus joelhos — Iremos aguardar só por mais algum tempo. 

 

Quando ele ainda estava a falar, Esme retornou com minha filha. Hilary ainda mantinha seu cobertor grudadinho a ela e mamava o leite com vontade. Sem perca de tempo ela foi posta ao meu lado mais uma vez, mas não permaneceu na posição por mais de dois minutos, Hilary queria meu colo novamente, desta vez ela estava totalmente rendida ao sono. Pedi para que Esme me ajudasse com ela; me ajeitei melhor sobre o colchão e Esme me ajudou a posicioná-la sobre mim, de uma forma em que seus pezinhos não esbarrassem em nenhum fio. Minha filha soltou o cobertor, deixando que uma das pontas felpudas ficasse em contato com sua bochecha, para que seus dedinhos se enroscassem nos cabelos da minha nuca.  

 

— Eu te amo, filha. — declarei a ela — Muito, muito. — ouvi o chiado da mamadeira quando ela interrompeu a sucção. 

 

— Amo a mamãe. — ela disse baixinho e voltou a mamar.  

As unhas de seus dedinhos acariciaram o couro da minha nuca quando se moveram. Hilary permaneceu quietinha, e só percebi que ela havia dormido, depois de muito tempo, quando a mamadeira pendeu para o lado, vazia.  

 

Afaguei sua bochecha, aspirando o cheiro gostoso da colônia que é usado nela e fechei meus olhos para tentar dormir pelo menos um pouco, o que me custou um bocado de tempo, pois eu sentia meu corpo leve e algumas cenas sem nexo algum aparecia vagamente por meus pensamentos, mas eu ainda continuava lúcida e ciente do ambiente ao meu redor. Minha sorte era que meus ouvidos já estavam quase acostumados com o ritmo constante dos bipes das máquinas, e quando eu menos esperei, adormeci. 

 

 

 

 

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 Despertei um pouco irritada. Senti que a faixa sensorial do cardiotocógrafo não estava envolvido em mim, abri meus olhos me adaptando com a baixa claridade do cômodo. Aspirei uma grande quantidade de ar, percebendo que a minha filha não estava mais ali comigo; já havia sido levada. Passei minhas mãos sobre minha barriga, alisando-a por cima do tecido que me cobre, e empurrei minhas mãos contra o colchão para que eu conseguisse me sentar. Guinchei de susto ao perceber que Carlisle continuava no lugar comigo. 

 

— Acho que minha movimentação pelo quarto despertou seu sono, me desculpe, não queria que despertasse na alta madrugada. Acha que consegue voltar a dormir? — aproximou-se mais de mim, para verificar, eu acho... 

 

Movi minha cabeça num não e suspirei. 

 

— Acho que estou ficando com fome. — informei numa voz cansada. 

 

— Irei conectar a próxima bolsa agora mesmo. — caminhou para trás de mim, onde o suporte estava posicionado — Esperaremos pelo menos mais uns vinte minutos para aplicar a pitocina; em até uma hora seu útero começará os princípios da dilatação, o avanço será similar ao que você já vivenciou nas outras vezes. 

 

— Sim, a pressão nos quadris e a dor nas costas. Me lembro bem. — comentei. 

 

— Se quiser tentar dormir mais uma vez depois das aplicações... — propôs — Terá algum tempo de descanso até que as contrações se intensifiquem. 

 

— Vou tentar. — concordei procurando o celular por entre o lençol. 

 

 Me distraí com um joguinho muito bobo que instalei no celular enquanto esperava que a bolsa de sangue abastecesse meu estômago. Carlisle permaneceu próximo, mas as vezes eu até me esquecia de que ele estava ali e me assustava com sua presença sempre que eu acabava cochilando com o celular nas mãos, ele era tão silencioso que chegava a causar-me uma pequena irritação. Só estava em dúvidas se eu estava irritada por sua discrição mesmo, pelo sono ou se minha ansiedade por estar a poucos minutos da indução do parto estava me deixando inflexível a pequenas coisas. De qualquer forma, o uso do joguinho estúpido me ajudou a dormir antes mesmo do término da segunda bolsa, minha sorte era que Carlisle resolveu aplicar o Pitocina durante o término da primeira. 

 

 

 

 

 

 

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Fui despertada por Carlisle, sua voz foi encoberta pelo som estrondeante de um trovão. Estava chovendo muito lá fora, mal dava para notar as árvores mais próximas; Carlisle me pedia para sentar, precisava que eu estivesse acordada para alguns exames. Cocei meus olhos, movendo o meu corpo para ficar na posição pedida, pressionei minhas mãos contra a área baixa da minha coluna sentindo a dor maçante parecer pressionar meus ossos antes mesmo que eu tivesse acordado; Carlisle aguardou meu reclame ante a dor e quando relaxei a postura ele envolveu meus braços em faixas grossas que era conectada a um dos monitores, e colocou em minhas mãos um copo cheio de gelo e água. 

 

— Preciso mantê-la hidratada agora, você precisará de energia. É água de coco. — foi o que me respondeu quando meus olhos ficaram alguns segundos à mais sobre o objeto. 

 

Toquei um dos cubos com a ponta do dedo, sentindo a baixa temperatura arrepiar meu braço. Peguei lançando-o na boca sentindo o leve sabor da água de coco sobre o gelo. Envolvi o cubo com a língua e passei a triturá-lo, um por um, até que só houvesse o líquido do coco no copo, que engoli sem intervalo algum. 

 

— Esse copo será suficiente? — o perguntei como se não estivesse desejando por mais. 

 

— Manterei você à base de água de coco por uma hora, poderá tomar a quantidade que quiser. — ele me respondeu — Quer mais? — sua sobrancelha deu uma leve arqueada ao me perguntar. 

 

— Quero. — assenti no mesmo momento — Principalmente o gelo. 

 

Carlisle atendeu a todos os meus pedidos de maneira imediata. Não fiquei sem o copo em mãos por menos que dois minutos e isso só acontecia quando eu me cansava de segurá-lo, devido aos tubos com agulhas em ambas as mãos. Triturei todos os gelos que chegavam na minha boca com gosto, nem ligando para os meus lábios arroxeados pelo consumo de algo tão frio, num dia frio e tempestuoso. Segui por uma hora e meia dessa maneira, engolindo gelo e água de coco como se fossem um manjar inigualável e andando por todo o escritório com uma dezena de fios agarrados em mim e dois suportes, sendo um para as bolsas de sangue que seriam mantidas durante toda a manhã para me abastecer, já a outra era com uma máquina que me conectava a um líquido transparente que ajudava meu corpo progredir. As contrações começaram, fazia uns vinte cinco minutos que a última havia acontecido. Por enquanto foram apenas duas, que vieram num intervalo de vinte e sete minutos com um desconforto rápido, nada que nos indicassem um avanço rápido e milagroso como Carlisle parecia ansiar. Talvez pela gestação ser absurdamente rápida, ele contava que teríamos a mesma vantagem para o trabalho de parto. 

 

 

 

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— Eu já consigo ver o rastro que seus pés deixaram pelo piso de tanto que você anda aqui dentro. — Esme comentou dando um riso. Interrompi meus passos fofos, parando meu corpo a frente da parede de vidro e olhei para ela, movi meus lábios num sorriso fechado, apreciando sua aproximação. 

 

— É um dos benefícios que posso oferecer; me movimentar ajuda tanto o bebê, quanto eu. E estou apreciando muito essa caminhada, me sinto até mais saudável. — ri também — E não posso ir tão longe carregando tanta coisa atrás de mim, prefiro fazer esse caminho mesmo. — apontei para os meus pés cobertos pela minha botina, me referindo ao vai e vem, entre a parede de vidro e a maca. 

 

— Como está se sentindo? — caminhou na minha direção. 

 

— Bem, tive poucas contrações até agora. —  respondi e me virei para onde Carlisle estava — Estamos progredindo, não é? 

 

— Sim, progredindo na fase latente. Ainda não chegou a três centímetros de dilatação. — seus olhos se mantiveram sobre os monitores. 

 

— Mesmo com a indução, está demorando. — me chateei. 

 

— Cada corpo tem seu tempo, e cada parto tem seu meio de progredir e você está indo bem. — Carlisle se antecipou com paciência — Seu corpo está sendo minuciosamente monitorado, quando as contrações estabelecerem um padrão ativo, entraremos com a aplicação da peridural para que seu desconforto seja mínimo, e você está disposta, têm ocupado sua madrugada para ficar em constante movimento pensando nos benefícios que isso te trás. 

 

 — Mantenha essa constância junto com sua paciência, não se desgaste com situações irrelevantes, precisará de energia para tolerar as contrações que virão. — Esme esfregou sua mão congelante de maneira tímida sobre o tecido que cobria meu braço, toquei em sua mão apreciando o gesto — Daqui a pouco veremos você pedir pela peridural! — sorriu como se já achasse graça da situação. 

 

— E eu não vou querer que alguém me toque durante esse momento! — soltei um riso, sendo acompanhada por ela. 

 

— Sim, não vai. — riu também. 

 

— Será que vai demorar muito para essa hora chegar? — resmunguei movendo meus passos em direção a maca, voltando a caminhar. 

 

 

 

➶ 

 

 

 

— O tampão foi completamente expulso, a passagem para a rotura da bolsa está liberada e creio que ela se romperá sozinha. — Carlisle me avisou após a coleta do muco, realizando o descarte, jogando as luvas no lixo e higienizando suas mãos e braços. Ele havia atendido meu pedido, quando deitei sobre o colchão uma dilatação mais forte e me queixei de sentir a minha entrada mais pegajosa. Assim ele antecipou quarenta e sete minutos da próxima inspeção de toque com o meu consentimento — A dilatação progrediu e na próxima contração que você tiver, irei cronometrá-la e estarei monitorando os intervalos, elas estarão mais regulares e como o esperado: intensas. — assenti aliviada juntando meus joelhos e abaixando minhas pernas e cruzando-as uma debaixo da outra. 

 

— Estou esperando por isso. — agarrei o potinho que Esme havia trago para mim, com frutas secas e castanhas — Minhas costas estão me matando. — me mexi com o desconforto, colocando uma das frutinhas na boca e mastigando devagar, bem devagar. 

 

— Você está tão quietinha, nem parece estar com dor. — Esme se admirou. Apenas assenti, levando uma castanha a minha boca. 

 

As horas foram se arrastando da melhor maneira esperada, as contrações foram progredindo, Carlisle rompeu a bolsa e os intervalos ficaram cada vez menores e aos poucos o tempo e a intensidade delas foram aumentando e a minha inquietação em reação as dores também. Ele me convenceu a aceitar a instalação da peridural, dizendo que eu não precisava esperar estar agonizando com as ondas dolorosas no corpo para que ela fizesse efeito e assim aceitei. O que mais me agradava durante essas horas era a minha liberdade em conduzir os avanços; Carlisle e Esme são excepcionais e me apoiavam em cada posição, seguimentos e vontades que sentia serem necessárias para o meu corpo, principalmente porque eu não conseguia parar quieta, me sentia entediada e mais dolorida; caminhar, abaixar, sentar eram mais eficientes do que ficar deitada esperando que meu corpo fizesse todo o esforço sozinho. Passamos o dia inteiro assim, entre idas e vindas ao banheiro mais próximo e minha incessante movimentação, Carlisle reduziu a quantidade de aparelhagem em mim; eu já não estava mais com a sonda de alimentação, diversos sensores foram arrancados e todos aqueles fios estavam longe de mim, só havia o básico conectados em minhas mãos num gotejamento simples. 

 Isabella esteve comigo em momentos alternados; ela era bem piadista, dava para entender o porquê de Jacob ser seu melhor amigo, pelo menos a parte de ser irritante e implicante ficava toda com ele. Ela havia tentado abordar nossa discussão de horas atrás por debaixo dos panos, e de maneira vaga e resumida mantive minha palavra sobre não precisar dessa alternativa. Quem quer que tivesse nos ouvindo naquele momento, poderia facilmente achar que eu estava me referindo a algo clínico, qualquer coisa assim. 

 Rosalie também veio me visitar num momento em que Esme havia se retirado. Como das outras vezes, eu dei espaço para que ela se deitasse na maca comigo e ficasse à vontade para acarinhar o couro cabeludo; ela passou a comentar sobre todo o enxoval que sua irmã, Alice, havia comprado. De acordo com ela, quase todas as peças eram brancas, sendo quase difícil de encontrar algum que não fosse. Ela me mostrou alguns dos modelos pelo seu celular, eram lindos e eu com certeza jamais pagaria por aquelas peças. As horas que ela passou ali comigo passaram tão depressa entre as contrações, que me entristeci quando não tive seus dedos carinhosos pelos meus cabelos quando ela partiu. Para a minha surpresa, ao anoitecer logo que Rosalie saiu e Carlisle estava ajustando a faixa envolta da barriga pontuda mais uma vez, Jasper apareceu. Talvez por sua incomum sensibilidade ele tenha vindo para me observar de perto. Eu não cheguei a perguntar, pois apreciava sua presença sossegada e sua postura avaliativa. Nossa conversa fluiu, não tínhamos muitas coisas em comum e disso já sabíamos, porém era um passatempo instigante saber dos seus gostos e ter a liberdade de expor os meus. Sua presença foi muito importante quando de fato as contrações passaram a se tornar muito dolorosas, apesar do uso da analgesia, eu não estava livre de senti-las e Carlisle não estava mais confiante de aumentar as dosagens peridural junto com a epidural, então o efeito estava passando e as dores ficariam ainda mais intensas. 

 

—... E o que ela fazia? — ele quis saber mais sobre minha mãe. 

 

— Ela é gamer; ela foi. — me corrigi — Quando era mais nova. Acho que até aos meus quinze anos ela ainda se trancava num quarto construído no porão de casa. — puxei na memória, e não consegui conter o sorriso que meus lábios formavam — Se eu entrei lá umas cinco vezes, foi o limite! — acrescentei com entusiasmo — ela tinha um apego imenso com aquela sala, que era uma coisa de outro mundo. — dei risada; Jasper também, mas a minha encobriu o mínimo som que ele produziu. 

 

— É por isso que você joga tão bem. — Jasper fez a observação. 

 

— Disso eu não tenho do que reclamar. —  comentei sentindo uma pressão insuportável no quadril. Movi minhas pernas sobre o colchão, me sentando sobre elas. Ainda não era contração, então apenas respirei bem fundo, engolindo qualquer protesto e continuei a tagarelar com um sorriso no rosto — Meus colegas de sala morriam de inveja quando eu chegava na sala entusiasmada para contar sobre os jogos que ela ganhava em pré-lançamentos para avaliá-los. Ela possuía um cache gamer incrível! Tanto que eu os lancei em leilão depois que ela partiu. Por direito eu ainda tenho parte no acesso, mas até agora não vi muitos motivos para acessá-lo, por que, primeiro: eu preciso de uma máquina que processe com qualidade o desempenho dos jogos e alguns foram edições limitadas, acessos premiados e essas coisas exclusivas; segundo: uma só não seria o suficiente, e eu sequer tenho dinheiro para isso; E terceiro: tem jogos que eu nem sei como iniciar. Ela era especialista em todos eles, testava em parceria com os desenvolvedores, tanto que alguns sequer foram lançados, mas eles os mantêm rodando. 

 

— Sinto que você queria que ela estivesse aqui, não é? — poucas eram as vezes que Jasper enrolava para dizer o que sentia ou achava sobre algo a meu respeito. O sorriso em meus lábios foi se desfazendo aos poucos. 

 

— Sim. — minha boca parecia ter secado quando o respondi. Me forcei a engolir a saliva e ela pareceu descer rasgando minha garganta por dentro — É o que eu mais queria nesse momento — meu coração pesou com a saudade — Eu nunca tive esse momento com ela, aquela conexão do primeiro bebê, do nascimento. Por que ela já estava doente. — gesticulei para que desse a entender que não havia mais o que ser feito — Ela insistia nos tratamentos mesmo sabendo que, que não adiantaria em muita coisa. E olha que eram intervenções caríssimas, nós íamos com ela para outras cidades, ela era encaminhada para mil e um procedimentos, e praticamente todo o dinheiro que ela tinha foi investido nos tratamentos. — meus olhos começaram a aguar enquanto eu falava. Engoli a saliva sentindo minha garganta apertada — Quando internei para ter a Angie ela não estava nem na cidade, era apenas eu e o Augustus, pais de primeira viagem; e a equipe médica. Não tive minha mãe presente, não tive suas palavras e experiência de como seria ser mãe. Ela pode não ter me gerado, mas me ensinou a ser quem sou hoje; algo que muitas que pariram jamais fizeram. — enxuguei as lágrimas que mal haviam caído — Eu estava sozinha quando a Hilary nasceu, era eu por ela e ela por mim. Tive que aprender como ser assim, consigo lidar com isso, só que ainda assim... Eu queria muito que minha mãe estivesse aqui. 

 

— Sinto muito. — seu pesar sucinto surtiu uma serenidade consoladora imediata. Olhei em seus olhos, mexendo o mínimo dos meus lábios num sorriso — Estamos torcendo por você. 

 

— Obrigada, Jasper. — mostrando minha vulnerabilidade eu o agradeci baixinho, mesmo não me sentindo no direito de fazê-lo. 

 

Fiquei em silêncio e apesar de me sentir inquieta, não me levantei da maca. Jasper permaneceu intacto, nem um pouco constrangido com o meu silêncio; dando uma olhada para ele, percebi que mal piscava. Sem graça por vê-lo tão imóvel desse jeito eu procurei pelo celular que eu havia perdido entre os tecidos sobre o colchão e recorri ao joguinho mais idiota que eu baixei na minha vida, ele sequer deveria aparecer em sugestões de novos conteúdos para entretenimento, mas aqui estava eu, jogando-o sabendo que posso muito bem desinstalá-lo da grade de aplicativos; minha mãe sentiria vergonha das publicadoras atuais. Pausei o jogo. Movi meus olhos por toda a extensão do escritório que eu podia ver sem precisar me movimentar, analisando cada item, cada móvel, cada mínima coisa que me chamasse a atenção além dos dois homens inumanos que estavam ali comigo. A cada momento em que eu os consumia com o olhar, eu sentia como se alguém estivesse pegando meu coração e o apertando com violência, e pensei onde eu estaria nesse exato momento se no sábado eu não tivesse evitado de passar na quinta rua central do distrito industrial de Casper. Minha cabeça bombardeou diversas situações frustrantes de como eu estaria na minha cidade natal, de como a Hilary estaria, e com quem ela ficaria enquanto eu ainda estivesse trabalhando em um bairro tão distante de casa. Nem mesmo com a chegada de mais uma contração eu fui capaz de conter os “e se” que giravam em meus pensamentos. Meu próprio corpo limitava meus movimentos para suportar a onda dolorosa da contração, ao mesmo tempo que eu tentava banir meus pensamentos nostálgico cheio de amargor. 

 Fechei meus olhos e tentei limpar a minha mente. Apesar de ser um trabalho mental que me demandava esforço eu precisava fazer. Ouvi o início de uma palavra vinda dos lábios de Jasper, mas o interrompi com um aceno da minha mão e continuei a trabalhar em mim mesma, eu apenas precisava contornar meus próprios... Suspirei assim que a contração terminou. Concentrei-me ainda mais para limpar meus pensamentos e reordenar tudo que havia em mim, pois agora não era hora para absorver raiva e revoltas. E se estivesse mesmo revendo todos os meus dias até aqui, saberia que este lugar é exatamente onde eu tenho que estar. Soltei o ar entredentes e abri meus olhos com calma tendo um flashback: 

“—E eu acho que é isso... Aqui é exatamente onde eu tenho que estar. — afirmava para o homem lindo a minha frente. 

 

— Aqui é exatamente o lugar onde temos que estar... — ele concordou.” 

 

Era isso; eu precisava aceitar, lidar! Mesmo que meu corpo comichasse em negação, já não havia como retroceder. Eu estou exatamente onde tenho que estar. 

 Virei meu rosto na direção das paredes de vidro, soltando o celular e levando minhas mãos ao rosto sentindo a textura que antes estava intocada pela sonda. Toquei todo o meu rosto com as minhas mãos sem restrição alguma e suspirei contra elas. Abri meus olhos, olhando novamente para o vidro, percorrendo a ponta das minhas unhas em direção ao meu coro cabeludo, tentando pentear os fios soltos para trás pois eles grudavam na minha pele e já fazia algum tempo que isso estava me irritando. Pensei em Cole; queria que ele estivesse aqui, a sua presença descontraída e apaziguadora que me conforta, ou que pelo menos eu pudesse ouvi-lo; talvez Renesmee estivesse mandando alguma mensagem pra ele, avisando que eu já estava tendo o bebê... Seria muito estranho que ele também acompanhasse o trabalho de parto, mas não oporia se ele quisesse entrar, era tanta gente entrando e saindo que sequer arrumava tempo para me envergonhar de alguma coisa. Tornei a descer da maca, Jasper me ajudou, não dei dois passos se quer, mas só de já estar com meus pés firmes no chão me dava um resquício de controle que me deixava emocionada. Eu não sabia bem que emoção específica eu estava sentindo, mas se eu me deixasse sentir totalmente, eu acabaria caindo num choro. Pensei em Cole mais uma vez, e em meio a todos os meus pensamentos eu chamei por ele. 

  

 Depois de alguns minutos, foi como se realmente tivesse me ouvido. Carlisle me comunicou da sua presença na casa, que ele queria me ver. Não hesitei em momento algum quando pedi para Carlisle deixá-lo entrar, meu coração bateu mais rápido só de imaginá-lo ali comigo, e aguardei por ele. Só me toquei da sua presença quando ele não pediu permissões, apenas me acolheu num abraço quente e falou comigo: 

 

— É estranho te achar ainda mais linda, mesmo nessa situação? — suas mãos grandes e quentes seguraram as laterais do meu rosto completamente fazendo-me erguer a cabeça, seus polegares enxugaram o caminho percorrido pelas lágrimas. Ele analisava todo meu rosto com atenção, parecia que era a primeira vez que ele realmente me via. Um olhar tão bonito — Está sem aquilo no nariz. — referiu-se a sonda olhando para o meu nariz. Fechei os olhos soltando um riso nasal por ter achado engraçado, logo tornei a abri-los, não queria deixar de vê-lo; tão lindo — É um alívio ver seu rosto sem aquilo. — admitiu satisfeito. 

 

— Obrigada, por ter vindo! — minha voz continuava baixa, expondo meu estado vulnerável. Toquei em suas mãos e tentei sorrir pelo menos um pouco. Cole se inclinou, beijando o espaço entre minhas sobrancelhas e cobriu-me em seu abraço quente mais uma vez. 

 

— Eu viria mesmo se você não tivesse me chamado. — ele me informou afastando-se um pouco para que pudéssemos voltar a conversar, suas mãos se mantinham em mim — Eu sei que você ainda não teve tempo de por suas series em dia, — seu tom de voz demonstrou uma falsa acusação — Quantas são mesmo?! — foi sínico em perguntar. 

 

— Cinco! —  tentei parecer brava; só que meu ânimo estava se elevando, me deixando feliz por sua presença, foi impossível não sorrir — O que isso têm haver com você? — eu quis saber. 

 

— Comigo? Nada. — suas mãos me soltaram. Prendi meus lábios para que não escapasse nenhum reclame — Mas com a minha mãe, tudo. Estive ansioso por esse momento há dias e apesar de não esperar que fosse justamente hoje, a família Cullen permitiu, então eu quero te apresentar a minha mãe: Ellie Franchesca. 

 

Cole deu espaço para que eu pudesse ver o que havia atrás dele. Sua mãe estava a uma pequena distância de nós, ao lado de Carlisle. Uma mulher indígena na meia-idade, bonita; alguns poucos fios brancos contrastavam com a densa camada super lisa dos demais fios escuros presos para trás, e suas roupas eram claramente artesanais ricas em detalhes que podiam contar histórias e curiosamente ela estava calçada com uma botina gasta pelo tempo de uso, só que é idêntica a minha. Minha sobrancelha deu uma leve elevada, recorrente a minha surpresa. Ela sorriu para mim, seus olhos ficaram miúdos, o sorriso era largo em seus lábios pequenos, sobrancelhas naturalmente finas e olhos castanhos escuros. Me pergunto de quem Cole tenha puxado seus olhos claros... Tentei transmitir através dos meus olhos, minha simpatia, mas logo meus lábios se torceram numa careta para Cole. Senti meu rosto ficar quente. 

 

— Awn... Deveria ter esperado eu terminar as séries. — lamentei ao fungar e me senti na obrigação de tentar ajeitar minha postura pelo menos um pouco para cumprimentá-la devidamente — conhecer a mãe de alguém durante um trabalho de parto é meio esquisito... 

 

Ela não esperou que eu tivesse que andar até ela, movendo seus pés acolhidos com botinas idênticas as minhas, Franchesca parou a minha frente e me cumprimentou de modo extasiado, eu a correspondi com respeito quando ela me livrou do fardo de aparentar estar no melhor momento da minha vida; de uma maneira muito sábia, com palavras espirituais ela acolheu-me e junto de Carlisle noticiou que estava ali para me auxiliar no trabalho de parto, ela seria minha doula. Aceitei sua presença de muito bom grado, tanto que a felicidade que expus na minha resposta surpreendeu até a mim. Toda a ajuda era realmente necessária naquele momento, eu nem poderia negar sua disponibilidade pois estava imensamente feliz e honrada em estar ali comigo. Ela me amou desde o momento em que me viu e eu me senti afeiçoar da mesma maneira, havia um elo, um pacto silencioso entre nós. Ela emanava algo que eu nunca havia sentido, mas que estava apreciando demais, havia uma força que a cercava e por causa da sua presença eu sentia aquilo me revestir. Era algo muito louco de ser explicado e que não anulava nada do que eu sentia no momento. Minhas contrações ainda estavam ali, os aparelhos de monitoramento e registros sempre estavam a postos e eu tinha um parto para realizar.  

 Quando me cansei de ficar sobre minhas pernas, sem me movimentar, Cole me ajudou a estar na maca. Carlisle gentilmente pediu para que eu tivesse mais algum tempo de descanso para progredir o parto; sem objeções eles se despediram brevemente e saíram do quarto acompanhando-o, deixando-me na companhia discreta de Jasper. Afaguei minha barriga endurecida, me sentindo cansada e sabendo que havia mais horas em trabalho de parto para passar. Eu não podia, simplesmente já estar no máximo de dilatação para que essa criança nascesse? Resmunguei baixinho a respeito buscando pelo celular esquecido sobre o colchão mais uma vez; quem sabe eu não conseguisse cochilar de tédio com ele? 

 

 

 

 

 

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   Fui despertada por um desconforto muito grande dentro de mim, de forma que eu não tinha certeza se era algo sentimental ou físico e não eram as contrações, pois elas ainda estavam controladas pela peridural. Era uma ânsia muito grande, era uma necessidade, eu não sabia direito o que era, mas estava me tirando a paz, perturbando meu sono. Abri meus olhos a tempo de vislumbrar Jasper se levantar da poltrona que haviam colocado ali ao meu pedido, mesmo ele tendo falado de que não havia desconforto algum em passar quantos dias lhe fossem necessários em pé, mas eu havia o confrontado de que isso me incomodaria. Foi bem gentil da sua parte não ter retrucado de maneira grosseira a um pedido bobo como esse. Jasper hesitou ao tocar em minha testa com o rosto sério. Levei minha mão direita a minha boca e tossi, a tosse emitia um som similar de um pulmão atacado, mas eu sentia que meus pulmões estavam bem o suficiente, o que contradizia o tipo de tosse que eu estava tendo. Não foi preciso que eu falasse alguma coisa para que o homem loiro que me fazia companhia me puxasse pelos ombros para que eu pudesse sentar da maneira mais confortável sobre o leito, o que me ajudou a minimizar a tosse para que eu conseguisse respirar. 

 

 — O que você precisa? — foi a primeira coisa que Jasper indagou — Está saudosa a um bom tempo, — ressaltou sua observação — de quem você precisa? — reformulou sua pergunta. 

 

Pisquei meus olhos de maneira confusa tentando ver seu rosto na pouca claridade oferecida pelos monitores a minha volta, tentando pensar a respeito. Eu havia acabado de acordar, é difícil pensar em algo claro e coeso assim. 

 

— Eu não sei?! — respondi indecisa e reprimi uma tosse na garganta — Preciso de alguém? — joguei a pergunta para ele. 

 

— Amberli, preciso que pense melhor. — soou sério — Você emitia essa sensação antes mesmo de ter acordado com a crise de tosse, até mesmo antes de adormecer. Não se reprima, apenas fale o primeiro nome que vier em sua cabeça tudo bem? — firmou seus olhos dourados sobre os meus na pouca claridade. Anuí um sim — Preciso que me responda verbalmente. 

 

— Sim. — minha voz soou rouca pelo escritório. 

 

— De quem você precisa nesse exato momento? — franzi minha testa pela sua pergunta — Não hesite! — exigiu a resposta. Fechei meus olhos indecisa, mas tive uma súbita onda de coragem para respondê-lo: 

 

— Cole. — com o fio de voz que ainda tinha soltei o nome sentindo meu coração pesar contra minhas costelas. Abri meus olhos para encarar os seus — Eu preciso dele. — minha voz soou suplicante. 

 

— Rose. — sua voz soou baixa ao afastar seu corpo da maca. Ao dar um passo para trás, a pesada porta do escritório foi aberta e sua suposta irmã, Rosalie entrou no cômodo caminhando na nossa direção — Cuide dela, irei chamá-lo. 

 

— É claro! — aceitou de bom grado, analisando-me em cima do colchão — Ligue para a Nessie e aguarde-os na divisa. — ela instruiu. Jasper assentiu, e antes de sair hesitou. Virou-se na minha direção tomou minha mão direita num toque gelado e frouxo de sua mão, e sumiu do escritório, apenas depois de alguns milésimos de segundos eu ouvi a porta se fechar. 

 

 Rosalie ajeitou minha postura na cama para que a posição que eu estava ficasse melhor para respirar. Pedi para que ela acendesse uma parte da iluminação para que o ambiente não ficasse tão tenso quanto eu sentia que estava, ela sequer titubeou. Logo as lâmpadas próximas as paredes de vidro foram acessas iluminando parcialmente bem o ambiente, assim eu podia vê-la melhor, mesmo que a luminosidade fosse amena. Relaxei minhas costas na maca enquanto observava ela andar de uma ponta à outra do escritório, agora Rosalie equipava o cilindro de oxigênio no tubo de respiração da máscara que eu havia usado a poucos dias atrás, apenas para deixá-la pronta para o caso de ser necessário o uso. Em silêncio, continuei com meus olhos atentos aos movimentos que ela fazia, ora vasculhava as gavetas e prateleiras internas do balcão que havia ali, ora seus olhos ziguezagueavam atentamente pelos visores de monitoramento e agilmente ela anotava algo numa folha do bloco de notas que Carlisle frequentemente deixava por ali. Seus lábios as vezes se franziam descontente, mas eu duvidava que fosse por alguma insatisfação atual, Rosalie não expressava seus sentimentos e pensamentos de forma clara, a não ser quando havia algum quileute por perto; mas nesse momento eu arriscava a considerar que ela estava preocupada, da maneira dela, mas estava. 

 Eu ainda sentia a forte náusea embrulhar meu estômago e a sensação parecia ter piorado de tanto que meus olhos acompanhavam os movimentos de Rosalie, o que me fez parar imediatamente de olhá-la, mas mesmo assim a sensação incômoda não passou. Emiti um som baixo de desagrado pela situação inevitável que o embrulho causaria, Rosalie possivelmente me ouviu pois logo estava ao meu lado esquerdo da maca e olhava-me com expectativa, retribuí seu olhar de modo receoso, pois temia que no momento em que eu abrisse a boca a tosse voltaria ou que tudo que houvesse em meu estômago subisse. Esfreguei minha mão no espaço abaixo dos seios e fiz um sinal de torção, Rosalie estudou os movimentos e expressão que eu repetia inquieta, minha cara deveria estar mostrando o quanto eu não estava bem, me sentia quase que desesperada por estar forçando minha garganta a reprimir o que quer que seja. 

 

 — Tudo bem, Amberli. — Rosalie tomou fôlego falando tranquilamente — Eu vou pegar o balde para você, — saiu de perto — ainda bem que Carlisle é prevenido, resolveu deixar alguns aqui. — surgiu ao meu lado novamente me estendendo o balde. Puxei-o para baixo do meu queixo e aos poucos fui relaxando a tensão que havia em minha garganta e abri minha boca com cautela. Por fim, soltei a respiração frustrada pois a sensação de enjoo e vontade de tossir acabaram no mesmo momento. — Ah!... — Rosalie exclamou indecisa tomando o balde para suas mãos. 

 

— Se você está confusa, imagine eu. — repliquei aborrecida pela confusão que meu corpo estava — Pelo menos o balde está mais perto. — ponderei enquanto pensava se não demoraria muito para que eu conseguisse voltar a dormir enquanto a analgesia agia muito bem contra o desconforto das contrações, mesmo que Cole pudesse talvez estar a caminho, não queria atrapalhar sua madrugada. 

 

 Recostei meu tronco sobre a maca novamente e fechei meus olhos sentindo os dedos frios de Rosalie passarem pelos fios do meu cabelo. A maneira de como ela gostava de fazer carinho em mim estava se tornando um bom costume, assim eu conseguia relaxar gradativamente o suficiente sobre o colchão para que a sonolência conseguisse direcionar meu corpo a dormir. E mais uma vez eu senti a urgência saudosa da presença de Cole, mas talvez eu conseguisse dormir mesmo assim. Eu precisava dormir, sentia que logo apagaria.  

 Sentei-me de supetão com impaciência inclinando meu corpo sobre a barriga protuberante ao levar minha mão em direção a minha boca mais uma vez sentindo a crise de tosse voltar mais forte junto com uma queimação abrasadora na garganta. Uma salivação constante surgiu acompanhado de uma ânsia no estômago, fazendo com que minha garganta ficasse seca e ardente pela força que meu corpo fazia em tentar expulsar o que fosse necessário. Eu não conseguia parar de tossir. Não conseguia tencionar as paredes internas da garganta para que a tosse diminuísse pois a cada investida que eu tentava conter, parecia que a tosse forte se tornava mais urgente, de modo que meus olhos começaram a se encher de lágrimas e não bastando isso, o enjoo tornava-se mais insuportável em cada tossida sôfrega. 

 Senti meu corpo se arrepiar em aflição quando a tosse e a ânsia de vômito se juntaram em minha garganta fazendo com que eu me engasgasse em meio ao tossido, me deixando por um segundo sem ação. Levei minhas mãos à garganta de modo desesperado sentindo as lágrimas transbordarem dos meus olhos, um líquido quente estava preso na minha garganta com o ar que era expelido dos pulmões pela tosse, me sufocando. 

Tentei engolir, mas a passagem parecia bloqueada. Minha boca se escancarou em desespero tentando expulsar o que estava me engasgando, tornando a ânsia mais urgente e dolorida, mas não conseguia forçar o suficiente para a expulsão me curvando ainda mais sobre a redoma pontuda em meu ventre.  

Rosalie não tardou em me socorrer, fazendo-me inclinar mais ainda sobre a barriga e acertar cinco tapas certeiros e fortes na medida certa entre minhas omoplatas. Não satisfeita com o auxílio, ela foi astuciosa em abrir passagem pela a minha boca, ocasionando uma ânsia de vômito muito forte, tão forte que não evitei de fechar os olhos pela agonia que meu corpo sentia por também não conseguir respirar. Quando meu estômago foi incomodado o suficiente, Rosalie remexeu seus dedos pela minha garganta mais uma vez, antes de removê-la ensanguentada de dentro de mim. Mal tive tempo de compreender a causa do sangue quando consegui expelir sobre minhas pernas todo o líquido espesso, quente e vermelho escuro que havia tapado minha garganta. Sangue. Uma mistura de diversos aspectos de sangue cuspido no lençol sobre minhas pernas. Tossi mais uma vez, tendo outra ânsia, ocasionando mais uma onda da expulsão de um vômito completamente sangrento; havia algum resíduo esbranquiçado entre aquilo agora, deveria ser o suco gástrico, mas não tinha certeza. 

Fechei meus olhos devido à exaustão, aspirando o máximo de ar que conseguia aos meus pulmões. Eles ardiam pela falta de ar. Estou assustada! O que significa isso? O quê?! 

  

Envolvi a barriga com meus braços, como se o ato pudesse nos esconder, sentindo Rosalie afastar o lençol sujo para longe de minhas pernas e outro par de mãos frias tomaram seu lugar. Abri meus olhos para ver que Carlisle havia tomado seu lugar, suas sobrancelhas estavam inclinadas para baixo e franzidas, analisava o ambiente ao meu redor, possivelmente elaborava um prognóstico. Logo após sua chegada, Esme também surgiu como um vulto no escritório, eu me sentia tão exausta pelos cochilos interrompidos e assustada com o que acabou de acontecer, que sequer me espantei com sua aparição, direcionei meu olhar assustado com lágrimas transbordantes para os seus olhos vendo que estavam mais claros; antes que eu falasse alguma coisa para ela, meu corpo tremeu sobre o colchão acarretando-me a um choro alto e intenso. 

 

— Sem desespero Amberli, foi apenas um susto. É uma reação do seu corpo com o estresse do trabalho de parto. — segurou em meus ombros — Isso é normal, você não precisa se preocupar. — Carlisle me acalmou. Pisquei meus olhos, liberando mais lágrimas para fora da borda d’água e olhei em seus olhos — Não é o seu sangue, não está tendo nenhuma hemorragia Amberli, está tudo bem. — me afirmou. Assenti, pois estava incapaz de interromper meu choro alto, mas não era apenas por isso que eu estava chorando; era por tudo! Simplesmente tudo! — Prenda um pouco a respiração. — me instruiu apertando alguns comandos de uma das máquinas ao meu redor. 

 

 — Calma querida, nós nunca permitiremos que nada aconteça com você, sabe disso. Por favor, não fique ansiosa. — suas mãos gordinhas e gélidas tocaram em minhas bochechas. E devo ter chorado um pouco mais quando ela beijou minha testa — Calma meu bem... — uma de suas mãos se afastaram do meu rosto para pegar algo atrás de si. Após alguns segundos havia um pequeno copo com enxaguante bucal e uma toalha escura e húmida em sua mão sendo passada no meu rosto, limpando-me. 

 

 Esme fez o possível para me acalmar, Franchesca chegou e acompanhou o segmento de Esme. A ausência de Jasper me influenciou de tal maneira que me sentia muito confusa com toda a carga de emoções que eu estava tentando controlar para me estabilizar, eu sabia que eu estava dando um chilique, porém eu não conseguia me segurar, tive que externar! Saí da cama com os aparelhos grudados em mim e andei de um lado ao outro em frente a parede de vidro enquanto meus pensamentos me atacavam com os fatos que eu estava lidando diariamente. Penteei meus cabelos para trás num movimento exasperado enquanto minha discussão mental continuava acontecendo. Cocei meus braços me sentindo indisposta e frustrada, odiando com todas as minhas forças o maldito vampiro que... 

 

— Ugh! — quase rugi de dor quando a contração surgiu. Pressionei meus lábios um no outro para que nenhum som escapasse.  

 

Essa definitivamente era muito mais intensa que qualquer outra que já havia tido até o momento. Esme e Franchesca me acompanhavam de perto mesmo que eu insistisse entre uma comoção e outra de que elas não precisavam fazer isso, mas foram pacientes e aos poucos eu fui encontrando lucidez para acalmar os ânimos, baixar a guarda e aceitar a segurança que elas me proporcionavam. Me abri com Esme, lamuriei em seu ombro, não contive o tremor das minhas mãos ao desabafar como eu estava desolada e frustrada por estar parindo uma criança que não planejei e muito menos consenti a realmente querer. Chorei mais um pouco por me arrepender sempre que meus pensamentos me faziam rejeitar o bebê que era tão mais inocente quanto eu. Ela me ajudou, com sua áurea materna poderosa, Esme esteve ali como se fosse a minha mãe, falando tudo aquilo que eu necessitei ouvir mesmo sem saber. Apeguei-me às suas palavras, usando-as como um refrigério por aquele tempo, suprindo a falta que a minha mãe fazia na minha vida. Esme me ajudou durante os avanços das contrações. Acalentou-me em seu abraço gélido que contrastava muito bem com minha temperatura, massageando minhas costas com destreza, proporcionando um alívio para minhas lombares. Permanecemos nessa posição por minutos, tive mais uma contração e no término da mesma, vi entre meus cílios húmidos Carlisle caminhar até a porta do escritório e parar entre o batente; estava conversando com alguém. Soltei um suspiro forte contra o ombro de Esme sentindo meu corpo relaxar um pouco assim que os segundos da contração iniciaram o intervalo; as mãos de Esme continuaram a trabalhar no meu corpo. Fechei meus olhos pondo minhas mãos acima do tecido que cobriam minha barriga e os sensores, ansiando pelo momento da dilatação total, pois só assim eu saberei que já está no fim. 

  Franchesca me estimulou a andar poucos passos mais uma vez; segui em linha reta na direção das paredes de vidro e por ali fiquei. 

Olhando para algumas árvores próximas, de galhos longos e escurecidos pela noite e a falta da luz da lua, eu desejei que Cole estivesse por perto mais uma vez. Pressionei a ponta dos meus dedos contra o vidro, sentindo o material liso contra as digitais dos meus dedos, aspirei longamente e soltei o ar. Uma movimentação acontecia as minhas costas, havia pessoas entrando no cômodo junto com Carlisle, os passos audíveis denunciavam que não pertenciam à família. Puxei mais ar para dentro de mim sentindo minhas mãos transpirarem contra o vidro, estava um pouco mais ansiosa. 

 

— Lee. — o som da sua voz trouxe uma boa sensação de frio na barriga, era quase como se apenas o seu modo de me chamar já pudesse me consolar de qualquer aflição que eu pudesse ter. 

 

— Oi... — um fio de voz saiu por meus lábios logo depois. 

 

 Meus olhos arderam de alívio. Cole estava aqui. Ouvi seus passos se aproximarem, até que sua temperatura absurda propagasse ao redor do meu corpo, minha respiração tremeu quando recolhi minha mão e me virei para ele, mostrando-me de um jeito que jamais achei que ele chegaria a ver. Quase cheguei ao sorrir por sua presença. Senti a musculatura dos meus lábios espasmar, mas talvez Cole não tenha visto pois mal eles haviam precariamente se movido, quando senti o tecido da camiseta que ele está vestido me tocar. Ele está me abraçando com tanto zelo que parecia arder minha pele. Senti uma lágrima, duas, três escorrerem um caminho curto até serem absorvidas pelo pano da camiseta masculina. 

 

— Não precisa se envergonhar nada que venha acontecer, Amberli... — ouvi a voz de Franchesca a me falar, mas não dei atenção. Não da forma que poderia ter dado se estivesse em condições de fazê-lo. 

 

 Permaneci em silêncio olhando com atenção para ele, apreciando sua fisionomia masculina, admirando a tonalidade de sua pele, seus olhos, os cílios longos que sustentam as pálpebras puxadinhas; todas as mínimas particularidades que o torna quem é. Com os meus olhos percorrendo sua face minuciosamente, meus pensamentos se esticavam dentro da minha cabeça, e como um elástico sendo esticado ao máximo, ele escapou na minha mente, chicoteando dolorosamente dentro de mim. Meus olhos aguaram, e todo o consolo que Esme havia construído em mim ruiu de modo desastroso. Um soluço repercutiu por meus lábios, tornando quase impossível conter os outros que vieram em seguida no momento em que as lágrimas rolaram por minhas bochechas. Mais uma contração surgiu. Cole me sustentou quando me vi perder o ar perante a dor, meus músculos se tencionaram e não conseguia me concentrar em resistir a intensidade das contrações e apesar de eu estar imensamente grata pelo suporte que Cole estava dando no momento, suas mãos em meu corpo pareciam intensificar ainda mais a dor que eu sentia, só que eu não conseguia me mover para nada que quisesse fazer naquela hora. Esme interveio e contra a vontade dele suas mãos foram afastadas de mim; as lágrimas continuavam a trilhar por meu rosto e soluços mudos escapavam dos meus lábios e não pararam, nem quando meu corpo pode relaxar com o intervalo da contração, nem mesmo quando Esme conseguiu me levar de volta a maca. Eu apenas chorava. Apenas chorava; e chorando mesmo, com soluços dolorosos que entrecortavam minha voz eu despejei para cima deles, todo o arrependimento, toda a frustração do meu futuro de um mês atrás e o momento que estou vivenciando agora.  

O que seria de mim?! Da Hilary?! Desse bebê?! 

 Eu apenas chorava e soluçava, e só consegui acalmar meu choro depois de todas as palavras que ouvi de cada um deles que estavam comigo ali. Meu choro sessou totalmente quando Cole me guiou de modo definitivo ratificando as palavras de Esme, Carlisle e de sua mãe, às minhas decisões até ali: “Eu estou trazendo essa vida ao mundo, uma vida especial, assim como a Renesmee, e que eu sou muito melhor do que o sentimento de amargura e medo que esteve predominando meus pensamentos. Eu não poderia deixar toda essa negatividade obscurecer meus objetivos.” Sua voz soava como um fortalecimento lucido. Ele não estava mais presente no cômodo, mas havia me prometido que estaria no território da família. Havia prometido não me abandonar. 

 

 

 

➶ 

 

 

 

 

— Você está iniciando a etapa final, não pode deixar as incertezas te dominarem agora. — Carlisle havia acabado de me examinar, suas palavras foram o suficiente para que eu compreendesse que logo tudo estaria terminado. 

 

Concordei apenas com um aceno por ainda ser incapaz de pronunciar alguma coisa. Senti mais uma contração dolorosa chegar e suspeitava que ele cronometrava sua duração desde os momentos anteriores. Os intervalos estavam a cada quatro minutos e eu sabia que poderiam se aproximar ainda mais. Prendi um gemido de dor na garganta e liberei uma lufada de ar com alívio e dor. Puxei o máximo de ar que consegui para tornar a segurar a respiração mais uma vez, mesmo com dificuldade pelos soluços do choro que já havia sessado e a contração que paralisava meu corpo. 

 

— Eu preciso andar. — pronunciei quando voltei a respirar, um pouco aérea e tentei sair da maca — Preciso me movimentar. 

 

— Sua contração durou um minuto. — Carlisle notificou atrás de nós. Franchesca segurou meus braços para que eu tivesse mais apoio para descer, e puxou o suporte passando a me acompanhar de perto — Apenas estamos aguardando o seu sinal. 

 

Puxei o laço do meu cabelo com impaciência, segurando-o contra os dentes, para que minhas mãos estivessem livres o suficiente para que eu juntasse o ninho que estava meu cabelo para o topo da cabeça e tornar a prendê-los. Caminhei a passos espaçados no meu próprio tempo e disposição, controlando minha respiração e aceitando, relaxando meu corpo o máximo possível para suportar as contrações que viriam a seguir. Nem sempre eu conseguia autonomia o suficiente para lidar com o desconforto que elas causam, principalmente quando eu sentia medo. Meus pés descalços me direcionaram mais uma vez para as paredes de vidro e no tempo certo em que eu parei a frente da paisagem das árvores altas e húmidas e a chuva leve que caía, mais uma contração chegou. Fechei meus olhos no mesmo instante, respirando fundo e me concentrando em deixar o momento passar mesmo que eu sentisse a forte onda dolorosa pulsar e se expandir dentro de mim. Eu podia sentir, muito mais do que eu me lembrava, o momento em que esse mínimo espaçamento ajudava o bebê descer. 

Eu estava sentindo o bebê descer! 

 

— Está girando. Está descendo! — abri minha boca para falar. Não era a primeira vez que eu os comunicava disso, mas era um alívio sempre avisar; quase como uma vitória, que eu estava vencendo. Meu corpo estava trabalhando de maneira saudável para trazer mais um nascimento; uma terceira vida. 

 

— Sim, chegou vinte segundos a menos que a anterior, e sua linha púrpura está quase no final, logo você sentirá necessidade de fazer força. Já sabe o que fazer. — era Carlisle a me falar. 

 

— Nos avise quando sentir essa urgência, minha querida. — Franchesca pediu. 

 

— Sim, avisarei quando saber. — assenti olhando com ansiedade para a vastidão do verde a minha frente. 

 

 Me percebi estar muito ansiosa, mais do que o possível, tanto que a respiração ritmada que eu mantinha começou a acelerar e logo eu me sentia com falta de ar. Segurei-me a Franchesca, tentando recobrar meu equilíbrio para que ela não precisasse segurar meu peso sozinha, Carlisle percebeu minha alteração no mesmo momento. Eu mal havia me apoiado no corpo dela quando suas mãos frias me arrastaram sem empecilhos de volta para a maca. Meu corpo começou a suar do nada de forma excessiva. 

 Nem sei como, mas me ouvi tragar a respiração com força para dentro de mim quando percebi estar passando por mais uma fase de contrativa. Havia uma infinidade de fios em mim mais uma vez e eu estava com a máscara de oxigênio. Olhei desorientada para os três que estavam ali, Carlisle aplicava algum medicamento na entrada do tubinho preso na minha mão, Franchesca apertava um frasco parecido com soro num suporte que surgiu acima de mim e Esme parecia administrar as checagens dos monitores que bipavam incansavelmente. Carlisle me observou por cinco minutos contados. Ele me fazia perguntas simples sobre como eu estava me sentindo, só que eu ainda estava desorientada e não conseguia formular as frases. Carlisle seguiu seu protocolo médico e me deixou a par de dois desmaios seguidos que eu havia tido durante a falta de ar, seguido de um princípio de uma taquicardia pela falta da respiração. Ainda de maneira muito profissional, ele disse que o acontecido não havia atingido o bebê e por eu estar consciente e respondendo após os medicamentos injetados já era uma grande melhora, então não havia motivos para uma intervenção cirúrgica agora, que foi apenas um susto devido ao cansaço do meu corpo. 

 Quinze minutos foi tempo o suficiente para que meu corpo guinasse de vez e que eu tivesse a dilatação total. Franchesca e Esme estiveram ao meu lado, auxiliando-me na posição que eu havia escolhido para ficar à vontade na hora da expulsão. Não passou mais que dez minutos para que eu sentisse a necessidade primitiva de empurrar num momento após uma contração. Minhas pernas travaram com um bom espaço entre elas, espaço o suficiente para que Carlisle pudesse operar. Soltei uma lufada do ar que nem havia percebido que segurava e me ajeitei um pouco mais sobre minhas pernas. Eu não iria sair dessa posição agora nem se tivesse vontade. 

 

— Não há mais o que esperarmos. Quando sentir vontade, faça força. — Carlisle se dirigiu a mim. 

 

Não fiz questão de responder. Quando a próxima contração chegou, eu já sabia o que tinha que fazer. Fiz força para empurrar. Apertei minhas mãos nas bordas do colchão e travei meu maxilar para que nem um ruído saísse por meus lábios. Meu períneo ardeu como se estivesse em brasas, só parei de empurrar quando a contração chegou ao fim. Respirei o oxigênio da máscara para dentro dos meus pulmões reunindo mais um pouco de energia para o esforço seguinte. E para o outro.... E outro... 

 

Eu ouvia eles me animarem, me incentivavam a continuar com o trabalho de empurrar o bebê até mesmo quando o ar parecia não querer ir para os meus pulmões e quando lágrimas não derramadas se acumulavam no canto dos meus olhos. Fui obrigada a mudar de posição. Minhas pernas estavam dormentes por me manter por muito tempo sentada sobre elas. Eu me recusei a ficar deitada de barriga para cima, preferi me deitar de lado. Esme segurava minha perna esquerda, me ajudando a forçar ainda mais nos momentos de empurrar. Em alguns poucos intervalos minhas vistas se escureciam, mas era de maneira tão rápida que não chegava a me preocupar. Franchesca continuava ativa ali também; seu modo diferente de dizer me estimulavam de uma maneira única. Ela dizia que eu estava recebendo ajuda divina, e eu contava que isso fosse realmente verdade pois eu me sentia esgotada. A tonalidade de suas mãos me lembrava constantemente da onde ela pertencia, quem ela era; mas não o suficiente para que eu não forçasse minhas mãos contra as dela. 

 

— Está coroando! — o anúncio de Carlisle me deu mais ânimo para arrumar forças que eu nem sabia que ainda tinha para ajudar esse bebê a sair de vez de dentro de mim. Levei minhas mãos em direção a minha entrada sentindo a textura da cabeça do bebê. Era cabeludo, uma camada espessa de cabelo; eu pude sentir — Mais um ou dois empurrões serão suficientes, Amberli! Força! Empurre na próxima contração! — me estimulou. 

 

Tentei respirar com dificuldades, estava muito cansada. Ouvi ele pedir a Franchesca que aumentasse a distribuição de oxigênio para mim. Mais uma contração, a passagem para o bebê queimava como uma redoma de fogo que circulava todo o meu períneo e me fazia sentir muito mais do que eu tinha lembranças dos partos anteriores. Parei de fazer força soltando a respiração pesada pela boca, mantive minhas mãos sobre a saliência da cabecinha cabeluda do bebê. Eu ainda não conseguia vê-lo, mas estava sentindo-o. Reuni mais ar para os meus pulmões e fiz força mais uma vez. Minhas vistas se escureciam e a criança estava saindo cada vez mais. 

 

— Ela não está muito pálida? — ouvi a voz madura de Franchesca soar em meus ouvidos, se dirigindo a outra pessoa.  

 

Recolhi minhas mãos da textura melada que cobria os cabelos do bebê e puxei mais um pouco a respiração e fiz mais força. O centro do meu corpo latejava e meu esforço parecia o dobro do que eu realmente achava que poderia aguentar. Permiti externar o sofrimento que estava sentindo num gemido sôfrego misturado as lufadas de ar que soltava. Isso chamou a atenção de Carlisle para o meu rosto, mas eu não conseguia vê-lo direito pelos pontilhados obscurecidos na minha visão. 

 

— O neném já está aqui Amberli. Ele precisa do seu último esforço para sair. — me encorajou mais uma vez. 

 

— E-eu... — tentei responder, mas não conseguia. Tudo rodou de maneira embaralhada. Eu praticamente já não enxergava mais nada. 

 

Tentei puxar mais ar para dentro de mim, só que a máscara não parecia ter oxigenação o suficiente. Tentei mesmo assim. Meu coração batia rápido dentro de mim. Me esforcei para respirar e não medi meus próprios esforços para empurrar. Minha sorte era que Esme segurava minha perna flexionada contra mim, pois eu não tinha força para mais nada além disso. Eu praticamente quase estava esmagando as mãos de Franchesca contra as minhas.  

 Senti a dor da contração. Senti o momento em que meu corpo gerava energia para o ato da expulsão. Senti a passagem do bebê flamejar. Senti seu corpinho robusto passar totalmente até que já estivesse fora de mim. Eu apenas sentia, pois já não enxergava mais nada.  

Me ouvia ofegar de dor e chorar.  

Depois não ouvi mais nada. Nada além de um “píí” alto e irritante dentro da minha cabeça. E ainda com esse som martelando, apenas continuei a sentir. 

Senti a dor contínua daquela contração. Era para ter parado! Porque não havia parado?! 

Chorei pela falta de visão e audição naquele momento. Me senti perdida, abandonada, mesmo sentindo tudo e todos a minha volta. 

 Senti as lágrimas abundantes transbordarem dos meus olhos. 

 Sentia tudo. 

 Apenas sentia.  

 


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Notas finais do capítulo

Eu me restringi bastante sobre como narrar um parto normal. Nunca estive grávida na vida, mas tenho experiências recentes de parto na família, para ser mais especifica, todos os anos... Li estudos de caso específicos e assisto partos desde 2010 e adoro rsrs, tentei manter o seguimento mais natural possível... Bom, até determinado momento né amados!

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