Olhos cor de Mell escrita por MailyCullen
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Minha cama estava boa demais para minha mãe me tentar tirar dela. Eu estava muito feliz ali!
— Brian. — a luz foi acesa. — Bom dia.
— Bom dia. — respondi ainda sonolento.
Escondi meu rosto na coberta enquanto meus olhos ardiam.
— Está na hora. — olhei para ela que se sentou na cama puxando o blackout, deixando o quarto ainda mais claro.
— Tenho mesmo que ir? — indaguei a mesma que respirou fundo.
— Querido… — me olhou triste. — Só vá caso queira. — a olhei surpreso.
Pelo visto minha mãe estava dando o braço a torcer. Estava me entendendo finalmente.
— E a senhora quer que eu vá?— indaguei a ela que me fitou também surpresa.
A mesma passou a mão sobre o cabelo que estava bagunçado e voltou a me olhar.
— Claro! Se você não for não voltará a andar e não sabe o quanto é ruim te ver assim. Sei que não se sente bem nessa situação e a única opção para você são essas sessões. — abaixou a cabeça encarando as mãos. — Se você não for as chances apenas diminuem e isso irá apenas prolongar, irá demorar mais tempo pois sua recuperação dos movimentos estará sendo pausada por muito tempo. — explicou. — Sei que irá conseguir.
— Mas mãe já são quase 2 anos… — respirou fundo se sentando ao meu lado.
—Lembra quando tinha treze anos e queria aprender a andar de Skate para se enturmar com alguns garotos? — concordei. — Lembra o quanto você caía e chegava em casa com os joelhos ralados? — novamente assenti. — Por mais que estava sendo difícil e parecia impossível você manter o equilíbrio e mesmo após você ralar quase sou rosto inteiro no chão e quebrar um braço você não desistiu. — Afirmei com a cabeça. — E por que quer desistir agora? Se você não desistiu de aprender a andar de Skate apesar da dificuldade, por que está desistindo agora? Sei que são situações diferentes e uma não tem nada a ver com a outra, mas ambas requerem a mesma motivação. Você queria aprender a andar de Skate, caiu diversas vezes, se machucou e muito, passou quase 2 anos tentando aprender e finalmente conseguiu depois de muito esforço e dedicação, por que você quis. E por que agora você não tem a mesma dedicação? Você não quer voltar a andar?
— Quero.
— Então não desista, independente das dificuldades que irá enfrentar. Todos estamos com você te apoiando. Estamos tentando ajudar da nossa forma, mesmo que não te ajude muito. Mas se você não quiser e achar melhor jogar a toalha… — deu de ombros. — Quem será nós para te obrigar? A vida é sua e se quer continuar assim é só avisar que não lhe levaremos mais lá e você passará o resto da vida assim mesmo sabendo que há chances enormes de você voltar a andar, mas você não quer. Não iremos te obrigar mais, a escolha é sua e te entenderemos.
Se levantou, prendeu o cabelo e arrumou seu roupão, olhei para meu telefone e eram quase oito da manhã.
— Pode voltar a dormir se quiser, ligo para a clínica hoje e cancelo suas sessões. — avisou seguindo até a porta.
Olhei para minha cadeira de rodas que estava próxima do meu Skate. Realmente aquilo fazia sentido.
— Eu vou. — falei antes da mesma apagar a luz. — Eu quero continuar indo. — a mesma se virou para mim e deu um sorriso. — Prometo me esforçar.
— Tudo bem. — seguiu até mim. — Sei que já se esforçou e dedicou muito, mas seja paciente. Sei que vai conseguir.
***
Não demorou muito para que eu chegasse naquele lugar. Encontrei a garota conversando com outra fisioterapeuta enquanto pulava corda próxima ao jardim quase engasgando de tanto comer cabelo já que seus cachos voavam para dentro da sua boca. Segui até ela que parou assim que me viu e se escorou em uma árvore para descansar.
—Bom dia! — sorriu cantarolando animadamente.
Eu queria muito entender de onde ela tirava tanto ânimo.
—Bom dia. — respondi ainda mal humorado.
— Até mais. — a fisioterapeuta saiu nos deixando à sós.
Olhei para ela que prendia seu cabelo em um grande coque e me fitava com seus hipnotizantes olhos que pareciam estar com as cores trocando de posição.
— Dormiu bem?— neguei — Percebi. — riu. — Espero que esteja bem disposto.
— Nem um pouco. — assumi a fazendo gargalhar.
— Espero que esteja sim para sua tarefa relâmpago de hoje.— avisou a mim após prender seu cabelo.
Mellanie jogou a ponta da corda para mim. Encarei a corda e olhei para ela sem entender.
— Quem conseguir levar o outro para a direção dele ganha a prova. — explicou me fazendo a olhar sem entender.
Ela era muito maluca. Como eu faria aquilo?
— Sério? — perguntei ainda não acreditando naquilo.
— Estou testando sua força. — explicou. — Vamos lá. —Segurou firmemente na corda se afastando um pouco de mim.
Fiz o mesmo que ela e enrolei a corda em minha mão para que ficasse mais firme.
— Já. — anunciou puxando a corda.
A travei em minha mão para que bloqueasse sua força. Tentei puxá-la, mas as rodas da minha cadeira seguiram na direção dela. Eu estava em desvantagem! Me concentrei, afrouxei um pouco a corda a fazendo desequilibrar e comecei a puxá-la fortemente enquanto a mesma vinha em minha direção rindo pois não estava conseguindo me puxar.
— Nãaaao. — tentou travar os pés enquanto eu a arrastava.
— Força Mellanie. — a mesma travou novamente os pés. — Cadê sua força.
— Aaaah. — começou a rir. — Não aceito perder. Eu nunca perdi nisso. — disse entre os dentes.
Dei um puxão forte a fazendo quase cair no chão e se aproximar ainda mais de mim. Assim que consegui a trazer para perto de mim a mesma riu ofegante, soltando a corda.
— Uau! Você é muito forte! — disse surpresa.
— Obrigado. — agradeci enrolando a corda para entregá-la.
— Agora sim tenho certeza que são malucos! — Keke veio até nós. — Cabo de guerra Mellanie? O que significa isso? — parou ao lado dela.
— É meu novo método de ensino. Exercícios ao ar livre. —explicou contente pegando a corda da minha mão.
— Eu aprovo. — assenti para ela. — É menos entediante. — assumi.
— Tudo bem, se seu paciente aprova continue assim. — sua tutora concordou.
— Agora vamos para a sala. — Mellanie avisou seguindo comigo e Keke para dentro da clínica, enquanto guiava minha cadeira.
[...]
Havíamos terminado e Mellanie estava sentada ao meu lado enquanto eu esperava meu motorista.
—Posso te levar em outro lugar? Quero te mostrar algo e conversar com você. — ela questionou e concordei.
A mesma seguiu comigo pelo corredor, um corredor que eu jamais havia entrado e nos levou até uma ala, onde os atendimentos eram especiais.
— Sabe onde estamos? — questionou me olhando enquanto nos aproximávamos da porta.
— Sala de tratamentos especiais? — concordou.
— Quero que veja uma coisa. — parou na porta e parei ao seu lado. Olhei para as pessoas de todas as faixas etárias. — Sei que está em um estado nada agradável! Mas há pessoas piores, algumas com a situação irreversível. — olhei para todos que estavam dando o seu máximo enquanto recebiam instruções de seus fisioterapeutas e a maioria não desistia, muitos sorriam.—No final do dia após acabar outras sessões venho aqui e oro por todos. Converso com eles e vejo o quanto sou mal agradecida de reclamar da minha vida.
— Sim.
— Sei que está passando por um momento difícil e a recuperação é complicada e requer paciência. Mas quero te pedir algo. Por favor não desista. Você é uma pessoa forte e vai conseguir isso. Eu estou disposta a te ajudar, sei que está se dedicando e que ainda não viu nenhum resultado positivo, mas terá. Quando você menos esperar e eu espero estar com você nesse dia. Você só não pode desistir.
— Obrigado.
— Agora você irá jurar juradinho e dizer “Eu prometo não desistir Mellanie ” — ordenou erguendo o seu dedo mindinho.
Olhei para ela que me fitava com seus lindos olhos. Prendi meu dedo mindinho no seu e a encarei.
— Eu prometo não desistir Mellanie. — ela sorriu.
— Muito bem. — riu. — Se precisar de ajuda, esse é o meu número, ajudo em qualquer tipo de problema, não só eu como outras pessoas irão te apoiar. — me entregou um papel lilás.
— Obrigado. — agradeci guardando o papel no meu bolso da frente.
Encarou o relógio em seu pulso que havia apitado.
— Tenho que ir. Tenha um bom final de semana.
— Obrigado, você também.
Se retirou do local e fui logo após ela que virou o outro corredor. Quando cheguei na sala de espera o motorista já estava lá.
Era bacana por parte da clínica de disponibilizar motoristas. Assim facilitava a vida de muitos pacientes como eu. Minha mãe era dona de casa e não tinha tempo de me trazer. Meu pai passava quase o dia todo trabalhando e minha irmã… não podia dirigir obviamente.
Quando cheguei em casa senti o delicioso cheiro de bife a milanesa. Minha mãe era uma ótima cozinheira e sabia disso. Seu grande sonho era abrir um restaurante ou uma confeitaria, mas apenas o meu pai trabalhava naquele momento e estávamos com algumas dívidas, então não daria muito certo em questões financeiras e por enquanto ela se virava vendendo bolos e docinhos para aniversário por encomenda.
A porta fez barulho e foi aberta. Minha mãe apareceu com um pano de prato na mão e sorriu.
— Muito obrigada. Tenha um bom final de semana.
— A senhora também. Até mais Brian.
— Até. — acenei para ele.
Senti minha mãe puxar minha cadeira e fechei a porta.
— Como foi hoje?
— Bacana. Fizemos cabo de guerra. — contei a ela pegando um dos docinhos de morango que ela fazia para sua encomenda do dia.
— O que? — me olhou surpresa.
— Sim, e eu ganhei. — completei.
— Estava competindo com quem?
— Com a fisioterapeuta que está comigo.
— Ah sim. — me entregou meu prato. — Está gostando dela?
— Claro que não, nem somos amigos. — ela gargalhou.
— Não nesse sentido Brian. — me explicou me fazendo assustar.
— Ah sim, me desculpe. — pedi envergonhado. Aonde eu estava com a cabeça? — Ela é uma boa profissional!
— Isso é bom. — concordei.
— Ela tem um método interessante, não deixa o tratamento massante. — contei a ela que colocou um pouco de suco para mim.
— Como ela se chama?
— Mellanie. — respondi.
Se virou surpresa.
— A garota das lentes coloridas? Pensei que ela já havia desistido.
— São os olhos dela, são de verdade mesmo. E ela não vai desistir tão fácil. É uma garota persistente! — informei a ela.
— Então com certeza é uma ótima profissional. — admirou-se se sentando ao meu lado.
A porta fez barulho e minha irmã correu pela sala e chegou a cozinha.
— Bom dia.— jogou a mochila para em um canto.
— Bom dia. — respondemos a Jully que veio até nós e nos deu beijo.
— Estou morta de fome! — pegou um prato para se servir.
A porta mais uma vez fez barulho e dessa vez meu pai entrou.
— Bom dia.
— Bom dia. — o respondemos.
Minha mãe se levantou para lhe dar um beijo e minha irmã se sentou em seu lugar.
— Perdeu. — olhou para ela que estava abraçada a meu pai.
Logo após disso os dois se serviram e se sentaram à mesa juntos a nós.
— Como foi hoje? — meu pai indagou enquanto almoçavamos.
— Legal! Como está o emprego?
— Da mesma forma. Muitas obras para vistoriar. Não acabei alguns projetos ainda.
— E te pagaram o atraso? — minha mãe o perguntou preocupada.
— Ainda não. Estou esperando. Sei que precisamos do dinheiro para acabar de pagar os empréstimos que fizemos para a reforma da casa. — abaixei a cabeça.
Se não fosse por mim, não estariam devendo nada. Com aquele dinheiro minha mãe poderia muito bem ter financiado um local para seu restaurante.
— Quando eu voltar a trabalhar eu pagarei por tudo, eu prometo. — prometi.
— Não.
— Claro que não.
Ambos negaram desesperados.
— Sim, se não fosse por mim não estariam passando por isso. — os lembrei.
— Você não tem culpa alguma, a casa precisava de uma reforma já havia tempo.— meu pai me explicou. — Não quero que se culpe disso.
— Mas se não fosse por mim não precisariam se adiantar tanto, ainda estavam juntando dinheiro.
— Estávamos ansiosos para começar, só não achavamos a hora certa e essa foi a hora. — minha mãe disse calmamente.
— Precisávamos de mais espaços na casa. — meu pai disse me olhando. — Não quero que pense que tem culpa de algo. Coisas assim acontecem e agora todos estamos felizes com a nova casa, não estamos tão preocupados com os empréstimos. Você está feliz com a casa?
— Sim.
— Ela não é mais confortável?
— Sim.
— É isso o que importa. — sorri. — Não vai querer uma nova moto mais confortável para andar depois que se recuperar? — olhei espantado para ele que ria.
— Vai voltar a andar de moto? — minha mãe me perguntou
— Claro. Não voltei a andar de skate mesmo após ralar a cara no asfalto e quebrar um braço? — ela riu. — É claro que voltarei a competir.
— E estaremos com você. — os três falaram a mim.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
● Até mais ❤