O Estranho do Outro Lado da Linha escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 1
O Estranho


Notas iniciais do capítulo

É uma Shortfic de apenas 7 capítulos.
Boa leitura.



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Sakura estava sem sono àquela noite... pela quarta vez na semana. Encontrava-se diabolicamente ansiosa para saber os resultados das provas que fizera na última semana. Era seu último ano, impossível de não se preocupar, afinal.

Remexia-se para um lado, se cobria, tirava ou afofava o travesseiro, jogava cobertor para o lado ou às vezes se embrulhava toda. Mas de nada adiantava, aquela guerra solitária sobre sua cama não estava funcionando em nada.

Ergueu a mão e tateou a cômoda ao lado, pegou o celular e desbloqueou a tela revelando uma foto antiga em que ela e Ino fizeram um make escroto com a maquiagem de sua mãe. Aquele foi um dia divertido, mas aí elas entraram na terrível fase da adolescência onde tirar fotos com a cara lambuzada não tinha mais graça.

Suspirou longamente antes de clicar no ícone da agenda telefônica, rolou o dedo sobre os nomes lendo-os rapidamente, parou no de Ino (lá nos últimos devido o sobrenome da loira) revelando sua fotinha em miniatura com seu número logo abaixo. Colocou para chamar.

Um. Dois. Três. Quatro. Cinco toques e justamente quando Sakura ia cancelar a chamada, a Yamanaka atendeu:

— O Will Smith morreu? — Ino perguntou nada receptiva.

— Quê? Não! Deus me livre, Ino. — A Haruno respondeu sobressaltada. Will era um deus imortal, não? Bom, se não, deveria.

— Certo. Então é melhor você ter um motivo tão importante quanto, para me ligar às três da manhã.

Sakura sentou na cama e mordeu o lábio. Ela sabia que Ino estava com Gaara. Nem mesmo olhou a hora antes de ligar, como se fingir que não saber que estava tão tarde para ligar para alguém a tornasse menos culpada.

— Ino... — pausa para ouvir os resmungos da outra — ... E se eu não conseguir?! — Questionou, decidindo levantar de vez. Foi até a janela, talvez uma brisa noturna ajudasse. Nem que fosse para lhe dar um resfriado, assim teria algo mais com que se preocupar além dos resultados que sairiam dali uma semana.

Ino bufou e depois expirou longamente para se acalmar e não xingar a amiga. É claro que Sakura ligara por aquilo, ela sabia disso porque a Haruno vinha lhe fazendo essa maldita pergunta a semana quase toda.

— Sakura, você tem que relaxar. Como vai saber os resultados se ficar louca daqui pra lá? Olha só, eu já disse que não precisa se preocupar tanto, okay? Tenho certeza que você passará. Aqueles dias que me obrigou a te ajudar a estudar não serão em vão... — Murmurou a última frase, foram dia terríveis para uma pessoa que cursava engenharia estudar sobre medicina.

A Haruno riu agradecida pelo incentivo (e ajuda, mesmo que a contra gosto). Não incomodara Ino à toa, no final das contas.

— Obrigada. Estava precisando ouvir isso. — Disse afastando as cortinas da janela e abrindo-a, saiu para a varanda e recostou-se na grade.

— Não foi nada. — Ino riu pelo nariz. Aquela situação era meio controvérsia, Sakura era veterana na faculdade, enquanto ela ainda era uma caloura de segundo período, no entanto, era justamente ela quem estava acalmando-a quando o caso deveria ser ao contrário.

Já estava se questionando se ficaria assim quando estivesse em seu último anos, mas sentiu um braço pousar sobre sua barriga e olhou para o lado. Gaara estava deitado de bruços, dormindo profundamente, as costas nuas à mostra.

A loira segurou o aparelho com a outra mão, levou a livre às costas do namorado e começou a dedilhar sua coluna bem de leve para não acordá-lo.

— Mais alguma coisa?

— Não. Desculpe ter incomodado, sei onde você está. — Sakura disse rindo. A outra riu também antes de murmurar 'estou no paraíso' e desligar.

Ao ouvir o sinal informando o fim da ligação, Sakura pousou o celular na base da grade baixa para ficar com ambas as mãos livres e fez um coque. O vento estava bagunçando seu cabelo fazendo-o cair sobre seus olhos.

Olhou novamente na tela do aparelho que mostrava três e quinze da manhã. Suspirou e ficou observando à sua volta. Na sua frente vários prédios lutavam por espaço, parecendo disputar qual era mais alto que outro. Segurou-se na grade e debruçou-se para olhar lá embaixo, as ruas estavam apinhadas de luzes de carros que, da altura em que ela estava, lhe pareciam formigas Jedis segurando seus sabres de luz.

A Haruno optara por morar no andar mais alto possível de seu prédio. Nova York era barulhenta tanto durante o dia quanto à noite. Isso não contribuía em nada com seu problema para dormir.

Insônia. Insônia. Insônia!

Por que ela não conseguia ser um pouquinho normal e dormir a mesma quantidade de horas das outras pessoas? Não, ela tinha que dá uma de vampira. Não conseguir dormir era uma grande mer...

Sakura sequer pôde completar seu pensamento, pois se assustou com o toque de seu celular. Olhou para o aparelho como se o mesmo fosse uma das Horcruxes de Harry Potter. Quem seria inconveniente o bastante (além dela, é claro) para ligar para alguém àquela hora da madrugada?

Não sabia quem era. Pois o número mostrado na tela era desconhecido por si e não havia nome, ou seja, não pertencia a sua agenda.

Hesitou antes de aceitar a ligação pensando que aquilo talvez fosse uma praga jogada por Ino pelo incômodo de mais cedo, deu de ombros e levou o aparelho ao ouvido.

— Alô? — Atendeu incerta. A pessoa do outro lado da linha demorou um tantinho para responder e Sakura se amaldiçoou por ter assistido a um filme de terror que falava justamente daquele tipo de ligação estranha. Mil coisas passavam por sua mente, pensou até em como seria a voz do outro lado: chiada e horripilante.

Mas, para seu alívio, uma voz masculina e com um sotaque carregado interrompeu seus pensamentos temerosos.

— Huh. Ola. — Respondeu. Ele parecia mais temeroso que Sakura. A mesma franziu o cenho, não reconhecia aquela voz de lugar algum, muito menos uma com sotaque.

— Quem falar? — Ele continuou.

Sakura riu pelo nariz, aquele cara falava engraçado. Lembrou-se de uma vez em que Ino e ela estavam em um restaurante e uma mulher com sotaque sentou ao lado da mesa delas. As duas passaram o jantar inteiro rindo do modo que a estrangeira falava. A mulher não gostou nada quando percebeu ser o motivo das risadas. Sakura sabia que aquilo era errado, mas não deixava de ser engraçado, no entanto...

— Você quem ligou, então...

—Ooy, certò. Sou Sasukè. — Ele falava de forma que todas as últimas sílabas fossem tônicas, tornando as palavras oxítonas.

De onde era aquele sotaque mesmo? Não conseguia lembrar.

— Desculpe a grosseria, Sasukè, mas como conseguiu meu número? Não o tenho em minha agenda.

Sasuke riu rapidamente, de forma contida.

— Essa pergunta è bem interessante, e a resposta mais ainda — começou antes de dar uma pausa — Antes de começar, quero que saiba que moràmos bem longe um do outro... — outra pausa. Sakura pensou em questionar, mas ele logo voltou a falar: — A verdade é que estou sem um pingo de sono, entào peguei meu celular e digitei números aleatórios e simplesmente deu no seu. — Terminou, rindo.

A Haruno achou a história no mínimo estranha. Quem raios faz uma coisa dessa? Tá... talvez essa ideia já tenha passado também por sua mente em uma das noites insone, mas ela não era louca a tal ponto. No mínimo, a pessoa que atenderia a chamaria de psicótica.

Sem dar sinais de que acreditara na história, ela o questionou: — Como sabe que moramos longe?

Ele não respondeu de imediato, e ela começou a olhar para todos os lados pensando, rapidamente alarmada, se não se tratava de um tarado ou sabe-se lá o que. O sotaque não era uma questão a ser levada em consideração. Nova York tinha gente de todo lugar, até de outro planeta, se duvidasse.

— Olhe meu DDD, è da Europa. Paris, para ser mais exatò.

Sakura deu uma rápida olhada na tela do seu aparelho. De fato o DDD não era o mesmo do seu.

Ponderou. Pelo menos se ele fosse louco, seria um que estava à milhares de quilômetros de distância dela, contando mais o oceano que dividia seus continentes.

É. Ela estava segura. O que custava conversar? Estava sem sono mesmo.

— Okay. Eu acredito em você. Sou Sakura. — Disse, ouviu-o rir novamente e se permitiu rir também. Sasuke parecia legal, meio louco, talvez... Mas ele sofria seu mesmo problema. Uma noite de conversa a faria esquecer um pouco a tensão da espera dos resultados. Era uma distração melhor que resfriado.

Mal ela sabia que aquela era apenas a primeira de suas muitas ligações com o estranho do outro lado da linha.


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