A Benedita acordou animada, nem ao certo sabia porque, bem isto não é inteiramente verdade. Ela sabia, bem lá no fundo ela sabia. O Motivo da sua alegria tinha nome, chamava-se aulas de piano, mas mesmo assim havia uma vozinha na sua cabeça que lhe dizia que podia ser mais do que isso. Que muito provavelmente o motivo da sua alegria poderia estar relacionado com o seu professor, alto, moreno e convencido.                       
     Ela afastou esse pensamento da cabeça. Eram provavelmente as ideias que as suas fives lhe punham na cabeça, que a faziam ter essas questões na mente. Não tinha porque pensar mais nisso, afinal o Guto era só o seu professor, que aliás nem com muita vontade lhe dava as aulas (bendito jogo de prebolim).         
     A manha correu normalmente, encontrou-se com a Ellen no portão e dirigiu-se para as aulas da manhã. No final das aulas, a Ellen recebeu um convite, organizar a biblioteca da Escola Particular Colégio Grupo, onde estudavam a Lica e a Tina. Como boa amiga que era ofereceu-se para acompanhar a amiga, visto que não era segredo para ninguém o quanto a Ellen se incomodava no meio de gente rica.     
     Quando chegaram lá foram recebidas pelas amigas, enquanto a Ellen ia para a biblioteca, a Benê decidiu dar uma volta pela escola, sempre teve curiosidade para conhece-la por dentro. O passeio estava a correr bem, até que ela viu uma cena que a gelou por dentro, ela nem conseguia explicar direito o que sentiu. Um casal estava encostado a parede a namorar, o garoto encostado a parede de modo descontraído e a rapariga com os braços no seu pescoço. Isto seria banal, se o garoto não fosse o seu professor de piano, era o Guto.       
    No instante a seguir, a cena piorou, a garota aproximou-se na tentativa de beijar o Guto. A Benê não aguentou mais a cena, fez o melhor que conseguiu fazer, correu, correu, até estar fora da escola, até se sentir segura. Não conseguia entender a atitude que tinha tomado, muito menos o que sentia, e principalmente não conseguia entender o porque das lágrimas que lhe molhavam a face e a camisola. Deixou-se ficar encostada a parede, com as lagrimas a deslizarem-lhe pelo rosto até que sentiu um braço no seu ombro.          - Benê, estas bem?

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O Guto estava impaciente, a Madalena não parava de lhe mandar olhares e sorrisinhos. Deixem-me contar uma coisa sobre a Madalena, sabem aquela garota que se acha a ultima gostosa do pedaço, e que todas as semanas tem uma paixão nova, bem aquilo no colégio essa era a Madalena. Ele sabia perfeitamente que ela era linda, mas não lhe interessava, talvez noutro momento lhe tivesse interessado. Ele estava se a esforçar para não pensar o porque desta falta de interesse por uma garota que era tudo que ele podia querer no momento, fácil, disponível, e sem necessidade de compromissos.            Na tentativa de fugir dela, saiu mal deu o toque para o intervalo, encostou-se a parede perto de uns arbustos e pôs-se la a pensar. Mas o seu sossego não durou muito, ela encontrou-o. Não perdeu nem tempo, a fazer qualquer tipo de conversa, aproximou-se dele e jogou os braços no seu pescoço.    
            - Madalena, o que é que estas a fazer?         
            - O que já devia ter feito a muito tempo Gutinho

Nisto, aproximou o rosto do dele e tentou beija-lo. Duas coisas aconteceram quase em simultâneo, em primeiro lugar desviou o rosto, de modo que ela apenas lhe beijou o rosto, e de seguida viu uma menina a afastar-se, a correr, não demorou muito para reconhecer a sua pupila. Aquilo intrigou-o, o que será que a Benê estava a fazer ali? Tinha vindo falar com ele? Será que tinha visto a cena que se tinha desenrolada ali a pouco? Não tinha resposta para nenhuma das perguntas mas tinha sensação que precisava ir atrás dela.
            - Madalena, eu e tu não vai rolar, és linda, mas não vai rolar.         
            - Mas Gutinho….

O rapaz não lhe deu tempo de terminar, e foi a procura da Benê. Encontrou-a pouco tempo depois, mas na verdade preferia não a ter encontrado, ela não esta sozinha. Estava abraçada com um daqueles nerds da escola, se não se enganava o seu nome era Pulga ou Juca, uma cena assim. O braço dele estava nos ombros dela, e a cabeça dela repousava nos ombros dele. Ele não soube o que o surpreendeu mais, se o fato de ela estar abraçado com alguém, se o fato de aquela cena o ter incomodado. Não queria nem acreditar que estava incomodado com aquilo. Mas dissesse o que dissesse, aquela cena embrulhou-lhe o estômago, ela não tinha vindo vê-lo, tinha vindo ver o amiguinho ou namorado, ou seja lá o que ele for dela.      
       Saiu dali de fininho, sem querer ser visto, e dirigiu-se a sala, sem a mínima vontade de la estar, sem vontade de aturar as aulas e até mesmo os seus colegar, visto que a esta altura a Madalena já devia ter espalhado para toda a turma que ele devia ser gay. Não sabia o que se estava a passar com ele, mas de uma coisa sabia, andava muito estranho.  

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— Benê, estas bem? – Repetiu o Juca

Ela olhou para cima hesitante, era o Juca o amigo da Tina. Olhava para ela com uma cara preocupada, o que para ela era estranho visto que só via o rapaz na galhofa.

— Sim, estou    
        — Ata, então decidiste chorar só para comemorar

Ela não entendeu a piada do menino, e pela primeira vez não se preocupou com isso. Vendo o estado em que a garota estava, ele aproximou-se dela e pôs-lhe a mão aos ombros. 

— Hey, era só uma brincadeira.

Ficaram assim um pouco, ambos sem imaginar que um garoto moreno observava a cena com cara de poucos amigos. Pouco tempo depois a Ellen sai da escola com a Lica e a Tina, e dirigiram-se todos para a lanchonete do Roney.