As Crônicas de Orbe escrita por Cronista


Capítulo 3
TERCEIRA HISTORIA, " ESCOLHAS DE VIDA E MORTE"




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1

Corria freneticamente pela floresta enquanto sentia o orvalho da manhã sobre seus pés feridos, mas não se permitia parar pois os homens o seguiam.

“Homens ruins, homens sujos, homens fracos!”

Homens que berravam como loucos. Alguns gritavam ofensas bem conhecidas a ele já outros praguejam palavras que ele próprio desconhecia, mas em ambos os casos os homens usavam uma em especial que fazia seu sangue ferver com uma raiva grande demais para ser guardada e está era toda vez aumentada por cada vez que aqueles homens gritavam...

“Selvagem”.

E assim continuava sua fuga embora já começasse a acreditar que estaria destinada ao fracasso, pois os homens não lhe seguiam sozinhos, os homens traziam consigo cães e estes animais naquele momento representava tudo que não queria acreditar.

Sentia o corpo amolecer enquanto corria, o peito doía a vista embaçava  e a respiração faltava, mas prosseguia, não iria parar até que estivesse morto, não seria escravo, não seria!

Já estava correndo por um dia e uma noite inteira e agora avançava naquela manhã, até alguns homens desistiram, mas para seu azar não todos.

Os pés sangravam, as feridas latejavam cada vez que pulava um obstáculo, mas a Força o mantinha em pé, sim a Força a única coisa que importava para um Derekth, se perguntava se Khan o receberia se não se entrega-se, afinal ainda não tinha feito a o rito de Algoskthan para ser tornar um Kallsgoth...

Parou no precipício enquanto o desespero tomava conta de si só para observar o rio correr numa correnteza violenta.

Podia ouvir os cães chegando, respirava como louco tentando decidir o que faria, não restava muito tempo e por um momento a ideia de se lançar lá embaixo lhe pareceu atraente.

Uma morte há uma vida de escravo, definitivamente não era uma ideia ruim, embora não soubesse como Khan veria isso... Pulou no momento em que os cães chegaram e enquanto caia sentiu-se aliviado, não seria escravo!

2

Alto da Colina era um Castelo grande para os padrões de Capital.

“E muito enfeitado também...”

O sol ainda bem fraco dava uma sensação boa à pele, a maioria das pessoas ainda dormia e muito provável também estaria, “O Rei mandou lhe entregar isso”  havia dito um criado na noite anterior, o bilhete era claro deveria encontrar Felipe Meneai no jardim da primavera antes do primeiro sino, aquela fora uma noite difícil “Primeiro o anuncio de uma reunião gama e agora isso...”.

Não gostava daquilo e não gostava muito mais de não ouvir que poderia acontecer, “Percebe-se que mesmo eu não possa saber tudo afinal...”

Seguiu em direção a fonte no centro do jardim, a estatua do leão em mármore jorrava água pela boca no espelho d’água, os peixes eram tão coloridos como nunca vira na vida, ao que parecia Capital gostava de se pintar de cores bonitas.     

— Espero que não tenha lhe feito esperar muito Príncipe Alexander... – disse Felipe Meneai em tom formal com uma reverencia de comprimento.

— De modo algum Majestade – respondeu devolvendo a cortesia mostrada a si com um pouca mais de respeito – Mas devo confessar que fiquei um tanto curioso com seu convite – concluiu com o sorriso de sempre no rosto.

Felipe aproximou-se mais da fonte, naquele momento usava uma coroa simples no mesmo entalhe da que usara na outra noite, vestia-se elegantemente com um roupão dourado em seda, as botas de couro estavam bordadas em ouro em suas costuras alem de usar vários anéis de pedras preciosas em seus dedos e colares tão belos que se perguntava quem seria o artista que os havia feito.

— Uma vez perguntei ao meu pai como os Quatro Poderes começaram... Na época ele me disse que originalmente foi para por fim as guerras intermináveis que aconteciam em Orbe e estavam levando tudo a destruição – tirou uma carta dentro do roupão – Tome Você deveria ler o que está escrito ai – disse enquanto seguia a fonte para alimentar os peixes com um pedaço de pão.

Pegou a carta com alguma aflição, mas sem perder o pequeno sorriso, o selo da arvore seca representava o emblema de Divisar, “Mortedrai!”, seu conteúdo não era outra coisa se não perturbador.

— Por que me mostra isso? – perguntou com espanto dessa vez não trazia o sorriso no rosto.

— Meu pai me dissera que não tinha duvidas que a aliança não duraria para sempre, alias era um milagre que ainda não tinha sido desfeita, Há Muitos reinos em Orbe para Haver Paz me confidenciará – olhou seriamente o Príncipe – Balázios declara guerra ao Norte tentando unificá-lo, me diga Príncipe o que isso lhe Parece?

O olhou atentamente, “Isso é mal...” – Guerra, ainda sim nada de muito diferente do de sempre...

— Você está certo, mas a carta muda às coisas não é mesmo?

— Sim ela muda – “Cento e trinta quatro Goluns” olhou a carta “Como não fui informado disso!!” – Estou mesmo curioso para saber com conseguiu essa informação Majestade.

— Como não é importante, por que como você pode perceber essa guerra entre Divisar e Balázios tem um motivo mais sombrio do que algum suposto assassinato de um Berifor em Cidade Velha. Diga-me Príncipe se Balázios tomar Divisar e conseguir acesso ao Torrente o que aconteceria?

Um frio seco e silencioso percorreu sua espinha, “O que aconteceria...”.

Torrente era o maior rio de Orbe nascia no Norte e se ramificava por todo os treze reinos, sem duvida era a melhor rota comercial usada no interior de Orbe...

— Não há duvidas – disse com voz seria – Com cento e trinta quatro Goluns, Maestria teria de intervir, Goluns poderiam muito bem navegar pelas ramificações do Torrente a todos os treze reinos.

— Você esta certo – concordou Felipe ainda alimentando os peixes – Embora acredite que o objetivo seja exilar o Norte do restante de Orbe afinal conquistando Divisar passarão a controlar toda a Parte norte do Torrente seria fácil impedir qualquer ajuda aos reinos do Norte com a quantidade de Goluns que possuem, mas – virou-se para Alexander com um olhar serio – Impossível de começar uma incursão bem sucedida aos reinos do sul.

“Pelo menos enquanto o Norte não estiver unificado...”.

— Percebo bem o problema Majestade, mas por que me confidenciar isso, não seria mais sensato tratar desse assunto com meu Pai?

Felipe o olhou atenciosamente enquanto repassava algo na memoria, prestou bastante atenção a isso, “Estranho... Se não soubesse dos últimos acontecimentos em Neão poderia considerar isso alguma espécie de intriga, o que não está totalmente descartado...”

— Fernando disse que antes de tomar uma atitude deveria checar a verdade disso tudo, mas quando descobri que Balázios sitiava Neão, não tive duvidas que o conteúdo da carta era verdadeiro, embora isso ainda seja um assunto do Norte não há duvidas que se fosse levado ao conhecimento de todos uma quebra nos quatro poderes seria inevitável. Não desejo isso no momento, logo Fernando me orientou a procura-lo Príncipe.

Felipe tinha olhos cansados e uma face tensa, “Conselheiro curioso, percebe-se, e você Majestade não me parece nada bem... Mas no fim posso compartilhar das suas intenções, não seria ruim ganhar tempo em uma situação assim...”

— Me diga Majestade o que necessariamente você deseja que eu faça?

— Preciso de ajuda para essa reunião gama Príncipe, preciso que o fim da escravidão entre os quatro poderes seja aceito!

Não demorou mais de uma minuto depois do choque para entender o plano, era obvio que para construir um frota daquele tamanho Vale Profundo seria perfeito além de ser o local mais distante de Balázios servia ainda para despachar e receber escravos, “A mão de obra usada para construção dos goluns...”, de modo que ao proibir este comercio estariam limitando os movimentos de Balázios, olhou mais uma vez a carta em suas mãos repassando as informações “É perfeito embora ainda falte algo...”

— Quanto a Neão como pretende proceder? Mesmo a Cidade sendo extremamente fortificada não seria sensato não intervir, afinal se a capital de Divisar cair Torrente praticamente estará nas mãos de Balázios.

— E isso nos leva ao segundo tema da reunião, a intervenção ou não sobre a guerra entre Divisar e Balázios com a mais recente noticia do sitio de Balázios a Neão.

“Definitivamente esse conselheiro é problemático...”.

Não tinha duvidas que o plano vinha de lá, era fato que aquilo levaria a uma discussão sem sentido, no fim acabariam sem fazer nada “Pelo menos não de forma direta..”, uma vez que todos ali soubessem o que estava acontecendo não havia duvidas que alguns exércitos apareceriam para ajudar Neão sendo eles do Norte ou não.

— Entendo, é uma solução brilhante Majestade – vestiu-se de seu sorriso – Pode ficar tranquilo terá o apoio de que precisa – Felipe o olhou seriamente enquanto seguia em sua direção.

— Imagino que deva agradecer então... Em todo caso é certo que estarei ansioso pra o desfecho disso tudo – estendeu a mão para pegar a carta – Estarei contando com você Príncipe e mais uma vez obrigado pela ajuda, não há duvidas que fazemos o melhor para Orbe – concluiu ao fazer uma reverencia e seguir para entrada do castelo.

Mais uma vez estava sozinho no jardim tudo ainda estava bem silencioso, embora o sol já tivesse saído por completo “ E se tornado um pouco forte também...” levou a mão ao rosto como se tentasse lavar o sorriso.

“Como agir?"

Não tinha duvidas que os Quatro Poderes como eram conhecidos teriam uma drástica mudança o que restava era saber o quanto isso iria afetar Orbe em geral.

Enquanto se dirigia para a porta  viu um homem se ocultando em um canto escuro do jardim.

— Alguma novidade com nossos amigos Mester, Sr. Alferes? – perguntou enquanto mudava a direção – Percebe-se que algo deve ter acontecido ontem a noite para você está aqui tão cedo....

— E o Senhor não faz ideia... – Alferes disse com um sotaque áspero.

— Se era seu desejo ter minha curiosidade você conseguiu. Agora por que não conta logo tudo de uma vez.

— Como desejar Alteza...

“Parece que terei um dia bem cheio afinal...”.

3

“Acho que aqui já esta bom”, pensou enquanto jogava a bolsa no chão e sentava-se em uma pedra próxima ao rio, teria de atravessa-lo, “Mas com uma correnteza dessas, não tem a menor possibilidade... Talvez fique mais fácil mais em baixo”.

Olhou o céu azul sem nenhum sinal de nuvens, gostava daquele céu, era sincero e tenro bem diferente da sua vida ultimamente.

Desde que deixara a cidade pelo portão da virada na noite anterior não parará, deslocara-se para a floresta e assim continuará a andar durante toda a noite até aquela parte da manhã.

Aproximou-se do rio para lavar o rosto, a água estava gelada tomou um pouco para relaxar enquanto jogava os braços para trás como apoio ao se sentar de frente para a correnteza.

“Devia ter matado todos eles...”.

A lembrança ainda estava forte na sua mente... Depois que tinha se dado conta que estava sendo seguido ficou extremamente preocupado pelo menos até descobrir que não era quem pensava, pois se fossem teriam o fechado na loja de Mamona e não continuado o seguindo na surdina.

“Ainda assim, não foi um resultado feliz afinal isso acabou com meus planos... Devia ter matado eles!”.

Sabia que Octavius, não mandaria segui-lo, “Não depois de descobrir quem eu era”, logo a única possibilidade seria Rober, “Maldito nobre se ao menos tivesse perguntado a Octavius nada disso teria acontecido... Mas que Umbral! Devia ter matado todos!!”.

O nobre iria investigar não tinha duvidas, mas não se preocupava com isso “Ele  não vai descobrir muito mesmo, até por que os necromantes ainda não conseguiram fazer cadáveres falarem...”.

Havia matado Octavius quando voltou com veneno e vinho e assim se assegurado de que ele não dissesse nada a Rober e ainda complicado muito a vida do Nobre, “Uma pequena vingança” suspirou, em todo o caso o maior motivo da morte de Octavius era impedir que contasse a Eles o suficiente para que qualquer chance de uma fuga fosse em vão.

Olhou a paisagem a sua frente com uma expressão assustada, "Ainda assim Eles já tem uma pista de onde me encontrar... Mas que Umbral eu realmente devia ter matado todos!!”, embora não pudesse ter matado Rober poderia ter matado o restante, “Mas não iria significar muito já que não teria tempo de matar Mamona também...”.

Fechou os olhos um momento tentando se acalmar, “Obrigada... Você salvou meu irmão e a todos nós, muito abrigada Rafael!”, lembrava-se dos olhos lacrimejados dela enquanto o abraçava com força.

Até aquele momento, não tinha se dado conta do quanto sentia falta de ser abraçado, “Nobres não deveriam ser assim, Mesters não deveriam ser assim... Sempre vorazes, isso não é lema de quem costuma se importar com os outros”.

Olhando o passado não poderia ter os matado, não depois de conhecer Alice, não depois de escutar a historia dela.

“Maldita seja minha fraqueza, por sua culpa agora corro o risco de morrer... Ainda assim...”, tirou os cabelos do rosto levando os para traz, “Não haverá misericórdia numa próxima vez...”.

Pegou o colar do pescoço, um cristal azul escuro com o entalhe de uma meia lua atravessada por uma longa espada embora faltasse uma parte a joia era linda, levou o objeto a frente de seus olhos enquanto o via balançar de um lado ao outro.

“Não importa como, eu terei minha vingança, juro pelo meu sangue, juro pela minha alma e acima de tudo juro pelo meu ódio. Eu terei minha vingança!!”.

Depois de mais alguns minutos levantou-se batendo a poeira do corpo e de modo cauteloso apanhou um pouco de água num odre, já estava de partida quando viu uma pessoa lutando desesperadamente para se manter na superfície enquanto era levada pela correnteza, antes que pudesse pensar em alguma coisa tirou as botas, camisa e lançou-se na água e a correnteza se responsabilizou por levá-lo.

As pedras no rio atrapalhavam qualquer avanço que pudesse ter, o trabalho de evita-las era desgastante exigindo que ficasse submerso mais tempo do que gostaria embora isso não fosse nenhum problema, podia, não ser forte nem muito vigoroso, mas era um excelente nadador, “Um ano e meio no mar... Não poderia ser diferente!”  

O choque com uma pedra quase tomou todo seu folego, mas ainda encontrou algum para emergir a procura de mais, já não estava tão longe só alguns corpos de distancia e poderia alcança-lo, "E ai é que terei trabalho de verdade...” .

Desespero acompanhado de movimentos loucos numa tentativa fraca de se manter com a cabeça para fora da água. Não entendia como aquela pessoa ainda, não tinha se afogado embora julgasse que não iria demorar muito para isso acontecer e depois que o viu acertar uma pedra...

“Minha vantagem! Agora consigo...”.

As mãos agarraram o cabelo puxando de volta para fora da água, enquanto usava a pedra como apoio, a pessoa era pesada e pelo que constatou não muito mais velha que ele, “Um menino, é um menino...”.

Olhou para margem enquanto lutava para manter o menino fora d´água e preservar sua posição, “Isso será difícil sem falar que extremamente doloroso”, concluiu ao olhar as varias pedras que seguiam aleatoriamente rumo a margem, “Terei muita sorte se não quebrar nada... Mas não há outro jeito”.

Usou toda sua força para se lançar seguindo para margem, a primeira pedra que o acertou quase o fez perder a consciência, “Fique firme... Firme”.

A segunda lhe acerto no lado esquerdo do corpo levando o a perceber que se aquilo não acabasse rápido com certeza iria morrer... A terceira tinha calculado melhor e veio de raspão, mas fez suas costas arderem fortemente. A quarta acertou o menino e deu graças a isso, “Mais essa não sei se aguentaria...”.

A quinta foi nas coxas, mas ai já conseguia sentir os pés na areia...

Jogou o menino na terra molhada enquanto sentia sua respiração, “Merda isso não é bom...Um... Dois... Três...”,  levou sua boca de encontro a do garoto numa tentativa de lhe devolver o folego, “Um.. Dois... Três...”, pensava enquanto pressionava o peito do menino com as mãos num processo mais intenso, “Mas que umbral!! Respira logo!! Um... Dois...”.

A tosse o fez relaxar, “Não está morto!”, caiu para o lado de costas ao chão o que lhe causou uma ardência terrível, os braços abertos e os olhos presos no céu, “Mas que merda eu estava pensando...”.

Olhou o menino que ainda tossia, “Eu realmente podia ter morrido...”, quando levou a mão ao pescoço o pânico fora inevitável, “Onde está onde!?” olhou  para o rio com os olhos assustados, “Não... posso ter deixado junto com a camisa, melh...”

O Garoto o fitava intensamente com grandes olhos castanhos, era mais jovem não tinha duvida mesmo que os traços grossos e a altura demonstrassem o contrario.

“É bem alto, e esse cabelo?!” estava em um péssimo estado e de péssimo estado entendia bem, desgrenhado e longo a cor um cinza claro, “Um selvagem... Mas o que faz tão longe assim, e em um rio?!”.

— Você de onde vem? – o menino manteve-se em silêncio o olhando atentamente, “Isso realmente tá ficando chato...” – Você me entende? – mais uma vez o garoto manteve-se em silencio embora demonstrasse que queria dizer alguma coisa, mas não sabia como.

— ...Correr... fugir?! – o menino olhou como se buscasse uma orientação.

Suspirou enquanto juntava as peças daquele quebra cabeça, “Pelo menos conhece algumas palavras”, o olhou seriamente “Fugindo... Bem isso é realmente muito estranho”.

Se Pélago era o extremo sul de Orbe as Ilhas de Skrathos eram o extremo norte alem do lar dos Derekths um povo que mantinha sua individualidade do restante de Orbe em um ambiente ainda mais frio que Balázios ou qualquer Reino do Norte, eram imensos e extremamente fortes “Imagino que tenha a haver com sua adoração a Khan...”.

Em todo caso eram hostis e viviam principalmente de saques e incursões embora se pudesse negociar em algumas situações com eles na maioria das vezes o contato era pouco e se considerasse o mar gelado e temperamental que cercava as Ilhas de Skrathos, “Bem como a distancia até aqui... Com certeza encontrar uma criança Derekth é muito estranho”.

— Tem nome? – Perguntou da forma mais simples que pode.

— No... me... nome, Khouyntsh – concluiu em sua língua .

Não tinha certeza daquela pronuncia, “Nem sob tortura eu iria conseguir repetir isso... O que eu faço com você ” terminou olhando e garoto sentado na areia “Podia vender para alguns mercadores de escravos, assim compensava o terrível estado em que me enfiei para salvar você, onde é que eu estava com a cabeça...”.

— Po... por... por... que, por que? – perguntou com sua voz rouca.

“Curioso ele sabe perguntar”, começou a gargalhar e não demorou muito para perceber que era má ideia conforme seu corpo constatou.

—  Por que você pergunta? Bem vai saber... De qualquer jeito tenha uma boa viagem, se me dá licença eu já vou.

Não esperou o menino lhe responder até por que não imaginava que tivesse entendido levantou-se do jeito que julgou que iria sentir menos dor, levou a mão ao redor do pescoço e fez uma rápida analise de seu estado, “Eu realmente não imaginava que conseguisse piorar minha situação, mas parece que eu me surpreendi novamente” deu um sorriso triste enquanto começava a seguir o caminho até suas coisas.

— O que você esta fazendo? – perguntou ao garoto que o seguia.

— ir... você – pareceu orgulhoso da ultima palavra mas ainda demonstrava muita confusão.

— Não, você vai por ali – apontou para a direção contraria – E eu por aqui – concluiu tocando em si e indicando ao caminho que seguiria, o menino não demonstrou muito bem que entendia o que lhe fora dito e se entendeu fez questão de ignorar, pois continuou o seguindo.

“Me de paciência, talvez realmente eu deva vender você a mercadores de escravos, como pode ser tão burro...”.

— Olha eu não tenho tempo para bancar a ama, me ouviu? Você vai por ali e eu por aqui – disse seriamente, o menino por sua vez esboçou uma expressão seria e depois de olhar o caminho indicado voltou novamente a segui-lo.

“Só pode ser brincadeira, quem é que ia parar de fazer caridade mesmo?”.

Decidiu ignorar o Derekth até chegar nas suas coisas, no momento estava sentido muita dor e não tinha a pretensão de somar o estresse nisso, embora acreditasse que, não iria conseguir isso.

“Mal sinal, mal sinal...”, observou ao ver os três homens saírem da floresta, não muito longe de onde tinha deixado suas coisas.

— Não disse que ele voltava – falou o líder.

— Segundo Alferes é aquele ali – disse o mais novo apontando para o menino mais velho.

— Mas que trabalho, porra garoto você sabe o quanto fez agente andar? – perguntou o mais velho dos três.

— Ai e o outro menino? – Continuou o mais novo.

— É um selvagem ao que parece... – deixou a frase morrer ao ver os olhos de fúria do menino diante àquela palavra.

“Droga não é possível que Eles  já me encontraram...”.

Olhou os atentamente sem duvida eram de Pélago a pele morena os olhos levemente puxados a estatura mediana e as espadas mercenárias pressas ao cinto de couro, mas até onde via não estavam marcados, “Mas ainda sim podem estar a serviço deles, e afinal quem é esse Alferes!?”

— Garoto faça o favor de vir com a gente se não fizer nenhuma gracinha você não se machuca – disse o líder.

“Não, vocês não trabalham para Eles do contrario, não se preocupariam em, não me machucar... Então foram enviados pelo Mester?!... isso também não faz sentido, não tinha como ele saber por qual portão eu sai, além do mais não me lembro de nenhum Alferes”.

— Sabe senhores, não costumo seguir pessoas que não conheço, costuma resultar sempre em um monte de problemas – concluiu com um sorriso sínico.

— Olha se o menino não tem senso de humor, mas ao meu ver você não parece estar se saindo bem em se mante longe de problemas de todo jeito – fitou o corpo do garoto cheio de hematomas e cicatrizes – Além do mais eu insisto – concluiu tocando o cabo da espada.

— E quanto ao outro? – Perguntou o homem do meio.

— Só recebemos ordens de ir atrás desse ai... façam o que quiser – continuou o líder.

“É realmente uma merda, com esse corpo não vou longe”.

Parou os olhos alguns segundos no rio, “Isso é suicídio. Maldito selvagem se tivesse te deixado morrer poderia ter saído ileso disso...”, concluiu olhando o garoto ao seu lado, era da sua altura, embora muito mais musculoso, tinha os olhos de uma fúria que por um momento o fez esquecer o que se passava.

“Provavelmente lembrando-se dos seus antigos donos”.

Olhando novamente para os homens viu os aproximarem lentamente sem se preocuparem em sacar suas armas e pela força do habito buscou a faca no cinto, “Merda ficou com minhas coi... Mas Que UMBRAL!!” a raiva transbordou em si depois de perceber que suas coisas estavam todas remexidas.

“UMBRAL!!!... UMBRAL!!!.... Parece que não terá outro jeito...”.

—  Bem, como... – Foi o que pode dizer antes do selvagem segurar seu braço com violência e o puxar para trás e então sair correndo na direção dos homens que riam da cena, “Mas que merda você está fazendo?” pensou enquanto aproveitava a distração para correr para a floresta.

Não era nenhum tolo em supor que o selvagem se daria bem naquilo e nem por acreditar em que como estava iria longe, “Talvez tenha sorte e encontre algum lugar para me esconder”.

Embora também não acreditasse naquilo ao que parecia sorte era algo que não tinha e que ficou bem evidente quando se deparou de frente com uma enorme parede de pedras.

“Só pode ser brincadeira...”.   

— Parece que você não tem sorte garoto... – disse o líder as suas costas.

 “Mas isso eu já sabia... Essa ai é mais uma das que me odeia...”.

— Você não pode me culpar por tentar não é mesmo? – falou ao se virar, “Só um?”, concluiu ao ver o homem que julgo ser o líder – Me diga uma coisa, o que o tio Alferes falou para vocês se dedicarem tanto para me seguir?

O homem pareceu confuso diante aquilo o que o fez hesitar um instante enquanto o avaliava novamente.

— Alferes nunca falou nada sobre sobrinhos Balaziános...

— Ele sempre foi a ovelha desgarrada da família – observou com um ar natural – Posso facilitar para você, mas para isso que acha de começar devolvendo minhas coisas? – disse enquanto abaixava para pegar um pouco de terra com as mãos.

— Suas coisas é? – perguntou com malicia – Não me lembro de ver seu nome nelas...

“Então está com você!”.

— É realmente uma pena, mas garanto que são importantes – disse enquanto se aproximava – Inclusive fazem parte de uma das razões de vocês estarem atrás de mim – parou próximo do homem enquanto esticava os braços com os punhos fechados oferecendo as mãos para serem amarradas – Seria um problema se eu o encontrasse sem o colar – concluiu com um ar inocente  enquanto fitava a corda no cinto do homem – Poderia me devolver ?

O Homem o olhou seriamente depois voltou o olhar para a bolsa a duvida estava estampada em sua cara, observando a situação com mais calma ficara evidente que estes homens tinham alguma relação com o tal Alferes embora não tão próxima se é que podia chamar uma relação desse tipo de próxima, além do mais sabia também que o tal Alferes muito provavelmente era outro Pélgano, “O que eu não sei é como esse Alferes entra na historia”.

— Olha garoto não sei qual era sua relação com Alferes – disse apanhando a corda – E nem com os Mester e na verdade isso não me importa – continuou enquanto dava a primeira volta nos braços do menino – O que sei é que... QUE PORRA VOCÊ PENSA QUE TA FAZENDO SEU MERDA!! – Berrou o homem depois de ter areia atirada em seus olhos.

 Não perdeu tempo em se afastar do homem que em pouco segundos sacara a arma, “No fim o tal Alferes estava seguindo os Mesters e não a mim, imagino que deve ter presenciado o meu teatrinho na outra noite e mandado esses ai me rastrear enquanto cuidava de informar o seu empregador”, olhou o homem tentando desesperadamente limpar os olhos, “Merda preciso pegar meu colar”.

Sabia onde estava vira o homem fitando a bolsa depois de sugerir que lhe devolvesse o objeto, “O problema é como me aproximar...”, o homem ainda bradava enquanto balançava a espada de um lado ao outro e tentava limpar os olhos, aproximou-se o mais furtivo que pode não estava muito longe da bolça quando a puxou e recebeu o corte na costela.

— Gostaria que você não me tentasse a te matar seu filho da puta!!! – disse enquanto abria um pouco mais os olhos vermelhos e lacrimejados – É melhor não esperar bondade  – concluiu furiosamente.     

O sangue escorria molhando toda a parte esquerda de seu corpo, pelo ferimento teria graves problemas, “Que Umbral, mais essa agora estou acabado!!”.

O homem já conseguia ver mais ou menos e avançava cautelosamente em sua direção, e para piorar atrás de si estava o paredão que somado com o ferimento e seu estado natural o haviam condenado. 

Arrastava a si pelo chão numa auto relutância de se entregar, o homem andava mais calmamente conforme sua visão voltava, o olhou depois de chegar a parede de pedras, “Posso tentar escalar...” pensou de forma deprimida enquanto voltava para frente do homem, os olhos dele pareciam arder em fogo fazendo a expressão mais ameaçadora do que era, mas isso não teve qualquer efeito em si, a imagem que surgiu atrás do homem era bem mais assustadora.

Um menino coberto por sangue arrastando um pedaço de toco que jamais imaginou que alguém em idade igual fosse capaz de usar, o homem percebeu que algo estava errado e ao se virar montou guarda, o selvagem avançou correndo.

“Como consegue correr tanto usando aquele pau como arma...”.

O homem passou a espada alguns centímetros do rosto do garoto, mas devido a ardência nos olhos acabou errando, o selvagem golpeou os ligamentos dos joelho o que fez um ‘Crack’, o homem caiu, mas conseguiu se apoiar com uma mão enquanto urrou de dor e então o selvagem o acertou com toda a força na cabeça, os dentes voaram longe enquanto uma massa cinzenta saia do crânio e caia no chão, e então novamente o selvagem o golpeou e depois de novo e de novo e de novo a medida que todo o seu corpo era pintado de vermelho e pedaços cinzentos.

— HAAAAAAAR!!!..... HAAAAAR!!.... – berrou o menino da forma mais monstruosa que conseguiu.

“Um monstro... é um monstro”, o medo tomara conta de si, o selvagem ainda segurava o pau quando o encarou, “Ele vai me matar...”, tinha perdido a voz a dor desaparecera, o ferimento já não o incomodava mais, a única coisa que realmente percebia era o lento caminhar do selvagem coberto de sangue em sua direção enquanto arrastava o pau pelo chão deixando um rastro vermelho para trás, “Parece que não conseguir ir muito longe....”.

— Bem?... – perguntou o garoto com a voz rouca ao olhar o ferimento em sua costela.    

“Bem?!” esboçou uma expressão incrédula diante a cena “BEM?!”.

— Bem! – começou a gargalhar como um louco ignorando toda a dor que sentia.

“Ele não vai me matar, hahahahaha”  olhou o selvagem que esboçava uma expressão de duvida... “No fim você pode ser bem útil!!” estendeu a mão para o garoto que depois de o olhar alguns segundos entendeu o que era esperado de si, depois que estava de pé olhou o com mais atenção, “Parece que terei muito trabalho”, concluiu  para então voltar a olhar para seu ferimento, “Mas por hora preciso primeiro sobreviver a isso”.

O selvagem ainda estava parado do seu lado o observando com curiosidade, “E antes que me esqueça melhor pegar meu colar de volta.”.

4

— É ali – Apontou para o ultimo lugar que deveria leva-los – Foi aquela casa dos sonhos meu senhores – Concluiu apreensivamente.

— Você já não é mais necessário, pode voltar e não se esqueça de não deixar ninguém se aproximar e também prepare tudo para partir assim que voltarmos – Rober disse num ar de urgência.

— Pode contar conosco seremos discretos... – concluiu o mercenário pelo nobre.

— Ótimo.

— Precisava de tudo isso Rober? – Alek perguntou ao primo.

Ainda estava tento dificuldades a aceitar tudo aquilo, a imagem de Rober arrebentando a porta da sala de Octavius enquanto derrubava toda a refeição no chão fora insana demais, “Mas se compararmos com a historia que veio a seguir, nem tanto”.

— Certamente. Você entende que com Ocatvius morto estamos com a forca  no pescoço?

É claro – "Embora o fato de termos amarrado todos os criados e cercado a casa com mercenários também agrave a situação, não é pior do que matar um nobre" – Em todo caso acha mesmo prudente andarmos por ai investigando? – perguntou ao olhar a frente do estabelecimento sem janelas e coberto de plantas.

— Sim... – Rober pensou um momento – Esse menino armou tudo por um motivo e preciso saber qual – suspirou – Tenho a impressão que isso é muito importante – contemplou o local com todas as plantas em volta – Quanto a Octavius e o restante, imagino que tenhamos até a reunião gama antes das coisas explodirem e puderem ligar tudo a nós, mas ai já estaremos a caminho de Balázios e nada disso poderá mais nos atingir.

— Espero que tenha razão Rober por que se não estamos acabados. Nem meu pai e nem mesmo Atur poderão nos livrar ainda mais se considerar o que vai acontecer!

— Não se preocupe tanto Alek, vai ocorrer tudo como o planejado – Rober olhou a porta da loja – Mas agora precisamos descobrir quem era aquele menino...

— Bem não vou negar que também estou curioso – olhou a porta... “Loja de ervas Mamona” – Será que encontramos as respostas ai?

— Se não alguma luz pelo menos – Rober disse olhando a casa dos sonhos.  

Velas aromáticas queimavam no local dentro de garrafas de vidro abertas em suas extremidades, davam um certo clima ao ambiente enquanto impediam o mesmo de ficar totalmente escuro.

A velha não demorou a aparecer depois do sino na porta tinir, observou curiosamente enquanto a anciã atravessava a cortina de conchas que separava a loja do restante do ambiente.

— Posso ajuda os senhorzinhos em que? – perguntou enquanto abria um sorriso de poucos dentes.

— Uma pergunta – disse Rober seriamente – Algum garoto Baláziano passou por aqui ontem?

A velha abriu uma expressão seria enquanto olhava profundamente nos olhos de Rober.

“Não gosto dessa velha”.

Não sabia ao certo, mas desde que entrara na loja seu braço doera mais intensamente, vinha se recuperando de forma rápida embora a ferida doesse constantemente não era nada insuportável, o braço fora enfaixado e entalado, mais parecia um enfeite em seu corpo do que propriamente um membro, não iria demorar a sarar embora fosse fato que nunca mais iria manejar uma espada com ele como já manejara.

“Isso se conseguir manejar uma espada...” Essa parte ainda não estava clara, mas a possibilidade de isso acontecer não era algo a ser desprezado.

— Curioso... por que se me pergunta algo que se já tem resposta? – abriu um sorriso sinistro – Por que se nun pergunta logo o que se veio perguntar.... Por que se nun pergunta quem é o menino?

Alek sentiu um frio percorrer a espinha – Então você sabe quem era aquele menino? Estava envolvida? – perguntou antes que o primo tivesse a chance, a velha olhou para si como se tivesse acabado de perceber sua presença e depois de alguns segundos o encarando com seus olhos levemente puxados voltou-se para Rober.

— Então foi pur isso que se me pergunto se ele tinha passado aqui? – gargalhou de uma forma patética – Não – disse ao olhar Alek – Eu não estava envolvida em se já lá o que ele fez. E sim eu o conheço ainda que nun tenha reconhecido ele dá primeira vez.

— Da primeira vez? – Alek perguntou confuso, ao seu lado Rober demonstrava certa impaciência – Explique-se!

— .... – expirou levemente enquanto pensava na melhor maneira de conduzir as coisas – Sim da primeira vez que ele veio junto com uma nobrezinha, o que me faz pensar se ela tá bém ...

— O QUE VOCÊ DISSE BRUXA?! – Alek seguiu com fúria enquanto segurava o pescoço da velha.

— Solte a! – soou a voz de Rober atrás de si – Desse modo ela não conseguira continuar

“Mas que inferno!”.

Virou-se para o primo enquanto mantinha a mão no pescoço da velha, os olhos de Rober estavam gélidos e sua aparência assustadora aquilo o chocou profundamente de modo que nem percebeu quando tirou a mão do pescoço da anciã e voltou para seu antigo lugar.

— Explique-se! – bradou Rober – Pode começar com os motivos que o trouxeram até você.

— Fl... – Parou para tossir e levar a mão ao pescoço numa tentativa de aliviar a dor – Fror da lua – disse com a voz débil – Foi o que eles vieram buscar da primeira vez...

O silencio governou o local por alguns minutos, “Flor da Lua... Isso explica algumas coisas no fim...”, Alek pensou a se lembrar das paradas ao decorrer do caminho e as mudanças repentinas de humor de Alice.

— Prossiga – continuou Rober – E da segunda vez o que ele queria?

— Essa pergunta se também já sabe resposta... – respirou fundo diante o olhar fulminante de Rober – Erva de Turtigueira – calou-se enquanto observava a expressão assustada dos nobres .

— E você vendeu? – perguntou só para ver a mesma expressão da velha quando o informava que ele já sabia a resposta. 

— Bem eu nun vendo essa erva pra qualquer um... Efeitos específicos demais, e bem são poucos os lugares em que se acha isso, então nun perdi tempo em negar, mas ai é que tá... – ficou visivelmente desconfortável, não gostava de lembrar aquela sensação – Não posso dize não pra um marcado.

Ficou zonzo diante a revelação da velha, olhou para o lado onde viu Rober estático tão branco quanto quando o encontrou no quarto de Alice logo depois dele ter arrebentado a porta de Octavius e destruído a refeição que era servida no chão.

— Mas vendo que seis tão aqui me perguntando essas coisa – respirou aflitivamente – Percebo que a posição dele não era a que supus, parece que um destino pior que a morte segue aquele menino, Tetros nunca deixa um escravo seu fugir.... Já disse tudo que seis queria saber e tudo que eu sabia, o que acontece agora?

Alek olhou o primo frio enfrente a velha “Não o impediria se decidisse mata-la”.

— Nós vamos embora e você esquece sobre essa conversa! – disse Rober por fim agressivamente

— Nada me faria mais feliz senhorzinho – Mamona falou com uma expressão impassível.

— Isso faz sentido, isso faz todo sentido – Rober disse ao tomarem a rua.

— Então Rober o que pretende fazer agora? Digo está mais do que claro o motivo de Octavius não nos contar tudo.

— Na verdade – olhou para Alek com os olhos cansados – Nem tanto, veja nós encontramos o menino no meio da estrada embora tudo contribua para nos levar a crer que foi um golpe planejado desde o começo não penso assim. Eu conversei com ele e o que eu vi foi apenas ódio... Além do mais – expressou-se tristemente – Ele poderia ter matado todos vocês com exceção de mim, então por que não o fez?

—  Como eu disse tudo muito confuso. Então o que fazemos. Rastreá-lo? – Alek indagou com frieza.

— É impossível da praça central ele poderia ter saído por qualquer portão o que posso fazer com relação a este assunto é conversar com Alice ela pode saber de alguma coisa, foi a que passou mais tempo com ele.

— Então um beco sem saída... Só espero que a reunião gama não termine assim também.

— Sim...  Por falar nela melhor nos apressarmos, pelas minhas contas já esta para começar.

Olhou o Primo com um olhar cúmplice – É bom Rober que possamos sair dessa situação sem mais nenhuma desagradável supressa.

5

Aleyah corria pelo grande jardim maravilhada com aquele mundo que acabava de descobrir “Em pensar que estava tão enjoada ontem... Crianças tem mesmo muita energia”

— Isto é incrível não acha? – perguntou Calebe enquanto olhava o jardim.

— Sim é incrível! – lembrava-se da primeira vez que desembarcou no porto da Cidade de Capital, as construções, vestimentas, fala lhe mostravam um mundo do qual sempre ouvira historias, mas nunca pudera conhecer.

“Até este dia”.

Pélago fora colonizada por fugitivos de uma terra distante e uma vez que só se era possível chegar até lá por mar permaneceu afastada do restante de Orbe por muito tempo.

“Mas no fim nos integramos”.

Embora o processo, não tenha sido fácil, os registros contam que a cultura diferente assim como o idioma foram os responsáveis por grande parte dos conflitos que tiveram contra o restante dos reinos, mas no fim casamentos foram feitos e tratados assinados.

“E o idioma Pélga pouco a pouco deixado de lado”, embora ainda fosse usado, “Com certeza, não como já foi”.

Uma vez que o anonimato serviu para o reino se consolidar nas décadas que seguiram sua descoberta também acabou por o estagnar já que os recursos em Pélago eram escassos.

“De modo que a única maneira seria comercializar com o restante de Orbe”.

Suspirou, repassar historia, não era algo que fazia com frequência alias estava se questionando o por que de estar fazendo isso naquele momento. 

— Isso é muito Mixir. (Bom/gentil/legal)... – Aleyah disse com o sotaque áspero do qual não podiam se livrar.              

— Mixir (Bom / gentil / legal)? Acho que Lindo ou belo Haixir (Bonito / Belo / Lindo) se preferir – sugeriu Miriam.

— Sim entendo, Haixir (Bonito / Belo / Lindo) serve. – respondeu Aleyah.                  

Jardim do Paraíso era como chamavam o local e Miriam tinha certeza que o era o mais belo que já tinha visto, espelhos d’água tomavam o chão refletindo os canteiros suspensos por todo o ambiente e ainda haviam animas tão coloridos e bonitos como um arco-íris

— E Papai quando vira nos encontrar? – perguntou Aleyah.

— Bem... Ele disse para nós o encontrarmos no Ikhizar (Navio) ao que parece a reunião seria longa – Miriam respondeu gentilmente a menina.

— Esperar no barco... Como se já não basta-se a viagem nele... – Murmurou Calebe.

— Sei que você esta entediado, mas tente ser razoável... – Consolou o filho.

— Dhi (Não) – Protestou Aleyah sobre a volta ao Barco – Não!

Aleyah era uma menina cheia de energia filha da primeira esposa de Mariel, pessoalmente, não tinha nada contra a menina.

“Embora com a mãe seja uma historia diferente...”.

Asha era uma mulher bela e não avia duvidas que a favorita de Mariel, “Se ela lhe tivesse dado um filho, tenho certeza que Mariel a coroaria rainha...”, entretanto os deuses haviam sido bons e Calebe fora presente seu.

“Sim o primogênito, aquele que ira herdar Pélago saiu de meu ventre”  reforçou orgulhosamente o pensamento.

— Miriam – Chamou Aleyah – Miriam Tenho fome!!

Suspirou ao olhar a menina,  quatro anos mais nova que Calebe  tinha os cabelos vermelhos sangue e olhos de mel da mãe embora o rosto fosse mais oblíquo como o de Mariel.

“Uma desenvoltura boa e um bom gosto para a moda Pélgana”.

Observou a vestimenta, embora fosse ela a vestir e menina, não poderia reivindicar o direito da escolha da mantra que a pequenina usava, “O tecido branco realça sua pureza”.

A roupa consistia em um vestido de tecido leve bem a cinturado ao corpo tendo duas camadas, a primeira chegava aos tornozelos e cobria a segunda de cor mais escura e rendada que por sua vez terminava ao chegar aos pés, o vestido tinha em sua cobertura algo próximo ao tabardo usado por soldados, começava com uma gola aberta seguia para um decote “Que no caso de Aleyah, não tem nenhuma função” para terminar na primeira parte do vestido.

O vestido de Aleyah era estampado por flores azuis claras e tinha um pouco mais de um palmo de largura, o conjunto era concluído pelo thuna um lenço que servia par envolver os ombros e braços expostos, “Definitivamente nada comum na parte de Orbe em que estamos” concluiu enquanto sentia os vários olhares de espectadores curiosos em si.

— Para isso teremos de voltar para o barco – Miriam lembrou a menina – A comida esta toda lá!

— Não! – falou ao inchar as bochechas e assumir uma tez seria.

“Muito mimada para seus nove anos”.

— Mas não temos outra solução, além do mais seria melhor prepararmos logo nossa partida, seu pai não iria gostar que as coisas ficassem para ultima hora, Dhi-fark hien zi tez-fark (Não se faz amanhã o que se faz hoje) – conluio em Pelga.                                                 

— Dhi-fark hien zi tez-fark (Não se faz amanhã o que se faz hoje) – repetiu Aleyah – Eu entendi, mas não quero ir.  

— Minha mãe está certa, não quer ver nosso pai bravo não é? – Calebe questionou de modo amável.

— Não! Seja como diz, Anrian (Aquele que vem em primeiro na família) – terminou entregando a mão ao irmão.                        .

— Para o barco então – sorriu ao se deslocar com os dois.

Enquanto seguia olhou com mais atenção o jardim, “É realmente belo, imagino quanto tempo levara para ver algo assim de novo... Provavelmente muitos anos”

Pensou com ar de tristeza.

6

A ultima vez que uma reunião Gama foi convocada havia sido no ano da Grande Seca e isso já fazia dez anos.

Felipe olhou a mesa contemplando o trabalho feito, tivera todo o cuidado para não faltar nenhuma iguaria de qualquer um dos reinos presentes à reunião.

— Então Majestade... – Marcos Exporiam começou – Imagino que todos os presentes já devem estar impacientes com o motivo para uma Reunião Gama assim do nada. Percebe-se que já é o momento para você nos dizer o porquê de tudo isso.
    “Marcos Exporiam” olhou o homem sentado ao seu lado esquerdo, trajava um roupão opulento e fino de seda nos padrões de Maestria com uma coroa simples na cabeça.

Encontrará poucas vezes com o Rei de Maestria, mas em todas as ocasiões sempre sério e formal, Fernando dizia que o homem nem sempre fora assim, que antes da morte do pai costumava ser diferente, “Bem isso não me importa, afinal não é algo que eu necessariamente possa usar a meu favor”.

Felipe levou a mão ao vinho e enchendo a taça tomou um gole, precisava de coragem para começar aquilo e o álcool costuma deixar as pessoas corajosas para o bem ou para o mal...

— Muito bem... – Felipe disse enquanto fitava todos os homens envoltos da mesa redonda em um salão reservado do castelo, havia curiosidade e certa preocupação em seus olhares e podia imaginar que isso iria ceder lugar a surpresa e raiva com suas próximas palavras – O que proponho é a suspensão do comercio de escravos.

Do seu lado direito estava Mariel Caboz trajando uma Kura marrom e uma coroa que mais parecia uma tiara e o olhar que recebeu do The´zar de Pélago foi igual a uma tempestade no mar.

“Como esperado. Isso não vai ser fácil...”. 

Embora os olhares dos outros homens na mesa também não lhe fossem gentis estavam longe de demonstrar todo o ódio que o Monarca de Pélago tinha.

“Entretanto...”.

Observou Ariel Cabal o Xezar de Mistra com certo receio, o olhar que ele tinha era impassível e se as historias fossem verdadeiras o Nobre de Pélago poderia ser considerado muito perigoso.

— Por que agora? – A pergunta que quebrou o silencio veio de Anselmo Luzetro.

Felipe dirigiu o olhar ao Lorde de Silício, o Nobre estava impecável, vestido com suas cores o azul e o dourado sobre estampas de Lírios do vale com um, sobretudo de mangas largas e justo no corpo acompanhado de uma calça igualmente justa como ditava a moda Maestrina.

Anselmo Luzetro era um homem belo de pele parda, olhos claros e longos cabelos dourados atados numa fita azul, "E para somar a tudo isso extremamente perspicaz também".

Talvez para a maioria, não houvesse nenhum sentido em acabar com a escravidão, entretanto a ideia, não era nova já existia e inclusive fora mencionada na terceira Reunião Gama das quatro já realizadas na historia de Orbe, além do mais Maestria também, não fazia parte deste comercio por conta de Trinos e a religião da Estrela que pregava fortemente contra isso de modo que a pergunta de Anselmo era certeira por que não questionava o motivo para se acabar com a escravidão e sim o momento.

— De fato um excelente ponto Lorde Anselmo – Felipe concluiu chamando a atenção à pergunta do Lorde – Sei bem que todos vocês sabem a posição de Capital sobre o assunto assim como... – olhou Para Marcos Exporiam que se mantinha em silencio – De Maestria também, o que nos leva ao problema referente à Pélago – Felipe acenou a cabeça para o The´zar e Xezar do distante Reino e então se virou para onde estavam sentados Rober Mester e Alek Berifor – Bem como Balázios e devido a isso o assunto tem sido deixado de lado – neste momento Felipe respirou fundo ao olhar todos ainda confusos e implorou a qualquer deus que o ajudasse com o que viria a seguir – Mas com os últimos acontecimentos acredito que isso tenha se tornado de extrema importância.

— O que exatamente você quis dizer com últimos acontecimentos?

Dessa vez a pergunta veio do Lorde Richard Quena que como Lorde Anselmo vestia-se na moda Maestrina, era um dos homens mais velhos ali, pelo que se lembrava estava com trinta e sete anos alto de cabelos castanhos atados na fita como ditava o costume de todos os Maestrinos, era Senhor do Grande Vale que fazia fronteira com Divisar o primeiro Reino do Norte e por isso tinha certeza que o assunto que iria seguir teria toda a sua atenção.

— Como todos vocês sabem Atur e os Tanos de Balázios, não estão presentes e o motivo conforme me informado – Felipe olhou Rober e Alek que tinham uma expressão fria e cortante, “Parece que entenderam o que está acontecendo...” – É devido o Sitio a Neão neste momento...

— Não vejo como isso se aplica ao comercio de escravos – Disparou Alek Berifor com uma raiva visível.

— Permita que eu te lembre Senhorio Berifor como as Reuniões Gama são realizadas – Felipe fulminou Alek antes de continuar num tom grave – Você está aqui para representar os interesses da nobreza de seu reino com sugestões – Neste momento levantou-se apoiando as mãos na mesa – E jamais para questionar, impor ou INTERROMPER UM REI! – sentou-se novamente enquanto dirigia um olhar mortal para o nobre – Sugiro que entenda seu lugar, caso contrario farei você entender!

— Percebe-se que estamos com os ânimos um pouco elevados, ainda assim por que, não continua o relato que estava contando Rei Felipe – Marcos Exporiam manteve uma expressão seria enquanto fitava Rober e Alek ao falar com Felipe.

— Que seja... – Felipe assentiu desistindo da raiva e retomando o relato – Durante o baile Bor Rober me confidenciou o motivo da ausência de Atur e dos Tanos Rickon e Manuelk e como já dito envolve o cerco a cidade de Neão o que por si só é uma violação do cessar contra os reinos menores do norte e considerando a mão de obra dos goluns usados para essa incursão bem como o destino dos conquistados – levantou encarando todos os presentes – O veto à escravidão é uma maneira de frear Balázios bem como normalizar os problemas que vem sido decorrente deste comercio como a exploração de reinos menores, pirataria e a religião em sua maior parte.

Felipe ouviu uma serie de murmúrios dos presentes, uma coisa estava clara era o descontentamento com a ação de Balázios.

“O único problema...”.

Observou Mariel Caboz e Ariel Cabal com olhares distantes e pensativos.

— Isso é verdade Bor Rober? – Richard Quena perguntou com uma expressão enojada.

— Sim – Rober respondeu como todo bom Baláziano fazendo o uso do gelo em suas palavras – Cada Palavra.

— Você não vai dizer que isto e por culpa de Cidade Velha? – Richard Quena seguiu levantando a voz – Por que esta claro o que seu Rei pretende e não é vingança!

— O que Rei Atur pretende ou não eu não sei, digo apenas o que fui informado – Rober continuou no tom gelado ao seu lado sentia Alek crescer em ira.

— Entendo o que esta acontecendo e a seriedade do assunto, mas até onde eu vejo se trata de um problema com Balázios – Mariel Caboz seguiu com seu sotaque áspero – Não vejo motivo para arrastar o tema dos escravos junto.

E ali estava o furo do plano fora por esse momento que pedira ajuda ao Príncipe de Maestria só esperava que recebesse a ajuda prometida, de fato não era um tema que envolvia diretamente os escravos “A menos que eu mostre a carta...”, mas aquilo estava fora de questão seria o mesmo que começar uma guerra.

— Na verdade eu vejo sentido nisso – Anselmo começou – Se Balázios não retroceder terá que ser retirado dos Quatro Poderes e se isso se prolongar iremos precisar estar unidos e todos os Reinos Menores com exceção dos que estão no Norte, são contra o comercio de escravos essa seria uma boa maneira de unificar Orbe diante esta crise.

Os presentes meditavam calmamente nas palavras do Lorde, se fora ou não por influencia de Alexander estava feliz que Anselmo tivesse tomado seu lado fora ele ainda tinha Richard que votaria qualquer coisa para por fim aquela Reunião só para poder voltar a seu território e ainda poderia contar com os Barões Luciano Dossel e Mateus Meneai de Capital.

— De fato é muito fácil para vocês falarem isso, afinal não significa muito para vocês, mas para Pélago é de onde vem nossa maior fonte de renda com isso me pergunto quem realmente vocês estão tentando punir! – Mariel Caboz disparou ainda lutando para parar o que ele já via como inevitável.

— De fato The´zar Mariel esta certo – Mateus Meneai começou em um tom brando – E seria errado agir assim com Pélago, entretanto Lorde Anselmo tem um excelente ponto, se aceitarem a sugestão poderia se vetar o comercio de escravos com o Norte e a implementação do decreto se firmado ao decorrer de três anos – Mateus Tomou um gole de vinho – Isso daria tempo para Pélago se adaptar.

Embora fosse seu Tio Mateus Meneai um dos seis Barões de Capital, não costumava ser um homem levado pelo sangue e sim pelos lucros e o fato de apoiar o fim da escravidão tão rápido assim significava que ele já tinha visto uma forma de lucrar muito com isso, aquilo não animou em nada Felipe afinal o Tio estava mais para inimigo do que aliado e quanto mais poderoso se tornava mais problemático seria lidar com ele depois.

— Além do mais – Luciano Dossel seguiu as palavras de Mateus – Poderíamos ser flexíveis quanto a implementação dentro destes três anos de um modo que Pélago possa ser beneficiada – Luciano olhou para Felipe buscando um assentimento que não demorou a chegar – Logo o mais importante é acabarmos com o problema de Balázios de uma vez antes que as coisas fiquem realmente serias.   

— Me parece que minha opinião não vai mudar nada aqui... – Mariel concluiu em um tom ríspido que com seu sotaque soou mais ríspido ainda – Não vai dizer nada Xezar? 

— Acho essa uma boa ideia eu voto a favor do decreto – Ariel Cabal disse em tom áspero e sem vida com sua expressão impassível.

Felipe fora pego de surpresa e teria ficado extremante feliz, entretanto o que sentiu foi uma sensação de apreensão, não sabia o que tinha levado Ariel aceitar o decreto, mas tinha certeza que deforma nenhuma seria pelo que tinha sido dito ali. Sentiu medo do verdadeiro motivo.

— Ora, Ora Xezar, até você foi corrompido – Mariel seguiu com certa frieza no olhar – Se não a outro jeito tenho algumas exigências.

— Com toda a certeza imagino que você tenha – Felipe seguiu a deixa para por fim a discussão – E por isso vamos tratar de anotar todas elas para – dirigiu um olhar frio a Rober e Alek – Resolver esse problema com Balázios de uma vez...

7

A casa estava repleta de mercenários, e até onde Alferes sabia a companhia Pata do Leão não era um grupo barato.

— Um momento – começou o mercenário – Que negócios você tem aqui?

Alferes olhou o homem, alto forte e com algumas cicatrizes no rosto “De Capital mesmo” seguiu o olhar ao mercenário ao lado, não havia muita diferença do primeiro em físico apenas o fato que este era um conterrâneo de Pélago.

— Vim encontrar com Senhor Octavius – Alferes explicou com seriedade avaliando mais uma vez os mercenários – Tenho negócios com ele.

— Entendo... – O Mercenário de Capital seguiu pensando – Infelizmente o Senhor da Casa não esta com saúde no momento, tivemos um problema com nossa segurança ontem à noite e Octavius acabou se ferindo – O mercenário o olhou com um olhar desanimado – Quando melhorar tenho certeza que ira ao seu encontro.

Alferes segurou a vontade de rir “Realmente valem cada centavo!”.

Olhou novamente os mercenários com mais interesse. Sem duvida era uma boa mentira, justifica a ausência de Octavius e o armamento pesado e tirava o foco do real motivo de tudo aquilo “E para melhorar a certa verdade nesta historia”.

— Entendo – Alferes disse com lamento – Realmente será desanimador informar isso a Senhora Octavius – observou os mercenários assumido uma expressão de seriedade, já esperava por isso, afinal tinha seguido Rober Mester na outra noite e durante toda aquela manhã e com isso fazia uma ideia do que se desenrolava dentro daquela casa.

— Está certo – seguiu o mercenário de Capital – Jhoreel, vá chamar a Senhoria Alice e diga – O mercenário se virou para o homem em frente – Como disse que se chamava?

Alferes segurou o riso novamente “Agora é que pergunta meu nome?” – Eu não disse – deu um sorriso sarcástico – Meu nome e Hallex.

— Me desculpe muitos veem por nada – seguiu o mercenário com desculpas forçadas e então se virou para Jhoreel – E diga que o Senhor Hallex tem noticias de Senhora Octavius – se virou novamente para Hallex enquanto Jhoreel seguiu para dentro – Me desculpe novamente Senhor Hallex, ordens são ordens e se quiser pode me chamar de Augusto.

Alferes deu um sorriso fraco e então direcionou o olhar para onde o outro mercenário seguia “E pensar que todo este caos por apenas um menino... E por falar nisso os outros já deviam ter voltado com ele”.

Aquilo vinha o incomodando bastante afinal já tinham saído por muito tempo e julgando a hora era certo que tinham que ter voltado, “Isto não esta certo de jeito nenhum”.

— O Senhor seria Hallex certo? – Alice olhou o homem com avaliação o que a fez sorrir – Disse que tem noticias de Senhora Octavius? Por que não entramos?

Todos os sentidos de Alferes gritaram perigo, teve a certeza no momento em que viu o olhar frio e gelado da Mester em si que se entrasse na casa não iria sair.

“Você é uma beleza muito assustadora”.

A Senhoria vestia-se em negro com um vestido no corte de Balázios e usava um prendedor do lado esquerdo do cabelo com o busto do Fenrir o lobo gigante do Norte que era símbolo dos Mester, a pele era branca como neve e os olhos azuis de gelo, embora jovem era alta como todas as mulheres do Norte e transparecia uma aura bem ameaçadora mesmo que tentasse disfarçar com um sorriso.

— Não é meu interesse perturbar o Senhor Octavius – Alferes sorriu timidamente procurando a melhor maneira de recuar, queria entrar na casa, mas agora essa seria uma péssima ideia.

— Não será nenhum incomodo. Se o senhor tem noticias da Senhora Octavius não vejo como ele iria se aborrecer – Alice sorriu e se aproximou mais do homem.

— Realmente você esta certa... – Alferes instintivamente se afastou e notou que os mercenários haviam tirado os botões que prendiam suas espadas.

“Fui descoberto”.

Olhou a Senhoria afrente e sorriu, esperou em silencio enquanto uma carruagem se aproximava e quando estava próxima o suficiente se atirou na sua lateral impulsionando para o teto para então saltar para um beco do outro lado do veiculo.

“Fui um tolo em imaginar que seria mais fácil lidar com ela”.

Aquele dia vinha se mostrando um verdadeiro fracasso, sem nada útil de Rober, sem nada de útil da Bruxa mamona e agora sem nada de útil na casa de Octavius “E para piorar eles não voltaram ainda e tenho que ir ver Alexander agora...”, não gostava de se encontrar com o Príncipe sem nada de útil, mas teria de ser o caso e assim depois de praguejar sua sorte seguiu a  Residência do Barão Dossel.

Alexander tocava sozinho, Alferes esperou oculto em um canto enquanto o Príncipe terminava a melodia, haviam dois motivos para isso o primeiro era que Alexander detestava ser interrompido enquanto tocava sua Arpa e o segundo era que a musica era linda.

O jardim tinha muitas flores e plantas, algumas tão exóticas e difíceis de se achar que por si só valeriam uma fortuna “Só alguém extremamente rico e influente para juntar tudo isso”, era engraçado ver como os Barões gastavam seu dinheiro e Luciano Dossel não media gastos quer por obras de arte ou luxos extravagantes seu dinheiro corria como água em todas as direções que quisesse, atualmente era considerado o Barão mais poderoso de Capital pois além de extremamente rico também era amigo intimo da realeza de Maestria.

— Espero boas noticias Alferes – comunicou Alexander que terminava de tocar enquanto via homem sair das sombras do jardim.

— Infelizmente alteza, não tenho boas – Alferes disse de um modo desanimado ao se aproximar mais de Alexander.

— Muito bem – Alexander esboçou uma expressão mais seria – Seu relato.

Alferes tomou uma posição mais rígida e suspirando deu origem aos acontecimentos.

— Durante a manhã uma vez que já tinha despachado três de meus homens atrás do garoto na noite anterior me dediquei a seguir Rober que manteve sua busca em encontrar o menino – Alferes tomou mais um pouco de folego enquanto era incentivado a continuar por Alexander – O que pude descobrir foi que o garoto foi encontrado por eles na estrada a Cidade de Capital e que resolveram dar uma carona quando chegaram aqui o menino lhes disse que servia a um nobre da cidade, Octavius.

— E quanto a este Nobre o que descobriu? – Alexander perguntou com interesse – Gostaria de entender por que tomou partido nesta farsa.

— Quanto a  Octavius... Bem ele tem negócios escusos, trabalha com piratas para lucrar encima de seus concorrentes e até o momento se mantem em sua casa cercado de mercenários – Alferes olhou mais seriamente a Alexander – Acredito que esteja sendo mantido refém pelos Balázianos.

— O que te faz crer nisso?

— Quando fui mais cedo a sua casa, aproveitando que Bor Rober e Senhorio Alek estariam na Reunião Gama, fui recepcionado pela Senhoria Alice que ao me convidar a entrar deixou transparecer que não iria sair de lá, tudo por que mencionei a esposa de Octavius que se encontra em um dos Reinos menores .

— Realmente tudo está muito estranho... – Alexander levou a mão ao queixo – Então Octavius é um refém – Alexander olhou para Alferes – Isso não implica que ele estava participando de tudo?

— Sim, mas não de forma direta – Alferes continuou – Antes de ir a casa de Octavius enquanto ainda seguia Rober e Alek os vi entrar em uma loja nas vielas de uma bruxa, ao que parece o menino estava a serviço de outro grupo.

— Que grupo ? – Alexander perguntou por reflexo mas já imaginava qual seria a resposta.

— Ela não disse de forma direta apenas falou que se eu prezava minha vida iria deixar o garoto em paz por que Tetros já estava a sua procura.

— Você disse que Octavius negociava com piratas, não foi? – Alexander perguntou em um tom frio.

— Exatamente.

— Piratas... Tetros – Alexander gelou – Não existem outro grupo de Piratas que adorem o deus da vingança, destruição e mau além deles. Existe?

— Não alteza.

— E quanto aos homens que enviou?

— Não voltaram e já deveriam estar aqui a muito tempo, logo só podem estar mortos – Alferes disse sombrio.

— E eu achando que a Reunião Gama seria o único problema imediato – Alexander suspirou – Certifique-se de descobrir o que eles planejam, não é bom deixar essa situação ao nada.

— Já ia providenciar isso – Alferes se aproximou mais – Existe algo mais que precise?

— Sim – Alexander olhou para o céu – A esta hora a Reunião Gama já foi votada descubra tudo que foi dito com máxima urgência.

— Como desejar Alteza.

8

— Estamos com sérios problemas Rober – comentou Alek exasperado enquanto seguiam rapidamente para a carruagem – Como eu queria enfiar uma espada na cara daquele rei de merda ai ele veria qual é o lugar dele!

— Imagino que isso possa não demorar a acontecer – comunicou ao o primo.

Estava claro que tinham de ser rápidos agora que os outros reinos tinham tomado consciência do que estava acontecendo no Norte, não iria demorar em enviarem exércitos em auxilio a Neão e não era nenhum tolo em supor que Atur iria conquistar a cidade antes disso.

— Alek – começou ao alcançarem o veiculo – Você pega Alice e segue direto para Pugna eu vou para Cabo frio devo ser capaz de interceptar os exércitos que serão enviados pelo torrente antes de chegarem ao porto de Neão.

— Você está louco? – Exclamou em surpresa – Não irei permitir que vá sozinh...

— Não temos tempo para isso – bradou rispidamente – Você esta ferido – olhou seriamente o braço do primo – Não entenda errado realmente gostaria que viesse comigo, mas está claro que você não deve, além do mais preciso de você com Alice, preciso que a leve em segurança e avise todos em Pugna, usarei o dinheiro no banco para contratar três companhias livres e mais duas embarcações para Cabo frio de lá poderemos pegar Goluns e antecipar os exércitos que estarão subindo pelo torrente rumo ao porto.

— Você tem certeza – indagou Alek que se sentia infeliz com o rumo que as coisas estavam tomando – Se você fizer isso não tem mais volta, além do mais...

— Eu sei... Mas não pretendo vencer, só preciso ganhar tempo para Atur tomar Neão – olhou o primo seriamente – Quando chegar a Pugna siga para Vale profundo pegue todos os Goluns e dessa para Neão.

— O que está dizendo Rober?! – Por um momento Alek parecia não querer acreditar no que estava ouvindo – Se fizermos isso será o mesmo que declarar guerra a Orbe inteira!

— Eu sei! – Disse visivelmente irritado – Mas do jeito que as coisas estão não à outra forma. Entenda Alek a guerra já começou, Atur não recebera minha mensagem até que eu já esteja enfrentando os exércitos de auxilio quando isso acontecer ele precisara dos Goluns tripulados.

— Mas pelo inferno! Não seria melhor esperar o fim disso tudo, digo ainda tem a reunião em Maestria.

— A segunda Reunião Gama em Maestria assim como o decreto de hoje só mostram que eles já estão a par de nossas intenções e moveram suas peças para nos parar – olhou para o céu – Assumirei qualquer responsabilidade diante isso se Atur julgar que agi precipitadamente receberei qualquer punição que ele me der, entretanto sei que não será assim, eles jugaram errado acharam que tinham poder para nos influenciar.

— ... – permaneceu calado diante o primo enquanto avaliava a situação da maneira mais logica que podia – Seja como diz Rober, levarei Alice a Pugna e de lá seguirei a Vale profundo. Fique vivo – disse enquanto despedia-se com um forte abraço do primo.

— Não tema! Não pretendo morrer tão cedo – sorriu enquanto o primo entrava na carruagem “Sempre Voraz” lembrou a si mesmo depois da carruagem seguir.

“Perpétuo me de a força do aço que cumpre o proposito do gelo mediante a vontade do ferro...” suplicou a prece da guerra, “Tenho de ser Rápido Alek só chegara a Pugna dentro de uma semana prazo no qual eu já estarei em guerra e Atur muito provavelmente já terá recebido minha carta”.

Olhou o céu novamente com um olhar tenso e cheio de temor, não havia mais como voltar atrás, direcionou sua atenção para o porto e então seguiu para onde o destino do aço aguardava.


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Notas finais do capítulo

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Até Mês que vem!!



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