Cry in my heart escrita por cry


Capítulo 3
Não tenho ninguém




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— Tenho que fazer alguma coisa. Ele passou esse tempo todo Haymitch. Não cinco dias, não cinco semanas. Desde que nos conhecemos ele vem cuidando de mim. Eu vivi me lamentando a morte de todos os que eu perdi. Mas ele nunca comentou, nunca demonstrou o quanto estava sofrendo e eu tenho que fazê-lo parar. Ele vai se destruir.

— Mas se ele não quiser falar nós não podemos obriga-lo. Não temos...

— Dane-se Haymitch. É o Peeta. Ele está precisando de nós. Pensa comigo. No primeiro mês depois que ele voltou, quantos flashbacks teve? – Ele parece estar entendendo onde eu quero chegar.

—Sei lá. Uns dois no máximo.

— Só nesse último mês, SÓ NESSA ÚLTIMA SEMANA...quantos flashbacks ele teve?

— Três.

— Está piorando. Ele também já percebeu isso, vi nos olhos dele hoje. Ele sabe e vai tentar me proteger. Nos proteger. Ele vai tentar ir embora e eu não posso permitir.

Saio batendo a porta de sua casa o deixando espantando com a minha determinação. Está quase na hora do almoço e Peeta ainda não desceu. Ele continua em seu quarto. Dessa vez eu que terei que fazer um esforço para tirá-lo de casa.

— Olá – falo baixinho – vim te pegar pra irmos almoçar. Dessa vez sou eu quem vai queimar a comida.

Ele não ri. Nem se mexe

— você vem?

Ele nega com a cabeça.

— Tudo bem. Até mais tarde.

Desço as escadas com um plano me mente.

Vou até minha casa e pego tudo que acredito ser comestível, coloco dentro de uma bolsa e volto casa dele.

Não me dou o trabalho de bater. Entro e coloco tudo e cima de uma mesa na cozinha e mexo em seu armário e encontro o que precisava.

—Peeta, você nunca me desaponta.

Faço barulho com suas panelas de propósito, sabendo que ele odeia quando faço bagunça em sua preciosa cozinha.

—O que está fazendo? – Ele pergunta suspeito descendo as escadas.

— Você não quis ir comer comigo. Então eu vim para te dar um pouco mais de trabalho. Senta aí, estou fazendo chocolate quente pra gente.

— Você já fez isso alguma vez na vida.

—Huuuum...Não. Mas não tem como errar, não é? – Pela primeira vez no dia o vejo dar um sorriso. Pequeno. Mas um sorriso. Já é um começo.

Ele fecha todas as janelas e puxa as cortinas, criando um ambiente escuro e aconchegante. Liga a TV baixinho e me observa por um minuto. Não retribuo o olhar com medo de que ele veja que não estou confortável com a situação. Ele está muito estranho.

— Não se preocupe. É só o Peeta. Ele é seu amigo – lembro a mim mesma, baixinho – Ele é seu amigo e precisa de você.

Quando o chocolate está pronto eu o coloco em duas xícaras e levo para a sala. Ele vê algo que se parece um filme. Quando sento ao seu lado entregando a xícara ele olha pra mim. Nós nos conhecemos bem, nossa relação melhorou nos últimos meses, mas eu nunca vi algo parecido em seus olhos. Ele está sofrendo e não consegue mais disfarçar. Ele vira então o rosto escondendo sua vulnerabilidade de mim, e o momento de confortá-lo passou. Eu perdi a chance de conversarmos novamente.

Estou distraída em meus pensamentos quando ele solta uma gargalhada. Não via ele rir assim há vários dias. Olho-o confusa e ele me explica enquanto sufoca com o riso

—Só você...Katniss...pra não...não conseguir preparar um chocolate quente decente.

Surpresa experimento o chocolate e começo a rir junto com ele.

— Decente? Isso está horrível. Mas a culpa é sua você que não quis vir me ajudar. Fico feliz em te ver sorrindo.

Ele para e olha pra mim novamente

—Sinto muito ter te deixado sem graça. Eu não resisti.

—Está tudo bem. Senti falta disso...precisamos conversar

—Eu sei – ele me responde já tenso

— Somos amigos Peeta, concordamos ser sinceros um com o outro. Prometemos que não esconderíamos nada um do outro, lembra? Sempre fui terrível com as palavras mas mesmo assim te contei tudo. Eu sempre soube que você estava escondendo algo de mim porque mesmo tendo ficado, nossa relação não voltou a ser a mesma e eu sei, isso era impossível por causa de tudo o que aconteceu mas mesmo assim, eu...

—Ei, Katniss...Eu vou te contar tudo o que você quiser saber. Por onde quer começar?

—Não sei. Quero saber o que você está sentindo. Você nunca fala nada enquanto eu vivo reclamando pelos cantos. Quero que você saiba que eu vou estar aqui pra você, mas eu preciso saber o que está acontecendo para te ajudar.

— Eu sinto tanta falta deles – e ele já está chorando – sinto tanta falta dos meus pais, dos meus irmãos, meus amigos. Da minha vida. Eu não sou o mesmo e nunca vou poder voltar a ser. Eu sou um monstro. Durante todo esse tempo eu tenho escorregado entre os sonhos e a vida real e em nenhum deles eu tenho alívio porque eu não tenho mais ninguém. Eu nunca mais vou vê-los

Eu poderia ter dito que ele teria a mim pra sempre, mas entendi o que estava querendo dizer. O único amigo de verdade que tive durante toda a minha vida foi o Gale. Ele estava longe mas vinha me ver de tempos em tempo, assim como minha mãe. Embora não tivesse mais a Prim, eles eram o suficiente para manter um elo com minha vida antiga. Peeta não. Não sobrou ninguém da sua família. Com sua simpatia ele deveria ser muito querido. Então pedi a única coisa que poderia;

—Me conta sobre eles?

Então passamos o resto da tarde conversando no sofá de sua casa. Enquanto falava ele parecia distante, como se estivesse revivendo todos os momentos bons da sua vida. Ria suavemente enquanto falava das aventuras com os irmãos e com amigos e por vezes chorava enquanto descrevia o relacionamento com os pais. Eu me emocionei junto com ele quando me contou os momentos mais difíceis da sua infância e o abraçava sempre que ele mostrava estar prestes a desabar. Assim se passaram as horas mas não queríamos parar aquele momento, então, quando ele já não tinha o que falar ficamos em silencio, somente aproveitando a companhia e o silencio da noite.

—Tenho que ir. Já está tarde – falei a contragosto. Ele parecia cansado embora estivesse mais tranquilo, mas eu não queria abusar.

—Eu te deixo em casa, realmente já está bem tarde. – Ele também não parecia querer ficar sozinho, mas não me pediu para ficar.

—Peeta, minha casa fica bem em frente. Não precisa se preocupar. – Eu o abraço na porta, ele beija minha testa carinhosamente e olha em meus olhos.

—Obrigado. Você não sabe como essa tarde foi importante pra mim.

Apenas sorrio e caminho em direção a minha casa. Quando chego na porta vejo que ele ainda me olha, sorri e só então entra.

Vou para o meu quarto e seguindo o ritual de todos os dias, sua luz está acesa. Tomo um banho rápido e me visto para dormir, mas quando olho pela janela novamente a casa está em uma penumbra total. Pela primeira vez ele finalmente parece ter conseguido dormir. Me permito ter esperança de tudo posso voltar ao normal algum dia e é por esse pensamento que deito em minha cama com um sorriso no rosto.

— Boa noite, Peeta.


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