CAPÍTULO 1 - A QUEDA NA TOCA DO COELHO

Risadas alegres de uma criança preenchia o belo jardim do orfanato, uma garotinha era suspensa e colocada nos ombros de seu novo pai que retribuía o doce sorriso da menina, ao lado dos dois, uma bela mulher andava de mãos dadas com o mesmo homem, a pequena já a chamava de "mamãe" mesmo tendo a conhecido por tanto pouco tempo.

Um pouco longe da nova família feliz, uma moça de curtos cabelos rosas observava a cena, era possível ver a inveja refletir nas belas esmeraldas de seus olhos. Do fundo de seu coração, desejava estar no lugar daquela criança, desejava ser amada, mesmo que por orgulho negasse isso.

Antes mesmo que percebesse, já se faziam 17 anos que estava naquele orfanato, todos os aniversários que completará até então foram solitários, sem a companhia de adultos que pudesse chamar de "pais" ou "família". A muito tempo havia desistido do desejo de ser amada, e negava com todas as forças aquele desejo, mesmo sabendo que ainda vivia, no fundo de seu coração.

— Sakura~~

A voz feminina a tirou de seus devaneios, olhando para o lado se deparou com uma garota loira de sua idade, a mesma a olhava com uma certa irritação expressa em seus olhos.

— Já estou te chamando a horas, por onde estava?

Perguntou sabendo que enquanto o corpo da rosada estava ali presente, sentada na sombra daquela arvore, sua mente estava viajando em um outro mundo.

— Oras, estava aqui com você!

— Fisicamente sim, mas mentalmente não! - Respondeu a loira no mesmo tom da moça.

Está era Ino, melhor amiga de Sakura, poderia dizer que a moça a considerava uma irmã que nunca teve. A loira havia chegado naquele lugar aos 5 anos de idade, depois de ter os pais mortos em um terrível acidente de carro, a menina não tinha mais ninguém no mundo que a quisesse. Assim, acabando naquele lugar infernal. Assim como Sakura, a menina permaneceu ali até seus 17 anos, ela e Sakura se entendiam por esta parte, mas dês que se conheceram brigavam por tudo. De inicio, um relacionamento de rivalidade, mas que acabou se tornando algo como um relacionamento entre irmãs, assim a loira se tornando a unica pessoa que Sakura se importava no mundo inteiro. As duas já haviam desistido de serem adotadas, assim esperando seus aniversários de 18 anos, no qual finalmente poderiam sair daquele lugar e viverem juntas, enfrentando as pedras do novo caminho que pegariam.

— Fala serio, eu desisto! - Frustada a loira suspirou largando o livro que segurava no gramado verde em que sentava.

A moça encarou o livro já fechado largado no chão, a capa era branca contendo belos detalhes em dourado, em um linda caligrafia estava escrito o título em letras grandes que se destacavam na capa.

— "Alice no País das Maravilhas"? - Resmungou Sakura como se tivesse percebido apenas naquele momento a presença do livro entre as duas.

— Estava todo esse tempo lendo e você apenas percebeu agora?

A rosada apenas deu ombros com as falas da loira, que pareceu irritada ao saber que estava o tempo todo lendo para o vento.

— Já tenho 17 anos, não acredito mais em contos de fadas. - Falou se espreguiçando enquanto soltava um longo bocejo, como se seu corpo avisasse que estava com sono.

— Dormiu tarde de novo. - Resmungou Ino observando a expressão sonolenta da rosada. - Não ouse dormir! Estou entendiada e não quero ficar sozinha aqui aguentando seus roncos enquanto você viaja no seu mundo dos sonhos.

— Então arranje algo para fazermos, se continuamos sentadas aqui enquanto você lê esse livro, com certeza cairei logo, logo, no sono.

Falou se encostando na arvore atrás de si, dando leves batidas no vestido azul que usava.

— Que tal um jogo de cartas? - Sugeriu, logo recebendo um olhar de tédio da moça de cabelos rosas. - Não reclame, não temos muito o que fazer por aqui! Ou quer ir brincar de pega-pega com as crianças da creche? - Perguntou levantando uma das sobrancelhas, recebendo uma reação negativa da moça. - Então esta decidido! Vou pegar o baralho, então não durma até lá!

Exclamou para a rosada que apenas confirmou com a cabeça. Vendo os cabelos loiros sumirem de sua vista a garota aproveitou para dar um leve cochilo na grama verde que parecia tão convidativa aos olhos da rosada.

— Me desculpe, Ino porca, mas esta sombra está tão confortável, não tem como não...

Suas palavras foram morrendo a medida que sua pálpebras foram pesando até o ponto que apenas enxergava a vasta escuridão.

***

— Ei! Vamos, acorde!

Sentindo algo macio cutucar sua bochecha a moça se contorceu um pouco resmungando palavras ilógicas para quem ouvisse, como se falasse outra linguá.

— Ei!

Sentiu novamente a coisa macia cutuca-la fazendo-a se remexer um pouco.

— Só mais cinco minutos, Ino.

Resmungou ainda de olhos fechados, pensando ser sua amiga que voltará com as cartas.

— Não sou a Ino! - A voz irreconhecível para a moça revelou com uma certa irritação no seu tom. - Abra os olhos e veja você mesma!

Ainda sonolenta obedeceu sem pensar o que a voz a mandava fazer. Abrindo os olhos com certa dificuldade graças a claridade do jardim, a moça se acostumou gradualmente com a forte claridade, finalmente conseguiu enxergar a pessoa que perturbava seu sono. Ou melhor... o coelho que atrapalhava seu sono!

Em um sobressalto a moça se sentou no gramado verde do jardim, assustada observou atentamente o coelho que a observava impaciente. Ele era pequeno e continha pelos negros, e o que mais chamava sua atenção era as roupas fofas que o mesmo usava.

Esfregando os olhos varias vezes a moça olhava sem acreditar para o coelho que permanecia em pé sobre as duas patas, mantendo suas "mãos" cruzadas enquanto a olhava ainda irritado.

— Você é muito lerda!

Novamente teve uma mistura de surpresa e susto com mais uma ação vinda do pequeno animal fofo. Rapidamente olhou ao seu redor, para ter a certeza se não havia mais ninguém além dela e o coelho. Afinal, aquela voz realmente estava vindo do próprio animal parado em sua frente.

— Será que poderia, por favor, me seguir logo? Não tenho o dia todo!

O mesmo bateu sua pata repetidas vezes no gramado, demonstrando sua impaciência.

Confusa sobre como aquela coisa funcionava a moça não se conteve ao pegar o pobre animal em mãos. Sendo chacoalhado nas mãos não tão delicadas da moça, o coelho tentou escapar da forma que suas patas permitiam, porém falhando no processo.

— O que pensa que está fazendo! Me coloque no chão!

O coelho ordenou ainda mais irritado. Recebendo a ordem a moça o parou quieto em sua frente, ainda com o coelho em suas mãos, encarou os pequenos olhos ônix que demonstravam irritação.

Se aproximando um pouco mais do rosto do pequeno coelho, sentiu o pequeno corpo estremecer em suas mãos, as orelhas caíram para trás e os olhos raivosos sumiram dando lugar a uma expressão tímida, jurava ver bochechas vermelhas do pequeno coelho fofo. O pequeno nariz mexia freneticamente, conseguia sentir o pequeno coração bater acelerado.

— Que coisa é você? Algum tipo de brinquedo novo? Não vejo nem um botão e nem um lugar para pilhas.

Confirmou ainda o analisando, porém, desta vez apenas com os olhos.

— Eu não sou um brinquedo e muito menos uma coisa! - Instantaneamente a expressão dele mudou para a irritada novamente, fazendo Sakura afasta-lo um pouco de seu rosto. - Você não me da escolhas...

Resmungou o coelho, fazendo Sakura olha-lo com uma interrogação. Repentinamente uma fumaça branca tomou a visão de Sakura, ela conseguiu sentir algo grande em suas mãos, não tendo mais o peso do pequeno coelho que segurava. Assim que a fumaça se dissipou teve a visão de um rosto masculino quase colado ao seu. Assustada a moça tentou se afastar porém foi impedida quando o rapaz a agarrou pela cintura a aproximando ainda mais.

O rapaz misterioso parecia ter sua idade, tinha cabelos negros medianos, e lindos olhos ônix assim como o coelho, o rapaz continuava com as roupas elegantes pretas, agora maior, dava para ver melhor os detalhes brancos e vermelhos das peças que usava. E claro, o que mais deixava a menina surpresa, eram as orelhas de coelho no topo de sua cabeça.

— O-O que?! - Exclamou surpresa para aquela aparição repentina.

— Bem, agora sou eu que a estou segurando, e não vou deixa-la escapar.

Parecendo mais calmo que o pequeno coelho o rapaz se levantando ainda com a moça nos braços.

— Do que está falando?! Me coloque no chão!

Constrangida a moça se chacoalhou nos braços do belo rapaz que a apertou mais forte para que ela não escapasse.

Arrumando uma posição melhor o belo homem a jogou em seu ombro como um saco de batatas fazendo a moça reclamar ainda mais.

— Pare de gritar em minhas orelhas! - Reclamou o rapaz começando a se irritar novamente.

— Onde pensa que esta me levando!?

— Isso te contarei depois, mas agora, apenas se segure firme, pois vamos pular naquele buraco.

— Bu-buraco?! - Exclamou a rosada surpresa. Com um pouco de esforço tentou olhar o caminho que pegavam, conseguiu avistar um enorme buraco um pouco mais a frente a fazendo tremer de medo. - Dê-dês de quando tem um buraco no jardim do orfanato?!

Ignorando a moça, o rapaz se aproximava cada vez mais do enorme buraco fazendo Sakura se desesperar.

— Ei! Espere! Não faça isso! Nós vamos morrer!

Gritou assim que o rapaz finalmente pulou no escuro buraco sem exitar.

Em queda livre a moça sentiu um frio em sua barriga e um arrepio na espinha, gritou até faltar ar em seus pulmões, na queda tentou segurar a saia de seu vestido para que não voasse para cima, mostrando sua roupa intima.

Já fazia tanto tempo que caiam que não conseguia mais saber se aquilo havia um fim, havia gritado tanto que até mesmo cansou sua voz.

Repentinamente uma luz forte a cegou, finalmente mostrando o fim daquele pesadelo. A moça fechou os olhos fortemente esperando o impacto com o chão.