Montserrat estava ansiosa. Queria chegar logo à Meads, estava com muita saudade do frio que fazia lá, da casa, de Amélia e sua comida, do cachorrinho Toby e de Álvaro. Pensou em como seria reencontrar Álvaro novamente após sete anos: como será que ele está? Será que mudou? Tinha medo de que não fosse mais a mesma coisa, e ela perdesse a amizade dele. Uma mão em seu ombro a tira de seus pensamentos, era Ian, o motorista e melhor amigo de Álvaro.

—Menina Montse, como está crescida! Quase não a reconheci. - Admirou-se Ian e em seguida deu-lhe um abraço.

—Ian! Que saudades! – Exclamou Montserrat retribuindo o abraço.

— Vamos, Álvaro está ansioso para vê-la. – Neste momento, o coração dela pulsou mais rápido. Era bom saber que Álvaro também sentiu sua falta.

Da capital para Meads eram quatro horas de viagem, mas para Montserrat pareciam quatro dias de tão longa e cansativa que era essa viagem. Estava louca para ver Álvaro e só de pensar nisso seu coração pulsava cada vez mais rápido. Ela abriu sua bolsa e de lá tirou um presente: um boneco de madeira da época medieval que iria para coleção de Álvaro. Montserrat sabia que ele iria gostar, pois há muito tempo ele coleciona peças assim.

Montserrat fechou seus olhos para descansar e quando os abriu novamente viu uma casa muito bonita, a de Álvaro. Na varanda estava Amélia e Toby a esperando.

—Amélia! – Disse Montserrat e em seguida a abraçou.

—Princesa, como está linda! Uma mulher, veja só Toby.- Disse Amélia ao afastar-se do abraço.

—Obrigada Amélia. Vejo que o tempo também lhe fez muito bem.

— Que nada, continuo a mesma de sempre.

—Veja só Toby como está grande!- Admirou-se Montserrat acariciando Toby.

—Vamos Montse, Álvaro está no escritório.

Nervosamente Montserrat entrou no escritório de Álvaro que estava ao telefone de costas para ela. Após alguns minutos, ele vira-se e se admira com o que vê: uma linda mulher de cabelos negros e longos, um olhar castanho marcante, um corpo de deusa, rosto de boneca e pele clara.

—Álvaro...-A voz dela saiu suave.

—Montse?

— Esqueceu-se de mim Álvaro?

— Não, nunca esqueci de você. É só que... você está tão diferente.

— Você também não é o mesmo.

—É a vida encarregou-se de me transformar.

Ele caminhou até ela e segurou seu queixo fazendo com que ela olhasse bem no fundo de seus olhos azuis.

—Senti muito a sua falta Montse.- Disse Álvaro e em seguida a envolveu em um forte abraço. Aquilo não parecia real para Montserrat, parecia um sonho de tão bom que era. Como ela sentiu falta daquele abraço, daquele cheiro.

—Já se acomodou meu anjo?

—Ainda não, precisava te ver primeiro.

—Bom, agora que já me viu, vamos acomodar você. Vou pedir que Amélia te ajude, pois tenho um compromisso agora, mas volto para o jantar, ta bem?

—Sim, tudo bem.

Amélia e Montserrat desfizeram a sua mala.

—Veja Amélia, trouxe para Álvaro.- Disse Montserrat com o presente que comprou para Álvaro.

—Que lindo, menina. Tenho certeza de que ele irá gostar. Montse, ainda sente paixão pelo patrão? Quero dizer, você gostava dele quando era mais nova, mas e agora que já é mulher?

— Ah, Amélia, eu o amo. Mas sei que é impossível, pois Álvaro me vê apenas como sua irmã. Nunca olharia pra mim de outro jeito. Se bem que ele me olhou diferente hoje.- Disse e sorriu.

—Você está muito bonita menina, qualquer homem se encantaria por ti. Mas concordo que é impossível um relacionamento entre vocês.

— Por que?- Montserrat surpreendeu-se com a resposta de Amélia.

— Você é muito nova, e como você disse o patrão te tem como irmã. Há também outros motivos...

—Quais?

—Em breve você ficará sabendo menina. Fiz lasanha, sua comida favorita!

— Quais são os outros motivos Amélia?- Insistiu.

—Menina, não me é permitido falar sobre isto.

—Tudo bem.- Desistiu.

O tempo passou e já era noite. O jantar estava posto, porém Álvaro ainda não havia chegado. Montserrat estava ansiosa para entregar-lhe o presente. Após alguns minutos ele chega.

—Perdoe-me pelo atraso Montserrat, houve um problema na empresa.-Desculpou-se Álvaro sentando-se à mesa.

—Não tem problema.- Disse Montserrat sorrindo.

—Como foi a viagem?

—Cansativa. Chicago fica muito distante daqui. E o seu dia, como foi?

—Cheio de trabalho.

Os dois permaneceram em silêncio até o fim do jantar, quando Montserrat o quebrou:

—Álvaro, trouxe algo de Chicago para você.

—Um presente?

—Sim, está na sala.-Disse Montserrat levantando e indo em direção a sala.-É simples, mas achei que iria gostar.-Disse e entregou o embrulho a Álvaro.

—O soldado que faltava para minha coleção! Obrigado Montse.-Agradeceu Álvaro muito feliz.- Também tenho algo para você. Você gostava tanto desses bombons quando criança.- Entregou uma caixa de bombons para a moça.

—Amo esses bombons, obrigada Álvaro.- Disse Montserrat e em seguida beijou-lhe o rosto.

—Semana que vem é seu aniversário, não é mesmo?

—Ainda lembra-se do meu aniversário?

—Uma data especial como esta não se esquece. Pensei que gostaria de uma festa, já que fará 18 anos.

—Não sei Álvaro, não tenho amigos aqui.

—Débora e Caleb virão para cá na segunda. E também há as sobrinhas de Amélia, os garotos da casa visinha. Pessoas para essa festa não faltarão.

—Tudo bem.

—Pode fazer o que quiser, quero que seja especial.

—Obrigada Álvaro. Vou subir, estou tão cansada.

—Tudo bem.

Quando Montserrat subiu o primeiro degrau Álvaro à chama.

—Hã, Montse?

—Sim?

—... Hã, boa noite. -Disse Álvaro desajeitado.

—Boa noite Álvaro.

Álvaro ficou surpreso com a mudança de Montserrat. Ela estava tão bonita, tão mulher. Não se via mais nela aquela criança de sete anos atrás, tão sensível e frágil, mas uma mulher forte e autoconfiante. Ele estava admirado com tanta beleza. Mas preferiu pensar em outra coisa, pois não podia ver Montserrat como mulher. Seria uma grande luta contra os seus desejos e sentimentos.

 Montserrat estava tão feliz por estar de volta. Sorria feito uma boba ao lembrar-se dos momentos com Álvaro, principalmente quando lhe comprou os bombons. Ela tinha esperança que agora finalmente ela e Álvaro poderiam ter um romance. Mas o que ela temia aconteceu:

“Não se engane querida, ele nunca irá olhar para você. Xoxo –M.D”

Há três anos, quando entrou no ensino médio, Montserrat começou a receber mensagens ameaçadoras de alguém que parecia saber tudo sobre a sua vida. Essa pessoa assinava-se por M.D, e obrigava a moça a fazer coisas horríveis ou machucaria as pessoas que ela amava. Tentou contar para alguém o que estava acontecendo, mas M.D. a impediu todas às vezes. Montserrat não aguentava mais esse tormento.