Winterfall escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Olá *---* voltando aqui rapidinho para atualizar Winterfall depois de inúmeras vezes reescrever esse capítulo! Agora só falta um pequeno epílogo para sanar o que estiver em aberto e as dúvidas que talvez vocês apresentem nos comentários ♡
Queria agradecer aos comentários, aos novos acompanhamentos, aos favoritos, obrigada e por isso, sem mais enrolações, vamos à mais um capítulo de Winterfall!

Divirtam-se...



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O novo Baronete de Winterfall não viu sua cunhada durante o decorrer daquela tarde. Assim como Sakura, ele também buscou a solidão dos seus aposentos onde passou longas horas relembrando e refletindo sobre a verdade agora também confiada a si.

Ele desaprovava a conduta do seu irmão, ao mesmo tempo que sua consciência se dividia entre o amor fraternal e o sentimento de humilhação que aquela Baronetesa deixou tão claro diante dos seus olhos.

Sasuke sabia que outros homens em seu lugar não dariam importância para os sentimentos daquela senhora além de expressarem frases como "Ora, às vezes homens como nós precisam saciar suas necessidades"; em seu íntimo ele queria pensar de tal forma. Em seu íntimo, ele gostaria de não querer se sentir como estava se sentindo, até mesmo se questionando como ela estaria naquele momento e ele suspirava sempre que aquele pensamento passava pela sua mente.

— Não pense nisso – ele se repreendia enquanto seus passos largos diminuíam a distância até as grandes janelas. – Ele é o seu irmão. Não deveria ficar contra ele – sua voz saía em um fio de voz e Sasuke sabia que suas palavras eram uma mentira, pois a maior parte da sua consciência já havia decidido tomar partido daquela mulher desde o momento da conversa e isso estava nítido em seus pensamentos conturbados. – O que você quer que eu faça Itachi? – Questionou o vazio do seu quarto dando as costas para a paisagem do entardecer. – Por que incumbiu a mim um pedido que nem mesmo sua esposa deseja? Por que simplesmente não deixar que a Baronetesa siga o seu rumo à liberdade? Por que pedir a mim para que cuide dessa mulher? – Seus passos pararam diante da grande cama. – Eu não compreendo o que deseja – admitiu em um fio de voz como se seu falecido irmão fosse capaz de escutá-lo.

As pálpebras se fecharam cansadas e mesmo que seu corpo desgastado pelo dia desejasse ardentemente o repouso do leito, ele permitiu a entrada da governanta que anunciava o jantar.

Com um anúncio rápido ele disse que logo desceria. Tinha em mente o encontro inevitável com a sua cunhada, mas com uma mistura de alívio e suspeita ele descobriu no salão de jantar que sua companhia já havia se retirado para dormir e que pedia desculpas pela inconveniência por meio da sua governanta.

Naquela noite, pela primeira vez desde que conhecera a Baronetesa, ele foi aplacado pela solidão e pelo silêncio de uma mesa de jantar.

Algo que em Bath era tão conveniente se tornou estranho em meio àquelas pálidas paredes onde estavam expostos tantos retratos de antepassados e seus olhares repreendedores.

A inconveniência continuou por mais um dia inteiro, desencontrando-se da Baronetesa sempre que ela saia dos seus aposentos para resolver alguma pendência da casa ou buscar algum documento comercial na biblioteca.

Sasuke se encontrou perguntando continuamente aos empregados onde a Baronetesa se encontrava e quando informavam que ela estava fora dos aposentos, Sasuke sempre se erguia e partia para a direção apontada, mas como se fosse um fantasma, a mulher que ele sempre se esbarrava nos dias anteriores, não era mais encontrada nos lugares que ele procurava.

Aquele Baronete chegou ao ponto de observar o quão inadequadamente grande e cheia de caminhos alternativos Winterfall era, antes de voltar às suas próprias preocupações com seus negócios que cada vez mais pediam para que voltassem à Bath. Ele sabia que poderia partir, sabia que poderia pedir para que a governanta chamasse sua senhora e eles tivessem uma conversa definitiva sobre o futuro dos negócios do irmão, mas algo o fazia prolongar sua estada já tão longa e inadequada naquele condado.

Os acertos e escrita de novos contratos foram o bálsamo para que sua mente não fosse propensa a se voltar para a mulher que repousava em algum dos aposentos daquela residência. No entanto, no dia seguinte, após mais uma vez ele não ser acompanhado no desjejum, ele viu sua cunhada com um traje negro de passeio de costas para si sendo acompanhada por uma preocupada governanta.

Antes mesmo que percebesse, seus passos já se direcionavam para a mulher que parecia pálida enquanto a governanta pedia para que fizesse o desjejum antes de partir.

Sakura deu um passo inseguro para trás, mas antes que cambaleasse mais por causa da vertigem, sentiu o toque do braço contornando sua cintura lhe dando apoio para se manter em pé.

Foi com aquela proximidade que Sasuke notou como as maçãs sempre coradas haviam perdido a cor e nem mesmo o pó de arroz era capaz de esconder as pequenas bolsas escuras que contornavam os olhos verdes surpresos, além da perda de peso notável.

 – Prepare uma bandeja com o desjejum e leve para os aposentos da Baronetesa – foi tudo o que ordenou antes que a governanta saísse apressada para cumprir as ordens.

— Irei fazer o desjejum na residência de Mrs. Hozuki. Já comuniquei minha amiga sobre a minha visita – a mulher tentou argumentar recebendo apenas um olhar frio do cunhado que apenas tornou mais firme o toque na cintura fina e a conduziu de volta para os seus aposentos.

— Não está em condições de sair desta forma – foi lacônico adentrando no amplo aposento branco e dourado onde aquela senhora tinha o seu leito.

Sakura pensou em recusar, mas os pontos negros que dançaram pela sua visão a calou enquanto o cunhado sentia o corpo feminino deixar o peso cair sobre si buscando inconscientemente apoio.

Estavam próximos demais, mas ele não pensou na situação inadequada, apenas a trouxe mais para si antes de ajudar a deitá-la.

— Enviarei o meu cocheiro e um recado escrito por mim explicando sua situação e pedindo para que a Mrs. Hozuki venha ao seu encontro.

— Não é preciso, meu senhor. Eu mesmo me desculparei com a minha amiga – tentou dissuadi-lo, mas o olhar firme na sua direção era a prova que ele não a escutaria.

Assim que a governanta adentrou com duas outras jovens empregadas carregando bandejas com um rico desjejum, ele anunciou de forma firme e definitiva:

— Apenas atente-se à sua refeição e recuperar suas forças. Tomarei as devidas providências.

Sakura apenas pôde suspirar vendo seu cunhado partir a passos largos ignorando todos os seus pedidos antes de começar a ingerir o desjejum posto à sua frente.

Tentou argumentar que era desnecessário aquela grande quantidade, mas sua saúde melhorou a cada novo fragmento que ingeria. Sabia que havia sido tolice dispensar o jantar enquanto mergulhava por longas horas na contabilidade dos negócios do seu falecido marido, mas ainda tinha o orgulho de não admitir seu erro diante do olhar mais tranquilo da sua governanta que se certificava se sua senhora estava comendo adequadamente.

Não levou mais do que uma hora para que sentisse suas forças recobradas e ver sua amiga eufórica adentrar o quarto com os olhos arregalados exigindo:

— Diga-me que está bem!

Sakura não pôde deixar de rir da atitude da amiga em verificar sua temperatura.

— Estou absolutamente bem, Karin – abriu os braços mostrando sua atitude saudável, enquanto o sorriso verdadeiro era contornado pelas bochechas coradas.

— Graças ao Baronete – a ruiva repreendeu a amiga que encerrou o bom humor com um suspiro demorado.

— Não há mais com o que se preocupar. Perdão se o Baronete exagerou em seu comunicado e a assustou.

— Exagerou? – Karin disse incrédula, ajeitando-se sobre a borda da cama para contar a verdade para a amiga. – O Baronete mandou o seu próprio cocheiro e sua pomposa carruagem para me aguardar até que estivesse pronta e viesse para Winterfall. Ele próprio estava na entrada da residência com uma cara extremamente desgostosa, ainda mais depois de saber pela sua governanta que a causa do seu mal-estar era devido à sua atitude de pular uma refeição ou outra. – A ruiva pegou um pouco de fôlego antes de se inclinar e sussurrar para a amiga: – Consigo sentir a áurea opressora do Baronete caminhando de um lado para o outro lá embaixo, até mesmo enviou seu cocheiro atrás de um médico...

— O quê!? – Sakura se exaltou com a última sentença. – Estou absolutamente bem. Devo informar ao Baronete imediatamente que suas atitudes são desnecessárias no momento! – Tentou se erguer, mas as mãos da amiga a impediram.

— Talvez você devesse permanecer um pouco mais em repouso antes de querer discutir com um homem atualmente irredutível.

— Nunca abaixei a minha cabeça diante de um par de calças, Karin! – Exclamou.

— O Baronete está preocupado com a senhora! – Elevou o tom calando a amiga por um momento. Karin inspirou fundo para voltar a dizer com mais calma: – Se erguer para discutir agora em nada resultaria. Deixe que o médico a avalie, ele verá, assim como eu, que a senhora está bem. Creio que só a opinião profissional o fará ter certeza que sua atitude irresponsável não lhe causou nenhum mal.

Sakura rolou os olhos antes de se deixar cair novamente sobre o encosto de travesseiros de plumas, dando autorização para que um aturdido Doutor Morgan e um rígido Baronete adentrassem em seus aposentos.

Ela queria dizer que era desnecessário todo aquele rebuliço por causa de uma fraqueza momentânea, mas optou por permanecer calada, respondendo e fazendo tudo o que médico ordenava. Sua fiel amiga ficou ao lado o tempo inteiro, enquanto o Baronete em sua pose altiva permanecia próximo a porta de entrada com os olhos fixos na mulher em seu leito.

— A Baronetesa se encontra perfeitamente bem – o médico anunciou para todos depois de concluir seu exame físico, mas principalmente para o homem silencioso longe de si. Era notável o quanto o médico ficava desconfortável diante do olhar daquele novo Baronete, mas executando seu ofício ele continuou: – No entanto, vendo o que ocasionou, a Baronetesa precisa de um pouco mais de descanso. Lhe indico repouso e cuidado com os horários das refeições. Seguindo os cuidados necessários, nada mais será necessário.

A face altiva da Baronetesa murchou ao ouvir que teria que ficar em repouso. Os olhos logo se voltaram para o seu cunhado que parecia satisfeito com o desfecho.

— Vamos seguir suas recomendações, doutor. Muito obrigado por ter vindo assim que chamado – anunciou com educação por mais que todos naquele quarto soubessem que o cocheiro, a mando do seu senhor, só retornou após se certificar de trazer aquele médico para o Baronete e dizer ao profissional que o Baronete não era um homem a ser contrariado em tais momentos.

O médico se apressou em se despedir das senhoras e do senhor, alegando que ele ainda precisava visitar outra paciente. Todos compreenderam que ele se referia a Izumi e permitiram sua saída precoce.

O Baronete deixou as mulheres após uma breve reverência.

— Creio que há muito a me contar, Sakura – Karin supôs diante dos detalhes subliminares.

Sakura assentiu contando desde a última vez em que se viram até o dia atual. Karin arregalava os olhos a cada novo detalhe que sua melhor amiga lhe confidenciava e até deu um gritinho surpreso com a história do corredor escuro e a entrada inadequada de Sakura nos aposentos do Baronete antes de cair na gargalhada.

 

***

 

Sasuke estava admirando a paisagem dos prados quando a Mrs. Hozuki adentrou a biblioteca observando:

— É mais belo se observado de perto.

Os olhos negros observaram a figura ruiva antes de assentir.

— Não duvido.

— Então seria um perfeito cavalheiro para acompanhar uma senhora pelos prados – estendeu a sua mão em um pedido enquanto sua boca exibia um sorriso amigável.

Sasuke compreendeu que a senhora gostaria de conversar consigo provavelmente sobre a sua amiga, por isso, cedendo ao pedido ele ofertou o seu braço aceito prontamente.

Caminharam em silêncio por um tempo pelo prado até alcançarem uma árvore frutífera frondosa:

— Fico feliz em saber que o senhor seguiu o meu conselho. Tenho que acrescentar a minha surpresa por saber que Sakura confiou tanto ao senhor.

— Não creio que a Baronetesa confie tanto em mim. Creio que apenas quis se livrar das suspeitas e responder os meus questionamentos, Mrs. Hozuki. Confiança parece algo distante aos meus olhos vindo da Baronetesa.

Karin riu suavemente diante das palavras do Baronete, mas ele apenas ergueu uma sobrancelha em questionamento.

— Um homem cético – ponderou antes de continuar: – Talvez o senhor se surpreenda, mas creio e tenho imensurável certeza que o senhor está no caminho certo.

— Se a senhora diz – se limitou a dizer.

— Gostaria de agradecê-lo por cuidar da minha amada amiga. Sakura tem uma cabeça muito dura. Orgulhosa até o último fio de cabelo, mas o tanto que tem de orgulho tem de preocupação e dedicação. Ela tem o péssimo hábito de colocar os outros em primeiro lugar – Karin suspirou com o pensamento enquanto se abria ao Baronete como se fossem velhos amigos, algo que era intrínseco à ruiva, tão diferente da mulher de cabelos cor-de-rosa. – Principalmente os negócios de Itachi. Sua atitude irresponsável e altruísta me preocupa. Fico feliz que agora ela tenha alguém como o senhor, Baronete. Creio que agora tenho um grande aliado em Winterfall – comentou com um largo sorriso enquanto o homem parava os seus passos encarando uma roseira bem cuidada do jardim.

— Em breve terei que partir – disse de forma fria substituindo toda a felicidade de Karin pela seriedade:

— E a deixará sozinha?

— Tudo o que a Baronetesa me pede desde a minha chegada é a minha partida.

— Palavras ditas ao vento – disse com certa impaciência movimentando a mão com descaso.

— Como? – Ele questionou confuso, detendo toda a sua atenção na ruiva ao seu lado.

— Temo em dizer que isto o senhor terá que descobrir sozinho – foi sincera fazendo o homem suspirar.

— A senhora e seus enigmas.

— Estava errada em meu último conselho para o senhor? – Questionou com humor.

— Não – ele admitiu lembrando-se que ela estava certa. – O que devo fazer?

A pergunta sincera, baixa e espontânea a deixou sem palavras, mas com um olhar para o horizonte ela disse de maneira gentil:

— O que o senhor deseja fazer?

Ele não sabia a resposta, mas compreendeu as perguntas subliminares por trás daquela de aparente inocência, no entanto, decidiu não pensar naquilo por hora.

Karin suspirou antes de voltar a sorrir para o homem que desviou o olhar para uma janela específica atrás de si, surpreendendo-se com a Baronetesa que o observava com uma expressão de dúvida, principalmente ao ver a amiga ruiva dando-lhe um aceno animado.

Ele viu a mulher suspirar antes de fechar as cortinas para ser ocultada.

Sasuke voltou o olhar para Karin que ria da amiga.

— Acho que ela está com raiva por causa de uma coisa que eu disse, mas ela logo me dará razão – disse convencida antes de voltar a sorrir: – Posso fazer um último pedido, meu senhor?

— Se estiver ao meu alcance, terei a honra de servi-la.

Karin sorriu satisfeita antes de confidenciar sua proposta:

— Terá um baile daqui há poucas semanas em um condado ao Norte. Eu e Sakura somos conhecidas da anfitriã, convidei Sakura para ir comigo e o meu marido, mas ela está irredutível; disse que não poderia se afastar por tanto tempo dos negócios, mas creio que apenas é uma desculpa para não ir e tudo o que Sakura precisa depois de tantas dores é diversão.

— Não compreendo como eu poderia ser útil para a senhora – o Baronete foi sincero.

— Ajude-me a convencê-la a ir – pediu. – Quero que ela se divirta e já perdi a conta de quantas cartas recebi do Barão de Dworland perguntando-me se a Baronetesa irá ao Baile...

— Barão de Dworland? – Sasuke interrompeu subitamente a tagarelice da senhora ao ouvir a última sentença. – Quem é esse Barão de Dworland?

Mesmo o tom frio e a expressão dura que o Baronete assumiu, Karin permaneceu sorrindo com inocência:

— Ora, temo que o senhor não o conheça, mas o Barão de Dworland é um homem de posses do Norte, tem propriedades e riquezas vistosas; é um homem muito educado e divertido, uma lástima ter perdido sua esposa tão cedo e não ter tido herdeiros – suspirou com falso pesar antes de ver os olhos negros fixos em sua face, mesmo assim Karin sabia que não era alvo da mente conturbada do Baronete naquele momento. – Ele sempre foi um admirador das qualidades da Baronetesa de Winterfall e sempre a elogiou. Os dois são bons amigos podemos assim dizer e desde o distanciamento e o falecimento do seu querido irmão, Baronete, o Barão de Dworland vem confidenciando a mim sua preocupação pela Baronetesa. Tento acalmá-lo, mas creio que só a ver pessoalmente fará a alma desse homem se tornar tranquila. Creio que uma noite em um grande baile e a companhia animadora do Barão de Dworland fará bem para a saúde da nossa querida Sakura.

Sasuke não respondeu, permaneceu imóvel antes dos seus olhos se desviarem para as cortinas cerradas do quarto da sua cunhada. Os olhos negros então caíram antes de voltarem para os castanhos de tom avermelhados que pareciam estudá-lo com afinco.

— Não poderei prometer nada, minha senhora, mas verei o que posso fazer.

— É o suficiente – Karin disse exultante, uma alegria além do esperado antes de acrescentar para aumento do mal humor do Baronete. – Eu e o Barão de Dworland ficaremos muito agradecidos com a sua ajuda.

Sasuke assentiu controlando o ímpeto de dizer algo rude; escutou a despedida calorosa da Mrs. Hozuki antes de conduzi-la até seu próprio cocheiro e ver sua carruagem partir.

Assim que a poeira levantada já estava distante, seus passos automáticos rumaram para a biblioteca onde permaneceu por horas imóvel no sofá de estampa floral, vez ou outra algum empregado silencioso passava por aquele senhor que balbuciava frases incompreensíveis como "herdeiros", "viúvos", "amigos" e até um tal de "Barão de Dworland", mas como pagos para ser, os empregados partiam sem nada dizer sobre o desgosto palpável no tom daquele senhor, foi apenas a governanta quem teve a ousadia de interromper as divagações daquele senhor e anunciar o jantar.

Sasuke não demorou para seguir o rumo da sala de jantar encontrando mais uma vez só o seu lugar à mesa.

— Por que o lugar da Baronetesa não está posto? – Questionou diretamente a governanta prostrada em um canto.

A mulher parecia tensa, mas respondeu com um tom baixo:

— A Baronetesa alegou que jantará no seu aposento atendendo às prescrições médicas para que permaneça em repouso, meu senhor.

Sasuke assentiu sabendo que aquela não era a total verdade, mas ele nada disse, apenas se sentou em seu lugar como um digno gentleman vendo os empregados servirem um carneiro de aparência apetitosa para os atentos, o que não era o seu caso.

Usou o talher de prata para pegar uma porção, mas extinguiu o movimento no meio do caminho antes do talher voltar a se chocar com a cerâmica, chamando a atenção de todos os empregados.

O Baronete se ergueu subitamente antes de se voltar para a governanta e dizer suas ordens:

— Preparem o lugar da Baronetesa, em breve retornarei.

A mulher de idade avançada se surpreendeu com as palavras do seu patrão, mas nada pôde fazer ou dizer para impedi-lo já que os passos firmes e decididos já ecoavam para fora do cômodo e a senhora tinha a vaga ideia para onde aquele senhor de posses se dirigia.

 

***

 

Sakura suspirou mais uma vez diante da página amarelada.

Era a terceira vez que relia aquela frase, mas sua mente tão congestionada pelos últimos dias não davam a paz para que repousasse ou para que absorvesse algo daquele romance francês.

O livro era para se distrair, mas o que ela mais estava era distraída.

Talvez ela devesse desistir, pensou, por mais que tivesse a certeza que permaneceria em vigília incapaz de repousar; no entanto, seus pensamentos foram interrompidos pelas batidas educadas na porta fazendo com que a Baronetesa fechasse os olhos buscando por paciência já imaginando ser sua governanta preocupada carregando uma grande bandeja.

Sakura gostava daquela mulher, admirava o quanto ela era leal e rígida com os funcionários, sempre ajudando sua senhora a deixar Winterfall o mais perfeito possível, mas a rica viúva apreciaria mais a solidão do que uma bandeja com o jantar enquanto ainda se sentia cheia devido às tantas refeições feitas durante o dia.

Mesmo com essa visão, a mulher concedeu a entrada fixando os olhos na leitura como se estivesse totalmente absorvida pela essência.

— Como bem já disse, não deve se preocupar, não apresento fome no momento. Mais tarde solicitarei sua vinda – acrescentou para a figura silenciosa às suas costas, mas o imponente:

— Não sou um dos seus servos se é o que acredita ser – fez com que a mulher deitada e já vestida com a roupa negra de dormir se sobressaltasse com os olhos evidentes direcionados para a figura firme do seu cunhado próximo à entrada.

A voz sumiu durante os longos segundos que ele levou contornando a cama para se aproximar de onde ela estava deitada.

Sasuke também nada disse, porém, seu olhar firme e postura tão ereta era capaz de oprimir os exemplares ao seu redor sem proferir qualquer palavra.

A mulher puxou mais o lençol para se cobrir compreendendo a situação inadequada em que estavam. Por mais que sentisse suas bochechas inflando por estar em tão poucas vestes, ela conseguiu controlar o tom de voz ao questionar:

— O que faz aqui, meu senhor?

— Vim cuidar da senhora – o tom saiu respeitoso, mas as palavras acertaram Sakura com força, fazendo os olhos verdes se tornarem evidentes para Sasuke e a face sempre tão rígida que ela sustentava, cair por terra, revelando aos olhos negros uma mulher surpresa.

No entanto, assim que ela se lembrou das palavras de Itachi naquela carta que trouxe o cunhado para a sua vida, a face surpresa foi transposta por uma de seriedade.

— Eu agradeço, mas não desejo que se prenda à um pedido post-mortem. Eu sei me cuidar.

— Eu sei – ele reiniciou depois de assentir. – Mas não estou aqui pelo pedido do meu irmão, mas sim porque é meu desejo fazer.

As palavras provindas daquele homem de porte conseguiu surpreender mais uma vez a mulher que se apressou em questionar:

— Tem tal atitude por pena? – No entanto, o Baronete não respondeu retirando uma risada sem humor de Sakura que logo continuou a dizer de forma sagaz através da capa que por tantos dias ele viu a figura usar: – Caso o senhor ache que me refugiei nos meus aposentos para evitá-lo por vergonha, viver minha dor e chorar impetuosamente, devo acrescentar que o senhor está imensuravelmente errado. O que eu lhe contei ocorreu há mais de um ano e há tempos minhas lágrimas já secaram, meu senhor.

— Prove-me – Sasuke rebateu ofertando a mão com um perfeito cavalheiro. – Seja a minha companhia no jantar desta noite.

Os verdes focaram na mão estendida a si e ela compreendeu que não poderia recusar, mesmo assim seus trajes permaneciam inadequados.

A mão feminina apertou o lençol alvo antes dos olhos caírem no colchão em uma recusa silenciosa.

— Se o senhor me permitir, trocarei minhas vestes e logo o encontrarei no salão de jantar. Provarei que estou bem e não há mais com que se preocupar comigo.

Sasuke compreendeu fechando sua mão recusada antes de recolhê-la lentamente. Mesmo que ela pedisse sua partida, o Baronete apenas permaneceu ali antes de buscar o robe negro esquecido sobre uma poltrona georgiana de estampa floral.

O tecido macio acariciou sua pele antes dele cobrir os ombros da mulher que acompanhou com incompreensão todos os movimentos daquele homem que agora voltava a encará-la de cima.

— Não se preocupe com seus trajes. Hoje não teremos visitas para o jantar.

Sakura assentiu lentamente ainda entorpecida pelas últimas atitudes do seu cunhado, por isso, cedendo, ela cobriu seu corpo completamente pelo grosso robe antes dos seus olhos visualizarem mais uma vez a mão do cavalheiro estendida para si em um pedido silencioso.

Seu olhar desviou algumas vezes da mão para os olhos negros fixos e seguros em si antes de chegar à conclusão que recusá-lo uma segunda vez seria inadequado, por isso, lentamente ela tocou a mão nua do seu companheiro que demostrou um imperceptível sorriso ajudando-a a se erguer da cama e calçar as sapatilhas.

Ele cruzou o braço com o da sua companhia para ofertar apoio à uma dama enquanto iniciava os passos para sair daqueles aposentos.

Sakura nada disse para romper o silêncio que imperou sobre os dois, apenas se deteve a desviar os olhos confusos para a sua companhia sem receber nenhum de volta. Acabou rindo internamente ao se lembrar da sua amiga que nunca perdia uma oportunidade de dizer que os olhos do novo Baronete não saiam da sua cunhada, agora depois de algum tempo morando juntos, era ela que desviava o olhar para o homem e não era correspondida.

Tinha ciência de que ele queria algo com toda aquela insistência pela sua companhia, talvez importuná-la e julgá-la como irresponsável com a sua saúde, mas por hora ela resolveu não questionar, optou por olhar para frente, descer com elegância a grande escadaria e ver até que ponto aquele jantar os levaria.

Se aquele homem queria dizer algo, seria ele quem deveria iniciar e ir direto ao ponto. Era até cômico na visão daquela Baronetesa permanecer calada e esperar pelas palavras de um homem tão soturno.

Ele a guiou até o salão onde a mulher encontrou o olhar surpreso da sua governanta, mas a senhora fingiu não perceber como os funcionários estavam confusos, apenas deixou que o homem a guiasse para a ponta da mesa onde ofertou a cadeira.

Sakura sentou com elegância deixando que os cabelos soltos caíssem em cascata na sua costa.

Sasuke sabia que sua companhia estudava todos os seus movimentos, mas fingiu não perceber centrando-se nos empregados que serviam os pratos dos senhores.

Assim que ele viu a mulher se preparar para a primeira colherada, ordenou em voz firme:

— Retirem-se todos.

Os olhares ficaram aturdidos e alguns até se voltaram para a senhora também surpresa, mas o silêncio dela e o fato daquele homem ser o herdeiro de todo aquele lugar fez com que um por um eles se retirassem em completo silêncio.

— Agora sim parece que o herdeiro assumiu o controle das suas novas posses – Sakura murmurou dando a primeira colherada com certa inquietação, no entanto, suas palavras baixas em um salão silencioso foram nítidas aos tímpanos daquele senhor.

— Desde a primeira vez em que estive jantando em sua companhia desejava suspender a presença dos empregados. – O homem se pronunciou de forma firme chamando a atenção da agora única companhia do Baronete. – Não aprecio a presença de empregados em postos desconfortáveis até o término do meu jantar. Sempre os dispenso quando possível na minha residência em Bath.

Sakura continuou o olhar fixo em Sasuke mesmo ele desviando os olhos para a sua própria refeição. A mulher permaneceu estática não por causa da explicação, mas pelo homem sempre tão curto nas respostas ter compartilhado algo sobre sua vida particular em Bath.

Para outros poderia ser algo supérfluo, mas Sakura interpretou como algo notório.

Assim que recebeu um olhar questionador, ela desviou sabendo que havia permanecido encarando-o por tempo além do ideal, por isso, recuperando a compostura ela resolveu jantar em silêncio.

Deu duas garfadas antes de se pegar observando em um tom educado:

— Sua vida em Bath deve ser agitada. Devo imaginar o quão monótono deve ser sua vida aqui comparada a de lá.

— De certa forma a senhora está correta – ele logo se prontificou a responder não interrompendo sua apreciação pelo prato. – Bath é uma cidade cheia de divertimentos e opções para tornar a noite notável. Não é por menos que de temporadas em temporadas a cidade tornasse cheia pelos tantos exemplares que se hospedam nas principais avenidas, até mesmo exemplares vindos de Londres, no entanto, vejo a cidade como o centro dos meus negócios. Creio que não sou o melhor exemplo de legítimo exemplar de Bath, preferindo o sossego da minha residência ao invés de noites em Teatros e Salões Superiores ou mesmo manhãs no Balneário.

— Seus amigos devem julgá-lo como um estapafúrdio tendo tais ações em Bath – ela comentou apresentando um resquício de humor no pequeno sorriso que exibia. – Preferindo a solidão de um palacete a companhia de amigos e danças com prováveis pretendentes. Jogos e conversas em clubes de cavalheiros, passeios ao ar livre nos pequenos elevados das redondezas, construções belas para serem admiradas.

Sasuke não desviou o seu olhar da Baronetesa enquanto ela enumerava as possibilidades de atividades para se realizar em Bath, esperando que a mulher concluísse antes de responder com firmeza.

— Não os julgo como meus amigos ou confidentes, apenas como conhecidos ou parceiros de negócio. Quanto às senhoritas, admito que em meus anos de mocidade participei de bailes e danças, apreciei sua companhia e suas conversas, no entanto, com o tempo se tornou algo supérfluo. Todas que conheço não atingiram o meu real interesse.

— Nem ao menos se interessa em desposar uma dama? – Questionou surpresa antes de se calar percebendo o quão inadequada havia sido adentrando um território particular e tudo o que ela não precisava era se deixar se aproximar mais do que havia feito contando sobre seu passado. – Perdão – pediu desviando o olhar para o jantar, mas os olhos negros ainda estavam fixos na mulher do outro lado da mesa.

— Se uma verdadeiramente me interessar a tal ponto, eu desposaria. No entanto, creio que em Bath, após conhecer todas as famílias que lá residem ou alugam apartamentos para as temporadas, esta mulher não se encontra – o homem respondeu o último questionamento surpreendendo a mulher que assentiu com educação.

— Compreendo.

A mão grande brincou com o talher de prata enquanto os olhos negros não desviavam da figura feminina que agora se encontrava silenciosa e focada em seu prato quase encerrado.

Desviou com um suspiro antes de ver as imagens imponentes de alguns antepassados expostos nas paredes e comentar para quebrar o silêncio:

— Faz muitos anos desde a última vez em que estive nessa residência.

Sakura sabia que ele se referia à decoração e alguns papeis de parede que foram da escolha daquela senhora, mas foi outro detalhe que recebeu sua total atenção.

— Por que se afastou por tanto tempo? Esta não é a casa da sua infância? Da sua família? – Questionou com cautela vendo um sorriso mínimo e sem humor desenhar os lábios masculinos.

— Depois que parti para Oxford e minha mãe faleceu, creio que não tive motivos para voltar, ainda mais quando os problemas começaram – respondeu acreditando que aquela mulher já conhecia o passado do seu núcleo familiar, mas viu seu erro no olhar verde confuso e na pergunta espontânea:

— A antiga Baronetesa faleceu tão cedo?

— Itachi não a contou? – Rebateu vendo as maçãs corarem e os olhos desviarem admitindo:

— Era do meu conhecimento o falecimento do antigo Baronete e da sua esposa, mas nunca exigi detalhes ao ver no olhar de Itachi que o questionamento lhe trazia dor. Apenas disse que se ele quisesse conversar, poderia conversar comigo – o olhar verde se ergueu firme – mas ele nunca me procurou para contar o seu passado.

— É compreensível tal atitude tendo em mente o quão próximo ele esteve de tudo e como as recordações devem ser mais vívidas para ele do que é para mim. Se ainda for do seu real interesse posso lhe contar – ofertou.

— Se estas recordações lhe trazem dor, não desejo provocá-las reacendendo lembranças e talvez segredos da sua família.

— Até onde compreendo sobre casamentos, o matrimônio a torna parte desta família. Nada mais justo do que compartilhar a verdade com a senhora.

Sakura ponderou e de fato, mesmo respeitando o espaço de Itachi e até não questionando sobre a família Uchiha, ela não negaria que não se sentia de fato uma Uchiha por mais que carregasse esse sobrenome, o que Sasuke a oferecia atiçou sua curiosidade, por isso concluiu em tom educado:

— Eu adoraria saber mais sobre os seus pais, Baronete.

— Minha mãe faleceu no inverno do ano em que parti. Sua doença foi de progressão rápida, tão rápida que nem pude ter a oportunidade de me despedir – admitiu recordando-se das notícias que recebia de casa que eram cada vez mais avassaladoras. – Meu pai e meu irmão estavam ao lado da antiga Baronetesa de Winterfall em seus últimos dias. Meu pai era um homem de feições muito duras – apontou para o retrato de Fugaku em um canto da sala retratado de forma tão séria –; no entanto, a verdade é que o antigo Baronete tinha um grande amor pela sua esposa enferma. Ao vê-la definhar diante de seus olhos e das suas mãos incapazes, meu pai perdeu o seu chão e Itachi teve que ampará-los. Com o falecimento da minha mãe seguiu um período de grande luto por parte do meu pai.

"Este fato não foi um motivo para que aquele patriarca se aproximasse dos dois frutos que ele tinha com aquela que havia amado, na verdade, nas poucas vezes que vim à Winterfall apenas o encontrei recolhido em seus aposentos ou extremamente arisco quando em presença das outras pessoas.

"Admito que não sou o melhor exemplo de filho dedicado e depois de algumas tentativas e progressão dos meus estudos, eu me afastei cada vez mais de Winterfall mantendo contato por meio de cartas com o meu irmão.

"Houve uma chama de esperança assim que meu pai começou a sair de casa e viajar para outros condados sob recomendações médicas para a sua saúde mental, no entanto, o progresso resultou no declínio definitivo do meu pai.

"Com o tempo suas riquezas foram sendo destruídas pelos vícios mundanos onde meu pai se perdeu. É vergonhoso admitir, mas o Baronete de Winterfall que eu intitulava como meu pai, destruiu o patrimônio de tantas gerações respeitadas em jogos, bebidas e promiscuidade.

"Não sabe qual foi a minha surpresa ao caçá-lo por tanto tempo com o intuito de salvá-lo e no fim descobrir que o tão austero e soturno Baronete teve seu fim sem a glória de uma cama rica de plumas e seus familiares ao redor. O fim do meu amado pai se deu em uma cama repulsiva de um prostíbulo na periferia londrina tendo como única espectadora uma jovem prostituta que tinha traços semelhantes ao da minha mãe.

"Não havia mais riquezas. Ele liquidou tudo enquanto perseguia traços da minha mãe no rosto das prostitutas e tentava esquecer a vida em doses altas de álcool e jogos de azar. Tudo o que sobrou foi esta residência que ele preservava como um templo em memória a minha mãe.

"Eu e Itachi lutamos para transformar a pequena fortuna que havíamos herdado da nossa mãe na nossa atual riqueza".

O homem interrompeu a história que tão bem conhecia para refrescar seus lábios secos com uma dose alcoólica de vinho tendo diante de si os olhos arregalados de terror e pesar da sua cunhada diante daquela história que desconhecia.

Ele sorriu amargamente se lembrando de uma citação:

— Lembro-me das palavras do meu primo enquanto preparávamos o funeral do meu pai: "Os homens da família Uchiha amam demais as suas mulheres; amam tanto que seu próprio amor os destrói". Nunca pensei que meu próprio irmão estarrecido com o episódio na época seria aquele que provaria a veracidade de tais palavras para mim.

Sasuke viu o manto negro perpassar os olhos verdes com aquela analogia, mas a mulher se manteve firme ao dizer:

— É contraditório pensar que nos romances o amor é enaltecido como a salvação, mas de acordo com o seu primo, o amor é como um veneno.

— Ele está errado? – Inqueriu. – O amor infesta, corrói, deixa as pessoas sãs a mercê daquelas que dominam seus pensamentos; perdem seu sono, sua razão, sua dignidade. A pessoa passa a viver em função daquele amor. Isto não é como um veneno? O pior dos venenos?

— Sim, mas não deixa de ser o desejo a se alcançar das pessoas.

— Vale a pena sofrer por amor? – Ele foi frio fazendo a mulher se calar antes do sorriso pequeno despontar dos lábios femininos para si.

— Vale a pena viver sem o amor?

Sasuke sorriu com aquela sagacidade para rebater seu questionamento anterior.

— Minhas observações apenas me guiam para o rumo contrário.

— Acredita em uma maldição sobre os homens da sua família? – Ela foi irônica fazendo o homem sorrir um pouco mais.

— Acredito na fraqueza das mentes que amam, senhora.

— Diz isto, mas apenas no dia em que sua mente estiver congestionada com o rosto daquela que ama, perguntando-se sobre sua saúde e quando estará próximo dela outra vez, é que poderá julgar se o amor é tão perverso assim – a mulher comentou com um tom gentil de quem conhecia sobre o que dizia e Sasuke se lembrou de que aquela mulher amou seu irmão mesmo que ela não tenha sido amada por ele da mesma forma.

— Diante das suas palavras, presumo que ache valer a pena amar.

— Sim – ela murmurou. – Por mais que o fim seja incerto – acrescentou. – Por isso, não deve se privar do amor se ele puder acontecer.

— Diz como alguém que provaria dele novamente se houvesse oportunidade – observou fazendo a mulher rir do comentário antes de deixar o olhar cair com certo pesar.

— Creio que amar agora só resultaria em finais tristes – ponderou antes de brincar: – Será que a maldição dos homens da família Uchiha pode cair sobre uma mulher?

O comentário deprimente tirou um pequeno sorriso de Sasuke que murmurou com sinceridade:

— Eu não sei como respondê-la, Baronetesa.

Finalizou sua frase voltando ao seu prato, mesmo que sua mente continuasse refletindo sobre a situação daquela mulher.

Entre colheradas ele se lembrava que mesmo que ela amasse novamente e se envolvesse, o que a esperava? Uma vida de pecado aos olhos da Igreja? E por que ele começava a divagar sobre essa possibilidade já que algum tempo atrás ele julgava como um grande problema caso isto acontecesse? Ele não sabia o porquê, apenas sabia que ela merecia algo após tudo o que passou.

— Sinto muito por tudo o que o senhor sofreu, Baronete – a voz da mulher que permeava seus pensamentos o despertou fazendo-o levar alguns segundos antes de compreender suas palavras.

As feições masculinas assentiram antes de dizer com sinceridade:

— Eu também sinto muito por tudo o que a senhora passou, Baronetesa. Se houver algo que eu puder fazer, eu farei.

Ela negou com um sorriso terno no rosto.

— Você não me deve nada senhor. Já fez muito. Muito obrigada por ter cuidado de mim hoje de manhã, não foi a minha intenção preocupá-lo.

Sasuke nada disse, apenas mostrou um dos seus pequenos sorrisos gentis, sem nenhum teor de provocação ou escárnio, apenas sincero enquanto seus olhos estavam fixos na mulher que depois de um tempo olhou-o com expectativa com o fim do jantar.

Sem empregados ele mesmo teve que se erguer para ajudá-la a se erguer da cadeira.

Viu o sorriso sincero que ela ofertava durante o ato e antes que a boca feminina se abrisse para agradecer pelo jantar, ele se viu perguntando:

— Pode tocar algumas melodias para mim no pianoforte, Baronetesa?

Sasuke sabia que não foi o melhor dos pedidos e que a mulher havia percebido a desculpa qualquer para mantê-la ali, mesmo assim como uma dama ela disse que seria um prazer tocar algumas canções aceitando o braço que o homem ofertava.

O Baronete estava confuso pelas suas atitudes e se perguntava qual era a finalidade de estender aquela noite se o melhor e racional era deixar para terem uma conversa ao amanhecer sobre os negócios do irmão, mas de forma irracional ele se encontrou sentado no mesmo sofá em que se sentou diante da cunhada na primeira vez em que se viram, mas agora ele estava prostrado ali encarando a mulher iniciando uma melodia no pianoforte de madeira nobre.

Sua mente deveria apreciar a agradável melodia, mas seus olhos se perderam na figura feminina em trajes tão despojados. Ele observou os cabelos longos que alcançavam os quadris em um liso reto e cheio naquela coloração estranha e percebeu como ela tinha o corpo esguio mesmo coberta pelo grosso robe, o que combinava com o rosto de coração e de aparência sadia tão centrada.

Era uma contradição como uma mulher de tantas cores era posta naquela prisão monocromática, mas o que o chocou foi o fugaz questionamento se a pele daquela mulher seria tão macia quanto o tecido que a cobria ou se cheiro seria tão doce e inebriante do que era naquela distância. Será que homens como o Barão de Dworland haveriam notado tais atrativos naquela mulher?

— Tsc – chiou com aquele pensamento inadequado fazendo a mulher errar uma nota antes de encerrar a melodia com um olhar questionador.

— A melodia não o agrada? – Perguntou o óbvio para o homem com estranha feição torturada.

Sakura estava estranhando aquela reação tão atípica para o apático cunhado.

— Não – Sasuke se apreçou a dizer a verdade. – Perdão, estava distraído.

— Era notável – ela observou antes de se erguer e decidir se sentar ao lado do homem que observou seu movimento com surpresa.

Era verdade que eles não haviam tido um bom relacionamento desde o início, mas Sakura não era fria de não notar aquela perturbação. Compreendia que agora era impossível romper a presença daquele homem na sua vida e nos últimos minutos tinha chegado à conclusão de que toda sua tentativa de manter a impessoalidade no relacionamento de ambos já era impossível.

Os dois já haviam compartilhado demais, contado demais. Não havia mais volta e como Sasuke havia afirmado antes, eles eram uma família, o único elo que o outro tinha para chamar de família. A única saída era ser racional e escolher por um relacionamento saudável.

A atitude dele de não a julgar e até mesmo confiar nela para contar algumas particularidades foi um bônus para que ela julgasse que talvez aquele homem fosse digno de confiança como sua fiel amiga tentava convencê-la há tantos dias, no entanto, assim que ela se sentou tão próxima a ele, a mulher viu um traço perturbado brincar com as feições masculinas.

Será que sua presença e proximidade não eram apreciados pelo Baronete? Será que ela julgou errado os momentos que passaram juntos? Pensamentos como esses perpassaram pela mente da Baronetesa que lutou para deixá-los de lado enquanto questionava:

— Algo o incomoda, Baronete? – Ele sentiu o tom da sinceridade e preocupação pairar pelo ar.

Não queria preocupá-la, mas o cheiro próximo mesmo que mínimo parecia sufocá-lo e como uma reação quase mínima ele se afastou um pouco tentando fugir daqueles pensamentos impróprios, algo que não passou despercebido pela mulher que segurou a mão masculina para que ele não se afastasse mais.

— Perdão – da mesma forma rápida que ela o segurou, a mulher afastou o toque de si se desculpando.

Um pequeno sorriso acolhedor se desenhou nos lábios do Baronete enquanto envolvia a mão feminina ainda incerta.

— Perdão por preocupá-la. Apenas estava distraído. Não é nada.

Por mais que tentasse, os olhos verdes fixos em seu rosto não deixavam margem para que ele pensasse que havia dissuadi-la, pelo contrário, a suspeita só havia aumentado.

— Por um momento pensei que confiasse em mim da mesma forma que confiei no senhor – as palavras firmes da mulher o acertaram com força fazendo com que a austera máscara que ele tanto carregava, caísse por terra.

Sakura se ergueu desvencilhando sua mão da grande e quente que a acolhia.

Ela não sabia direito, mas sentia-se com raiva pela falta de confiança dele e para acalmar seus nervos, a senhora deu alguns passos fixando os olhos nas grandes janelas.

— Confias em mim? – A mulher ouviu o homem murmurar e se negou a responder tal questionamento, mas logo percebeu que não era preciso responder, pois sentiu a presença se erguer atrás de si. – Eu confio em você, minha senhora – ele se apreçou a admitir depois de descobrir que ela confiava nele como Karin havia mencionado.

— Não aparenta ser esta a verdade – ela se voltou para si com as maçãs coradas pela cólera repentina. – Questiono se algo o atormenta e foge de mim como se eu fosse uma praga.

— Lhe incomoda tanto assim o fato de me afastar de si? – Perguntou com desconfiança.

— E continua com a péssima mania de responder com outros questionamentos – a mulher ergueu o nariz se aproximando do homem sem medo.

— É algo simplório. Nada com que se preocupar – apaziguou.

— Tão simplório que não pode compartilhar – resmungou com impaciência e por mais que aquela situação o estivesse deixando contra a parede, um pequeno sorriso com humor despontava dos lábios do Baronete.

Sakura viu o sorriso travesso pelo canto dos olhos e não pôde deixar de observar:

— Tão perverso que rir de mim. Devo ser mais cuidadosa em julgar se as pessoas são confiáveis ou não.

— Temo que se eu lhe contar, a senhora se sinta ofendida e não é o que eu desejo, acredite.

Ela sabia que as palavras eram sinceras, mesmo assim, teve que questionar se aproximando mais para estudar a feição masculina que revelava e escondia tanto atrás dos traços atraentes:

— É por causa da minha saúde? O senhor continua crendo que não estou bem? Estou bem! Não há mais com o que se preocupar...

Sasuke fechou os olhos enquanto as palavras femininas continuavam a ecoar sobre possibilidades. Ele sabia que Sakura era uma mulher que não desistiria, mas o homem não esperava que fosse tão impulsivo de puxar o rosto feminino contra o seu e selar os lábios tagarelas com os seus masculinos.

Foi como se o mundo parasse durante o toque de lábios, a resposta para a pergunta de Karin sobre o que ele queria fazer.

A verdade guardada e repreendida pelo Baronete por tanto tempo é que ele apreciava aquela mulher, não só a admirava, mas chegava ao ponto de desejar tocá-la ou estar próximo. O fato dela ser a viúva do seu irmão era o grande empecilho além da crença de que ela o via apenas como alguém indesejado.

No entanto, durante os segundos que durou o tenro toque de lábios ele permitiu que aquele turbilhão de pensamentos que o deixavam com insônia tomassem rumos livres e perigosos; ali ele percebeu que a desejava ardentemente, mas quando os lábios descolaram e os olhos negros visualizaram os verdes estáticos e arregalados para si, Sasuke aprisionou tudo mais uma vez e repetiu seu mantra: "é impossível".

— Perdão – foi tudo o que disse antes de se afastar e contornar a mulher estática para ir embora daquele cômodo.

Sakura não o impediu, o choque de ter seus lábios capturados pelo seu cunhado de forma repentina ainda a entorpecia e com um passo em falso ela deixou seu corpo cair sobre o sofá.

Os dedos trêmulos tatearam seus lábios como se questionassem se aquilo havia mesmo ocorrido e por mais que o cômodo vazio iluminado apenas por alguns candelabros dissessem que talvez não, o formigamento persistente dizia que sim e no fundo ela queria acreditar que não foi só uma ilusão.

Naquele momento ela se lembrou da amiga rindo enquanto imaginava como seria estar nos braços do Baronete, Sakura havia repreendido Karin diversas vezes por mais que estivessem sozinhas durante a ocasião, negando-se a adentrar naquele tipo de conversa ou sequer imaginar o que ela propunha, mas ali estava a resposta para aquelas brincadeiras, o Baronete ao mesmo tempo que era delicado nos toques, deixava sua marca, fazia-se ser notado e não esquecido tão facilmente.

Essa verdade já vinha sendo discutida nos pensamentos de Sakura há algum tempo, até mesmo antes de lhe contar a verdade. Sabia que era inadequado, mas se pegou observando algumas vezes aquele homem quando o mesmo estava distraído.

Ela nunca admitiria para Karin, mas em seus pensamentos ela o declarou como robusto, até mais bonito do que seu falecido marido, por vezes pensou que ele poderia ser um libertino, mas a calma das suas ações e atitudes tão cavalheiras para consigo, a fez repensar sobre o homem.

Por vezes se repreendeu pelo andar dos seus pensamentos e por vezes culpou sua amiga que sempre dizia coisas que a deixavam martelando em sua cabeça como: "talvez o Baronete tenha alguma bela pretendente em Bath", "os olhos dele não saem da senhora", "vi o espiando, até mesmo ele a viu antes de admitir que a achava uma bela e interessante mulher".

Sakura amaldiçoava sua amiga por aqueles pensamentos e amaldiçoava a sua má sorte por vê-lo durante noites escuras e silenciosas, principalmente naquele corredor onde ela viu parte do seu peito nu ou na manhã seguinte em que o viu praticamente despido e por mais que não admitisse para o mundo, a mente de Sakura por vezes trouxe de volta a imagem do homem para o seu tormento.

Ela tinha que admitir pelo menos para si e ela admitia naquela biblioteca, havia gostado do novo Baronete desde a primeira vez em que o viu; gostou da sua atitude, sua postura, seu cavalheirismo, sua afronta e nunca Sakura havia desejado tanto ser vista como uma igual por um homem tão soturno e no fim, diante da história da sua família, quis acalentá-lo em seus braços, algo que ela suspeitava que o homem nunca havia recebido depois da morte da sua mãe.

Não era questão só de atração, era algo a mais, uma sensação que ela se acostumou a ter durante aqueles dias, quando antes, morando sozinha e viúva em Winterfall, ela não teve.

Antes, ela só tinha a si e sua consciência entre aquelas paredes, uma vida que não era de fato uma vida. Ela aprendeu a gostar da companhia por mais que tenha evitado ao máximo não se encontrar naquela situação.

Todas as vezes que ele discutia com ela e deixava suas amarras caírem, a mulher sorria por dentro sentindo a ânsia por mais e foi aí que ela percebeu que era tão perigoso, pois o fim estava certo...

Como a maldição que caia sobre os homens da família Uchiha, o jogo do coração era perigoso e o fim de Sakura é que Sasuke partiria e talvez nunca mais voltasse.

No entanto, ela já havia ido fundo demais, já estava afogada demais pela situação para fugir e com a alma tão decidida que ela sempre teve, a mulher se ergueu e praticamente correu rumo ao quarto no terceiro andar.

Não bateu, não pediu uma autorização, apenas entrou arfante vendo o homem que fazia as próprias malas mas parava diante da visão da sua própria cunhada parada na porta.

Demorou alguns segundos para que Sakura conseguisse se aproximar olhando a mala já pronta sendo fechada.

— O senhor irá partir? – Questionou mesmo sabendo a resposta.

— Eu já deveria ter partido, meus negócios precisam da minha presença em Bath. Creio que é o melhor para todos e o que você deseja...

— Não – o interrompeu fazendo os olhos negros se erguerem para a mulher. – Sei que sempre disse isso ao senhor; a verdade é que eu queria desejar isso, mas eu me acostumei com a sua presença – sorriu sem humor. – Não é prazeroso ficar sozinha em Winterfall – abraçou o próprio corpo enquanto sentia um peso sair de si ao admitir aquela verdade.

Sasuke desejou puxá-la para si, alojá-la em seus braços e dizer que ela não estava sozinha, que ele nunca a deixaria sozinha, mas ele não poderia fazer aquilo, ele não deveria macular uma relação já tão maculada.

— É o melhor no momento – repetiu o que ele tentava se convencer desde que entrara no quarto e começara a fazer as malas.

— Eu entendo – ela murmurou encontrando o olhar negro.

Havia tanto ali, mas o principal era "vá embora, por favor" e ela sabia que ele tinha razão em pedir por aquilo, mas não era o que a mulher queria ou que o homem queria.

Sakura sabia que sua atitude teria consequências, talvez prolongasse o tempo de retorno, mas ela precisava só mais uma vez, por isso, com convicção ela rompeu a distância e trouxe os lábios masculinos para os seus.

Ele era alto e mesmo na ponta dos pés ela tinha um pouco de dificuldade para alcançá-lo, mas depois da resistência inicial ela sentiu o corpo masculino a envolvendo, reivindicando-a para si e o beijo, antes tenro, se tornar profundo, cheio de significado e com a luxúria transbordando dos amantes.

O beijo de despedida se tornou dois, três, quatro, até ambos não saberem mais quantos beijos interrompidos por falta de fôlego sucederam-se, mas entre uma pausa em que os olhos estavam fechados, presos em seu próprio mundo enquanto as testas estavam coladas e as respirações misturadas, Sakura pediu:

— Toque-me.

Os dedos masculinos que apertavam o tecido grosso do robe deslizaram para o laço ao mesmo tempo que os lábios masculinos se apossavam dos femininos em um beijo calmo tentando distraí-la, mas a mente dos dois estavam fixos na abertura do robe que logo foi ao chão.

Os olhos não reabriram, permaneceram fechados para o mundo das sensações.

Sakura se arrepiou ao sentir as mãos grandes agora separadas do seu corpo apenas pelo tecido fino da roupa de dormir, mesmo assim, ela não quis que parasse, tudo o que fez foi dar um passo para trás trazendo o corpo masculino junto de si.

Sasuke estava preso nas sensações de sentir o calor da pele daquela mulher tão próxima a si que nem mesmo percebeu quando Sakura empurrou sua mala para o chão sem cuidado e deitou sobre a cama consigo sobre si; só notou quando reabriu os olhos para buscar fôlego, mas a visão da mulher de olhos brilhantes de desejo e cabelos espalhados ao redor do grande sorriso que exibia foi o suficiente para que ele retribuísse com outro e descesse seus beijos para o pescoço feminino exposto a si.

O cheiro era ainda melhor ali e toda vez que ela arfava, sua razão partia e tudo o que ele conseguia pensar era no quanto ele estava louco por aquela mulher.

Naquele momento crítico coberto de possibilidades como consequências, Sasuke pela primeira vez não pensou em nada além deles dois.

Não existia mais Baronete ou Baronetesa, cunhado ou cunhada, apenas Sasuke e Sakura e foi no momento que pela primeira vez ele murmurou "Sakura" e as peças foram ao chão que tudo mais perdeu seu sentido...


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem ♡

O próximo capítulo é o epílogo, caso tenham alguma dúvida, podem dizer, explicarei no próximo capítulo ♡



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