A Fera escrita por MileFer


Capítulo 11
A Cura - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá, babysss!

Adiantando um pouco a postagem deste pois, neste domingo, teremos a maravilhosa estreia da 7º temporada de Game Of Thrones rsrs não vou perder por nada!

Mil beijos,amores!

Boa leitura ♥



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Adélia acordou com um sobressalto quando algo muito quente e áspero tocou seu pescoço, provocando sua pele.

Não sentia a familiaridade costumeira de acordar no seu quarto – parecia estar em um lugar completamente diferente. Ela se remexeu um pouco, sentindo os lençóis acariciarem seu corpo de forma dócil e reconfortante.

A medida em que seus olhos iam se acostumando a luz, Adélia ia captando os detalhes que compunham o ambiente. Era o mesmo lugar de sempre: aquele quarto. Estava tudo em seu devido lugar, como se nada tivesse mudado.

Como se nada tivesse acontecido.

Ela ergueu-se na cama rapidamente, sentindo uma dor latejante por todo o corpo. Parecia estar com febre, gripada ou algo do tipo. Estava estranhamente cansada, e a dor insuportável em seus olhos provocava o arrependimento por ter acordado.

—Como está se sentindo? – Uma voz doce sussurrou em seu ouvido. Estava tão atordoada com o zumbido em seus ouvidos e todas aquelas dores espalhadas pelo corpo que Adélia logo pensou que fosse Suzane. – Oh, querida! Ainda está com muita febre.

Adélia fixou o olhar na silhueta que corria para o banheiro, alerta.

Estava doente?

Nada daquilo parecia fazer sentido, pois lembrava-se muito bem de estar saudável na noite anterior. Como adoecera tão rápido?

—O que está acontecendo? – Ela murmurou, enfraquecida. Estava ficando zonza com o esforço que fazia para levantar, e cada vez que piscava os olhos a dor se intensificava.

—Deite-se, Adélia – a voz repetiu, enquanto retirava a coisa áspera de seu pescoço e colocava algo molhado e frio em sua testa. – Não faça tanto esforço, ou ficará ainda pior.

—O que você... – Adélia se interrompeu, quando os olhos de Jeniffer pousaram sobre si.

Jeniffer parecia normal. Seus cabelos estavam estranhamente mais claros e presos em um coque apertado, seu rosto estava rosado e vestia-se do jeito de sempre, com jeans e camisa. Mas havia algo em seu olhar que Adélia não conseguia explicar.

Era uma sensação ruim, que não tinha nada a ver com seu estado de saúde atual.

Parecia que Adélia havia acabado de acordar de um pesadelo o qual não se lembrava – sentia dores em certos pontos no corpo, mas não se lembrava de como ou o porquê daquilo ter acontecido. Seu pescoço doía profundamente, seus braços ardiam como se estivessem arranhados e sua voz parecia rouca, quando na realidade não havia nada em seu corpo que indicasse o contrário.

—O que aconteceu? – Ela perguntou, desconfiada. Não sabia explicar o motivo naquele momento, mas de repente não saberia dizer o porquê confiar no que Jeniffer lhe diria parecia tolice.  – Quero dizer, o que aconteceu ontem?

Jeniffer pareceu pensar por um momento, como se não tivesse entendido a pergunta. Ela encarou Adélia por um momento, deixando um copo d’água de lado.

—Adélia, eu não tenho certeza se irá gostar de saber – ela disse, cautelosa. Parecia nervosa de repente, como se o assunto lhe causasse desconforto.

Adélia ficou chocada, se perguntando o que havia feito de tão errado para não desejar saber. Jeniffer parecia desconcertada demais, o que apenas serviu para aguçar a curiosidade e preocupação dela.

—Eu quero saber – Adélia disse, ficando rígida.

—Bem, você teve um encontro muito desagradável ontem à noite – a mulher parecia querer esconder o próprio rosto, como se estivesse envergonhada de algo. – E, bem...

Adélia sentiu seu peito se apertar, enquanto uma linha gélida e desconfortável enrolava-se ao seu corpo. 

—O que Rafael fez comigo? – Acusou, dura.

—Rafael não! Foi... – Jeniffer pausou, estremecendo. Adélia percebeu nos olhos dela o medo, e até seu tom de voz pareceu mais baixo, como se estivesse receosa de ser ouvida. – Foi o velho, Adélia. Ele veio até nós, a fez jurar que iria...

Jeniffer soluçou, estremecendo. Ela parecia frágil e cansada enquanto chorava.

Era um pressentimento ruim, algo que lhe causava toda aquela ânsia e febre. Havia algo de errado com Jeniffer, e até com ela mesma.

—Fez jurar o quê? – Ela indagou, sentindo a garganta doer quando engoliu em seco.

—Fez jurar que partiria o coração de Rafael! – Jeniffer limpou o rosto molhado de lágrimas, forçando-se a encará-la.

Adélia desviou o olhar, analisando a si mesma por um momento. Sentia-se estressada de repente, cansada demais.

Ela tentou se lembrar de alguma coisa da noite passada, mas tudo o que lhe vinha à mente era a imagem do velho Fordy adentrando violentamente em seu quarto, falando coisas que ela mal se lembrava. Tudo parecia meramente um pesadelo, até aquele momento.

Jeniffer continuava a falar, mas desta vez não chorava. Parecia falar alguma coisa sobre remédios, mas Adélia não conseguia entender uma palavra que saía de sua boca.

Estava se esforçando para recordar qualquer coisa que tenha acontecido na noite anterior que explicasse sua confusão, mas as imagens que apareciam em sua cabeça estavam turvas e embaraçadas, como uma série de fotografias velhas e escurecidas. Mal conseguia se lembrar de seu encontro com Rafael.

Por mais que seu coração lhe contrariasse, uma grande parte de Adélia acreditava em cada palavra que Jeniffer disse – ela não se lembrava, mas conseguia se imaginar sendo atacada por aquele velho louco. Tinha a ardência dos arranhões nos braços para alimentar sua imaginação, e a culpa aparente da mulher ao seu lado.

Ela se sentiu suja, impura e ferida. Queria entender o que fizera de tão errado para ser tão brutalmente atacada.

Mal se deu conta quando as lágrimas começaram a cair de seus olhos, e a culpa se entrelaçava por suas costelas, sufocando seu coração.

 

Pela primeira vez durante aquela semana, Rafael conseguiu fechar os olhos e descansar.

Não havia sido um dos melhores sonos que teve, mas pelo menos conseguiu se perder um pouco da própria realidade. Até teve um sonho - ou um pesadelo.

No sonho, ele estava de volta ao jardim onde a encontrara mais cedo, mas estava sozinho.

Havia algo em suas mãos que o machucava, espetando sua pele e tirando-lhe sangue, mas ele não conseguia soltar. Estava se agarrando àquela coisa como se sua vida dependesse daquilo.

Rafael? ”, a voz de Adélia chegou até ele junto com o vento, doce e melodiosa, “por favor, deixe-me ir! ”

Ele não entendia o que aquilo significava – ele estava aprisionando-a?

Um choramingo chamou sua atenção para o ramo de rosas a seu lado. As flores dançavam violentamente com o vento, e a força do balanço era tamanha que levava para longe suas pétalas, uma a uma.

O choro parecia vir delas. Como se cada pétala que caísse ou fosse levada pelo vento doesse.

Um segundo mais tarde e ele percebeu que elas estavam, de fato, chorando. Pareciam murchar a medida em que ele pressionava o objeto em suas mãos com mais força, agarrando-se a ele com mais vigor.

Deixe-me ir...” — ele ouvia, mas não sabia de onde aquela voz saía. Parecia ser Adélia que murmurava em seu ouvido, tão próxima que ele podia sentir o calor de seu corpo.

Quando ergueu o olhar, ele a viu.

Ela estava parada em sua frente, encarando-o com o olhar úmido por contas das lágrimas que caiam como chuva de seus olhos. Adélia estava triste; seus ombros pareciam tão pesados que ela se curvava, e sua pele tão pálida que parecia refletir o brilho prateado da lua.

Tão pálida que parecia estar morta.

Aquele calor que sentiu quando ela se aproximou logo deu espaço para o gelo em seu coração. Estava tão frio agora que Rafael sentia o queixo tremer.

Me deixe ir embora, por favor! ” – ela implorou, choramingando. Rafael quis gritar, mas sua voz não saía. Seu corpo parecia entorpecido, e o objeto em sua mão latejava junto com sua carne ferida e aberta.

Ele ergueu a mão ferida e percebeu que segurava uma rosa. Ela era linda, e pulsava como um coração jovem e saudável. Suas pétalas pareciam extrair o brilho que vinha de algum lugar dentro de si – mas não era apenas a beleza da rosa que chamara sua atenção.

A flor parecia sangrar em sua mão – de suas pétalas escorriam pingos de sangue, que encharcava sua mão e molhava-o por inteiro. Ele não conseguia distinguir o próprio sangue e o sangue que vinha da rosa. Parecia que ela estava mais ferida do que ele, embora os espinhos de seu caule se enterrassem em sua pele.

Aterrorizado, Rafael arremessou a rosa no chão e ficou observando enquanto a flor murchava e desaparecia, enquanto uma sensação de paz invadia seu espirito. Seu corpo inteiro pareceu relaxar quando a flor desapareceu de vez, deixando apenas um rastro sangrento em sua mão.

Fique em paz, Rafael” – Adélia murmurou, desaparecendo junto com a rosa.

Quando despertou, Rafael sentiu aquela mesma sensação de antes – aquela tranquilidade rara que não estava acostumado.

Estava na piscina agora, gastando toda a energia que havia se acumulado em seu corpo durante aquelas dez horas em que passou inerte ao mundo real. Se Fordy o visse naquele momento certamente o repreenderia, mas Rafael ainda precisava daquilo como nunca.

Estar psicologicamente quebrado lhe exigia energias que ele já não tinha, e distrair-se era o melhor antídoto para silenciar sua loucura interna – mesmo que essa distração lhe causasse fortes dores nos músculos, fizesse seu peito doer perigosamente e o obrigasse a se expor.

O gelo da água provocava sua pele com violência, e a ardência o obrigou a parar quando ainda estava em sua terceira volta.

Estava de pé na beirada da enorme estrutura em sua frente, encarando o reflexo de si mesmo tremulando junto com a água que alcançava as extremidades. Não conseguia ver muita coisa, mas o pouco que era refletido de si mesmo era o suficiente para enche-lo de náusea e repugnância.

Ele não se suportava e isso era um fato. Só não conseguia pensar em como os outros o suportava.

De fato, Fordy era muito bem pago para isso – e Adam, bem, mal o via. Celine era a prova de que tudo o que Rafael pensava a respeito de si mesmo era real.

Ela mal conseguira sobreviver ao seu lado.

Argh!

Quando começara a remoer o passado tão rápido?


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