Mystic : O Segredo das Sombras escrita por Glaucia Torres, Tatiane Torres


Capítulo 11
O capítulo final.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores que tanto amo e senti falta, sei que demorei muito, mas muito mesmo para finalizar este capítulo. Na verdade, quase desisti, porém a pouco tempo conheci a FML Pepper e simplesmente percebi que não devemos desistir dos nossos sonhos, por mais que sejam difíceis ou por vezes desanimadores.
Se é o que você deseja, persista.
É isso o que farei.
Como senti saudades de vocês. Espero que se deliciem com o último capítulo dessa história e que comentem bastante para que eu saiba se devo escrever uma continuação ou pular para uma história.



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Caminho alguns metros na esperança de voltar o mais rápido possível para casa, repasso os acontecimentos, mas aquela discussão parece ter sido a séculos. Tanta coisa aconteceu... Alexander aparecendo do nada, a morte de alguém, o fato de um estranho querer me matar. Acho que minha mente não consegue processar tantas informações.

Tento resistir a tontura que ameaça me consumir, meu próprio corpo grita sem forças, cada músculo... cada fibra queima e foco em minha necessidade de chegar ao meu quarto, mas falho. De um instante para outro, minha visão vacila e para fechar o pacote, perco o equilíbrio, por um segundo me perco. Meus ouvidos apitam de forma ensurdecedora e logo caio sem forças, sem animo, sem nada. Só me resta no último momento esperar pelo doloroso encontro com o chão, mas este não chega, minha mente me presenteia com a inconsciência antes que a dor pudesse me alcançar.

***

Todo meu corpo formiga como se anestesiado, mas ao mesmo tempo sinto como se mil martelos estivessem reunidos e em festa no interior do meu crânio. Mal consigo me concentrar em outra coisa, mas me forço a esquecer minhas angústias por um momento e abro os olhos abruptamente apenas para me encontrar dentro de um carro em movimento. Minhas perguntas saem antes mesmo que eu possa pensar.

—Para onde está me levando... Por quanto tempo apaguei? — Alexander apenas dirige sem me dar atenção — Olhe para mim! Você me deve respostas!

Praticamente grito e quando me olha, sinto o gelo em sua expressão.

—Te devo?! Eu salvei sua vida. Não te devo absolutamente nada! — sua voz é dura e sem sentimentos.

Sinto um vazio dentro de mim, a pontada aguda da decepção. Ele voltou a ser quem era... frustrante, duro e frio.

—Você está sendo um idiota me deixando assim no escuro, sem respostas. — Minhas palavras saem espontâneas, Alexander provoca uma mistura de ódio e atração que não consigo entender ou controlar.

 Ele me ignora completamente e o silencio toma conta do carro, os segundos se recusam a passar e o único som que ouço é sua calma respiração.  Aos poucos tudo o que senti foi sendo substituído por raiva. Quem ele pensa que é para me levar a qualquer lugar contra a minha vontade?

—Você precisa me dizer para onde vamos. — o encaro fixamente.

—Não preciso. — ele tenta parecer neutro, mas sua raiva é palpável.

—Alexander, fale comigo. O que houve? Para onde estamos indo? — tento parecer compreensiva.

—Amélia, você está sendo extremamente irritante e infantil. Apenas pare de me incomodar. — seu tom arrogante me irrita e leva ao limite.

—Ok, você me acha infantil? Então que seja. Me fale agora ou eu pulo do carro. — uso meu tom mais convincente, mas aparentemente não funciona tão bem quanto imaginei.

—Vá em frente — diz ele seco — mas lembre-se que você é uma híbrida, portanto pular é o mesmo que escolher a morte, então decida-se logo e me diga se estou ou não perdendo meu tempo protegendo uma maluca suicida. — seu tom é duro, mas um sorriso irônico se forma suavemente no canto da sua boca. Sinto vontade de dar um soco naquele rosto desgraçadamente belo.

—Qualquer coisa é melhor que dúvida e desprezo. Se sou um fardo e estou mesmo sozinha vale o risco.

Vou com a mão ao trinco, mas antes que o alcance, sua mão agarra meu braço com força, impedindo-me.

—ME SOLTE! —  Grito como criança.

—Você ainda vai me enlouquecer! — seus olhos demonstram um misto de incredulidade e terror — Entenda, estou te protegendo. Não me faça perguntas que não posso e nem quero responder agora. Por favor...

Depois do clima se acalmar o silencio volta, mas não perdura.

—Por que não consegue fazer o que lhe peço? — diz cansado.

—Tente me entender, sinto que preciso sair deste lugar. Você não faz ideia de como isso é confuso! Depois que tudo começou, é como se estivesse em uma espiral sem fim. Mesmo que me explicasse, seria difícil entender o que sou, ou por que todos querem que eu morra, mas assim... nessa falta de informações eu vivo no escuro.

Ele reduz a velocidade e por um instante pode realmente me olhar.

—Mel, entendo que ache que está sozinha e que realmente é muita coisa para assimilar, mas se não quer ser tratada como uma criança, não haja como uma. Não seja uma garotinha mimada! Pense em tudo o que sua avó fez para lhe manter a salvo e mesmo que não seja capaz de compreender por enquanto, tenha respeito por seu esforço e dedicação.

—Mas...

—Não posso te dar as respostas que deseja e ainda assim preciso que confie em mim. Você pode fazer isso?

—Não prometo nada enquanto não souber para onde vamos. — não estou mais tão nervosa quanto antes, minha raiva se dissipa a cada segundo.

—Só posso dizer que é um lugar seguro.

Percebo meio tardiamente que esta conversa não me levará a lugar algum e me volto para a estrada. As árvores passando rapidamente levam minha mente a outro lugar. Lembro de minha avó, ainda em minha infância, das tardes de filme regadas a pipocas que ela fazia para me alegrar quando me sentia triste. Eu daria tudo por mais um momento desses agora com ela. Uma lágrima teimosa rola por minha bochecha e a limpo antes que Alexander possa vê-la.

Me forço a mudar o rumo dos meus pensamentos para algo atual e menos doloroso, quando de repente uma dúvida invade cada célula do meu corpo.

— Alexander, e minha mãe? Ela deve estar preocupada, pode até ter acionado a polícia. — quase grito o fim da frase e ele começa a rir.

—Acho que isso não vai acontecer. —Sua ironia traz aceleração ao meu coração, mesmo minha mãe não agindo como tal é a única pessoa que tenho.

Um calafrio percorre minha espinha enquanto imagens do homem morto aos meus pés retornam.

—O que aconteceu com ela? — me pego assustada e de relance vejo uma pontada de mágoa em seus olhos por minha reação brusca e nitidamente desconfiada.

—Não, eu não a matei se é isso que está em sua mente. —diz irritado.

—Não, eu... eu apenas estou preocupada. —Tento me explicar.

—Não se preocupe, ela ainda não percebeu sua rebelde fuga noturna.

Foram tantos acontecimentos que por um instante cheguei a me esquecer que não faz nem mesmo uma noite que saí.

—O tempo pode ser confuso. — disse mais para ele do que para mim.

—Mas e amanhã? O que acontecerá quando ela perceber que não estou lá?

—Nada.

—Como assim nada?! Ela pode não ser a melhor mãe do mundo, mas ao menos quer manter as aparências e chamará a polícia. O que você não está me contando?

—Antes que acordasse, peguei seu celular e liguei para sua mãe me passando pelo padre da cidade, então, contei que encontrei você andando perdida desolada no meio da noite. —Ele parece se perder nas memórias que aparentemente o divertem.

— E? — o tiro de seus devaneios.

— Disse a ela que lhe ofereci um lugar no convento renomado das Madres, oferta essa que obviamente foi aceita. — Estou completamente sem reação, quem em consciência acreditaria nessa história descabida.

—Ela fez o que? Te chamou de louco, certo? —o medo em minha voz é notável e sua resposta não me surpreende.

—Na verdade aceitou muito bem e só pediu para que eu resolvesse qualquer detalhe por não ter tempo para gastar com a pirralha. Ela sairia de viagem hoje de manhã. —Suas palavras são um tapa em minha alma.

—Ah, entendo. —Digo no automático.

—Mel... Sinto muito, achei que você não se importasse. — Ele parece sincero, mas no momento não me importo muito.

—Apenas dirija, seja lá para onde for.

***

 Acabo pegando no sono novamente enquanto a madrugada se finda e o dia começa a dar os primeiros paços. Abro os olhos quando os primeiros raios de sol mancham a paisagem, permitindo que eu veja algumas coisas que antes não fui capaz. O lugar onde estamos passando não é mais como antes, não há mais árvores e postes, ao invés disso vejo pedras e um grande despenhadeiro ao lado da estrada.

—Onde estamos?

—Não sabe perguntar outra coisa? — a resposta é grossa, mas seu tom é tranquilo

—Por enquanto é o que mais me interessa. — Uso meu melhor tom insolente

—Olhe em volta, onde acha que estamos?

—Se eu soubesse, não perguntaria.

—Se acalme e confie em mim. Logo sua dúvida acabará.

Por algum tempo continuamos serpenteando ao lado do penhasco até que saímos por uma estrada secundária de terra, o que me deixa aflita. Olho para Alexander e ele está sério, o carro ganha velocidade e ao longe posso ver uma ponte e...

—ALEXANDER PARE! AQUELA COISA ESTÁ QUEBRADA! — não posso acreditar que ele vai fazer alguma besteira, mas ainda assim o medo me paralisa.

—Confie em mim e faça exatamente o que eu mandar. Não tive este trabalho todo apenas para te matar em um acidente, ou acha que sou um idiota? —sua expressão é seria, mas seu divertimento é nítido.

—Na verdade acho. — Tento alcançar a porta e sinto algo me prender no banco e fico perplexa e em fúria ao olhar para minhas verdes e floridas amarras— Jura? Me amarrar com plantas? De novo?

—Amélia, se acalme e pare de me atrapalhar, preciso chegar a 300km/h se não quisermos morrer. — não acredito que fui repreendida por um doido que está tentando pular de um penhasco, e pior... que me amarrou com mato.

Sinto meu coração se acelerar ao mesmo ritmo que o carro ganha velocidade. Já estamos perto da ponte quebrada, perto da morte iminente. Lamento por todos os momentos ruins que desejei o fim e sem outra alternativa, apenas abraço meu corpo e me entrego a última sensação que meu corpo experimentaria antes de meus ossos se partirem.

No momento em que o carro começa a cair, minhas amarras se desfazem, sinto o vento, meus olhos estão firmemente fechados e  apenas caio... e caio... até que me sinto desacelerar no ar. Não entendo o que houve, mas antes que pudesse pensar nisso, algo morno e relaxante envolve meu corpo, não sinto a dor esperada, porém de repente já não sou capaz de respirar. Estou... me afogando?

—Amélia, abra os olhos. — ouvi uma voz distante, mas não sei o que está acontecendo.

Abro os olhos e me vejo no fundo de uma espécie de lago cristalino, nado até a superfície e finalmente o ar enche meus pulmões. Estou completamente confusa, como não estou morta? Como não estamos mortos? O que acaba de acontecer? Vejo Alexander na margem me chamando e nado até ele. Me sinto realmente estranha, a água em minha pele parecia completamente diferente de tudo o que já senti, só então que me dou conta que estou nua... Meu rosto queima e tento me cobrir com as mãos, o que só me faz afundar e me obriga a novamente me descobrir e nadar.

—Venha, use isso. — ele me entrega uma toalha azul.

—Vire-se, não vou sair daqui com você olhando. — minhas bochechas queimavam como brasas

—É isso mesmo que você quer? — seu tom sai sedutor.

—Sim. — digo envergonhada.

—Ok, também tenho isso para você. — ele me mostra um vestido rosa que parece saído de um conto de fadas, portanto completamente diferente do meu estilo habitual.

—Não é querendo reclamar, mas não tem nada mais normal?

—Você pode continuar nua. Garanto que não vou reclamar. —ele me dá um sorriso descarado que faz meu corpo queimar.

Pego com rapidez a toalha tentando me cobrir o mais rápido possível, coloco a parte da frente do vestido, mas aquilo parece impossível de vestir.

—Precisa de ajuda? — oferece rindo.

—Preciso. — engulo meu orgulho e aceito. Melhor do que continuar em uma luta inútil contra as amarras daquele espartilho dos infernos.

Enquanto ele prende o vestido paro pra analisar tudo ao meu redor, as pedras, o lago, estou em uma gruta. O brilho suave nas águas azuis me encanta, mas o reflexo nela me deixa hipnotizada. Alexander está sem camisa, vejo seus músculos contraírem suavemente enquanto prende meu vestido.

—Está gostando do que vê? — pergunta em tom malicioso e sua respiração faz cócegas em meu pescoço.

—Nunca vi nada tão lindo. — disfarço falando apenas da beleza do lago enquanto dou um passo para frente, me afastando — Mas já é hora de acabar com o segredo. Onde estamos?

—Bom, já que insiste em saber, estamos em minha dimensão. Senhorita Amélia, —diz em tom quase solene— bem vinda ao reino Mystic.

Meus pensamentos vão a mil e por um instante tudo parece claro, muito lúcido em minha mente, e sinto minhas pupilas se dilatarem, a boca seca e o coração se acelerar. Decepção aperta meu peito.

— Alexander, por que me trouxe ao único lugar onde todos me querem morta?


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