Eyesore escrita por noora


Capítulo 1
feiura


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem, é um assunto muito importante para mim!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733597/chapter/1

Eyesore - Maria Mena

 

Ela não planejou para aquilo acontecer.

Sua aparência era julgada desde pequena. Quando criança chamavam-na de “cheinha”, “fofinha”. Por não entender exatamente o que aqueles adjetivos faziam alusão, não ligava e acabava não sendo atingida pelos comentários.

As coisas começaram a ficar mais difíceis conforme foi crescendo. Além de ouvir de parentes sobre seu peso, precisava ler na coluna de fofocas no Profeta Diário sobre como a filha do Eleito estava gorda. Não que ela fosse, apenas não se encaixava no padrão aceitado e esperado pela sociedade.

Com 11 anos, encheu a mãe de pedidos para coloca-la numa nutricionista. Não queria começar Hogwarts gorda daquele jeito. Ginny achou que aquilo era loucura e que Lily estava ótima. Conversou com a filha e conseguiu convencê-la que seu peso o que precisava ser e que escutar aquelas revistas só iria fazer mal para ela.

Dos 11 até os 14, Lily cresceu até 1,75m. Era a menina mais alta do seu ano e havia apenas dois meninos maiores que ela. Passou por certo estresse nessa época e tinha o costume de comer para se acalmar. Assim, acabou passando a pesar 80 kg. Lily ficou desesperada porque, mesmo não sendo mais tão aparente, ainda sofria muito com seu peso. Tentou muito emagrecer, mas tudo que tentava parecia não funcionar.

O quarto ano foi um dos piores anos escolares para ela. Lily matava as aulas porque morria de vergonha de si mesma. Passava o dia trancada em seu dormitório, chorando. Suas amigas tentavam com todas as forças tirá-la de lá, mas não sucediam.

Quando todos foram a Hogsmeade, Lily ficou na escola. Era um dos únicos momentos que se sentia feliz na escola, porque não havia quase ninguém para vê-la. Gostava de ir ao banheiro dos monitores, já que Albus havia passado a senha para ela. Normalmente estava vazio, mas houve um dia em que ouviu vozes vindas lá de dentro. Seu primeiro pensamento foi de dar meia-volta e sair, quando escutou barulhos de vômito. Achou que alguém estava passado mal e, relutantemente, entrou no banheiro para ver se precisavam de ajuda.

Haviam duas meninas no banheiro. Uma estava dentro de uma das cabines, mas a outra estava sentada na bancada das pias. Esta era tão magra que Lily quase se sentiu enojada de inveja. Ela lixava as unhas, os dedos ossudos mexendo a lixa. A menina da cabine perguntou:

— Quantos dedos eu coloco?

A outra, sem levantar os olhos, respondeu com tédio:

— Dois, querida. Quanto mais fundo melhor.

Lily conseguiu ouvir mais alguns barulhos de dentro da cabine e a descarga sendo apertada. Logo depois saiu outra menina tão magra, talvez até mais, que a outra. Ela foi a primeira a ver Lily. Abriu um sorriso, cumprimentando-a. Lily travou e se preparou para sair, quando a menina falou:

— Não precisa ir! Qual é o seu nome flor?

— Lily – ela respondeu com um tom baixo, morrendo de vergonha.

— Prazer em te conhecer Lily. Eu sou a Anna e essa aqui – apontou para a amiga – é a Mia.

Mia acenou e Lily conseguiu ver o pulso fino que apareceu quando a blusa de manga comprida desceu. Com certo medo, perguntou:

— Me desculpe se for invasivo demais, mas você está bem? Precisa ir à enfermaria?

Anna riu, balançando a cabeça.

— Eu estou ótima linda. Só comi demais no almoço e Mia me ensinou um jeito novo de perder essas calorias.

Mia desceu da bancada, continuando a fala da amiga:

­— Nada como um bom vômito após uma refeição.

As duas riram, enquanto Lily estava confusa.

— Mas vocês são tão lindas!

— Obrigada meu amor, mas não é como se eu quisesse engordar de novo – Anna respondeu, olhando de cima a baixo para o corpo de Lily.

Antes mesmo que pudesse pensar, as palavras saíram da boca de Lily:

— Você pode me ensinar como se faz?

As duas se entreolharam, dando de ombros. Mia virou de volta para Lily, abrindo um sorriso.

— Claro que posso! Você nunca fez isso, certo? – Lily concordou – ok, então eu sugiro que você faça isso quando estiver sozinha. É só colocar dois dedos até o fundo da garganta e fazer cócegas lá. Eu sugiro estar perto da privada quando você fizer isso. Se não conseguir com os dedos, é só usar uma escova de dente. É só fazer isso toda vez que se sentir mal pelo seu corpo. Juro que funciona melhor que qualquer dieta.

Lily forçou o vômito pela primeira vez naquela noite. Depois que todas suas colegas de dormitório dormiram, ela se trancou no banheiro e sentou-se na frente da privada. Ficou quinze minutos com a escova de dentes na mão, pensando se aquilo era realmente uma boa ideia. Depois de um tempo, os pensamentos ruins sobre si mesma venceram o bom senso.

O gosto de vômito veio azedo em sua boca. Queimou sua garganta, fazendo-a querer vomitar ainda mais. Vomitou pelo menos outras três vezes, quando batidas na porta a assustaram.

— Lily, está tudo bem? – Carmen, uma das meninas de seu dormitório, perguntou por trás da porta fechada.

Lily se recompôs, pigarreando:

—Tudo sim, Carmen! Acho que comi algo ruim no jantar.

— Entendi... Quer que eu vá com você na enfermaria agora?

— Não precisa! Já estou melhor, só vou escovar os dentes e já volto para a cama.

— Ok! Qualquer coisa pode me acordar.

Ouviu o som abafado de Carmen voltando para a cama e só ai olhou para a escova em sua mão. Sentiu uma vontade enorme de chorar, parte por culpa e parte por algum sentimento que não conseguia identificar, mas sabia que era feliz. Talvez alívio.

Seu plano foi de passar dos 80 kg para 75 kg, onde estaria num peso considerado saudável. Acabou percebendo que vomitar não iria resolver seu problema, porque mesmo assim ainda continuava gorda. Voltou todos os dias para o banheiro dos monitores a procura de Anna e Mia. Acabou encontrando-as e, desesperada, perguntou outros meios de emagrecer mais rápido.

Anna foi quem passou os melhores conselhos. Falou para Lily começar a fumar, porque diminuía o apetite. Devia consumir apenas 800 calorias diárias, praticando a dieta Low Food. Se sentisse fome, chupar gelo com sal resolvia. Quando estivesse preparada, a dieta de No Food iria ajuda-la a perder o peso. Essa era a mais complicada, porque envolvia ficar no máximo 3 dias sem comer absolutamente nada.

Lily ficou completamente obcecada. Passou de alguém que enchia o prato para comer apenas duas colheres de arroz e um tomate no jantar. Aprendeu sobre os alimentos e as suas calorias. Contava quantas calorias suas refeições possuíam, nunca passando das indicadas por Anna. Pediu emprestado a Carmen suas revistas trouxas e recortou fotos das meninas magras que apareciam, colocando-as em uma caixinha que possui-a. Toda vez que pensava em comer fora da dieta, olhava para os recortes e lembrava do que realmente queria. Comia na frente do espelho para evitar de comer demais, vendo o estrago que a comida faria em seu corpo.

Perdeu os 5 kg que queria numa rapidez impressionante. Apesar de estar mais magra, não conseguia se ver assim. Mesmo que suas colegas comentassem a mudança, quando se olhava no espelho ainda via uma baleia gorda.

Na época do Natal, já passava a pesar 60 kg. Sua família elogiou muito sua aparência, deixando Lily orgulhosa de si mesma. Durante o jantar inteiro brincou com seu prato e usou técnicas para parecer que estava comendo, oferecendo sua comida para os parentes. Estava extremamente tentada a comer toda aquela comida deliciosa, a ponto de se oferecer de prontidão quando perguntaram quem iria lavar a louça, apenas para fugir da mesa.

Limpava os pratos quando Lottie, a namorada de Albus, se juntou a ela. As duas nunca conversavam muito, já que Lily tinha um pouco de medo da seriedade da outra. Começaram a lavar a louça quando Lottie subitamente puxou assunto:

— Então Lily, você comeu as batatas que a sua avó fez? Estavam deliciosas.

— Na verdade não... Não gosto muito de batatas.

— Sério? – os olhos verdes intimidadores de Lottie fizeram Lily querer se encolher – você sabia que a batata é um dos alimentos mais importantes para a sua saúde? É rica em vitamina C, vitamina B e dos minerais zinco e magnésio.

Lily apenas ficou em silêncio, não entendendo muito bem a conversa. As duas ficaram em silêncio e quando terminaram de secar os últimos pratos, Lottie segurou o braço de Lily e olhou fundo nos seus olhos:

— Lily, eu sei o que você está fazendo. E você precisa parar.

A ruiva ficou assustada, puxando seu braço. Antes que qualquer uma pudesse falar qualquer coisa, Albus entrou na cozinha, chamando Lottie para fazer alguma coisa. Ela saiu com ele, sem cortar contato visual com Lily até sair do lugar.

Passou o resto das férias e em Hogwarts evitando Lottie. Enquanto isso emagrecia ainda mais, mas continuava a se ver distorcidamente. Começou a fazer exercícios desesperadamente e passou a aumentar seus dias sem comer. Ela pesava 45 kg quando seu corpo começou a desistir. Seu cabelo caía, estava fraca e quase não conseguia fazer nada, só dormir. O ápice ocorreu numa aula de Feitiços. A prof. Malfoy chamou-a para frente da sala para demonstrar um feitiço. Ao se levantar, começou a sentir uma tontura. A última coisa que se lembrou, antes de acordar no hospital, foi o chão se aproximando de seu rosto.

Sua cabeça parecia que ia explodir. As luzes do quarto estavam muito fortes, impedindo Lily de abrir os olhos direito. Quando conseguiu se acostumar com a claridade, viu que estava num dos quartos do St. Mungus. Olhando para os lados, viu Lottie sentada numa das poltronas do quarto, lendo um livro. A loira, quando percebeu que Lily estava acordada, colocou o livro de lado e se sentou na cama.

— Oi querida – ela segurava a mão da cunhada – como está se sentindo?

— O que aconteceu? – Lily perguntou, a voz fraca.

— Você privou tanto seu corpo de nutrientes e coisas necessárias para ele funcionar que ele só meio que desistiu. Já estava começando a puxar energia dos seus músculos – o tom de pena na voz de Lottie era reconhecível – você está dormindo faz um dia. Seus pais e irmãos foram comer alguma coisa, me voluntariei para ficar aqui esperando você acordar.

— Mas por quê? Eu não estou entendendo.

Lottie se ajeitou na cama, passando os dedos pelos cabelos de Lily.

— Querida, o que você tem é uma doença chama anorexia. É um transtorno mental estudado pelos trouxas numa área médica chamada Psicologia. É uma doença da mente, por isso é difícil de perceber que ela está ali. E eu sei que é isso que você tem porque eu já passei pelo mesmo. Você precisa de ajuda, Lily.

Lily sentiu uma raiva dentro de si. Lottie estava errada. Ela estava ótima, o único problema era como ainda estava gorda e precisava perder toda aquela gordura nojenta. Antes que pudesse confrontar a cunhada, seus pais entraram no quarto. Os olhos de Ginny se encheram de lágrimas quando viu que a filha estava acordada.

— Lily, meu amor – Ginny ocupou o lugar de Lottie, que havia levantado para ir ao encontro de Albus – meu Merlin, ficamos tão preocupados quando McGonagall mandou um patrono avisando que a escola estava te levando para o St. Mungus.

— Você desmaiou do nada, no meio da aula. O curandeiro responsável por você nos disse que se você continuasse sem nutrientes por mais uma semana, seu corpo não iria mais resistir – Harry sentou no outro lado, segurando a mão da filha – querida, por que não nos disse o que estava acontecendo?

— Porque não tem nada acontecendo! Eu estou ótima! – Lily estava nervosa. Como era possível que ninguém visse que ela estava bem?

— Não querida, você está doente – Ginny balançou a cabeça – Charlotte e Hermione nos explicaram dessa doença que é bem mais conhecida pelos trouxas do que por nós.

— E – Harry continuou a frase de sua esposa – indicaram um bom centro de tratamento que irá te ajudar a vencer essa doença.

— Eu não vou ir para nenhum lugar! Eu estou bem, vocês não conseguem perceber? Não preciso de ajuda! – ela gritou com os pais, tremendo de raiva.

— Lily Luna Potter – sua mãe falou com seu conhecido tom sério – nós somos seus pais e você ainda é menor de idade, então quando dizemos que você precisa de ajuda, você obedeça.

Ginny e Harry mandaram a filha para um centro de tratamento psiquiátrico em Gales. Como era um lugar trouxa, Lily teve que deixar a varinha em casa e não podia fazer uso de mágica. Foi designada a um quarto para duas pessoas. Sua companheira de quarto chamava Naomi e sofria de algo chamado Transtorno Bipolar.

Lily era obrigada a fazer terapia em grupo e tinha duas vezes por semana uma consulta com uma psiquiatra. A Dr. Carstairs era baixinha, com os cabelos tão ruivos quanto os de Lily. Era extremamente simpática e, apesar da teimosia e palavras ríspidas de Lily nas primeiras sessões, nunca deixou de se preocupar com a menina.

Foram necessárias três sessões com a Dr. Carstairs, duas terapias em grupo e uma conversa com outra menina do centro para Lily realmente entender e aceitar sua condição mental. Ela sofria de Anorexia nervosa e Bulimia nervosa. As visões erradas de seu corpo vinham da anorexia, enquanto os atos de vomitar em frutos da bulimia.

Aos poucos, voltou a comer normalmente. Haviam dias em que ela sentia nojo da comida, mas obrigava-se a comer aquilo, sempre se lembrando que era coisa de sua cabeça e que aquilo era bom para ela.

Foi liberada depois de três meses, com a recomendação que encontrasse uma psicóloga para se consultar. Durante sua estadia, recebeu Lottie de visita. A cunhada contou que sofreu das mesmas coisas dos 13 aos 15 anos. Mostrou a Lily as cicatrizes dos cortes que fez em seus braços devido ao ódio que sentia do próprio corpo.

Lily entendeu que nunca iria se livrar de Ana e Mia, apelidos “carinhosos” para os distúrbios que sofria. Elas sempre estariam ali, sussurrando em seus ouvidos sobre seu corpo. Entendeu que seria um processo difícil, tendo que ignorar tudo aquilo. As vontades de vomitar, o ódio pelo próprio corpo.

Além dos remédios e da ajuda psicológica, o que precisava era de tempo. Ano por ano, mês por mês, dia por dia, hora por hora, minuto por minuto. Não importava o quanto fosse durar, Lily estava disposta a nunca mais se obrigar a passar fome.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, se você chegou até aqui, comenta! Ia gostar muito de saber sua opinião!
Um beijo s2