Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 5
Capítulo 5




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Passo o começo da manhã com Vinny no quarto, tentando me recuperar da ressaca que estou, ele brigou comigo, ainda está chateado, mas não me abandonou e eu não sei se consigo amar ele mais do que já amo.
— Você tem que comer alguma coisa – ele fala passando a mão pelo meu rosto e meu cabelo, eu concordo e então ainda com o braço ao meu redor ele me tira do quarto, na cozinha Rafael está colocando os pratos no balcão, ele me olha e força um sorriso.
— Dani – ouço a voz da Lia e quando me viro ela já está me abraçando apertado – Eu te amo, te amo, te amo, te amo... me desculpa! Eu odeio brigar com você, eu fui muito burra, idiota, me desculpa – ela pede sem me soltar.
— Eu também te amo.
— E é por isso que eu adoro dividir apartamento com vocês – Vinny fala olhando pra nós duas com um sorriso irônico, Lia está com um short curto e um top e só agora eu vejo que estou com uma camisa do Vinny e calcinha.
— Relaxa, você perdeu todo charme quando vomitou na sala ontem – Rafael fala fazendo uma careta e então consigo forçar um sorriso e decido continuar assim, como já está na hora do almoço, nós almoçamos juntos.
Passo o resto do dia me recuperando, hoje é o show do Vinny e ele está ansioso como eu nunca vi antes, ele conta que ontem quando eu liguei eles estavam ensaiando e eu sinto a culpa ainda maior, mas ele me tranquiliza e diz que eles vão passar o som hoje de novo, então tudo dará certo, mas mesmo ele me acalmando sinto o quanto ele está nervoso, ele diz que eles cantarão 3 músicas mas se recusa a revelar quais são, ele fica comigo no meu quarto e eu acabo dormindo nos braços dele, acordo quando a Lia vem me chamar, finalmente minha dor de cabeça passou, já está de noite e começamos nos arrumar, Vinny foi mais cedo e Bruno é quem vai nos levar.
Chegamos na praça onde o palco já está montado e iluminado, o lugar está cheio e a cada segundo mais pessoas aparecem, por isso não perco tempo e logo vou pra frente do palco, encontramos Rafael já lá na frente e ficamos esperando juntos, parece que os minutos viram horas, a praça já está bastante lotada quando anunciam que o show irá começar, então chamam a primeira banda local, ‘’Os Virais’’, eu sinto meu coração disparar, os garotos que até então eu não conhecia entram no palco, eles se posicionam e dão acenos para o publico e se o que Lia disse sobre beleza ser um fator importante  for verdade então eles realmente farão muito sucesso, todos eles são bonitos, parecem quase modelos e estão vestidos com estilo, por isso mesmo achando exagerado até entendo o grupo de garotas ao nosso lado que não para de gritar histericamente, ainda não vejo Vinny e sinto meu coração quase explodindo.
— Cadê ele? – Lia pergunta me sacudindo, a olho tão ansiosa que mal enxergo seu rosto e então os acordes da guitarra começam, o sorriso no meu rosto é automático já estou pulando nervosa antes de ver ele e então eles começam a tocar o inicio da primeira música, eu e Lia nos olhamos já rindo e voltamos a olhar pro palco e quando a voz dele é ouvida ele aparece, perco o folego quando o escuto começando a cantar e tenho que me controlar pra não ter um ataque.

Faz muito tempo mas eu me lembro
 Você implicava comigo
Mas hoje eu vejo que tanto tempo me deixou muito mais calmo
O meu temperamento egoísta
O seu temperamento difícil
Você me achava meio esquisito e eu te achava tão chata...”

Olho pra Lia e ela também está quase babando enquanto olha pra ele lá em cima e é incrível como ele foi realmente feito pra isso, eu nunca o vi tão seguro e encaixado em algum lugar como agora, claro que ele sempre foi desses que se encaixam em todos os lugares, que chama atenção, mas aqui é diferente, ele brilha e é impossível tentar olhar pra outra parte no palco que não seja ele, sua voz á alta, clara e tão perfeita como sempre, todos estão cantando e pulando junto com ele, quando olho pra trás vejo toda multidão animada gritando e cantando.
— Ele é bom! – Rafael tem que gritar por cima do barulho e eu concordo voltando a olhar pro palco, quando ele alcança o refrão não existe mais ninguém capaz de segurá-lo, o palco é dele, a música é dele, a multidão é dele e continua assim por cada segundo, seu humor e presença de palco são o complemento perfeito, ele brinca com o publico quando termina a primeira música, dizendo que não acredita que eles ainda não tenham corrido, eles riem e pedem mais uma, e é claro que tem mais uma, ele continua e quando toca Charlie Brown Jr termina de conquistar absolutamente qualquer pessoa que esteja ali, as garotas que já estavam histéricas antes agora parecem completamente desesperadas, elas gritam, pulam, chamam ele de gostoso e Lia ri da minha cara quando eu as chama de oferecida, mas não perco muito tempo dando atenção a elas, quando ele toca a ultima música já está praticamente consagrado pelo publico, todos gritam e pedem mais uma, então ele caminha até os outros e fala alguma coisa com eles, depois corre até a lateral do palco, pega um violão e um suporte para o microfone.
— Não eram só 3? – Lia me pergunta confusa, eu dou de ombros e estou tão ansiosa que continuo olhando pro palco querendo descobrir qual será a próxima, ele está sorrindo e começa a procurar por alguma coisa, então nossos olhares se encontram, o sorriso dele aumenta ainda mais, ele aponta pra mim e em seguida começa a tocar o violão, nas primeiras notas meu coração dá um salto.
Não, ele não pode fazer isso comigo — penso levando a mão na boca tentando suprir o que poderia ser um grito ou apenas um som engasgado, ele sorri quando percebe que eu reconheci, e é claro que eu reconheceria. É a nossa música. Sou uma mistura de risos e lagrimas quando ouço ele começar a cantar a primeira frase de “Count on me”.

If you ever find yourself stuck in the middle of the sea
i'll sail the world to find you
if you ever find yourself lost in the dark and you can't see
i'll be the light to guide you”

* “Se algum dia você se encontrar preso no meio do mar
Eu velejarei pelo mundo para te encontrar
Se algum dia você se encontrar perdido no escuro
E não puder enxergar
Eu serei a luz a te guiar...”

Ele não desvia os olhos dos meus e eu não quero olhar pra nenhum outro lugar, a letra dessa música é exatamente a nossa história, a primeira vez que ele cantou essa música pra mim eu me lembro perfeitamente, eu ainda estava me recuperando do acidente, não podia sair da cama e também nem queria, estava com pontos e com muita dor, mal conseguia uma posição que não me machucasse e nesse dia eu estava ainda mais irritada que qualquer outro, estava a um mês nessa rotina e não queria falar com ninguém, expulsei todos do meu quarto, inclusive ele, eu disse que era pra ele ir embora, voltar pra casa dele por que não queria mais vê-lo, disse que ele não tinha mais o que fazer ali, que eu não suportava olhar pra cara dele todo dia, eu gritei, reclamei e fui a pior pessoa que eu pude ser, então ele saiu. Minutos depois ele estava entrando no meu quarto com o violão, ele se sentou na beirada da cama e começou a cantar, foi impossível segurar minhas lagrimas naquele dia, do mesmo jeito que está sendo impossível agora enquanto ele continua cantando e me olhando, eu não sei se choro ou se sorrio.

“You can count on me like one, two, three
I'll be there
And i know when i need it
I can count on you like four, three, two
and you'll be there
Cos that's what friends are suppose to do
Oh yeah”

* “Você pode contar comigo como 1 2 3
Eu estarei lá
E sei que quando eu precisar
Posso contar com você como 4 3 2
E você estará lá
Porque é isso que os amigos devem fazer
Oh yeah”

Lia me abraça meio me balançando e me apertando, eu a olho rapidamente mas volto minha atenção pra ele, canto baixinho junto com ele e quando a música acaba ele sorri, volta a olhar para o público e agradece, todos aplaudem e gritam, algumas mulheres um pouco mais escandalosas do que outras, ele acena enquanto sai do palco, os outros garotos também e então eu só preciso ver ele, não espero por ninguém e saio passando entre as pessoas no meio do caminho, contorno o palco, quando alcanço os fundos ele vem descendo a escada, eu paro esperando e quando ele abre os braços pra mim eu corro e pulo em cima dele, ele me abraça tão apertado que acho que posso ter algum osso quebrado no final, mas não me importo, só o abraço com mais força, como se quisesse mantê-lo preso a mim pra sempre, ele beija minha bochecha e meu pescoço.
— Você é sim – falo e ele afasta o rosto um pouco olhando melhor nos meus olhos, com uma pergunta silenciosa – Você é suficiente pra mim – ele abre um sorriso e então me abraça de novo tirando meus pés do chão – Eu tô muito, muito, muito, muito feliz por você – falo ainda abraçada nele, ele ri.
— O que você achou?
— O que eu achei? – pergunto sem conseguir acreditar – Você foi FODA lá em cima – falo alto e empolgada.
— Adoro quando você fala palavrão – ele fala rindo.
— Sério, você foi incrível, perfeito, maravilhoso...
— Só mais um dia normal então...
— Aí está ele! Meu artistaaaa – Lia vem correndo até nós e também se joga em cima dele, ele a abraça tirando os pés dela do chão e a rodando, ela ri e beija a bochecha dele varias vezes, quando ele a coloca no chão Bruno também o cumprimenta e parabeniza, Rafael também o abraça, o pessoal da banda se aproxima e ele nos apresenta, então vamos todos juntos comemorar em uma das barracas de bebida, mas antes que ele mesmo me proíba eu peço um refrigerante e então fazemos um brinde, os olhares das garotas são impossíveis de não serem notados.
— Tô começando a entender por que você gosta dessa coisa de banda – Rafael fala pro Vinny enquanto aponta um grupo de garotas que está olhando e apontando pra ele.
— Bom, antes que você me largue de novo, igual naquele dia, eu já vou indo – falo abraçando ele de novo, mas sem estar realmente chateada, só quero que ele curta cada segundo da noite dele.
— Que tal se a gente continuar a comemoração lá em casa? – ele pergunta enquanto mantém o braço pela minha cintura.
— Você não devia colher os frutos do seu trabalho? – falo com ironia e aponto uma das garotas, ele ri.
— Sim ou não? – ele insiste.
— Você não tem que fazer isso – falo olhando pra ele – É sério, eu to bem, só quero que você aproveite, só isso.
— Vocês vão com a gente ou vão ficar? – ele pergunta para os outros enquanto me ignora.
— Eu tô dentro – Rafael fala trocando um soco com ele.
— Nós também – Bruno fala abraçado a Lia.
— Sem motel hoje? – Vinny implica com eles e recebe um tapa da Lia.
— Estamos guardando energia pro casamento – ele fala e nós rimos.
— Não tem nada em casa – eu aviso já que ainda não fizemos compras.
— Não sei se te contaram mais tem algo chamado supermercado – Rafael fala e eu faço uma careta.
Então uma hora depois estamos saindo do mercado com três sacolas cheias, como é perto do apartamento, não demoramos muito e estamos entrando em casa, Rafael assume a cozinha e nós ficamos pelo balcão ajudando ou apenas atrapalhando mesmo, compramos algumas bebidas e enquanto ele prepara a picanha em uma daquelas pedras iguais as que tem nos restaurantes, nós bebemos, eu sou completamente barrada de beber qualquer coisa que contenha a álcool e não posso reclamar disso.
— E lá se foi minha dieta de ‘’não coca-cola” – falo abrindo uma latinha, eles riem – Quem foi que pegou a Coca? – pergunto pronta pra dar uma lição de moral.
— Foi você mesma – Rafael fala rindo, eu já ia contestar.
— Amiga, foi você! Quando a gente falou pra você tomar outra coisa sem ser álcool você foi direto nela – Lia avisa e eu faço uma careta.
— Malditas propagandas, elas prendem nossa mente – reclamo e então bebo assim mesmo.
Rafael está fazendo um molho pra acompanhar e quando Lia enfia o dedo no pote e prova arregala os olhos surpresa.
— Isso é muito bom! – ela fala já tentando pegar de novo, só que ele afasta o pote e ela faz uma careta, ele avisa que tudo está pronto, além de batata frita também tem os tacos que compramos, nós levamos as coisas pra sala e nos dividimos entre o chão e o sofá, Vinny coloca uma música e nós passamos praticamente o resto da noite inteira conversando e rindo, já eram 3 da manhã quando eles dormem, Bruno e Lia agarrados no sofá, Vinny com a cabeça quase no meu joelho e Rafael próximo a mim, de bruços, eu olho eles e sinto uma mistura de sentimentos, me sinto grata por ter eles na minha vida por que mesmo quando as coisas parecem muito difíceis e eu acho que não vou conseguir mais aguentar, acontece um momento assim e eu sinto todas as minhas energias recarregada e eu só preciso me lembrar do por que estou aqui, é por eles e tem valido a pena, vale cada segundo, eles me fazem ver que independente do que aconteceu eu não estou sozinha e nunca estarei, e é novamente por eles que eu decido continuar e aos poucos tudo volta ao normal.
Acordo assustada e quando vejo ainda estamos no meio da madrugada, mas sei que hoje é quase impossível conseguir dormir de novo, por que finalmente é hoje, o grande dia.
— Tá acordada? – ela me pergunta e eu me viro, Lia está dormindo na minha cama por que o quarto dela está praticamente vazio, quer dizer sua cama ainda está lá, mas ela se recusou a dormir no quarto sem as outras coisas e estava tão nervosa que eu a chamei pra dormir aqui comigo, quando olho pra ela sei que já está acordada a algum tempo.
— Você não tem que dormir e estar muito bem descansada para a noite?
— Acho que eu vou ter um ataque dos nervos – ela fala colocando a mão no coração, eu sorrio.
— Você vai casar – falo empolgada e ela ri.
— Eu sei e isso é tão louco.
— Muito! – concordo e ela me abraça.
— Eu não vou conseguir dormir! Mas eu tenho que dormir – ela fala nervosa.
— Vem comigo – falo já pulando da cama e arrastando ela comigo, saio do quarto segurando ela pela mão, vou até a ultima porta do corredor e entro sem bater, Vinny está de cueca todo aberto na cama, o lençol só cobre uma perna, faço sinal de silencio, nos aproximamos devagar da cama, cada uma de um lado e então nos encaixamos deitando ao lado dele, ele se mexe e faz algum som, nós rimos e eu afasto o braço dele pra deitar a cabeça no seu travesseiro, então ele abre os olhos ainda sonolentos.
— A gente não consegue dormir – falo e ele levanta a cabeça e olha pro outro lado, ele vê a Lia e se deita com a barriga pra cima, já puxando ela pra mais perto dele, num abraço meio desengonçado.
— Você não pode chegar com olheira ou espanta o noivo e eu preciso me livrar de você – sua voz ainda é rouca e meio arrastada, mas ele ri da própria piada, ele beija a cabeça dela e ela se encaixa melhor no abraço dele, então ele abre o outro braço me oferecendo espaço, eu aceito e ficamos as duas abraçadas nele – Vocês tem que dormir! Por que não vou aguentar vocês reclamando que estão com olheiras depois – ele logo volta a dormir e ainda levo um bom tempo até conseguir isso também, acordo com ele tentando sair lentamente da cama.
— Banheiro – ele sussurra apontando pra porta e desce da cama, Lia ainda está dormindo agarrada a um travesseiro, ele sai do quarto e eu me deito virada pra ela, uma onda de sentimentos me atinge, não consigo parar de pensar que a partir de hoje uma nova fase da vida dela está começando, todas as nossas loucuras da adolescência, nossas fugidas de casa, madrugadas inteiras acordadas, festas escondidas, castigos que foram quebrados com a proteção uma da outra, tudo isso serão apenas boas lembranças, assim como todas as vezes que aqui nesse mesmo apartamento ela me acordou se jogando na minha cama ou todas as vezes que ficamos até tarde assistindo filmes e comendo besteira por que as duas estavam de TPM, são tantas histórias, tanta coisa que passamos juntas que é impossível segurar a lagrima que escorre e eu a deixo rolar.
— Não vai me fazer chorar agora né? – ela pergunta com a voz baixa e já emocionada, eu nego, mas a abraço apertado.
— Essa é a ultima vez que você dorme aqui assim...
— Eu só vou casar e não me mudar pra Nárnia! Eu vou continuar vindo aqui, essa sempre será minha segunda casa.
— Eu vou sentir muito a sua falta – confesso e ela sorri.
— Claro que vai, eu que sempre lavo a louça do jantar – ela me abraça de novo – Você continua sendo minha melhor amiga.
— Acho bom! – Vinny entra no quarto, nós nos separamos e abrimos espaço pra ele que se joga deitado no nosso meio, nós nos aconchegamos nele.
— Lavou essa mão né? – Lia pergunta quando ele acaricia o cabelo dela e então ele esfrega a mão no seu rosto.
— Sabe que eu não lembro...
— Eu odeio você – ela fala tentando parecer brava, ele a beija na bochecha mesmo com ela tentando empurra-lo.
— Ainda não acredito que aquele lesado conseguiu te tirar de mim...
— Ele não é lesado – ela dá um tapa nele – E ninguém tá me tirando de você, eu vou continuar sempre por perto – ele faz uma cara meio desesperada.
— Mas por que? Não era pra você ir embora e sumir? – nós rimos e ele a aperta nele – Ele não é nem louco de tentar levar você pra longe de mim! Eu acho ele até na lua se for preciso...
— Ai que medo!
— Ai meu Deus! Nove e meia – falo e Lia dá um pulo da cama.
— Por que você não avisou? – ela pergunta já tacando o travesseiro nele.
— Eu não vi – ele se defende mas rindo do nosso desespero – Anda, eu levo vocês – ele fala já pulando da cama também.
— Achei que a noiva e a madrinha tivessem um pouco mais de glamour – Rafael fala enquanto nos olha desesperadas correndo pela sala atrás dos nossos celulares.
— Não me faça me arrepender de ter te dado um convite – Lia avisa e ele ri, então ele estica o celular dela – Perdoado – eu também encontro o meu celular no balcão da cozinha, 6 chamadas perdidas da minha mãe, viro o celular pra Lia e ela me vira o dela, 13 ligações perdidas da mãe dela, o SPA que nós vamos é o delas, por isso todo o desespero, elas tiraram o dia de hoje apenas para o casamento da Lia e teremos todos os tratamentos que sempre quisemos lá, porém pela primeira vez sem pagar nada, Vinny aparece e nós quase o arrastamos pro carro, parece que todos os sinais resolveram fechar e isso nos atrasa um pouco mais, minha mãe nos liga de novo, eu aviso que estamos  chegando mas isso não parece acalmar ela e quando chegamos elas duas já estavam nos esperando na porta, Vinny não entra por que diz que não quer nem ver o desespero que elas devem estar e ele acerta por que depois de nos abraçar elas nos arrastam para todo o lado, Lia terá tratamento VIP e como melhor amiga e madrinha da noiva não ficarei muito atrás, recebemos massagem, mascaras no rosto, a todo tempo tem alguém nos oferecendo alguma coisa, todos sorriem para nós, Lia parece encantada e enlouquecida com tudo, a mãe dela não se desgruda dela nunca e nos intervalos dos meus tratamentos sempre pego o celular pra resolver algum detalhe da decoração que está acontecendo nesse exato momento, os imprevistos surgem mas nada que trará estragos, Priscila, que é prima da Lia é quem está organizando, ela trabalha com festas e eventos, mas as vezes ainda me liga pedindo uma opinião já que eu conheço a Lia como a palma da minha mão.
Nós paramos para almoçar, as duas com toalha na cabeça e um roupão branco tão fofo que quase decido ir assim pro casamento.
— Eu não sou cavalo pra comer mato, mãe – Lia reclama se recusando a comer o prato com salada que a mãe dela trouxe.
— Você não pode comer nada pesado pra não passar mal, imagine só a noiva passando mal na hora da cerimônia...
 - Mãe, eu vou desmaiar de fome desse jeito, garanto que é tão ruim quanto me dar uma dor de barriga – ela reclama afastando o prato, enquanto a mãe tenta convencer sei que não será possível por isso pego meu celular e ligo pro restaurante japonês, Lia abre um sorriso gigante quando me ouve fazendo o pedido.
— Hoje é o dia da noiva – me explico quando tia Betty me olha, ela revira os olhos e Lia vem me abraçar, enquanto esperamos o nosso almoço chegar Lia recebe massagem nos pés e eu tento falar com Vinny pra lembrar ele de pegar o terno, ele ri dizendo que eu preciso me acalmar e garante que está tudo sob controle, então cerca de meia hora depois o nosso pedido chega e eu reconheço o entregador.
— A menina do namorado ciumento – ele fala sorrindo enquanto eu vou até ele com a carteira nas mãos, ele me passa as sacolas e eu pago dando uma gorjeta.
— Pode me chamar de Dani...
— Tem certeza que é seguro?
— Ele não é meu namorado – eu falo achando graça e ele abre um sorriso mais descontraído.
— Nesse caso, então eu posso te chamar pra sair?
— An, o que? – levo um pequeno susto e ele ri.
— Já que ele não é seu namorado...
— Não é uma boa ideia – falo tentando não parecer muito grossa.
— Só vai saber se aceitar – ele levanta a sobrancelha me desafiando.
— Ela aceita – ouço a voz da Lia e me viro pra ela que não se intimida – Tem caneta? – ele lhe entrega uma rapidamente, então ela puxa a mão dele e começa a escrever – Tá ai, liga e depois vocês marcam, mas agora eu preciso dela – ela segura meu braço me levando junto com ela.
— Eu não acredito que você fez isso.
— Eu sou a noiva e hoje é o dia da noiva! Você que disse... eu posso tudo – ela pega a sacola da minha mão e abre a bandeja parecendo uma morta de fome, ela ignora meu olhar e começa a comer, como não tem mais nada a fazer eu também começo a comer.
— A culpa vai ser sua quando eu disser não e quebrar o coração dele.
— A culpa não é minha! É das Estrelas – ela fala e então nós duas começamos a rir.
Depois do almoço ela é levada pra uma sala pra fazer um tal de banho de sei lá o quê, e eu tento não enlouquecer com a minha mãe que insiste que eu deveria fazer umas luzes no cabelo ou cortar ou qualquer coisa que fosse diferente, depois de um milhão de negativas ela desiste e vai ela mesma fazer as luzes. Nossos vestidos finalmente chegam com todo cuidado e proteção de uma bomba nuclear, eles são pendurados cuidadosamente e ninguém, nem mesmo eu, tenho a autorização de tocar neles até a hora certa, tia Beth fica vigiando qualquer um que chegue perto deles e finalmente no fim do dia chega a hora certa, Lia não está mais se aguentando de ansiedade e mesmo tendo passado por todos os rituais de relaxamento parece tão nervosa quanto antes, eu me arrumo primeiro, minha mãe me ajuda assim como as outras meninas que trabalham aqui, elas me ajudam com o zíper e em qualquer outro detalhe, ajeitam os fios do meu cabelo que saíram do lugar, ajeitam uma passada de lápis a mais que segundo elas irá destacar ainda mais meus olhos, realçam o batom e me colocam de frente pro espelho.
— AI...MEU...DEUS! – Lia fala parando atrás de mim, consigo ver ela através do espelho, ela leva as mãos a boca e parece impressionada, ela ainda está com o roupão mas maquiada e de cabelo pronto, eu me viro pra ela e faço uma pose com a mão na cintura.
— E então? Ainda posso ser a madrinha ou você vai me trocar por alguma modelo?
— Você já é uma modelo! A madrinha mais linda do mundo – ela fala batendo palminhas animada, eu sorrio e me viro pro espelho de novo.
— É, eu até que eu tô gata – falo e realmente estou impressionada com o que elas conseguiram fazer.
Meu vestido é todo rosa, porém ele é um pouco mais claro na parte superior e parece bordado, ele tem uma alça um pouco grossa que cobre apenas um ombro meu, o outro fica totalmente descoberto, na minha cintura tem um cinto liso, sem nenhum detalhe e absolutamente dourado, abaixo do cinto, o tecido é fino e suave, ele tem um segundo pano por baixo pra esconder a sua transparência, porém ele é aberto até um pouco acima do meu joelho, as sandálias são altas e dourada, meu penteado consiste em tranças finas que o puxam para trás onde ele foi cuidadosamente preso em grampos disfarçados com pequenos pontos de luz brilhantes, alguns fios foram deixados soltos de forma proposital, os brincos são dourados e descem quase até tocar meu ombro, a maquiagem realmente ressalta mais os meus olhos, deixando eles bem destacados, o batom é de um rosa muito suave assim como o blush.
— Você tá linda – Lia fala ainda me olhando.
— HÁ, espera até você ficar pronta e aí sim você irá saber o que é estar linda – eu falo e ela morde o lábio ansiosa e então pela hora seguinte passamos todas dedicadas exclusivamente a ela, com todo cuidado do mundo pra não desarrumar o cabelo nem borrar a maquiagem, com atenção a cada detalhe e assim que a liberamos pra se olhar no espelho eu sinto uma das maiores emoções da minha vida, ela está linda, mais do que isso, está deslumbrante, acho que eu nunca vi alguém tão linda na minha vida.
O vestido, na parte de cima é uma espécie de corselett, bem justo ao corpo, marcando sua curva perfeita, ele é delicadamente bordado com desenhos de flores e com pérolas, na sua cintura tem um pequeno laço com uma perola solitária no meio dele, a parte debaixo é bem rodeada e mesmo com tantas camadas ele ainda tem essa aparência suave e delicada, nas costas o bordado fica ainda mais evidente por que o tecido é transparente e onde seriam os botões faz-se um caminho de perolas até a altura da cintura onde tem um outro pequeno laço, seu cabelo foi penteado de modo que fique um pouco mais alto na frente, a lateral está presa por pedrinhas brilhantes que parecem diamantes, a maquiagem destaca seus olhos azuis, ela está perfeita, mesmo não gostando de contos de fadas tenho que admitir que ela parece como a princesa de um deles.
Ela se vira pra nós, tia Betty quase tem um ataque de tão emocionada, minha mãe usa todos os elogios que consegue, as meninas que nos ajudaram reforçam cada elogio enquanto eu continuo apenas olhando pra ela sem saber o que dizer.
— Só você não disse nada! – Lia fala chamando minha atenção.
— Eu... Eu nem sei o que dizer! Você está... Perfeita! – falo tentando controlar minha emoção, a lagrima escorre e eu logo a seco antes que todas elas briguem com medo que eu borre a maquiagem, pra minha sorte tia Betty borrou a dela e minha mãe e as meninas estão desesperadas tentando arrumar, graças a isso ninguém está com atenção em mim, eu me aproximo da Lia e ela sorri também emocionada – Não existe e nem nunca vai existir uma noiva mais linda do que você – quando ela ameaça chorar eu nego – Nem pensa nisso ou elas arrancam nossos olhos – eu falo e o que seria um choro vira uma risada.
Quando chega a hora de sairmos do SPA e irmos para o local do casamento Lia está quase tendo um ataque de ansiedade, eu tento acalmar ela mas como tenho que ir na frente ela precisa ser vigiada pra não roer as unhas, eu vou de carro quando papai passa pra pegarmos eu e a mamãe, ela também está linda, as luzes deram super certo e ela está animada, com um vestido azul claro longo que destaca sua beleza, meu pai está com um terno em risca de giz perfeitamente alinhado, seus cabelos grisalhos estão penteados cuidadosamente e mesmo sendo suspeita, acho ele um gato.
Assim que alcançamos o portão da fazenda sorrio sabendo que Lia vai amar, tudo está como ela planejou, a entrada para os carros está enfeitada com luzes piscando que cobrem todo o portão, os seguranças nos indicam o lugar para estacionar, o caminho que temos que fazer até o salão onde irá acontecer a cerimônia é todo iluminado por estacas de madeiras cobertas de flores rosa, alcançamos o espaço coberto e as grandes portas de madeiras estão abertas, o lugar está perfeito, o caminho de flores até o altar está ainda melhor do que imaginei, Lia dispensou o tradicional tapete vermelho, optou por um tapete feito inteiro de pétalas, são centenas delas, mas o efeito é deslumbrante, pétalas branca, rosa claro, rosa pink e roxa fazem você se encantar imediatamente, na lateral de todo o ‘’tapete’’ tem os recipientes de cera onde irão se acender as velas que irão iluminar o caminho, olho ao redor e as flores estão muito bem distribuídas, os convidados já estão aqui e me lançam sorrisos ansiosos, olho pra frente e o altar está ainda vazio, quando me viro dou de cara com Vinny, ele está com terno azul marinho que parece ter sido costurado no corpo dele de tão perfeito e bem ajustado que está, ele me olha dos pés a cabeça e abre um sorriso.
— Uau! – ele fala impressionado, eu sorrio e faço o mesmo com ele, mas ele faz uma careta pra gravata.
— Não toca, se não vai ficar torta e eu não entro com você torto – falo e ele faz uma careta.
— E ela?
— Tá vindo! Mas eu preciso falar com o Bruno antes...
— Não me diz que ela desistiu - eu o olho séria e ele ri – Ele tá lá na sala dos fundos – ele me aponta o lugar e me acompanha, bato na porta, mas Vinny abre antes que a autorização venha, por sorte ele está arrumado, sentado em uma cadeira olhando uma folha de papel, ele se levanta quando me vê, e assim como Vinny, faz uma cara de impressionado.
— É eu sei, to diferente e tô maior gostosa – falo brincando e ele ri.
— Tirou as palavras da minha boca.
— Você também tá bonitão – ele faz uma pose ridícula, está com um smoking desses dignos de príncipes encantados, o cabelo pela primeira vez desde que o conheço está perfeitamente penteado pra trás com gel, eu me aproximo dele e fico um pouco mais séria – Eu quero que você saiba que eu desejo toda felicidade do mundo pra vocês, sei que você ama ela então, por favor, tenha paciência, as vezes ela é um saco, você sabe disso mas só... cuida dela – peço e ele me dá um sorriso carinhoso.
— Tudo que eu mais quero é cuidar dela – ele abre um sorriso divertido – E eu tive uma longa conversa com um certo alguém que me deu ótimos motivos pra me impedir de pensar em pisar na bola – olho pro Vinny e sorrio orgulhosa.
— Ótimo! Mas tem outra coisa que eu precisava te falar... – ele me olha curioso e eu preciso respirar fundo e me controlar – Eu tenho certeza que esteja onde estiver, hoje, exatamente agora, ele está com aquele sorriso que ele sempre tinha e está muito, muito feliz por você – não preciso dizer de quem estou falando, ele sabe – Ele sempre dizia que quando chegasse esse dia ele ia estar lá na frente, do seu lado e eu tenho certeza que ele vai estar! Ele te amava muito, muito mesmo! Eu era obrigada a ouvir todas as histórias de vocês dois e acredite, ele lembrava de todos os mínimos detalhes – ele solta um riso meio triste e nostálgico, eu seguro as lagrimas, abro a pequena bolsa que seguro e pego a pulseira afro que ele nunca tirava do braço, desde que eu o conheci ele usava ela e sempre contava que foi da melhor viagem que ele já fez, ele e Bruno passaram uma semana na Bahia, e ele trouxe de lembrança, depois do acidente quando tudo estava acabado eu consegui pegar sem que ninguém percebesse, assim que Bruno vê a pulseira me olha surpreso, eu forço um sorriso e pego a mão dele, já estava colocando a pulseira quando ele recua.
— Não posso aceitar! Tem que ficar com você – eu nego.
— Tem que ficar com você! Eu sei que ele ia querer isso e eu quero que você tenha algo dele quando estiver lá na frente e você sabe que você também quer isso – ele me olha com lagrimas nos olhos e me estica o braço, eu passo a pulseira no seu punho e a amarro, ele a olha com um sorriso de lembranças
— Obrigado! De verdade, muito obrigado mesmo – ele me abraça, seguro as lagrimas e o abraço de volta, ele beija minha bochecha e me olha nos olhos, mas antes que diga qualquer outra coisa a porta se abre.
— Ela chegou – o pai dele avisa e ele abre um sorriso nervoso, eu abraço ele mais uma vez.
— Ela tá linda e ... histérica – ele ri, segura minhas mãos e a beija.
— Vamos! – Vinny me apressa e nós saímos da sala, todo mundo já está na correria, a prima da Lia já está organizando todos em suas posições, eu e Vinny nos posicionamos e uma musica instrumental começa no fundo, somos os padrinhos da noiva portanto vamos entrar primeiro, depois entram os padrinhos do noivo, eles não quiseram muitos padrinhos então cada um escolheu apenas um casal, tia Betty e o pai do Bruno entram sorrindo emocionados, logo em seguida, Bruno e a mãe, então quando eles se posicionam todos começam a ficar ansiosos, as velas que seguem o caminho até o altar são acesas por 4 damas, a luz é reduzida, as grandes portas de madeira se fecham e após uns segundos de silêncio a marcha nupcial começa, dois homens que também fazem parte do cerimonial e estão de terno preto abrem a porta de madeira, parada no meio exato está ela, Lia está ainda mais deslumbrante do que eu me lembrava e todos os olhos estão nela, Bruno parece completamente enfeitiçado, ele retorce os dedos e eu sei que é por que ele está nervoso, Lia abre um sorriso e então Tio Claudio vai até ela e encaixa o braço dela no dele, ele beija sua testa e eles começam a andar, não existe uma única pessoa que não esteja impressionada com sua beleza, as fotos são tiradas e quando olho pro Vinny vejo ele enxugando a lagrima, ele percebe meu olhar e sorri.
— Nossa menina cresceu – ele sussurra e posso ver a emoção nos olhos dele, meus olhos se enchem de lagrima e quando olho pro Bruno e o vejo chorando também não consigo me segurar e passo praticamente toda a cerimônia em lagrimas, tudo me emociona, a maneira que eles se olham, os votos que eles mesmos escreveram, as assinaturas, a troca das alianças, o beijo, quando a cerimônia se acaba eu já estou quase sem ar.
— Se você não secar hoje, não seca nunca mais – Vinny me zoa enquanto saímos do altar.
As pessoas são levadas para o outro lado, em um outro local fechado onde será a festa, Lia e Bruno vão antes pra receber todos na entrada e serem cumprimentados, eu e Vinny deixamos pra ficar por ultimo e estávamos parados observando eles quando Rafael aparece.
— Tenho que confessar que eu não sabia pra quem olhar, pra noiva ou pra madrinha da noiva – ele fala me olhando com um sorriso meio sedutor.
— Já que a outra opção era a noiva, e bom, ela é “A noiva”, acho melhor que seja na madrinha – Vinny leva na brincadeira e eles riem.
— É sério, você tá... incrível – ele fala um pouco mais sério.
— Obrigada – eu agradeço com um sorriso meio sem graça – Você também tá muito bem – falo dando de ombros, ele está com uma calça escura, uma camisa branca sem botões em gola V e um blazer de veludo marrom, dobrado até o cotovelo.
— Obrigado – ele finge fazer uma mensura e então como todos já entraram eu e Vinny vamos até os noivos, Vinny já chega abraçando Lia e tirando os pés dela do chão, ela ri e ele a roda enquanto ela se equilibra segurando os ombros dele, eu abraço Bruno, ele também me aperta meio exagerado, me balançando pros lados.
— Vocês estavam lindos, meus parabéns – eu falo e ele beija minha bochecha, Vinny solta Lia e nós nos abraçamos demoradamente.
Nós entramos pra festa e tudo está ainda mais incrível e impecável, tem uma pista de dança iluminada e convidativa mas todos esperam a dança dos noivos primeiro, então Vinny se junta a banda e eles começam a tocar e quando ele começa a cantar “Back at one” e os dois começam a dançar, todos os olhos estão neles e eu começo a chorar de novo, primeiro por que Lia e Bruno parecem dentro de um mundo só deles, eles se olham e sorriem, se beijam e dançam como se nada mais existisse, além  do Vinny que está cantando totalmente emocionado, ele me olha e sei que esse momento também está mexendo com ele, mas então a música lenta para e o dj assume o controle, eu já me preparo e logo depois da batida inicial da música da Anitta “Show das poderosas” eu me junto as Lia e as outras 4 meninas que ensaiaram com a gente, nós fazemos os passos entre risadas, Lia fica no meio e Bruno ri e grita assistindo, até que nossa música para e a batida anuncia “Bang” então Bruno, Vinny e os outros garotos assumem o centro da pista e começam a dançar, rebolar e levar todos a loucura, essa é a nossa vez de gritar e rir, nós não tínhamos visto a coreografia deles e nem eles a nossa, então tudo ficou incrível, quando termina nós rimos, aplaudimos e nos abraçamos e só então a pista de dança é liberada.
— Dança comigo? – a voz pergunta quase colada na minha orelha, levo um susto e me viro pra encontrar Rafael me olhando e sorrindo.
— Foi mal, maninho, mas a primeira dança é minha – Vinny fala passando a mão pela minha cintura, eu sorrio vitoriosa para o Rafael, nos encaixamos perto do casal e dançamos rindo, trocamos os pares e sinto como se realmente nada mais existisse, nossos risos superam a música e me sinto tão feliz quanto a muito tempo não me sentia, Bruno tenta me fazer dar um passo mais complicado e quase caímos, Lia ri e consegue fazer o tal passo com Vinny, eles ficam tirando onda e continuamos nos divertindo por mais duas musicas.
— E agora? Posso? – Rafael aparece de novo, Vinny o olha sorrindo e se afasta de mim dando passagem pra ele, tento lhe lançar um olhar de que ele fez besteira mas ele já está puxando Vivi pra dançar.
— Essa é minha irmã ein, não esquece – Bruno avisa e Vinny dá de ombros.
— Difícil dançar com você – Rafael fala enquanto passa o braço pela minha cintura me apertando no corpo dele, a música embora não seja lenta também não é muito agitada.
— Tinha um monte de garota sem par – falo fazendo um sinal ao redor de nós dois, ele dá de ombros.
— Eu sou bem seletivo no que eu quero – sua voz é baixa e ele me libera um sorriso.
— Cuidado, quem muito escolhe acaba sem nada – devolvo com um ar vitorioso, ele ri e junta o corpo ainda mais no meu.
— As vezes o risco vale a pena – sua voz é baixa como se ele estivesse medindo o volume exato da sua voz, ele encaixa a mão nas minhas costas e a outra mão ele desce os dedos pelo meu ombro, minha pele se arrepia imediatamente, eu finjo tossir e tento me desencostar um pouco dele – Está tudo lindo – ele fala olhando ao redor e eu sorrio contente.
 - Ainda bem, Lia estava histérica, não quero nem pensar no que ela faria se alguma coisa desse errado – ele ri e me olha curioso.
— Não era só ela que estava nervosa não, eu vi você lá em cima e achei que fosse nos afogar – ele implica comigo e eu sorrio mas faço uma careta.
— Eu nem chorei tanto assim – ele solta uma risada divertida.
— Não quero nem imaginar se tivesse sido muito então – eu lhe dou um tapa de leve e ele ri – Sua sorte é que você fica linda até chorando – eu reviro os olhos.
— É sério que você vai usar essas cantadas em mim? – pergunto olhando pra ele sem acreditar.
— Não é uma cantada, é a verdade! Não tenho culpa de ser realista.
— Ou cara de pau – ele ri novamente.
— Você é linda, a culpa não é minha – reviro os olhos de novo.
— Você vai me fazer vomitar...
— Relaxa, já vi essa cena antes.
— E eu também estava linda, acertei?
— Ah não, foi bem nojento! Você não deveria repetir isso – ele fala e mesmo sendo um idiota, eu acabo rindo – Mas na manhã seguinte... – ele faz uma cara ridícula mordendo o lábio.
— Você tem problemas, sério – ele ri e dá de ombros, a música acaba – Eu tenho que parar, meus pés já estão doendo – ele concorda e segura minha mão, saímos da pista e um garçom passa servindo taças de champanhe, ele pega duas e me entrega uma.
— Um brinde aos noivos? – aceito o brinde e ele sorri satisfeito.
— Ah te achei – minha mãe aparece e seu sorriso se aumenta quando vê Rafael comigo - Que bom te ver de novo – ela fala e cumprimenta ele – Você está impressionante.
— Viu, sua mãe sabe como elogiar alguém.
— Ela também é uma ótima parceira de dança e acompanhante pra festa – falo e minha mãe me reprova com o olhar – Cadê o papai?
— Tá no bar com o seu tio Claudio...
— Cadê a madrinha mais gata desse casamento? – Vinny pergunta já me abraçando por trás.
— Tentando arranjar alguma coisa pra comer – falo com a mão na barriga, ele ri.
— Já estão começando a servir as mesas...
— Então eu preciso de uma mesa agora – aviso e vamos para uma mesa que já estava reservada, Rafael vem com a gente, Lia e Bruno se sentam pra descansar um pouco e nós aproveitamos para tirar varias selfies e antes que eles saiam pra bater as fotos profissionais eu e Vinny resolvemos revelar a surpresa, ele tira o envelope de carta de dentro do terno e me entrega, Lia e Bruno me olham ansiosos.
— Nosso presente de casamento – entrego nas mãos da Lia.
— Achei que vocês já tivessem dado – Bruno fala, por que eu dei uma TV e Vinny  um aparelho de som.
— Mas nós somos os padrinhos, o melhor presente tem que ser o nosso – falo orgulhosa, Lia abre o envelope, levanta os papéis confusa, então seus olhos se arregalam.
— AI – MEU – DEUS!!!!!! – ela grita já pulando e comemorando, ela entrega o envelope com as passagens para Bruno e ele olha sorrindo, depois nos olha impressionados.
— Eu sei que vocês vão viajar amanhã, mas o navio sai de lá mesmo então não tem problemas – Lia pula em mim, me abraçando e rindo.
— Você é a melhor amiga do mundo – ela grita animada.
— Ei, o presente é meu também – Vinny fala e ela pula em cima dele também.
— Eu amo vocês – ela nos abraça ao mesmo tempo e só depois de vários minutos que ela nos libera e podemos abraçar o Bruno também, ela sai ainda mais animada pra tirar as fotos.
— Eu soube que tem um jardim incrível lá fora – Rafael fala logo atrás de mim.
— Ah é, a Vivi tava louca pra ver – falo já acenando pra ela que está sentada na nossa mesa, ela se levanta e vem até nós, Rafael me olha desacreditado – O Rafael queria ver o jardim – falo e ela abre um sorriso animado.
— Eu escutei que está lindo – ela fala sorrindo animada.
— Viu? Tá lindo – dou um empurrão nele, ele ri e se aproxima de mim.
— Xeque mate – ele sai oferecendo o braço pra ela, eles se afastam e eu estava rindo satisfeita quando Vinny aparece.
— Foto! – eu saio com ele pra tirar a foto.
A festa foi simplesmente incrível, depois que o jantar foi servido a pista de dança não ficou um minuto vazia e eu não sentei mais nem por um segundo, dancei o resto da noite inteira, Lia também estava radiante mesmo que um pouco cansada, pulamos, rimos, tiramos mais selfies e bebemos, fizemos dezenas de brinde e voltávamos a dançar, já estava quase na metade da madrugada quando eles se despediram, o carro já estava esperando lá fora com varias latinhas amarradas nele e o clássico ‘’recém-casados’’ escrito atrás, a festa ainda durou mais algumas horas depois que eles se foram, procuramos por Rafael e não o achamos em lugar nenhum e então  Vinny e eu pegamos carona com meus pais, quem dirigiu foi a mamãe por que papai também abusou da bebida, ela insistiu para que a gente fosse pra casa deles, mas negamos e vamos para o apartamento, assim que abrimos a porta Vinny para e eu empurro ele ainda rindo, ele fecha a porta e eu o olho confusa.
— Para de graça, o que foi? – pergunto tentando abrir a porta.
— Melhor esperar um pouquinho – ele fala rindo.
— Por que? – quando ele levanta as sobrancelhas sorrindo eu entendo.
— Não me diz que é a Vivi! Por favor, o Bruno me mata, fui eu que mandei eles saírem pra ver o jardim – falo juntando as mãos em suplica.
— Você está a salvo!
— Quem é? – pergunto curiosa e então a porta se abre e Priscila, a prima da Lia, aparece com o cabelo ainda bagunçado, sem os brincos maravilhosos que estava antes e com o vestido um pouco amassado.
— Priscila! – ela sorri sem graça.
— Er... Oi! Eu... já tava indo – ela fala e Rafael aparece logo atrás dela, sem camisa e com a calça ainda meio aberta, eles passam por nós e vão pro elevador, Vinny me arrasta pra dentro do apartamento, eu ainda tento olhar mas ele fecha a porta.
— Ela não tem namorado? – pergunto confusa e ele ri, dando de ombros.
— Acho que não está muito satisfeita! E ele não é um namorado muito inteligente se deixa ela gata desse jeito sozinha em um casamento – ele fala naturalmente indo até a geladeira e pegando a garrafa de agua, ele bebe na própria garrafa e eu o olho reprovando, ele nem se importa, então Rafael volta, fechando a porta e se espreguiçando.
— Você sabia que ela tem namorado? – ele me olha dando de ombros e coçando a barriga.
— Não, não sabia, mas de qualquer jeito isso é um problema dela e não meu... – Vinny ri concordando com ele.
— Vocês dois são... – procuro a palavra, mas não acho.
— Incríveis? – Rafael pergunta rindo.
— Impressionantes? – Vinny entra na onda.
— Imbecis.
— Já disse que você tá tipo... Muito gata? – Rafael fala fazendo uma cara ridícula.
— Já disse que não me importo? – ele ri alto demais.
— Brava assim fica ainda mais gata – Vinny entra na onda dele, e eu levanto a mão mostrando o dedo do meio, eles riem e eu vou pro meu quarto, me jogo na cama me livrando das sandálias que já espremem meu pé, tiro o vestido e desisto de tomar banho de tanta preguiça, durmo ainda sorrindo pela felicidade da Lia e do Bruno e tenho um sono renovador.

Já faz uma semana desde o casamento e ainda é estranho me acostumar em não ter a Lia no apartamento, eles ainda estão na lua de mel e eu tenho que ficar me lembrando todo dia que não preciso mais esperar ela pra jantar, ainda assim me sinto muito feliz por ela, hoje ela mandou uma foto deles entrando no navio pro cruzeiro, estão começando hoje a segunda parte da lua de mel deles e o sorriso deles na foto era tão sincero, animado e feliz que conseguiu alegrar minha segunda-feira, mesmo que ela tenha começado corrida. Mal cheguei no escritório e já tinha trabalho me esperando, tive que correr a manhã inteira atrás de documentos e assinaturas pra conseguir entregar tudo pronto e as coisas finalmente começam a se acalmar, olhando de um jeito positivo acho que até consigo parar pra almoçar, respiro aliviada assim que confirmo olhando na minha agenda, então meu celular vibra em cima da mesa, pego ansiosa achando ser mais uma foto da Lia e do Bruno, mas é uma mensagem.
Vinny: “Preciso falar com você! AGORA!”
Imediatamente me alerto, ele nunca faz esse tipo de coisa principalmente em horário de trabalho e enquanto ele deveria estar em aula.
Dani: “O que aconteceu?”
Vinny: “Me encontra na cafeteria da livraria, aquela da esquina do shopping, em 20 minutos!”
Olho as horas e ainda falta 40 minutos pro meu almoço.
Dani: “O que tá acontecendo?????? Tá me deixando preocupada, meu almoço é em 40 minutos!”
Vinny: “Você tem 20 minutos, tô saindo daqui agora”
Vinny está off-line.
Meu coração está apertado e minha cabeça tenta dar algum sentido, tentando entender o que de tão grave pode ter acontecido, então decido ligar pra ele.
— Você tá me assustando! – falo assim que ele atende.
— Eu só preciso falar com você e tem que ser agora! Por favor, se vira, sai daí!
— Vinny, pelo amor de Deus me fala o que é... – antes que ele me responda Dr. Leones sai da sala dele e vem até minha mesa.
— Preciso que desmarque todos os compromissos da tarde e os de amanhã – ele fala apressado e nervoso, abaixo o celular e presto atenção nele, ele está segurando sua pasta e parece meio perturbado.
— Está tudo bem? – ele abre um sorriso nervoso.
— Meu filho vai nascer – ele fala e eu consigo sorrir também, um pouco aliviada, a esposa dele estava esperando o terceiro filho deles, e mesmo sendo um pouco antes do previsto acredito que é uma ótima noticia – Desmarque tudo e não precisa voltar depois do almoço, só separe aqueles documentos e mande entregar na minha casa – ele fala já correndo pra entrar no elevador, eu sorrio e volto a pegar o celular.
— Vinny?
— Você tem 20 minutos!
— Chego em 30, mas pelo menos não preciso voltar depois, ok?
— OK – eu desligo e já corro pra pegar os documentos, organizo tudo que precisava e então pego minha bolsa, jogo todos meus pertences dentro dela e corro em direção ao elevador que já estava fechando, entro já abrindo minha agenda e ligando para o primeiro numero pra poder desmarcar os horários, saio do prédio com o celular preso entre meu ombro e minha orelha, estava falando com o primeiro cliente e discutindo o melhor horário pra ele, então vejo o táxi, aceno quase deixando minha bolsa cair, o táxi para e eu me enrolo ao abrir a porta.
— Sim, sim, as 14horas está perfeito – falo enquanto faço sinal pro motorista seguir em frente, rabisco com a letra meio torta o nome do cliente na data e horário acertado, então desligo – Em frente ao shopping, Livraria Boa Esperança! – falo com o motorista e ele acelera, faço outra ligação e os 15 minutos que levamos até a minha parada consigo remarcar mais dois horários, sobrando apenas um, procuro pela minha carteira e acabo tirando tudo da bolsa, encontro, pego o dinheiro e recuso o troco, saio carregando minha bolsa aberta pendurada no ombro, minha carteira nas mãos mais a agenda e minha nécessaire, mesmo já enrolada me apresso pra fazer a próxima ligação, disco o numero enquanto equilibro tudo em um braço só, a mulher atende e sei que essa vai ser a mais chata, ela sempre reclama de tudo, enquanto tento explicar a ela que houve uma emergência ela reclama dizendo que tem muitas coisas pra fazer e que não pode ficar remarcando tudo, tento explicar que foi um imprevisto e ela continua falando, como a cafeteria fica no segundo andar subo as escadas, já estava na metade quando tropeço e deixo cair a agenda, a nécessaire e minha carteira.
— Merda! – xingo quase pisando em cima de tudo.
— O que você disse? – a mulher se altera do outro lado.
— Ah perdão, foi um acidente! Desculpa – peço revirando os olhos pra ela e me abaixando pra pegar minhas coisas, duas meninas que estavam subindo me ajudam, pegam minhas coisas e me entregam, eu sussurro um ‘’muito obrigada’’ sem som e elas sorriem, me sento no degrau da escada, abrindo a agenda e procurando pela quinta feira, a mulher me apressa do outro lado da linha e tenho vontade de mandar ela calar a boca mas é claro que não faço, finalmente encontro e marco o horário dela, respiro aliviada quando desligo e fecho a agenda jogando-a dentro da bolsa.
— A senhora precisa de ajuda? – um atendente que trabalha aqui aparece sorrindo simpático.
— Senhora? Ótimo, tudo que eu precisava – eu falo forçando um sorriso, ele se desculpa e me ajuda a ficar em pé, jogo a nécessaire na bolsa e volto a subir as escadas, encontro Vinny na mesa logo na lateral da escada.
— Belo show – ele fala com um sorriso divertido e batendo palmas.
— Obrigada pela ajuda! – reclamo e me sento de frente pra ele – Agora fala, o que foi? Quase me matou do coração – falo vendo que ele parece mais calmo do que imaginei, e começo a jurar que se for alguma brincadeira eu irei matar ele com minhas próprias mãos, então ele fica sério, pega um envelope que estava sobre a mesa e segura de modo misterioso.
— Você sabia que meu pai procurou seu chefe? – ele pergunta e sinto a ansiedade e nervosismo aumentar.
— Eu ia te contar, eu juro! Mas eu nem sabia do que se tratava e era meio que segredo por que eu nem tive acesso a nenhuma informação... Vinny, eu sinto muito, mas eu realmente não sabia o que fazer... – ele levanta a mão pra me parar.
— Relaxa, não te chamei pra cobrar nada – eu concordo e ainda o olhando ansiosa – Um advogado foi me procurar hoje na faculdade, ele me entregou uns documentos e eu tive que assinar algumas coisas...
— Que coisas? Você não devia ter assinado nada! Você leu antes pelo menos? Vinny isso pode ser perigoso, você deveria ter me falado antes de assinar qualquer coisa...
— Posso falar? – ele pede novamente chamando minha atenção, eu passo as mãos pelo cabelo.
— Por favor, só fala logo o que era – ele abre o envelope e me entrega um documento, tenho que reler umas 3 vezes pra acreditar, o documento é a escritura de um imóvel, um apartamento e não qualquer um, é o nosso apartamento, e agora está no nome dele – Isso é... Ele comprou o apartamento e passou pro seu nome – constato e ele concorda – Isso é... Inesperado!
— Não é só isso – ele avisa e me entrega outro papel, começo a ler e dessa vez quase caio da cadeira, é a comprovação de uma transferência bancária, o nome do dono da conta é Vinicius Moraes Alves e acaba de receber um depósito de R$ 350.000.00! Olho pro Vinny e ele me encara esperando eu dizer algo.
— Tem 350 mil reais na sua conta!
— E eu falei com a minha mãe, ela também recebeu uma visita e ele devolveu o dinheiro da casa que ela praticamente pagou sozinha, 100 mil reais – ele fala e eu preciso de alguns minutos, passo a mão pelo rosto e olho os documentos de novo, pego o copo de agua que ele estava bebendo e tiro um gole pra me recuperar – Minha mãe queria devolver a parte dela, mas eu disse que não era justo, ela realmente pagou quase sozinha com anos de trabalho, economia, deixando de fazer a pós dela, então é mais do que justo – concordo plenamente – Agora quanto a minha parte, eu não vou aceitar esse dinheiro!
— Você o quê? – ele me encara.
— Não vou aceitar! Ele não pode me comprar.
— Não se trata de te comprar e sim de te dar o que é seu por direito.
— Eu não quero o dinheiro dele!
— Não quer, mas precisa – ele me encara.
— Eu precisava de um pai e ao invés disso ele largou a gente e foi se juntar com aquela mulher, ele traiu minha mãe e nem ao menos olhou pra trás, não é o dinheiro dele que vai me fazer esquecer tudo que ele fez minha mãe e eu passarmos – eu concordo.
— Claro que não! E se fizer esquecer eu faço questão de te lembrar – ainda posso ver aquela raiva nos seus olhos então eu seguro a mão dele – Vinny, seu pai foi um canalha com vocês e nada nunca vai mudar ou apagar isso, mas você mesmo disse, ele largou vocês, abandonou. Meu Deus, ele praticamente expulsou vocês da casa, depois vendeu ela, o carro, ele ficou com tudo, eu sei o que vocês passaram nos anos seguintes e acredita em mim quando eu digo que isso daqui... – balanço os papéis pra ele – Não é absolutamente nada! Não é nem o mínimo do que ele deve a você, mas ele nunca vai conseguir pagar, eu sinto muito, mas você não mais ter seu pai de volta, os anos pra isso passaram, isso... – aponto o papel de novo – É tudo que ele tem, tudo que ele é. SÓ dinheiro! Ele é vazio Vinny, e você não pode esperar nada além disso dele. Só que esse dinheiro é seu também, mesmo que ele seja um bosta como pai, ele é seu pai e como filho você tem sim direito.
— Ele vai ter outro filho agora, então que dê a ele.
— Foda-se o outro filho! – ele abre um pequeno sorriso, ele sempre faz isso quando eu falo um palavrão – Eu não me importo com esse outro filho e nem com qualquer outro que possa existir, o único filho dele que me importa tá bem aqui – aperto a mão dele e ele sorri – E eu digo a ele que aceite a merda do dinheiro!
— Dani, eu não quero nada dele.
— Não é dele. É seu! – ele balança a cabeça meio contrariado – Pensa em tudo que vocês passaram...Tudo que ele fez vocês passarem, você teve que sair da sua casa, viver na casa da sua tia e nós sabemos que ela era um saco, vocês tiveram que refazer a vida de vocês toda em outro lugar e eu nem pude estar do seu lado – dessa vez é ele quem segura minha mão mais forte.
— Você esteve.
— Não como eu gostaria – ele me olha pronto pra me rebater – Eu nunca vou perdoar ele por isso, por que por culpa dele você foi embora, eu nunca vou esquecer isso. Ele fez você sair de perto de mim e as vezes eu realmente o odeio por isso...
— Eu sei – ele fala pensativo, eu sempre penso que as coisas poderiam ter sido diferentes se Vinny estivesse aqui, talvez tudo estivesse de outro jeito e cada vez que penso isso odeio ainda mais o pai dele, mas não digo essas coisas pro Vinny, ele já tem muita coisa pra pensar.
— Você não quer ter uma coisa sua um dia? Você mesmo disse outro dia que queria abrir um negócio seu, talvez uma academia, então... Como você vai fazer isso sem dinheiro? – ele abre um sorriso e toca meu queixo.
— O que você não consegue de mim? - ele pergunta fingindo irritação.
— Que você peça alguma coisa pra comer antes que eu morra de fome – ele ri e eu entrego os papéis pra ele – Então você vai aceitar né?
— Eu tô pensando – eu reviro os olhos e faço uma careta pra ele.
— Anda, vamos almoçar – ele fala depois que junta as coisas dele.
— Você paga! Sua conta que tá recheada e não a minha – nós saímos da cafeteria e vamos para o shopping do outro lado da rua, estávamos ainda no primeiro corredor quando eu parei – Ai eu não acredito!!!!! – falo fazendo-o parar também, agarro o braço dele e aponto pra loja de esportes – É sério, eu preciso daquela luva – eu olho pra ele e ele está rindo, a luva é amarela igual a que eu procurei por todo lado e ainda não tinha encontrado, eu o arrasto entrando na loja, acho a luva e seguro olhando com tanta animação que logo vem um vendedor.
— Nós temos o kit completo também! E o preço tá bem bacana, quer dar uma olhada? – ele pergunta e a animação é tanta que eu só consigo concordar sorrindo e seguindo ele, e quando ele mostra o kit completo eu quase tenho um ataque do coração, pergunto o preço e quando ele fala vejo que lá se vai tudo que eu tenho na minha conta, cada centavo, por isso eu apenas agradeço com o sorriso menor.
— Ela vai levar – Vinny fala e eu viro olhando pra ele curiosa, ele dá de ombros e abre um sorriso – Agora eu posso pagar – eu quase pulo em cima dele, rindo e beijando sua bochecha, ele também ri e o moço que está nos atende sorri meio sem graça.
— Então eu também quero dar uma olhada naquele tênis lá da vitrine – eu falo e Vinny me olha – Ah qual é! Não vai bancar o mão de vaca agora né? – sigo o vendedor pra mostrar qual é a cor que eu quero.
Alguns minutos depois estou saindo com as duas sacolas da loja.
— Eu posso viver assim pra sempre – falo encaixando meu braço no dele, ele ri e beija minha cabeça.
— Olha quem temos aqui! O casal que não é casal – Rafael fala quando quase demos de cara com ele virando um dos corredores.
— Achei que tivesse ido embora já! Mal vejo você no apartamento – ele ri.
— Você ia adorar né?
— Não imagina o quanto – falo fazendo uma cara de sonhadora.
— Só estava tentando conhecer melhor a cidade já que ninguém nunca pode me levar...
— Fazer o quê né? Alguns ganham a vida trabalhando, não sei se você sabe o que isso significa – ele dá de ombros.
— Onde vocês vão?
— Almoçar e aproveita que o Vinny tá pagando – ele abre um sorriso grande e abraça o Vinny.
— Esse meu maninho é o cara – Vinny o empurra e nós vamos pra praça de alimentação, mas depois de olharmos as opções decidimos ir pra outro lugar, um restaurante que e gente descobriu uns meses atrás, meia hora depois estamos entrando no restaurante, ele é todo decorado em branco e verde, o espaço é grande, o ar condicionado está na temperatura perfeita e o ambiente é leve e calmo, eu gosto daqui, nós escolhemos uma mesa do lado de um grande aquário com peixinhos coloridos e então como sempre acontece quando eu venho aqui com Vinny a menina que sempre fica no caixa, é quem vem atender nossa mesa, ela é um pouco mais baixa que eu, o cabelo é bem curto e desfiado atrás, ela usa óculos de grau que combinam perfeitamente com seu rosto e olha que eu nem gosto muito de óculos, mas nela combina muito bem, ela sempre está sorrindo e tem uma pinta próxima aos lábios muito parecida com a da Marlyn Monroe.
— Estavam sumidos – ela sorri ainda mais quando olha pro Vinny.
— É a correria – eu falo sorrindo também.
— Por favor, me diz que vocês tem aquele peixe na grelha... – Vinny pede e eu acho que o sorriso dela vai rasgar o rosto.
— Temos e temos pudim de sobremesa também – ele comemora e a garota quase explode nessa hora, eu sorrio e nós fazemos nosso pedido, ela sai sorrindo ainda mais.
— É, sério, se você não percebeu hoje, eu desisto – eu aviso e Vinny já revira os olhos.
— Que ela é afim dele? – Rafael pergunta normalmente, eu levanto as mãos fingindo agradecimento.
— Até que enfim, não sou só eu.
— E quem não perceberia?
— Viu! Eu falei!
— A garota tá sendo simpática!
— Essa simpatia tem outro nome de onde eu venho...
— Vinny! Ela é super, mega, ultra, afim de você! – eu falo, ele nega e olha na direção dela – Você devia chamar ela pra sair.
— Ela sorri pra todo mundo – ele fala dando de ombros.
— Mas só sai do caixa pra atender nossa mesa quando você tá! E eu já vim aqui com meus pais e com a Lia e o Bruno, ela continuou no caixa... Além do mais, duvido que ela saiba a sobremesa preferida de todo mundo.
— Todo mundo gosta de pudim – ele fala sem se abalar.
— Cara, ela quer você! Se tem uma coisa que eu conheço é mulher e aquela dali maninho, tá de olho em você – Rafael fala e ele ri.
— Em primeiro lugar o Rafael é um idiota! Por que mulher não é uma “coisa”...
— Foi modo de dizer, por que você implica tanto comigo? – reviro os olhos.
— Em segundo, infelizmente tenho que concordar com ele, ela quer você! – Rafael sorri orgulhoso e levanta a mão pra eu bater nela, lhe dou um olhar de desprezo e volto a olhar pro Vinny que agora não tira os olhos da garota que já voltou pro balcão do caixa – Ei! Espera aí! Você também é afim dela! – concluo como se tivesse desvendado um mistério, ele me olha como se eu fosse louca – É isso! Você, Vinicius Moraes Alves, você está afim da garota do caixa, por isso essa timidez toda, você nunca fica assim com nenhuma garota...
— Que timidez o quê? Nada a ver!
— Desmentiu a timidez, mas não a parte que tá afim dela – Rafael observa e Vinny lhe acerta um pedaço de papel que estava amassando antes.
— Você tá afim dela e não me disse nada, eu não acredito nisso – falo um pouco ofendida.
— Eu não tô afim dela, só... acho ela gata.
— É, ela é gostosinha! Esses óculos de secretária... – Rafael fala e Vinny se estica e lhe acerta um tapa na cabeça.
— Eu não acredito que você estava afim dela esse tempo todo e nunca me disse nada – reclamo realmente começando a me magoar, ele tenta me abraçar.
— Eu não sou afim dela, só acho ela bonita, é só isso! E foi você mesma que disse que não precisava de uma lista de todas as mulheres que eu acho bonita.
— Mesmo assim – dou de ombros, ele ri e beija minha bochecha, então nossos pratos chegam, dessa vez é o garçom quem traz – Não fala mais comigo – ele ri, nós almoçamos e a comida está ainda melhor do que eu me lembro, quando acabamos, pedimos e sobremesa e é ela quem vem entregar.
— Espero que esteja bom – ela fala quando coloca o prato na frente dele.
— Ah tenho certeza que está – Vinny fala e a bochecha dela cora levemente.
— Com licença – ela se afasta sorrindo.
— “Ah tenho certeza que está” – imito a voz dele e ele ri.
— Eu não sabia que você era tão ciumenta – ele fala tentando me puxar pra ele, mas eu resisto.
— Não é ciúme! Mas você não me conta nada! Isso não é legal, eu sou ou não sou sua melhor amiga? Por que amigos contam essas coisas.
— Ela é só uma garota bonita.
— Esquece! Não quero saber e não fala mais comigo hoje – como uma colher da minha salada de fruta – Você deveria chamar ela pra sair – sinto ele sorrindo e me olhando mas ignoro o olhar dele, olho pra torta do Rafael e parece tão boa que enfio minha colher e pego um pedaço.
— Ah sacanagem – ele reclama mas já é tarde demais.
— Eu vou lá.
— Isso por que você não é afim dela né? Aham, sei!
— Ai caralho! Você pode se decidir, por favor, eu vou ou não? – dou de ombros.
— Como se você se importasse com alguma coisa que eu penso – ele agarra meu rosto com as duas mãos e me força olhar pra ele.
— Você é um saco sabia?
— Você tá me machucando – reclamo e ele morde minha bochecha – Sério, eu odeio você – esfrego meu rosto irritada.
— Que dia é hoje? – ele pergunta ainda segurando meu rosto.
— Segunda!
— Não, dia mesmo...
— 13 – Rafael fala enquanto rouba minha salada de fruta.
— Ah entendi! Tá explicado... TPM – ele fala rindo e beija minha bochecha.
— A culpa não é da TPM, você é um imbecil, esse é o ponto – ele levanta as mãos em desistência.
— Cara, dá a torta pra ela! Ela precisa de chocolate, amor e carinho – ele fala me puxando pra ele de novo.
— Mais chocolate? Achei que ela tava de dieta – ele fala implicando comigo e mesmo sabendo que é de propósito o encaro irritada.
— Tá mexendo com fogo – Vinny avisa, eu ignoro eles e volto a comer minha salada de frutas, até que uma bolinha de papel cai dentro dela, eu olho para os dois e estão rindo – Foi ele – Vinny aponta pro Rafael.
— Eu vou pegar essas guardanapos e enfiar você sabe onde – ele arregala os olhos.
— Quase fiquei com medo – ele pisca e ri.
— Cara, é sério, ela é doida...
— Sou?
— Claro que não! – ele nega rapidamente – É sim – ele finge sussurrar pro Rafael e eu o encaro séria – Uma vez ela jogou minha roupa pela janela do apartamento...
— Você levou umazinha pra dentro de casa e deixou as roupas jogadas no corredor, além de terem comido meu iorgute, então você tem sorte de eu não ter jogado vocês dois...
— Em minha defesa, era uma numero 8 – ele fala pro Rafael, que faz uma cara de impressionado.
— Aí sim! – eles riem e dão um tapa na mão.
— O que é uma numero 8?
— Papo de homem! – Vinny fala e pisca um dos olhos.
— Ah é? Ótimo, que bom que agora você tem um melhor amigo homem pra você poder conversar tudo que esconde de mim...
— Ah para de drama – ele tenta segurar meu braço.
— Me solta – eu falo com raiva, me esquivo e me levanto um pouco rápido demais, então sinto o impacto e tem um barulho estrondoso, todos os olhos se viram pra mim, eu paro com as mãos na boca tampando um grito. O garçom está se recuperando do esbarrão, a bandeja ainda está balançando no chão no meio dos vidros e da comida.
— Ai meu Deus! Meu Deus! Moço, me desculpa, eu juro que eu não te vi! Me desculpa... – eu peço morrendo de vergonha enquanto o ajudo a se levantar e catar os cacos do chão, Vinny e Rafael estão quase chorando de tanto rir e minha raiva quase se iguala a vergonha.
— Tá tudo bem! Se machucou? – o garçom pergunta me olhando preocupado.
— Não, eu tô bem! Me desculpa mesmo – então a garota aparece.
— Você se machucou? Está tudo bem? – ela pergunta também preocupada.
— Eu não vi que ele estava passando e... Eu sinto muito mesmo
— Se ninguém se machucou não tem problema algum! Jorge, pede pras meninas limparem aqui rapidinho e apressa outro pedido, por favor! – o garçom sai levando a bandeja e alguns cacos maiores.
— Olha eu vou pagar tudo, eu nem sei o que dizer – falo já me virando pra pegar a minha bolsa, mas Vinny a segura e fica em pé ao meu lado.
— Eu pago! – ele fala e agora a garota só tem olhos pra ele.
— Não precisa, foi um acidente, já está tudo resolvido
— Eu faço questão.
— E eu insisto que não precisa, sem falar que meu pai descontaria do meu próprio salario se eu aceitasse algo assim...
— Então talvez você devesse me dar seu telefone, caso ele mude de ideia ou precisem de alguma coisa – ele sugere e eu quase não acredito no que ouço, a garota ri ficando corada, sem perder tempo ele puxa o celular do bolso e olha pra ela esperando, então ela dá o numero e eles ficam rindo um pro outro.
— Eu não acredito que você usou a minha vergonha pra dar em cima da garota – eu falo quando saímos do restaurante depois que ele paga a conta.
— Você disse que ela já estava de olho em mim, então eu não usei sua vergonha – ele se defende rindo.
— Vinicius, eu passo pela maior vergonha da minha vida e você aproveita pra pegar o numero de uma garota! Você é o maior idiota da face da Terra – ele para rapidamente.
— Nós precisamos passar na farmácia e depois em qualquer lugar que venda chocolate, com urgência.
— Não é culpa da TPM!  - eu quase grito e ele finge concordar – Destranca o carro – eu mando e ele obedece imediatamente, me jogo no banco de trás e eles entram rindo de alguma coisa, provavelmente de mim.
— E só pra constar, essa não foi a maior vergonha da sua vida, ou você esqueceu da Semana de ciências quando a gente estava na sétima serie?
— Cala a boca! – como estou rindo perco a credibilidade.
— Teve um grupo da nossa turma que fez um trabalho com dissecação de animais, tinha cobra e um sapo. Como a feira era interativa os alunos sempre assistiam o trabalho um dos outros aí quando nós fomos assistir esse grupo, eles começaram a abrir e dissecar um sapo, a Dani simplesmente vomitou em cima da bancada! Em cima mesmo. O sapo ficou cheio de vomito, a mão do garoto que tava abrindo o sapo, e a sala tava tipo... Lotada! Acho que o colégio todo tava lá – Vinny conta e acho que Rafael pode estar perdendo o folego de tanto que ri – E o pior é que o professor que avaliava ainda nem tinha ido na bancada deles, ou seja, eles ainda tiveram que explicar o por que estavam sem o sapo pra apresentar! Isso parou até na rádio do colégio, ela conseguiu ser o centro das atenções pelo ano inteiro, ela era a garota que vomitou no sapo...
— Isso não tem graça – eu grito de dentro do carro, mas as risadas são mais altas e até mesmo eu estou rindo.
— Geral zoava ela!
— Isso é bulling! – cruzo os braços como uma criança irritada e tenho que aguentar eles me zoando o caminho inteiro até o apartamento, ele me deixa lá e os dois vão pra academia, como só vou mais tarde aproveito pra descansar um pouco, entro no apartamento e vou direto pro banho, me jogo na cama e acabo pegando no sono rapidamente, acordo no fim da tarde com o telefone tocando, levo alguns segundos pra me despertar e vou até a sala, acho o telefone jogado no sofá, entre as almofadas.
— Alô?
— Quem está falando?
— Você que ligou, quer falar com quem? – o homem bufa irritado do outro lado.
— Onde está o Rafael?
— Quem quer falar com ele?
— É o avô dele! Chama ele – ele exige tão mandão que eu realmente entendo a quem o Rafael puxou.
— Ele não tá! Quer deixar recado? – pergunto mesmo querendo mandar ele a merda.
— Avisa a ele que essa palhaçada acabou! Se ele quer brincar de esconde esconde então que arque com as consequências, do contrário eu quero ele em casa até o final de semana! – ele avisa irritado e eu me surpreendo.
— Ok! – ele desliga antes que eu diga mais alguma coisa, eu ainda tento entender o que aconteceu.


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