Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 28
Capítulo 28




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Pela primeira vez no ano eu acordo super cedo e muito bem humorada, saio da cama do Vinny devagar e vou pegar meu celular na sala, Rafa já está na cozinha preparando o café e quando me vê, ele larga o que está fazendo e vem até a mim, passando os braços em volta do meu corpo e me apertando de um jeito quase exagerado, mas que me faz me sentir acomodada e relaxada, ele afunda o rosto no meu pescoço inspirando profundamente, eu sorrio e meus dedos logo se afundam e se perdem nos fios escuros e macios do seu cabelo, ele levanta o rosto e o para a poucos centímetros do meu.
— Eu acordei de madrugada e você tinha sumido, eu já tava morrendo de saudade – por mais que eu devesse dizer que isso é exagerado, não digo nada por que eu também sinto a mesma coisa – Aquele quarto é muito grande sem você – ele faz uma careta e eu sorrio e o beijo, diferente dos beijos rápidos que geralmente trocamos pela manhã, esse é longo e um pouco mais ousado e eu tenho certeza que qualquer um que nos visse agora acharia que estávamos dias sem nos ver e não apenas que dormimos separados por uma única noite.
— O Vinny tava meio que surtando – eu explico quando o beijo para e ele sorri.
— Eu imaginei... E agora como ele tá? – ele pergunta quando me solta parecendo realmente preocupado.
— Dormindo... Mas tinha se acalmado um pouco...
— Que bom, tô terminando de fazer o café, a Lia já ligou e pediu pra você ligar pra ela...
— Vou ligar – pego o celular e logo disco pra ela, demora apenas um toque e ela atende.
— Meu Deus, Dani, onde você estava? – o exagero dela é quase desesperador, como se algo muito grave tivesse acontecido, mas como eu a conheço sei que é apenas drama.
— Eu passei a madrugada acalmando o noivo, acho que tenho direito a uma hora de sono...
— E como ele tá?
— Mais calmo...
— Isso é bom – eu acabo rindo com as conclusões que ela tira – Bom, eu falei com a Paty e ela disse que já está quase tudo arrumado por lá – ela conta parecendo ainda preocupada, Rafa cedeu a hamburgueria pra fazer a cerimônia, por que Bianca e Vinny iam fazer tudo no cartório mesmo e depois apenas um almoço, mas é óbvio que Lia não aceitou isso e disse que tinha que ter um espaço pra cerimônia e pra uma pequena comemoração depois, o pai da Bianca disse que podia ceder o restaurante, mas a Lia usou todo seu dicionário e palavras elegantes pra dizer que o espaço lá não era o mais adequado para esse tipo de ocasião, então Rafa se ofereceu e Lia adorou a ideia, por que o lugar é realmente mais moderno e tem uma pegada mais jovem e animada, ela também disse isso com toda elegância que conseguiu e assim ninguém ficou chateado – Tem certeza que tá tudo bem pra você a Paty por lá? Eu posso falar com ela...
— Lia! Fala sério, claro que tá tudo bem...
— Tem certeza? Ela e o Rafa... Você sabe... Quer dizer, foi mal ficar falando disso, mas... Eu não sei, deve ser estranho, não? – eu acabo rindo.
— Relaxa, eu não tenho problemas com isso e ela é a melhor que nós conhecemos, eu quero que eles tenham o melhor...
— Nossa, você é tão madura, eu acho que não ia querer ver uma mulher que já tivesse ficado com o Bruno nunca na minha vida – eu dou outra risada.
— Bom, ela com certeza não foi a única e se eu fosse me preocupar com isso, talvez tivesse que evitar quase a metade das mulheres da cidade e algumas no trabalho... – quando falo isso ele se vira e me olha já desconfiando do que se trata, seu sorriso não aparece e ele fica meio tenso, eu reviro os olhos e viro de costas pra ele – Só garanta que tá tudo certo, eu vou me arrumar e fazer com que eles se arrumem também – me despeço dela e desligo, então volto a me virar pra ele que está parado na entrada da cozinha encostado com a lateral do corpo na pilastra e me olhando de um jeito esquisito.
— Ela tá preocupada com o lance da Patrícia?
— Ela acha que eu vou pirar e agarrar ela pelo cabelo ou sei lá o quê – tento fazer piada, mas ele me olha sério.
— E você não vai fazer? – eu solto um riso meio confuso.
— Eu deveria? – ele dá de ombros.
— Não sei... Você não ficou com metade da cidade, não sei como eu agiria no seu lugar – eu reviro os olhos e vou até ele, coloco minhas mãos nos ombros dele.
— Nem começa...
— Só estou falando a verdade...
— Não, você tá sendo aquele Rafael chato que adora ficar se martirizando por coisas que não tem culpa...
— Então eu não tenho culpa de ter pego todo mundo? Inclusive a prima da sua melhor amiga?
— Ai meu Deus, Rafa! Sério? Hoje? Você vai escolher hoje pra bancar esse cara? – começo a me irritar e me afasto dele – Eu realmente não entendo você, não entendo mesmo, pra quê ficar fazendo isso? Se eu disse que não tem problema, não tem e ponto final, que saco! – eu solto o ar irritada e ele vem até a mim, meio cauteloso ele coloca a mão na minha cintura e eu olho pra ele.
— Eu amo você!
— Então para de ser um babaca – ele dá de ombros.
— É que eu sou meio babaca de vez em quando...
— Então não seja um babaca hoje, pode ser? – ele toca meu queixo, seus dedos sobem lentamente pelo contorno do meu rosto.
— Eu só odeio que você tenha que lidar com as burradas que eu fiz...
— Não foram burradas – eu dou de ombros e ele me olha – Você era solteiro, Rafa, fala sério, se você ficou com uma ou com um milhão, não faz diferença, a gente não tinha nada, você precisa parar de ficar se cobrando essas coisas, é chato... – faço uma careta.
— É só que... Eu queria ser o príncipe perfeito que você merece...
— Bom, ainda bem que você não é. Eu acho eles um saco – faço outra careta e dessa vez ele ri e eu o puxo para um beijo que acaba se estendendo bastante e quando termina devolve aquele sorriso dele que eu adoro – Eu preciso começar a me arrumar e acordar o Vinny também – ele me dá um selinho e me solta, eu corro até o quarto do Vinny de novo e agora ele já está acordado encarando o cabide com sua roupa que está em cima da cama.
— Eu acho que você precisa se vestir, a roupa não vai pra esse corpinho sozinha – eu falo e ele se vira pra trás e me olha com um sorriso meio nervoso.
— Eu preciso mesmo usar gravata? – ele faz uma careta e puxa a gravata, eu sorrio, me aproximo e pego da mão dele.
— Acho que podemos dispensar ela – ele levanta as mãos pra cima num agradecimento meio exagerado – Nervoso?
— Por que? Tem algum jeito de não estar? – ele arregala os olhos fingindo esperança e eu acabo rindo e dou de ombros.
— Sou virgem de casamento...
— Por enquanto – Rafa fala e para na porta do quarto olhando pra nós dois com um sorriso divertido – Nunca se sabe quando você vai ficar louca de amor e me pedir em casamento...
— Sonha! – eu reviro os olhos e os dois riem.
— Nunca diga nunca – Vinny fala e Rafa faz aquela cara de idiota de quem concorda.
— Eu preciso me arrumar – aviso depois de fazer uma careta pra eles – E você é melhor se vestir logo – eu pego o cabide de cima da cama e entrego pro Vinny.
— O café já tá pronto – Rafa avisa quando passo por ele.
— Eu preciso me arrumar agora – dou um beijo rápido nele e entro no nosso quarto.
A roupa já está impecavelmente separada no cabide em um gancho brilhoso que Rafa colocou na parede do quarto pra que eu deixe minha roupa do trabalho pendurada e não tenha que ficar desesperada procurando ela durante a manhã e confesso que tem sido muito útil, na verdade ter ele no quarto é realmente muito útil, embora desde que nós tenhamos começado a namorar ele tenha ficado aqui, agora é diferente, o quarto é dele também, então isso quer dizer que além de ter todos os toques masculinos e de um bom gosto quase espantoso, ele também está extremamente organizado, quer dizer, o tão extremamente possível comigo nele né, por que por mais que eu ame esse jeito dele organizado e até tente ser assim, parece que é mais forte do que eu e quando eu vejo já estou tirando minha meia e jogando em cima da cadeira ou largando meu sutiã em cima da mesa de estudo, e ele teria todos os motivos pra sempre me dar sermões quando eu faço isso, mas não, na maioria das vezes ele apenas ri, vem logo atrás de mim e arruma o que eu acabei de bagunçar e isso me deixa um tantinho culpada mas um tantão ainda mais apaixonada por ele, por que em cada pequeno detalhe ele consegue me conquistar de um jeito que só ele consegue fazer.
Eu demoro bastante tempo na maquiagem, geralmente eu faço só o básico ou um batom, mas não é todo dia que seu melhor amigo se casa, então eu realmente tive que caprichar, além do mais se eu aparecesse apenas com um batom é capaz da Lia nem me deixar sair nas fotos, então pro bem de todos eu coloco todos os meus aprendizados em prática e quando Rafa entra no quarto e para no meio do caminho e me olha com um sorriso meio impressionado, eu sorrio orgulhosa, coloco as mãos na cintura e dou uma voltinha, o vestido é azul bem claro, com um tecido fino e suave, ele se prende no meu pescoço, como um gargantilha, vai até um pouco abaixo dos meus joelhos, a sandália é de salto alto e fino branca, meu cabelo eu prendi em um coque meio desfiado que eu vi minha mãe fazendo uma vez, alguns fios caem nas laterais dele, a maquiagem está bem feita porém discreta, mais pra um tom de nude, exceto a sombra que está levemente azulada.
— Eu não sei se vou conseguir me concentrar nos noivos – ele fala e eu acabo rindo.
— Deveria, você é o padrinho – ele abre um sorriso orgulhoso – Um padrinho que deveria se arrumar...
— Eu vim fazer isso – ele vai até o outro gancho e pega o cabide com a roupa dele.
— Melhor ficar com ele e não deixar ele pirar – ele avisa e eu saio do quarto e vou pra sala, ele está sentado de frente pro balcão devorando a mesa de café da manhã que o Rafa preparou, eu me aproximo e coloco as mãos na cintura, assim como fiz com Rafa.
— Que tal? – dou a voltinha quando ele me olha e ele sorri e bate palmas.
— A madrinha mais gostosa – eu finjo uma mensura – Mas se a Lia perguntar, eu nego que disse isso...
— Muito esperto – eu sorrio e então ele se levanta, colocando as mãos dentro da calça azul escura, ele também dá uma voltinha, a camisa branca está aberta nos dois primeiros botões e o terno que faz conjunto com a calça está aberto e tem um lencinho branco no bolso, o cabelo está perfeitamente bagunçado e o sorriso bobo e nervoso no rosto dele só o deixa ainda mais perfeito, então eu me aproximo e o seguro pelas lapelas do terno.
— Com certeza o noivo mais gostoso do mundo – ele me dá uma piscada e depois me abraça.
— Eu não achei que fosse ficar tão nervoso, é estranho... Nem quando a gente tem show eu fico assim – ele confessa quando me solta.
— Você vai se casar com a mulher da sua vida, a mãe do seu bebê, acho que é normal – ele sorri todo bobo.
— Eu vou casar e vou ser pai! Isso é doido...
— É! E é muito bom ver você assim, sabia?
— Como? A ponto de ter dor de barriga? – eu acabo rindo.
— Não, assim... Feliz!
— Daqui a pouco é sua vez... – eu acabo rindo e nego.
— Não tenha tanta pressa, garotão...
— Jura? – ele me olha curioso.
— O quê?
— Pressa? Você acha que seria apressado?
— A gente não tem nem um ano juntos – eu falo e ele levanta a sobrancelha e fica me encarando – Vocês são diferentes...
— Por que? Por que ela tá grávida?
— Não! Por que... Por que vocês dois querem isso, na verdade queriam isso antes mesmo de saber da gravidez...
— E você não quer isso com ele?
— Não, quer dizer, não é isso, claro que eu amo ele, eu só... – eu solto o ar começando a me enrolar com minhas palavras – Eu só acho que não está na hora, só isso – dou de ombros e ele continua com aqueles olhos azuis perfurando os meus.
— Então se ele entrasse agora, aqui nessa sala com uma caixinha vermelha nas mãos, se ajoelhasse e te pedisse, você diria não? – como piloto automático eu olho rápido demais pra trás na direção do corredor, ele ri – Acho que isso seria um sim!
— Idiota – eu tento fazer uma careta, mas acabo rindo, pra minha sorte meu celular toca e eu corro pra atender, é a Patrícia, ela avisa que tudo está sob controle e que o cerimonialista acabou de chegar, eu agradeço o aviso e então desligo.
— Quase na hora – eu falo e Vinny abre um sorriso tão grande e tão fofo que eu me jogo nele e o abraço, como Rafa ainda está se arrumando e nós vamos juntos, eu aproveito pra comer alguma coisa junto com o Vinny e então alguns quase longos minutos depois Rafa aparece na sala, ele está com um conjunto de terno preto, que deveria ser simples, mas que no corpo dele parece perfeito, como se cada musculo estivesse sido projetado pra receber a roupa, ele está de gravata e o cabelo meio bagunçado, eu sorrio vou até ele, nos beijamos rapidamente e então logo saímos.
Nós vamos no carro do Rafa, já que Vinny deixou o carro dele com a Bianca, pegamos quase todos os sinais fechados e isso deixa Vinny um pouco nervoso, mas conseguimos chegar sem nenhum outro contratempo, assim que paramos nosso carro, o da Lia também para logo atrás, nós descemos e ela vem correndo sobre os saltos finos até o Vinny, ela abre os braços e eles se abraçam apertado e demorado.
— A madrinha mais gostosa do mundo – ele fala pra ela que ri e revira os olhos.
— Eu tenho certeza que você disse isso pra ela também – ele faz uma cara de ofendido e ela ri e o abraça mais uma vez, depois Bruno que está com a mesma roupa que o Rafa, também o cumprimenta com aquele abraço típico deles e então entramos, eu realmente fico surpreendida com o que ela conseguiu fazer no lugar, eu sabia que ela era boa, mas isso está incrível, quase não se parece mais com a hamburgueria e sim com um lugar onde vai mesmo acontecer um casamento, ela cobriu as logos espalhadas nas paredes com arcos de flores e lenços branco e lilás, um caminho com um tapete vermelho leva até o pequeno altar que ela colocou, ele está enfeitado com galhos secos e algumas flores brancas perdidas no meio do galho, na lateral as cadeiras estão posicionadas viradas para onde vai ter a cerimônia e do outro lado as mesas estão esperando para a comemoração depois, todas as mesas estão enfeitadas com flores e fotos deles, também tem uma foto deles grande bem ao lado de onde está o altar para que nós possamos assinar e escrever algo.
— Tá incrível – Lia fala com um sorriso bobo.
— Melhor do que eu imaginei – confesso e nós duas nos abraçamos com uma sensação de dever cumprido, depois de aprovarmos cada detalhe, nós vamos cumprimentar os outros, meus pais já estão aqui, mamãe elogiando tudo e garantindo que Bianca está maravilhosa, já que ela foi pro Spa dela e da mãe da Lia, que também já está aqui, elas deixaram Bianca com a mãe dela, o pai dela e a irmã mais nova também já chegaram, assim como os convidados dela que são basicamente umas 8/10 pessoas, o pessoal da banda já foi pra cima do Vinny zoando e parabenizando ao mesmo tempo, Thiago, o dono da academia onde Vinny trabalha e mais dois caras que trabalham lá acabam de chegar e o Vítor sai da cozinha com um sorriso animado.
— Eu espero que tenha trago muita comida por que eu tô morta de fome – eu aviso, já que assim que recebeu o convite ele se ofereceu e disse que o buffet era presente dele e que não aceitava um não, ele também cedeu alguns garçons e Bianca quase o estrangulou de tanto que o abraçou.
— Eu separei uns Temakis pra você – ele me dá uma piscada e eu fecho os olhos exagerando na minha reação, ele ri.
— Você é o convidado mais VIP dessa festa – eu falo passando o braço pelo dele e ele ri.
— Eles chegaram – Rafa se aproxima de nós e eu solto o braço do Vítor já dando pequenos pulinhos, ele me olha curioso.
— Eu achei que pulinhos fossem a especialidade da Lia – ele implica comigo mas eu não me importo.
— Prepare-se e aprenda como dar o melhor presente de casamento do mundo – eu falo quase explodindo de ansiedade, Rafa ri e eu vou junto com ele, aproveito que Vinny está distraído e saímos de fininho, quando chegamos do lado de fora o carro do Vinny para e logo Bianca desce, eu paro no caminho realmente impressionada e emocionada, ela está linda, o vestido é branco rendado, com transparência nos seus braços, deixando sua pele a mostra, mas com flores delicadas desenhadas por cima, ele tem um pequeno decote que só a deixa ainda mais linda do que eu me lembrava, o cabelo está com luzes loiras que ficaram perfeitas nela, uma coroa de pedras delicadas e brilhosas no alto da cabeça e um sorriso que brilha ainda mais do que as pedras.
— Você está perfeita – eu falo e vou até ela e lhe dou um abraço com cuidado pra não tirar nada do lugar.
— Ele já está aí?
— Quase tendo um treco de ansiedade – ela ri.
— Eu também – ela já ia até a porta, mas eu a impeço.
— Eu só preciso que você leve o meu presente pra ele junto com você, pode ser? – ela me olha meio curiosa, mas faz que sim, então Rafa corre até o outro carro que acaba de estacionar, abre a porta e então eu quase não me aguento parada e realmente não me aguento, eu deixo Bianca e vou até ela, quando me vê ela abre os braços e eu a abraço apertada – Ele vai ficar tão feliz!
— Eu não podia perder o casamento do meu filho – ela também está tão nervosa e ansiosa quanto eu, mas me controlo – É ela, não é? – eu concordo quando ela olha pra Bianca, a nora que ela só tinha visto por foto ou vídeos até agora, Bianca também a reconhece e já começa a enxugar as lagrimas que escorrem, as duas se abraçam e eu as deixo se cumprimentarem, então me viro pro Rafa que está abraçado no pai, que é o padrasto do Vinny.
— Você está ainda mais linda do que eu me lembrava – ele sorri todo simpático e me abraça, nós já nos conhecíamos, quando eu visitei o Vinny pela ultima vez, junto com o Lipe, ele e a mãe do Vinny já estavam morando juntos e eu lembro que ele me recebeu muito bem e embora já tenha 4 anos sem o ver, o abraço dele ainda foi tão simpático e acolhedor como foi na primeira vez.
— Prontas? – Rafa que pergunta, Bianca e a mãe do Vinny concordam, então eu e ele entramos na frente, procuro por Vinny e ele está conversando com meu pai e o cerimonialista, eu vou até eles e peço licença.
— Ela chegou! – eu aviso e ele abre um sorrisão.
— Até que enfim – ele tenta parecer reprovar, mas o sorriso não diminuiu nem um centímetro, eu faço sinal pro Rafa e ele sorri e então abre a porta, Vinny já estava todo preparado com seu sorriso bobo quando Bianca entra e ao lado dela a mãe dele, consigo ver o choque no seu rosto, ele olha pra elas e depois pra mim, eu não consigo diminuir meu sorriso e provavelmente me entrego, por que ele ri, um riso cheio de surpresa e emoção.
— Como você conseguiu fazer isso? – eu dou de ombros e ele apenas vai até elas, Bianca não faz questão de ser abraçada primeiro, pelo contrário, ela se afasta um pouco e faz a mãe dele dar um passo pra mais perto do filho, os dois se abraçam forte e por um segundo a emoção é quase palpável, talvez nem todos aqui saibam exatamente o que está acontecendo, mas é algo tão lindo que eu não tento segurar minhas lagrimas, desde que saiu daqui depois do fim do seu casamento ela jurou nunca mais voltar  e ela cumpriu essa promessa fielmente, por 4 anos, ela nunca mais tinha pisado aqui, mesmo que o Vinny tenha vindo, mesmo que ele tenha aberto mão de morar com a mãe dele pra morar comigo, por 4 anos eles só se veem no Natal, por que Vinny sempre vai passar com ela ou alguns feriados prolongados, mas tirando isso eles só se falam por vídeo ou por telefone, mas não hoje, hoje ela quebrou qualquer juramento que tenha feito e veio pro casamento do filho dele e eu sei que posso até ter ajudado acontecer, mas eu tenho certeza que ela viria de qualquer jeito, por que na verdade eu mal terminei de sugerir e ela já tinha aceitado e ver os dois abraçados e emocionados é na verdade a melhor sensação que eu poderia sentir.
Depois do encontro deles, a cerimônia inteira segue tão emocionante que eu mal consigo acompanhar dez segundos sem me desmanchar em lágrimas e precisar respirar fundo, na hora de assinar os papéis eu mal consigo enxergar a folha, Rafa ri e Vinny tenta zoar com a minha cara, mas eu vi quando ele mesmo enxugou as próprias lagrimas então não me importo, assim como Lia que também nem tenta disfarçar que está chorando, quando a cerimônia acaba eu e Lia abraçamos o Vinny ao mesmo tempo, depois abraçamos a Bianca, eu já estava nos braços do Rafa tentando controlar as lágrimas quando o vejo entrando, meu choro para imediatamente e eu me solto do Rafa.
— O que ele tá fazendo aqui? – eu pergunto alto o suficiente pra que Rafa e Lia me ouçam, ela se vira e depois me olha confusa.
— Eu não falei – ela se defende mesmo que eu tenha certeza que ela não falaria.
— Ele é o pai dele né – Bruno fala e eu o olho de cara feia, mas ele não se intimida, apenas dá de ombros – Não fui eu quem chamei, mas eu só estou dizendo que ele é o pai...
— Ah é, grande pai  - não tento disfarçar minha irritação e logo me afasto deles e vou até o homem que entra pelo lugar parecendo meio deslocado – O que você tá fazendo aqui? – ele me olha e parece meio nervoso ou sem jeito.
— Eu só quero ver ele... Dar os parabéns...
— Eu acho melhor você ir embora...
— Dani, eu...
— Por favor, só vai embora... Não estraga esse dia, por favor... Só... Faz o que você sempre faz... Manda uma carta ou deposita um dinheiro na conta dele, eu sei lá, mas não estraga o dia dele... – seu rosto registra cada palavra e ele parece envergonhado, por um segundo eu penso que talvez tenha pegado pesado demais, mas quando me lembro tudo que ele já aprontou o arrependimento desaparece.
— O que você tá fazendo aqui? – a voz vem de trás de mim, me viro e Vinny está encarando o pai com o semblante sério e sem nem a sombra do sorriso e da emoção de antes.
— Eu só queria te ver...
— Vai embora! – ele não espera que o pai termine apenas aponta a saída.
— Vinny, eu...
— Como você sabia?
— Você é meu filho – Vinny dá uma risada meio nervosa.
— Eu acho incrível o seu timer de se lembrar disso... – o pai abaixa a cabeça meio envergonhado – Acho melhor você ir...
— Eu só queria te desejar felicidades...
— Felicidades desejadas – por mais sério e firme que Vinny pareça eu sei que não está sendo nada fácil pra ele então eu tomo a frente de novo.
— Eu acho melhor o senhor ir – ele me olha e assente.
— Mas ele acabou de chegar – a voz surpreende não só a mim como ao Vinny também, a mãe dele se aproxima e libera um sorriso pro pai dele, como se não bastasse ela ainda estica a mão pra ele e os dois se cumprimentam, transformando essa a cena mais louca que eu já imaginei – Eu chamei ele!
— OK! O que tá acontecendo aqui? – Vinny pergunta o que eu mesma gostaria de saber.
— Ele é seu pai! Esse é seu casamento! Acho que é um bom dia pra deixar qualquer briga de lado... – Vinny me olha e eu apenas continuo achando tudo isso muito louco, então não digo nada.
— Você convidou ele?
— Convidei e acho que você deveria mostrar um pouco de educação e apresentar sua esposa pro seu pai – ela fala com um sorriso e Vinny ainda parece meio perdido, mas estica a mão chamando a Bianca, ela se aproxima e ele a apresenta, Rafa me puxa mais pro lado e deixamos que eles conversem com um pouco mais de privacidade.
— Olha ela, ainda tá viva? Achei que tivesse desidratado – Vítor implica comigo quando em aproximo da mesa onde ele está.
— Ridículo – eu acerto um tapa no ombro dele – E a comida? Achei que você tivesse dito que ia cuidar dessa parte...
— Já vão servir, relaxa aí ô esfomeada...
— Ótima hora de me defender... – eu aviso pro Rafa que apenas ri e se senta ao lado dele.
— Contra fatos não há argumentos – eu faço uma cara de ofendida e deixo eles e vou pra junto dos meus pais.
— Aquele é o pai do Vinny? – mamãe pergunta toda curiosa apontando na direção deles que ainda estão conversando.
— É sim – ela arregala os olhos meio impressionada, mas depois suaviza o olhar e diz que espera que eles se entendam, eu não digo nada, não tenho tanta certeza se isso realmente seria o melhor pro Vinny, quer dizer eu sei que é o pai dele, que independente de qualquer coisa isso não muda, mas eu não suporto a ideia de que ele possa magoá-lo de novo, então sou suspeita pra comentar sobre isso.
Quando o almoço é liberado, eu me sento na mesa onde Rafa e Vítor estavam e tenho que aguentar os dois me zoando por que eu devoro 3 temakis em menos de cinco minutos, mas eu não ligo, estou cheia de fome e tudo está maravilhoso, apenas continuo com eles, Lia e Bruno também se juntam a nós, o pai do Vinny foi embora e então ele e Bianca se juntam a nós, tiramos tantas fotos que enchem a galeria do meu celular e eu pego o do Rafa, também tiro fotos com a mãe dele e o pai do Rafa, o clima é maravilhoso, nós comemos, bebemos, rimos, zoamos o Vinny, damos dicas para Bianca pra poder colocar ele na linha e claro, sonhamos com o futuro novo integrante da turma e ninguém se preocupa com as horas.
Rafa se levanta e avisa que vai no banheiro, eu continuo na mesa com o pessoal rindo de uma das histórias do Vítor na Austrália onde ele achou que tinha se perdido numa trilha e ficou desesperado, mas o pessoal estava a menos de 10 metros dele, eu sinto até minha barriga doer de tanto que estou rindo, mas quando olho pro lado minha risada diminui, Patrícia acompanha os passos do Rafa que tinha parado pra falar com meu pai e assim que ele entra no corredor do banheiro ela larga o que estava fazendo e vai na mesma direção.
— Ok, agora eu posso ter um problema com a sua prima – eu aviso e Lia me olha confusa, mas antes de explicar alguma coisa, eu apenas me levanto e sigo pro mesmo corredor, diminuo o passo quando o alcanço e tenho cuidado ao me aproximar, o corredor já está vazio, me aproximo do banheiro e consigo ouvir as vozes abafadas que vem lá de dentro, imediatamente eu sinto o sangue ferver nas minhas veias e preciso controlar muito minha vontade de derrubar a porta, respiro fundo e dou apenas dois socos firmes na porta que quase estremece, há um segundo de silêncio e isso só me irrita ainda mais, então eu soco outra vez.
— Tá ocupado – é ele quem responde, sua voz parece nervosa e pela primeira vez em muito tempo eu odeio ouvir ela.
— Abre a merda dessa porta – novamente há um segundo de silêncio e então o barulho da chave e a porta se abre, ele está com os olhos arregalados e assustados, eu empurro abrindo ainda mais a porta e ele recua um passo, Patrícia está encostada na pia parecendo com a sombra de um sorriso e nenhum pouco arrependida.
— Caí fora! – eu aponto a porta e ela tem pelo menos a decência de desviar os olhos e abaixar a cabeça, mas quando passa por mim eu não consigo resistir e a seguro pelo braço, não me importo se estou apertando demais – E a próxima vez que você for dar em cima do namorado de alguém, lembra do trabalhão que você tem pra deixar esse rostinho assim – eu seguro seu rosto com a outra mão e ela esquiva o rosto, eu a solto e ela sai sem dizer nada, assim que ela sai ele fecha a porta e eu continuo de costas pra ele.
— Eu posso explicar – eu solto uma risada irônica e me viro pra ele.
— Por favor, estou ansiosa por isso...
— Eu vim no banheiro e ela já chegou empurrando a porta e entrando...
— E por que você não abriu quando eu bati a primeira vez, aliás, por que você não botou ela pra fora?
— Por que eu não queria um escândalo hoje... E eu tava indo colocar ela pra fora...
— Ok! – eu falo balançando a cabeça e concordando, mas ele me olha confuso.
— Então tudo bem? – eu dou outra risada ainda mais irônica e vou até a porta.
— Sem escândalos, não é esse o lema? – quando eu consigo abrir a porta, a mão dele a alcança e força para que ela se feche de novo.
— Dani, olha pra mim, você sabe que eu nunca ia trair você, não sabe? Eu nunca faria isso. NUNCA!
— Não se trata de ter pego ou não ela, Rafael...
— Não me chama de Rafael – sua voz sai quase desesperada.
— Você podia ter colocado ela pra fora, aliás, você DEVERIA ter colocado ela pra fora no segundo que ela apareceu aqui e nem vem com esse papinho que não queria um escândalo ou que sei lá o quê... Você tinha que ter feito isso na hora que ela passou dessa porta...
— Mas eu tava fazendo isso, eu tava tentando arrastar ela e você apareceu...
— Quer saber? Esquece, eu não vou ficar discutindo com você e perdendo a festa de casamento do meu melhor amigo – dessa vez quando abro a porta ele não me impede e assim que eu saio dou de cara com a Lia, ela olha pra mim e quando vê minha cara ela olha pro Rafael, então aquela coisinha fofa e esparafatosa que ela sempre é, se transforma em um rosto sério e quase assassino, ela passa por mim e o empurra pra dentro do banheiro de novo, eu sei que não adianta chamar por ela, então apenas saio dali e volto pra junto dos outros, Patrícia já não está por aqui e os braços me apertam forte.
— Eu quero mais foto com a madrinha mais foda de todas – Vinny fala enquanto afunda o rosto no espaço entre meu ombro e meu pescoço.
— E eu com o noivo mais gostoso do planeta – ele ri e me solta, então com apenas um olhar em mim, ele fecha o sorriso e me olha curioso.
— O que aconteceu?
— Nada, cadê a foto? – tento parecer o mais animada possível, mas ele não sorri e cruza os braços.
— Cadê a caquinha? – dessa vez meu sorriso sai mais divertido.
— Referências a How i met your mother... Meu menino cresceu – eu aperto a bochecha dele, mas ele continua me encarando.
— Fala logo – eu solto o ar derrotada por que sei que ele não vai desistir.
— Eu peguei o Rafa e a Patrícia no banheiro...
— O QUÊ? – sua voz quase ecoa por todo espaço, mas ele não se importa com isso.
— Quer dizer, eu acho mesmo que não aconteceu nada, mas... – e é tarde demais, ele passa por mim como um furacão e eu me odeio por ter aberto a boca e contado, eu deveria ter mentido, tá, ele com certeza teria percebido, mas eu poderia ter ganhado tempo pelo menos, eu sou uma imbecil.
— Onde é o incêndio? – Bruno pergunta se aproximando de mim.
— Você pode por favor evitar que esse casamento vire um funeral? – ele me olha confuso – Banheiro! – eu aponto na direção do corredor e ele sai sem precisar de muita explicação.
— Será que já pode mandar servir a sobremesa, acho que o pessoal já tá bem satisfeito... – Vítor aparece um minuto depois do Bruno sair.
— Por favor, eu preciso desesperadamente de algo doce – ele ri do meu exagero e então vai avisar que podem servir, depois se junta aos meninos da banda, a sobremesa é servida e eu logo pego meu pote com chocolate e morango, Pedro me chama na mesa deles e eu vou, eles estão contando sobre uma vez que no final do show todas as garotas pularam em cima deles ao mesmo tempo e me pedem pra confirmar a história, eu confirmo e só pra implicar com ele conto de quando ele levou um fora de uma garota no fim do show, nós estavamos rindo quando os braços me envolvem de novo, ele beija minha bochecha e sorri.
— Agora eu posso tirar a foto? – eu sorrio e me levanto, olho pra trás e Bruno está abraçado na Lia beijando ela várias e várias vezes e ele só faz isso quando tenta acalmar ela, então a coisa deve ter ficado bem séria lá dentro, olho em volta, mas não acho o Rafa.
— Relaxa, ele tá bem... – Vinny me avisa quando percebe meu olhar – Na medida do possível – ele dá de ombros e um sorriso divertido, mas logo me puxa pra irmos tirar a foto e nós tiramos, pelo menos mais uma dezena delas, tiro com o casal, com ele sozinho, tiro com ele e a Lia, depois só eu e Bianca, depois eu, Bianca e Lia, então quando Rafa aparece ele fica afastado nos olhando, pela sua cara eu sei que eles não aliviaram nem um pouco com ele – Será que você pode melhorar essa cara de bunda e tirar uma foto? – Vinny pergunta já fazendo sinal pra ele se aproximar, ele concorda e se aproxima, parece meio sem jeito mas vem até a mim – Eu quero um sorrisão – Vinny avisa e Rafa sorri, então batemos mais umas duas ou três fotos e assim que somos dispensados Rafa se aproxima de mim.
— A gente pode conversar?
— Agora? Não mesmo – me afasto e ele fica lá parado no lugar.
— EI! Eu tenho mais um presente pro casal – Vítor vem todo animado e eu fico curiosa.
— Você já deu um ótimo presente – Bianca fala, mas ele faz uma careta.
— Esse sim é o presente – ele avisa e pega um envelope pequeno de dentro do bolso e entrega pra ela, Vinny também fica curioso, então ela abre e pega uma chave de dentro, os dois riem mas assim como eu e Lia não entendem nada.
— A melhor suíte da pousada...
— AI MEU DEUS – Bianca arregala os olhos e dá pequenos pulinhos.
— Eu soube que vocês não iam viajar nem nada, então... Pelo tempo que vocês quiserem e com tudo incluído... – Bianca vai até ele e o abraça, ele ri e depois Vinny também o abraça agradecendo, eles ficam todos bobos e já querem sair da festa e ir pra lá, mas conseguem se controlar por quase uma hora, até que Vinny simplesmente a pega no colo e grita uma despedida coletiva, todo mundo ri e ele sai carregando ela até o carro, então como já estava tudo no fim mesmo, todo mundo começa a se despedir pra ir embora, a mãe do Vinny e o pai do Rafa são intimidados a irem com meus pais e os pais da Lia pra alguma comemoração que eles estão bem empolgados, eles avisam que vão ficar na cidade por mais dois dias e então combinamos de marcar algo, me despeço deles e já são quase quatro horas da tarde quando todo mundo finalmente já está do lado de fora da hamburgueria, Rafa pega a chave do carro e já ia abrindo-o quando Lia aparece na nossa frente.
— Ela vai lá pra casa – ela avisa já segurando meu braço, assim como Rafa eu também fico surpresa com a notícia.
— Quê? Não, eu... A gente precisa conversar – ele olha pra mim e eu sei que ele está certo.
— Você não tá em posição de querer nada – Lia avisa séria.
— Lia, qual é? Por favor, você sabe que eu não fiz nada...
— AH não? Será que não? – ele fica sério quando ela duvida – Você é um babaca – ela conclui e ele não discorda.
— Só me deixa levar ela pra casa...
— Eu tô aqui, ok? Eu posso decidir por mim – os dois param e esperam minha resposta – Eu vou pra casa – Lia faz uma careta reprovando – Obrigada, mas eu quero mesmo ir pra casa – abraço ela e sinto que ela fica menos irritada com minha decisão.
— Mas se precisar, só ligar e o Bruno vai te pegar – ela avisa e sai sem se despedir dele, Bruno se despede de nós dois e então Rafa abre a porta do carro pra mim, eu entro e nós fazemos a viagem em silêncio, quando entramos no apartamento eu vou direto pro quarto, tiro minha roupa o mais rápido que consigo e entro no banheiro antes dele entrar no quarto, eu deixo a agua cair sobre mim, mas ao invés de me manter calma, eu começo a ficar irritada e nervosa, só de lembrar deles dois naquele banheiro, por mais que uma parte minha tenha certeza que não aconteceu nada, outra parte não para de imaginar coisas e isso me deixa a ponto de socar a cara dele, quando o banho termina tudo isso só está ainda mais forte, então eu saio do quarto vestida com o roupão, vou até minha parte no guarda roupas e pego minha roupa de malhar, volto pro banheiro e me visto, prendo meu cabelo num rabo de cavalo e saio do banheiro novamente.
— Onde você vai? – ele pergunta quando entra no quarto e me vê.
— Pra academia!
— Agora?
— Não foi você mesmo que disse que eu precisava voltar a malhar?
— Mas agora? Achei que a gente fosse conversar...
— Se eu for conversar com você agora, tudo que você vai conseguir é um dente a menos, eu preciso socar alguma coisa antes – ele ainda parece procurar uma solução, mas eu passo por ele.
— Eu te levo, só deixa eu trocar de roupa – eu dou de ombros e espero ele na sala, menos de 10 minutos depois ele aparece com uma calça de moletom cinza e uma camiseta preta que ele sabe que eu adoro nele e eu começo a ter sérios problemas em continuar com raiva dele, por isso desvio os olhos e vou pra porta, nós fazemos o caminho até a academia em silêncio de novo e assim que chegamos lá, eu procuro pela aula de boxe, pra minha sorte está tendo uma turma de iniciantes e eu consigo me encaixar, só tem eu e mais dois alunos e eu passo um pouco mais de uma hora socando coisas e quando a aula acaba sinto como se grande parte da minha raiva tivesse sido colocada pra fora ou apenas tenha sido substituída por cansaço, eu agradeço o professor, me despeço dos outros dois que estavam na aula e desço pra parte da musculação pra procurar o Rafa, eu o vejo conversando com um dos professores daqui e espero afastada.
— Gancho de direita poderoso – um dos meninos da aula comenta enquanto se aproxima de mim.
— É, eu tive muita inspiração hoje – ele ri.
— Assim que é bom, alivia até a alma...
— Ah com certeza!
— Agora só aquele potão de açaí, né não?
— O açaí daqui é o melhor...
— E a tapioca? – ele fecha os olhos fingindo sentir o sabor – Nossa, muito gostosa... – eu já ia concordar com ele e ri do seu exagero quando ele é empurrado com força, eu levo um segundo pra entender a cena quando Rafa já está indo pra cima dele de novo.
— VOCÊ É MALUCO? – eu entro na frente e Rafa para, mas está com a respiração forte e os olhos fixos no cara atrás de mim – Qual seu problema? – ele me olha como se não entendesse, eu desisto de falar com ele e me viro pro cara – Desculpa, ele... Me desculpa – o cara ainda parece confuso, mas concorda e se afasta, um pessoal que estava passando fica nos olhando e então é como se eu nem tivesse socado nada, a raiva volta toda de uma vez – Você é maluco?
— Eu ouvi ele falando, eu pensei que...
— Pensou o que? Que um homem não pode estar numa conversa com uma mulher sem ser azaração?
— É que ele tava dizendo e eu...
— Ai, cara, cala essa boca! Só cala essa boca – me viro e saio deixando ele pra trás.
— Eu fui um idiota! – não digo nada, apenas bato a porta do carro forte na hora de fechar e entendendo o recado ele entra em silêncio.
Assim que ele estaciona na garagem, eu desço e vou pro elevador, não espero por ele e agradeço que ele não tenha corrido quando viu a porta se fechando, entro no apartamento e vou direto pro quarto, puxo minha mochila do canto onde ela agora fica guardada, puxo algumas roupas e enfio nela, assim que a fecho ele para na porta do quarto.
— A gente pode conversar?
— Eu vou dormir na Lia hoje – não olho pra ele, apenas vou até o banheiro e pego meu estojo com o que posso precisar, quando me viro ele está no meio do quarto com os olhos meio arregalados.
— Dani, por favor, não faz isso...
— Não faz isso o quê, Rafael? Me explica? Não sair de perto de você por que olhar na sua cara me faz querer te socar? É isso?
— Então me soca! – ele abre os braços e me encara – Anda, quer me socar? Me soca. Ok, eu mereço, vai... Soca – ele dá leves tapa no rosto indicando que eu soque e por um segundo eu até cogito essa ideia, mas acabo soltando o ar e passo por ele – Não vai, por favor, por favor – ele segura meu braço e eu paro no caminho – Se você passar por aquela porta vai ser mais difícil, por favor... – seus olhos estão desesperados e ele realmente parece estar sofrendo e isso consegue me atingir, eu esquivo meu braço dele, mas não saio do lugar, ele suaviza um pouco o olhar – Olha, eu fui um idiota, mas por favor, não sai assim... Nós prometemos sempre resolver nossos problemas...
— Só que nosso problema é que você é um imbecil, aliás, um babaca imbecil... Um babaca imbecil idiota e... Um... Um burro – eu quase vejo uma sombra de sorriso no rosto dele quando me perco nos xingamentos.
— A gente pode conversar? É só isso que eu tô pedindo...
— Eu vou tomar um banho antes, eu tô fedendo – tento continuar firme, então falo e logo passo por ele voltando pro quarto, entro no banheiro e solto o ar assim que fecho a porta, eu me encaro no espelho e tento dizer a mim mesma pra continuar firme, embora apenas de olhar ele eu sinta um pouquinho de qualquer firmeza desabando, mas ele merece, talvez assim ele aprenda a não se trancar no banheiro com qualquer uma e a não sair socando ninguém por aí, é isso, ele merece, respiro fundo e entro debaixo do chuveiro, quando saio, visto o roupão e dou outra respirada funda pra sair do banheiro, então quando abro a porta, ele está parado, sentado no chão encostado na cama, com o violão no colo, ele não olha pra mim, apenas começa a tocar e em seguida a cantar e eu preciso de todo auto controle do mundo pra não sorrir quando o ouço cantando lentamente cada frase da música “Amor eterno” do Jeito moleque.
Sabe, o meu coração
Guarda um tanto de amor
É o fruto do que você semeou
Você pode regar
Que o que der é só teu
Benza a Deus que você apareceu

Tive um sonho ruim,
Vi você me deixar
Tava meio sem jeito de falar
Que bom poder desabafar

Teu amor me mudou
Fez o homem que eu sou
Sabe dar tudo que eu quero
Você me trouxe a paz
Mal de amor nunca mais
Quero amor eterno

Ele termina de cantar e então me olha, não importa o que tenha se passado pela minha cabeça, quando nossos olhares se encontram eu sei que ele está sendo sincero, sei que cada letra da musica faz tanto sentido pra ele quanto pra mim, então decido não pegar tão pesado.
— Achei que você achasse pagode brega – ele dá de ombros.
— Eu fui um imbecil, um babaca, um idiota e um burro... Eu fui tudo isso e fui mais um pouco, mas eu nunca, nem por um único segundo, pensei em trair você, eu juro... Isso é o tipo de coisa que eu nunca vou fazer com você... Eu... Quando a porta abriu de novo, eu deixei por que eu tinha certeza que era você, foi a única alternativa que passou na minha cabeça e quando eu vi que não era ela já foi entrando e fechou a porta, eu peguei a chave dela e fui abrir a porta e ela entrou na frente... Os cochichos que você escutou, eu só tava pedindo pra ela sair sem fazer escândalo, aí você bateu na porta e eu só não queria que estragasse a festa e nem que você se sentisse sei lá, humilhada de alguma forma, por isso eu não abri naquela hora, mas eu nunca, nem por um milésimo de segundo cogitei a ideia de encostar nela... Eu já tenho tudo que eu preciso...
— E o ataque na academia? – eu o encaro e ele faz uma careta.
— Ainda o lance de ser um babaca idiota?
— Com certeza!
— Eu sei lá o que passou na minha cabeça... A gente tinha brigado, eu escutei ele falando “gostosa”...
— Ele tava falando da tapioca – ele parece confuso.
— Mas a tapioca de lá é horrível – eu o encaro.
— Era o que eu ia dizer antes de você bancar o troglodita... – ele coloca o violão de lado, se levanta e para na minha frente.
— Eu não consigo imaginar como é perder você e quando eu tento, é... Parece que eu vou ficar louco, eu só... Eu não quero perder isso que nós temos – ele faz sinal entre nós dois e dessa vez eu me aproximo um pouco mais dele.
— Então não se tranque em banheiros com outra mulher, mesmo que seja pra evitar um escândalo... – ele concorda rapidamente.
— Nunca mais – ele levanta as mãos em inocência.
— Nem saia socando as pessoas...
— Eu só achei que...
— NUNCA MAIS! – eu reforço o pedido e ele levanta as mãos novamente – Você não precisa sair por aí socando ninguém, por que o único cara que tem todas as chances e mais algumas comigo, é você... – ele abre um sorriso – Mesmo sendo um babaca idiota – o sorriso dele aumenta mais um pouco e então seus dedos tocam meu rosto.
— Eu amo você!
— E eu amo você, então será que você pode ser só um pouquinho menos imbecil? – eu faço sinal com os dedos, ele ri e eu acabo rindo também.
— Vou fazer o melhor – ele garante e então me beija e não importa o clima que estivesse antes, ele se desfaz e tudo que eu sinto é que eu jamais vou me sentir tão completa quanto me sinto quando estou com ele.


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