Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 27
Capítulo 27




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Já faz um mês desde a grande notícia e eu acho que nunca vi o Vinny tão animado com alguma coisa, quanto ele está por virar papai, é incrível vê-lo assim, todo protetor e ao mesmo tempo um babão, assim como a Lia já tinha previsto ele virou quase uma bolha em volta da Bianca, ela mal pode ir no banheiro sozinha e ele já fica preocupado se ela demorar mais do que cinco minutos, ela reclama, briga e faz cara feia, mas ainda consigo ver o sorriso bobo que ela deixa escapar sempre que ele se desculpa e a beija, ela ainda está nervosa com tudo isso e piorou um pouco depois que eles contaram para os pais dela, por que eles insistem que eles devem se casar, embora Vinny tenha adorado a ideia, Bianca parece não aprovar muito, mas eu conheço o Vinny e tenho certeza que se ele quiser mesmo consegue convencê-la rapidamente.
Os negócios do Rafa estão indo bem, muito bem, muito mesmo, ele decidiu abrir a Hamburgueria de terça a sexta, das sete até as dez, e sábado e domingo ele abre o food, no mesmo horário, porém na praça, é impossível saber qual faz mais sucesso ou qual enche mais e um acaba sempre puxando cliente para o outro, várias pessoas que vem na hamburgueria vieram depois de provar o food, e algumas do food, vão depois de aprovarem a hamburgueria, e em um mês ele levantou uma boa grana, sendo que a parte do food ele divide com o Vinny, já que eles são sócios e ainda assim é uma boa grana pra cada um e eu fico muito feliz de ver o quanto ele está realizado, todo dia que ele chega de lá o sorriso orgulhoso supera qualquer vestígio de cansaço que ele possa ter e isso é realmente muito bom de se ver, mesmo que isso custe um pouco do nosso tempo juntos, já que minha vida meio que tá uma loucura, eu saio as 7:30 de casa, vou pro escritório, saio de lá as 18 horas e já vou direto pra faculdade, as aulas costumam acabar as 22 horas da noite, então alguns dias eu nem passo pela hamburgueria, apenas vou direto pro apartamento adiantar algum trabalho da faculdade ou alguma coisa pra uma reunião no dia seguinte e embora eu também esteja muito feliz com toda essa fase, confesso que cada dia que passa me sinto um pouco mais cansada e com certa saudade daquele tempo onde eu só trabalhava, enrolava na academia e depois ficava pelo apartamento com o Rafa, mesmo que naquela época não fossemos namorados, mas era bom ter aquele tempo com ele e hoje embora sejamos namorados e eu o ame como não pensei ser capaz de amar, ainda assim parece que estamos com o mínimo de tempo exigidos num namoro, claro que ele sempre faz valer a pena cada segundo, ele me faz rir, me sentir completa e consegue me dar tudo que eu nem sabia que precisava, ainda assim eu queria mais tempo com ele, mas isso pode ser por que eu estou completamente apaixonada, e nem tem por que disfarçar isso, até por que acho que essa é a única explicação razoável que faça uma pessoa ficar sentada na cama olhando fixamente a outra enquanto ele arruma algumas camisas no cabide e as coloca no guarda roupa, mas é que ele faz isso com tanta calma e bom humor, que eu não consigo desviar os olhos, ok, pra ser honesta eu nem ao menos tentei desviar os olhos.
— Eu pensei que a gente podia ir no cinema, que tal? – ele pergunta me distraindo, mas eu faço uma careta.
— Hoje é sua única folga e por algum milagre da natureza eu não tenho aula, a gente podia só... Ficar em casa? – eu faço um sorriso animado, ele sorri, enfia o ultimo cabide no guarda roupa e vem até a mim, subindo na cama e aproximando o corpo do meu.
— Ficar em casa parece ótimo pra mim – sua boca para tão perto da minha que eu apenas o beijo sem nem prestar muita atenção no que ele fala, ele sorri no meio do beijo e eu afundo meus dedos nos fios negros macios – Então, ficamos em casa – ele conclui assim que o beijo para – Jantar, filme, vinho – ele levanta e abaixa a sobrancelha várias vezes e eu acabo rindo.
— Adorei a ideia – ele sorri e me dá um selinho, depois logo sai da cama.
— Algum pedido especial?
— Eu posso cozinhar – ele faz uma cara de surpreso e eu também saio da cama e paro na frente dele – Você passa tempo demais na cozinha, acho justo ser a minha vez, além do mais, eu tenho que começar a mostrar meus dotes ou você acaba arranjando alguma cheff bonitona por aí – ele ri, mas nega e coloca as mãos na cintura.
— Eu ainda prefiro você, mesmo que eu tenha que morrer de fome – eu faço uma cara de magoada e lhe dou um tapa.
— Ai droga, foi um elogio – ele reclama esfregando o lugar do tapa.
— Melhore seus elogios então – ele ri e me puxa pra junto dele, deixando nossos rostos perto demais.
— Eu te amo – sua voz sai baixa e quase sussurrada ainda assim é o motivo perfeito para beijá-lo, e o beijo acaba avançando bastante, avançando tanto que acabamos caindo na cama, mas o cabide que estava em cima do colchão quase fura minhas costas e isso nos faz parar.
— Culpa sua e dessa mania de arrumação – eu faço uma careta jogando o cabide vazio pro lado, ele ri.
— Meu guarda roupa tava uma bagunça – ele fala olhando pra trás – Aliás, meu quarto inteiro, já que eu gasto o tempo de arrumar ele, arrumando o seu...
— Bom, se você levasse suas coisas pro meu quarto, então não teria esse problema – ele para e me olha com um sorriso.
— Você tá me chamando pra dividir o quarto com você?
— A gente já faz isso...
— Mas é diferente, minhas coisas estão aqui
— Exatamente, só não entendi o por quê – o sorriso dele se abre.
— Tá falando sério? Quer dizer, você quer mesmo dividir o quarto comigo? – eu acabo rindo.
— Você tem alguma duvida? – ele quase rasga o rosto com o tamanho do sorriso e então me dá um beijo rápido e pula da cama.
— Então eu vou levar as coisas antes que você mude de ideia
— Eu não vou mudar de ideia – eu garanto com toda certeza que eu tenho, então ele me dá outro selinho e começa a retirar os cabides que já tinha guardado com tanta animação que parece que ele ganhou na loteria, eu acabo rindo e o deixo no quarto e vou pra cozinha. Depois de olhar minhas opções eu decido fazer um espaguete a carbonara, que é uma das coisas seguras que eu sei fazer na cozinha, já estou terminando de apagar o fogão quando ele aparece na cozinha.
— Amor, acho que temos um problema – ele fala e ainda estou sorrindo por que sempre faço isso quando ele me chama de “amor”.
— Que problema?
— O guarda roupa, ou melhor, a falta de espaço no guarda roupa – eu acabo rindo e abro o armário pegando nossos pratos.
— Claro, você e Vinny tem compulsão por roupa
— Eu gosto de estar bem vestido
— Eu prefiro você sem nada – dou um sorrisinho e ele ri e dá a volta no balcão vindo até a mim.
— É?
— Ah é! Com certeza é – eu deixo minhas mãos descerem do seu peito para sua barriga e brincarem com o tecido da camiseta dele, um sorriso divertido também aparece no rosto dele – Eu tô com fome e é melhor não deixar esfriar – entrego o prato pra ele que pega sorrindo.
— Mas eu ainda não vou conseguir guardar tudo
— A gente dá um jeito... De qualquer maneira acho que isso vai ser temporário mesmo – dou de ombros já colocando a panela no balcão.
— Já está me expulsando?
— Não conte com isso – eu me sirvo sentindo um pouco de orgulho por que parece que eu realmente acertei o ponto.
— Então por que temporário?
— Por que eu tava pensando em começar a olhar um apartamento pra alugar aqui por perto...
— Por que? – eu o encaro – Por que a Bianca tá gravida – ele conclui com alguns segundos.
— Não é por que ela está gravida, mas... Eles vão se casar, eu sei disso, o Vinny quer isso, ela também e acho que todo mundo já percebeu que esse vai ser o único jeito do pai dela parar de pegar no pé deles, então... Isso vai acontecer e daí, eles vão ter um filho... Eu acho que faz sentido eles terem o cantinho deles...
— E você?
— Bom, eu tenho você, a gente pode ver alguma coisa pequena mesmo, seremos só nós dois – ele abre um sorriso divertido e se inclina no balcão na minha direção.
— Há meia hora atrás você me chamou pra me mudar pro seu quarto e agora já está me chamando pra morar com você? Garota, você é rápida ein – eu acabo rindo.
— Tecnicamente nós já moramos juntos – ele faz uma careta meio discordando – E... Se eu tiver que morar com alguém não vejo ninguém melhor que você – o sorriso dele não é apenas divertido, é aquele sorriso fofo, ele se levanta vem até a mim e passa os braços em volta de mim.
— Eu adoraria ir pra qualquer lugar que for com você – eu sorrio e nos beijamos.
— Mas? – ele me solta e me observa.
— Não acho que é isso que você realmente quer...
— O quê? Claro que eu quero morar com você! Você é um idiota, mas eu quero de verdade...
— Essa parte eu não tenho duvidas – ele dá uma piscada convencida e eu reviro os olhos – Agora a parte em que você mora em um lugar onde o Vinny não more, eu acho que não – ele me encara esperando alguma reação.
— Eu tô tão feliz por ele, eu... Eu só quero que ele tenha tudo que tem direito, tudo certinho, entende? A casa deles, o canto deles, a família deles, que tudo seja perfeito, só isso...
— Bom, primeiro temos que resolver a questão do guarda roupa – ele dá de ombros.
— Você podia doar algumas roupas – ele me encara sério e eu acabo rindo, ele experimenta a comida e abre um sorriso satisfeito.
— Você com certeza pode cozinhar mais vezes – eu faço uma cara de medo e ele ri – Só falta uma coisa – ele levanta e vai até a geladeira, pega uma garrafa de vinho e eu pego as taças, então continuamos o jantar. Nós seguimos nosso cronograma, depois do jantar, assistimos um filme, uma comédia brasileira e quando acabou um beijo foi puxando outro, que puxou outro e mais outro e então só existíamos nós dois no mundo.
Eu acordo assim que o despertador toca, Rafa como sempre já se levantou e quando chego arrumada na sala ele pega minha caneca, coloca café e me entrega, eu dou o melhor sorriso que consigo, porém como ainda são 7 da manhã, não é nada tão maravilhoso, mesmo assim ele não se importa, me dá um selinho e sorri.
— Bom dia!
— Bom dia! – bebo meu café e pego um dos rolinhos de peito de peru – Vai pra academia? – pergunto olhando pra roupa dele, short branco e uma camisa preta que parece se encaixar em cada musculo dele.
— Você deveria voltar também – eu desvio os olhos pra não acabar revirando-os – Ia te fazer bem...
— Dormir 12 horas por dia também...
— O certo são 8 horas...
— Pra você, talvez – dou de ombros e ele ri.
— Mas é sério, você precisa fazer algum exercício
— Tá me chamando de sedentária?
— Na verdade tô – eu o olho séria.
— É pro seu bem, seu corpo precisa disso, sobrecarregar ele o dia inteiro e não fazer nada pra ajuda-lo não é algo super inteligente...
— Ok, fim do bom humor – me levanto, puxo minha bolsa e vou na direção da porta, assim que eu abro ele me alcança.
— Eu te levo – como eu sei que não adianta recusar, apenas balanço a cabeça e passo por ele, o elevador logo chega e entramos, mas eu pego meu celular e aproveito pra dar uma olhada no meu email, ele não diz nada e quando a porta abre vou direto pro carro, coloco o cinto e assim que ele entra também coloca o cinto e liga o carro.
— Eu fui um babaca? – ele pergunta assim que para o carro na frente do prédio do escritório, eu acabo liberando uma risada, solto meu cinto e abro a porta.
— Você É um babaca – eu me deixo escorregar pra fora do carro, puxo minha bolsa mas antes de bater a porta eu me inclino pra olhar pra ele – Mas eu te amo – dou de ombros  e vejo o sorriso no rosto dele antes de bater a porta com certa força, por que ele pode até ser um babaca, mas eu não consigo diminuir o que sinto por ele nem por um segundo e só tenho certeza disso quando ele aparece na minha frente e sem me dar tempo pra pensar em mais nada, ele apenas me puxa e me beija, um longo beijo que nos faz sorrir.
— Bom trabalho – ele fala e então me solta e volta pro carro, eu entro no prédio sorrindo como uma idiota.
Assim que volto do meu horário de almoço, Dr. Leones me chama na sala dele, eu levo minha agenda pronta pra mais trabalho, mas assim que entro ele sorri de um jeito diferente.
— Senta, por favor – eu aceito e me sento de frente pra ele – Quanto tempo você já está aqui? 3 anos?
— E alguns meses – eu sorrio meio ansiosa e nervosa.
— Bom, eu nunca tive reclamações do seu trabalho, você sempre foi muito correta e eficiente em tudo que fazia aqui dentro... – meu nervosismo aumenta ainda mais e eu começo a pensar em qualquer coisa errada que eu possa ter feito, mas não consigo pensar em nada, então me forço a prestar atenção nele – Mas nos últimos meses você simplesmente superou toda e qualquer expectativa que eu tinha, a maneira como está encarando essa nova fase é realmente surpreendente, quando eu fazia a faculdade, eu quase ficava louco tendo que trabalhar ao mesmo tempo e você já está quase terminando um semestre e eu não ouvi nenhuma reclamação ou qualquer trabalho pela metade, além disso a audiência da semana passada, você foi simplesmente impecável, as anotações que você fez durante o recesso foram essenciais no final do processo e eu estou mesmo impressionado – eu sorrio aliviada.
— Obrigada, mas eu só estou fazendo meu trabalho, eu realmente adoro trabalhar aqui e tudo que eu aprendi durante esses anos aqui são essenciais nas escolhas que eu faço...
— E é por isso que eu vou fazer uma pequena mudança por aqui... – ele anuncia e eu apenas concordo e escuto – Eu não vejo mais sentido em desperdiçar seu potencial na preparação da minha agenda ou marcando e remarcando reuniões, por isso eu já resolvi, eu terei outra secretária, ela começa amanhã mesmo, só peço que você fique por perto dela, pro caso dela se perder em algo durante essa semana - Claro!
— E quanto a você, eu quero você como minha primeira e única estagiária, na verdade, não sei se gosto muito desse termo, por que eu tenho certeza que você sabe tanto ou até mesmo mais do que eu sobre cada um dos casos, eu só acho que já é a hora de você se concentrar em apenas ser uma advogada e não uma secretária, além do mais, eu quero você se dedicando a faculdade, não apenas por que eu sou legal, mas por que eu tenho planos pra quando você se formar, isso é, se ainda estiver interessada em se juntar a mim aqui...
— Enquanto eu for aceita aqui
— Então teremos um longo caminho juntos no escritório, por que eu posso dizer isso sem medo de errar... Poucas vezes eu vi alguém tão empenhada quanto você tem sido ultimamente e eu não pretendo desperdiçar isso...
— Eu não vou decepcionar
— Eu tenho certeza que não... Ah, e seu horário irá mudar, o que me diz de 9 as 16h?
— Sério?
— E o mesmo salário!
— Parece maravilhoso – ele sorri e se levanta esticando a mão pra mim, eu também me levanto e aperto a sua mão.
— Só precisamos ajeitar alguns detalhes no RH, mas já está valendo isso pra amanhã...
— Então eu acho que deveria ir no Rh agora – eu falo e ele ri.
— É uma ótima ideia – ele me acompanha até a porta e quando a fecha eu não consigo me conter e vou dando pulinhos até a minha mesa, eu pego o celular e já ia discar o número, porém desisto no meio do caminho, eu preciso contar isso pessoalmente, então ao invés de ligar pro Rafa eu vou pro RH.
Quando saio do escritório ainda no horário “antigo” já estou em cima da hora pra chegar na faculdade então eu vou direto pra lá, mesmo querendo correr até o Rafa, mas me contenho, encontro Matheus logo na porta da nossa sala e ele percebe meu humor, talvez isso tenha algo a ver com o fato que eu abri os braços assim que o vi e o abracei balançando ele pra um lado e pro outro.
— Você sabe que pode pegar mal uma estudante de direito usando drogas né? – eu acabo rindo.
— Eu estou absolutamente sóbria e limpa...
— Bateu a cabeça, então? – ele levanta meu cabelo procurando algum machucado, dessa vez não afasto sua mão com um tapa, apenas dou de ombros e passo por ele sorrindo até minha cadeira que é sempre a mesma e ele vem atrás de mim se sentando na cadeira ao lado da minha – Que foi? Ele te pediu em casamento?
— Quê? Não, tá doido! – acabo rindo e ele me olha como se isso fizesse muito sentido.
— Sei lá, vocês são todos “ai, te amo”, “own meu chuchuzinho” – dessa vez eu acerto um tapa nele, mas acabo rindo.
— Nós não somos assim!
— Ah vocês são! – eu o encaro – É meio nojento de ver... Eu nem sei como consegue ficar tão grudados um no outro quando estão perto...
— Você tá precisando se apaixonar – eu falo apontando pra ele que rapidamente faz sinal da cruz e bate na cadeira três vezes.
— Ainda tô tentando me livrar da ultima – ele faz uma careta, ele tem uma ex namorada que meio que não aceita o fim do namoro deles e vive ligando e aparece até as vezes aqui na faculdade.
— Quem mandou você ser tão gostoso e irresistível – eu faço uma cara ridícula mordendo o lábio e ele puxa o ar fingindo estar cansado.
— Eu juro que tento não ser tudo isso, mas... É mais forte do que eu – nós rimos e então a professora entra na sala.
Por algum milagre o professor dos últimos dois tempos não aparece e somos dispensados, isso faz meu humor melhorar ainda mais, mas dessa vez eu junto minhas coisas rápido demais e nem implico muito com o Matheus, apenas me apresso e vou direto pra hamburgueria, assim que eu entro sorrio satisfeita em ver o lugar tão cheio quanto tem ficado nos dias anteriores, apenas duas mesas estão vazias e todo mundo que está aqui, está sorrindo.
— Dani! – Gabriela, a menina que fica aqui pelo salão pegando os pedidos sorri e acena pra mim assim que me vê.
— Gabi! E aí, casa lotada né?
— Tá até vazia agora, teve até comemoração de aniversário, eles saíram tem uns 15 minutos – ela fala fazendo uma cara de cansaço.
— Assim que é bom, Gabi, assim que é bom – eu me animo olhando em volta.
— Meu amor! – me viro quando escuto sua voz e ele está saindo da cozinha e vindo na minha direção, o mesmo avental de fundo preto, mas com uma mistura de cores que ele usa no food, mas o boné é substituído por um daqueles chapéus de cheff, porém preto e menos chamativo – Saiu mais cedo? – ele pergunta depois de me dar um beijo.
— Professor faltou!
— Vamos mandar uma cerveja pra ele então – ele brinca, mas então me pede um segundo e se vira pra Gabi – Avisa que o número 12 não tem mais e que estamos sem tomate seco...
— Claro – ela sorri e ele me olha fazendo uma cara meio de cansado meio de impressionado.
— EEEEEEE! – eu comemoro dando pulinhos e batendo palma, ele acha graça e me olha meio confuso – Isso é um bom sinal, né? – ele sorri e me dá outro beijo.
— Acho que sim – ele fala e eu sorrio animada e ele me olha curioso – Aconteceu alguma coisa? Ou o fato de eu não saber fazer compras é tão empolgante assim? – eu acabo rindo.
— Eu tenho novidades... – mordo minha boca ansiosa e ele arregala os olhos esperando – O Dr. Leones me chamou pra conversar hoje e... Eu vou ser estagiária dele, o que significa que não vou mais precisar ser a secretária também, só fico com a parte das audiências, relatórios e fóruns...
— Isso é incrível!
— E tem mais... Meu horário mudou, agora eu entro mais tarde e saio mais cedo, o que quer dizer que... Eu vou poder voltar a respirar – ele ri e me abraça tirando meu pé do chão, mas logo me deixa em pé na sua frente
— Isso é demais e você merece – ele fala segurando meu rosto com as duas mãos – Então eu acho que você pode voltar pra academia, que tal, malharmos juntos toda manhã?
— Bom, eu pensei em fazermos outra coisa pela manhã – ele abre um sorriso malicioso e aproxima a boca da minha.
— Me fale mais sobre isso – eu também sorrio.
— Você tá em horário de trabalho – ele dá de ombros.
— Eu sou o dono, fecho isso agora se eu quiser – faço uma cara de impressionada e ele me sorri.
— O que eu tenho que fazer pra ganhar atendimento VIP aqui? – eu reconheço a voz imediatamente, mas me viro tendo certeza que me confundi, mas não, quando viro pro dono da voz ele abre um sorriso largo, o mesmo sorriso que eu via com muito mais frequência a alguns meses atrás – Fiquei sabendo que esse é o novo point da cidade... – Vítor fala e mesmo ainda impressionada e surpresa, eu vou até ele e o abraço, era pra ser um abraço estranho com tudo que aconteceu entre a gente, mas quando ele me aperta nele, eu sinto que não tem nada de estranho e isso me faz sorrir e o apertar ainda mais, quando nos soltamos ele me olha ainda sorrindo.
— Você apareceu!
— É, acho que sim – eu o abraço mais uma vez, só pra ter certeza que é real, então quando o abraço acaba dessa vez eu me afasto um passo e ele olha pro Rafa que ainda está parado no lugar, depois volta a olhar pra mim – Achei que você tivesse ensinado boas maneiras pra ele – ele finge sussurrar e então volta a olhar pro Rafa e abre os braços, menos de um segundo Rafa e ele se abraçam com tapas fortes nos ombros e nas costas, daquele jeito meio bruto que os caras sempre se abraçam, mas consigo ver que isso é importante pros dois, Rafa segura a parte de trás da cabeça do Vítor olhando pra ele e sorrindo.
— É muito bom te ver de novo, cara – Vítor ri e o abraça de novo, vendo os dois eu consigo experimentar um tipo diferente de alegria, por que eu sei que Vítor foi o primeiro amigo de verdade que Rafa fez aqui e o Rafa foi o primeiro amigo de verdade que Vítor teve depois de tudo que ele tinha passado, os dois criaram uma ligação que era muito bonita de se ver e que de certa forma, mesmo que indiretamente tinha sido desligada por minha culpa, e ver os dois se reencontrando é muito bom.
— Tá ficando meio grudento demais já – Vítor faz uma careta e eles se soltam.
— Eu achei que não tivesse recebido o recado – Rafa fala e eu fico meio perdida, mas Vítor parece saber exatamente do que ele está falando.
— Você mandou no meu celular, meu email pessoal, profissional e deixou recado no restaurante, acho meio difícil eu não ter recebido – ele fala rindo.
— E demorou um mês pra ler todos eles?
— Eu cheguei no Brasil hoje – Rafa faz uma cara de impressionado – Eu passei dois meses na Austrália...
— Ah entendi o bronzeado – Rafa implica e ele sorri dando de ombros, ele realmente está bem bronzeado, mais do que o normal, também está bem mais forte, na verdade embora ele ainda pareça com aquele Vítor, ele está bem diferente, o piercieng na sobrancelha continua intacto, ele está com uma camisa xadrez preta e branca sem mangas que mostra a tatuagem contornando o bíceps dele, é um arame farpado, os dois botões da camisa estão abertos e exibem dois cordões, um daqueles de couro de âncora, muito parecido com o que o Rafa tem e o outro é um daqueles medalhões que parecem do exército, ele usa uma calça jeans rasgada nos joelhos e um tênis branco.
— Então, será que eu tenho direito a uma mesa ou algo assim? – ele pergunta e então nós vamos até uma das mesas vagas.
— Austrália? – é Rafa quem pergunta e ele sorri.
— Muitos cangurus – nós rimos.
— Rafa! – Caio, um dos meninos que o ajudam na cozinha aparece e faz sinal pra ele, Rafa faz sinal de que já está indo e se levanta, quando vê que Vítor está olhando o menu ele tira da mão dele.
— VIP é VIP! – Rafa pisca e Vítor sorri aprovando – Não deixa ele sair sem pagar – ele finge sussurrar pra mim, beija minha cabeça e sai, nós dois rimos e então quando eu olho pro Vítor de novo sorrio e toco sua mão.
— Eu adorei que você tenha aparecido – ele coloca a outra mão por cima da minha.
— Eu gostaria de ter vindo antes, mas... Não tinha nenhum uber disponível lá – ele ri e eu também, então ele olha em volta – Mas isso tá incrível, vocês estão indo muito bem...
— Na verdade eu só fico no caixa de vez em quando, o resto é mérito dele
— Bom, ele nunca soube lidar muito bem com elogios então vamos deixar isso entre nós
— É, acho que é melhor – ele ri e pisca um dos olhos.
— Então... Austrália? – ele ri de novo.
— Culpa do Lucas, ele tinha um curso pra fazer lá e não quis ir sozinho, daí fez aquele drama todo e eu não pude dizer não...
— Ah que sacrifício – ele leva a mão ao coração.
— E você, anda, me conta tudo, me atualize
— Ok, por onde eu começo? – eu finjo pensar – Ah! O Vinny vai ser pai – ele arregala os olhos.
— Sério?
— Sério, descobrimos faz um mês
— Uau! Isso é incrível!
— Não é!?! Eu vou ser titia – ele ri.
— Meus parabéns, titia – eu sorrio toda orgulhosa, então nós continuamos conversando, ele conta que agora que voltou vai se juntar ao Lucas de novo e investir na pousada, estão com planos de estender e inovar ainda mais, eu conto sobre como estou quase louca entre a faculdade e o trabalho e ele ri.
— Licença – Rafa pede já colocando os dois pratos na nossa mesa, eu sorrio assim que vejo o meu preferido, é um de costela com queijo, chimichuri, salada de cenoura e beterraba, pão de alho e um molho ma-ra-vi-lho-so que ele inventou, então percebo que estou cheia de fome e não me importo muito com boas maneiras e pego o sanduiche com as mãos mesmo.
— Você não vai se arrepender – eu aviso pro Vítor antes de morder o meu e fechar os olhos com o sabor, quando abro os dois estão me olhando e rindo.
— Algumas coisas simplesmente não mudam – Vítor fala e sorri aprovando minha reação.
Rafa se junta a nós enquanto lanchamos e eu deixo que dessa vez ele leve a conversa, já  que estou concentrada demais em devorar cada pedaço do meu sanduiche, tanto que nem me importo com as implicâncias dele e do Vítor, na verdade, é isso que torna ainda melhor esse momento, por que eu achei que isso nunca mais fosse possível, nós três pertos um do outro, rindo, implicando com o outro e sem nenhum clima estranho, mas é possível, tanto é possível que passamos uma hora inteira rindo e conversando, Rafa ia de vez em quando na cozinha resolver algo, mas voltava e a conversa continuava fluindo, como se não tivéssemos passado todos esses meses sem nos ver, é incrível e é ainda mais incrível o fato que Vítor garante que vai estar na próxima apresentação da banda no Fronteira e quando ele e Rafa se abraçam na despedida e cochicham algo um pro outro e depois riem eu sinto um peso sendo tirado do meu coração que eu nem sabia que tinha, mas que me deixa tão leve que eu sinto que poderia sair voando por aí, mas por sorte assim que o Vítor sai Rafa me abraça forte.
— Isso foi real mesmo? – pergunto e ele sorri.
— Eu senti falta dele – ele confessa e eu sei que diz a verdade.
— Você tinha convidado ele?
— Eu não consegui ignorar ele, ele tinha que saber, eu... – ele levanta os ombros sem saber o que dizer.
— Eu sei! – eu o abraço de novo e sei que se um peso acaba de ser tirado de mim, também foi tirado dele e isso me deixa ainda mais feliz.
A semana acaba sendo mais tranquila, com meu novo horário eu consigo acordar mais tarde e quando saio do escritório ainda tenho algumas horas sobrando e isso realmente é fantástico, eu consigo passar mais tempo com o Rafa, faço algumas compras com ele, adianto matérias que precisava reler pra faculdade e não fico desesperada correndo com tudo, essa realmente foi a melhor coisa que Dr. Leones poderia ter feito por mim e como agradecimento eu me empenho ainda mais e juro a mim mesma que ele nunca vai se arrepender.
— Agora é oficial – Vinny anuncia quando entra no apartamento junto com a Bianca, ele está com um sorriso grande e ela também, eu e Rafa estamos jogados no sofá e esperamos a notícia – Nós vamos nos casar!
— AEEEEEE – eu e Rafa pulamos do sofá e abraçamos os dois ao mesmo tempo, dando os parabéns e comemorando.
— E tem mais uma coisa – ele tira levanta o envelope e me olha sorrindo ainda mais animado – Preparada pra ver seu sobrinho?
— Ou sobrinha... – Bianca o conserta, então eu arranco o envelope da mão dele e abro, dentro está o papel com a ultrassonografia que a Bianca fez e um pontinho branco meio borrado está destacado na imagem e pode ser a coisa mais boba do mundo, mas olhar aquele borrão em emociona de um jeito tão grande que não consigo evitar a emoção.
— Ah meu Deus, é real – as lagrimas escorrem do meu rosto e quando olho pro Vinny sei que ele também está emocionado, então nos abraçamos forte, não precisamos dizer mais nada. Ele vai ser pai. Eu vou ser tia. Nós sabemos exatamente o que isso significa.
— E pra quando é o casamento? – Rafa que pergunta curioso.
— Bom, não vai ter festa nem nada, só no civil, estamos poupando um pouco da grana, sabe como é né? Eu vou ser pai – ele sorri passando a mão na barriga da Bianca.
— Meu pai tem uns amigos no cartório e conseguimos adiantar as coisas, então, provavelmente no próximo mês...
— Meus parabéns – eu a abraço e ela parece realmente feliz.
— Agora eu realmente acho que devíamos ir até a Lia pra comemorar junto ou ela mata nós 4 – Vinny avisa e nós rimos, mas concordamos, então eu me troco rápido e logo saímos.
Quando chegamos ela já fica toda animada em nos ver e quando Vinny conta das novidades ela quase estoura nossos tímpanos de tanto que pula, grita e comemora, como ainda está cedo e é um sábado, nós aceitamos a ideia dela de irmos comemorar num piquenique no parque ambiental da cidade, já tem muito tempo que não vamos lá mesmo, na verdade desde que a hamburgueria abriu, antes eu e Rafa sempre fugíamos pra la, mas o tempo ficava apertado e mudamos nossas rotas, porém hoje parece um dia perfeito pra isso, ainda mais com o dia lindo que está lá fora, nós fazemos uma limpa na geladeira deles, ainda assim passamos por um mercado no meio do caminho e pegamos mais algumas coisas, Lia fez questão de levar a cesta e a toalha xadrez, por que segundo ela, sem essas duas coisas, não poderíamos chamar de piquenique e ninguém ousa discordar dela e isso só a deixa ainda mais animada, quando chegamos ao parque conseguimos logo um lugar perfeito, embaixo de uma arvore de jabuticaba que nos dá uma sombra maravilhosa e uma visão perfeita da maior parte do parque, principalmente do pequeno lago com o chafariz que fica no meio, já está bem movimentado por aqui, crianças estão correndo com cachorros e jogando bola, nós montamos nosso espaço e Lia nos faz ficar quase meia hora tirando fotos, mas pra ser sincera ninguém reclamou, na verdade a ideia foi ótima, assim como os sanduiches com patê de sardinha que Bruno fez as pressas.
— Quer saber, eu acho que você devia acrescentar um desses no cardápio da hamburgueria... – eu sugiro pro Rafa enquanto dou mais uma mordida.
— Se você fizer uma boa proposta eu penso no assunto – Bruno avisa pro Rafa e ele ri.
— Espera só até ver o sanduiche com ovo frito que eu fiz outro dia, né mô? – Vinny se mete na conversa e eles riem, eu já ia contar sobre um dia que ele quase botou fogo na cozinha tentando fritar um hambúrguer quando a figura que passa a alguns metros de nós me faz paralisar, eu abandono a ideia de prestar atenção na conversa e me concentro nela, o sorriso ainda é o mesmo que eu me lembrava, embora nas ultimas vezes em que a vi não tivesse nem sombra dele, mas ainda é tão radiante quanto eu estava acostumada, ela está mais magra, o cabelo que antes era sempre escovado e que descia pelos seu ombros, agora está cacheado e na altura das suas orelhas, mas combina perfeitamente com seu rosto, ela também parece alguns anos mais nova, o vestido de flores colorido parece perfeito na sua pele negra, tão negra quanto a pele do pequeno garoto que pula nos braços dela beijando seu rosto várias vezes.
— É ela, não é? – a voz da Lia me alcança, só então percebo que estou em pé virada pra eles, eu olho pra Lia e ela está tão surpresa quanto eu.
— É! – eu balanço a cabeça e volto a olhar pra eles, dessa vez o homem de cabelos grisalhos, pele um pouco mais clara e óculos tira o garoto de cima dela, mas ri – Eu... Eu não sabia que eles tinham voltado...
— Nem eu – Lia fala e eu sei que é verdade ou ela teria me contado – Eu não os vejo desde... – ela para a frase.
— Depois do enterro – eu me lembro perfeitamente da última vez que eu os vi, tinha sido o dia do enterro, mas eu não consegui ter coragem de ir até lá e meu pai disse que era melhor que eu não fosse, por causa da minha recuperação, mesmo eu sabendo que se eu pedisse ele me liberaria, mas eu não podia e ele entendeu, então no final do dia, eu recebi a visita deles, ela não tinha nem a sombra desse sorriso de agora e daquele que eu sempre via, ela estava abatida, com olheiras fundas e o semblante destruído, ele também, eu nunca tinha visto um homem chorar tanto quanto ele quando entrou no meu quarto do hospital e aquilo foi um tipo de culpa que eu nunca tinha experimentado, como se fosse errado estar viva enquanto o filho deles estava morto e por mais que ele não quisesse pensar nisso eu sei que pelo menos por um segundo ele pensou e eu não podia o culpar por isso, foi ela quem conseguiu se controlar e falar comigo, ela disse que entendia por que eu não tinha ido, disse que o filho me amava e também entenderia, ela me pediu pra nunca esquecer dele e eu jurei que não esqueceria, então ela contou que eles iam embora da cidade no dia seguinte, foi nesse dia que ela me deu a pulseira afro que eu entreguei pro Bruno no dia do casamento deles, ela me abraçou, me pediu pra que fosse feliz por que era isso que ele iria querer, dessa vez eu não prometi, apenas a abracei de volta, o homem me deu um abraço rápido e saiu rapidamente junto com ela, e aquela foi a ultima vez que eu os vi.
— Você vai lá? – Lia pergunta me distraindo e em resposta eu apenas ando até eles, já estava a poucos passos quando ela levanta os olhos e me vê, a surpresa dura apenas um segundo então ela se levanta e vem na minha direção, os braços abrem antes que eu consiga pensar em algo pra falar e ela me abraça apertado, um abraço que acomoda cada canto da minha alma.
— Eu tô tão feliz em te ver – sua voz ainda é tão suave e reconfortante quanto eu me lembrava, ela me segura pelos ombros e olha meu rosto com muita atenção – Você está ainda mais linda do que eu me lembrava – ela sorri e volta a me abraçar.
— Eu vi vocês e tinha que vim aqui...
— Ô mãe! – o menino corre até nós e segura a barra do vestido dela, ele deve ter uns 6 anos – Eu posso jogar bola com os meninos do outro lado? – ela ri.
— Antes... Como se fala? – ela aponta pra mim e ele sorri e me estica a mão.
— Oi! Eu sou o Rui! – eu aperto a mão dele e sorrio também.
— Eu sou a Dani, tudo bom?
— Tudo! Você é muito bonita – eu acabo rindo e ela também.
— Obrigada, você também é muito lindo – ele sorri todo bobo.
— Pode ir brincar, mas não vai pra longe – ele corre antes mesmo que ela termine as recomendações, tio Zé se aproxima de nós e me dá um abraço, bem diferente do nosso ultimo, esse é tão reconfortante quanto o da sua esposa, o menino grita perguntando se estava boa a distância e ela ri e concorda.
— Desde que eu o vi eu sabia que ele seria nosso filho... Nós conseguimos adotar ele no ano passado – ela me olha e abre um sorriso meio nostálgico – Ele me lembra um pouco o Lipe, só parece ter muito mais energia – ela ri e eu também.
— Ele parece realmente feliz... E vocês também – olho para os dois e sorrio – Vocês voltaram pra cidade?
— Não, viemos rever meus pais – a lembrança dos dois velhinhos que sempre me acolheram tão bem me faz sorrir ainda mais.
— E como eles estão?
— Ah você sabe... Não saem daquele sitio pra nada
— Não mudou nada, então – ela ri e então se distrai com algo atrás de mim.
— Bruno!? – ela abre um sorriso quando o nome escorrega dos lábios dela e se afasta de mim indo na direção do Bruno que também já está vindo até ela, os dois se encontram no meio do caminho e se abraçam ainda mais forte e mais demorado do que eu e ela.
— Eles se casaram – eu conto pro homem que está sorrindo meio emocionado.
— Então ele estava certo
— É, ele sempre estava certo – ele me olha demoradamente, então coloca a mão no meu ombro – Eu não o esqueci – me sinto obrigada a falar e ele me puxa pra um abraço.
— Eu sei que não – ele passa a mão pelo meu cabelo – Não acredito que alguém que o conheceu consiga esquecer...
— Eu tenho certeza que não – sinto-o balançando a cabeça concordando, mas a mulher nos chama e nós vamos até eles, Lia e Vinny também se aproximam e abraçam eles, eles sempre estavam com a gente então é apenas um reencontro, mas Bianca e Rafa ficam parados a alguns passos esperando a apresentação.
— Essa é minha noiva, Bianca... Nós estamos grávidos – Vinny fala todo bobo e eles parabenizam e os abraçam, também elogiam ela dizendo o quanto ela é linda e que será ainda mais feliz depois do nascimento do bebê, então quando terminam eu vou até o Rafa e seguro sua mão o trazendo pra perto deles.
— Esse é o Rafa... Rafa, esses são, a tia Marta e o tio Zé, eles são os pais do Lipe... – olho pra eles – E ele é meu namorado – os dois param alguns segundos, parecem lutar com alguma lembrança, mas logo sorriem novamente e é ela quem vai primeiro até ele e o abraça.
— Você tem uma menina de ouro nas mãos – ela fala segurando as mãos dele.
— É, eu sei – ele me olha e sorri.
— Foi muito bom ver vocês de novo, mas não podemos tirar os olhos dele por muito tempo – ela aponta pro menino que já está correndo pelo campo com um cachorro – Como eu disse, muita energia – ela fala e nós rimos, ela se aproxima de mim e me abraça mais uma vez – Eu estou muito feliz por você... E ele com certeza está orgulhoso de nós – ela me olha e a lagrima que escorre no meu rosto não é tristeza, nem culpa, é de emoção, por estarmos seguindo em frente, por ter visto ela seguindo em frente e por sabermos que independente do quanto nossa vida mude, ele sempre estará conosco e esse é um sentimento reconfortante.
Depois de nos despedirmos eles vão atrás do menino que continua correndo.
— Tá tudo bem? – Rafa me olha meio preocupado, eu abro um sorriso e o abraço afundando a cabeça no seu peito, ele me aconchega e acaricia meus cabelos.
— Reparou que parece que tudo tá se encaixando? Quer dizer, o Vítor se reaproximando, eles aparecendo – olho na direção deles que já estão rindo com o menino.
— É, se eu não fosse um cara durão e cético, eu diria que esse deve ser o começo do nosso felizes pra sempre – eu olho pra ele e um sorriso divertido está no seu rosto.
— Se fosse isso, você não estaria me obrigando a voltar a malhar – ele ri.
— É pro seu bem!
— Me explica como gastar o tempo que eu poderia estar deitada comendo sorvete é melhor do que ficar no meio de gente suada e puxando peso? – ele me aperta mais forte nele e me tira do chão.
— Me solta – eu tento me debater mas é em vão.
— Viu? Você conseguiria se soltar se malhasse mais – ele fala com uma cara séria, então me bota no chão e eu acerto um tapa nele, ele ri.
— Idiota – dessa vez ele me puxa pra um beijo e eu acabo sorrindo.
O mês parece passar rápido demais, mas pelo menos eu consegui ter bem mais tempo do que tinha antes então não tenho do que reclamar.
Acordo com sede, pego o copo que fica do lado da cama e então xingo mentalmente o Rafa quando o sinto vazio, por que eu sempre trago agua pra cá e ele diz que é bobeira, mas na maioria das vezes é ele quem bebe a água antes de mim, olho pro lado e ele está apagado, até penso em acordar ele pra ir buscar, mas desisto e me levanto, saio do quarto e quando alcanço a sala a luz da cozinha me desperta, Vinny está sentado no banco, meio que debruçado sobre o balcão, com uma prato a sua frente, ele vira o rosto pra mim quando me vê e eu me aproximo olhando pro prato dele e vendo o final do pedaço da torta de morango que eu guardei, olho de cara feia, mas ele apenas enfia o garfo com o ultimo pedaço dela na boca e solta o ar.
— Perdeu o sono? – pergunto e ele se desencosta do balcão.
— Bom, em algumas horas eu vou ser um homem casado – ele levanta os ombros e eu o olho meio curiosa – Me diz que isso não parece loucura e eu vou dormir agora – ele me encara esperando que eu diga algo.
— É loucura – ele parece surpreso com a rapidez que eu respondo, dou de ombros, vou até a geladeira, pego duas garrafas de cerveja, entrego uma pra ele e abro a minha, já dando um gole – Você ficou do meu lado em cada momento ruim... Aliás você passou junto comigo por cada momento ruim, a gente já passou por muita coisa...
— É, não foi fácil
— Nem um pouco... Mas agora olha pra gente, eu acho que não lembro de um momento tão bom nosso assim, há... muito tempo... Eu encontrei o Rafa, você encontrou a Bianca, você vai ser pai, vocês vão se casar pela manhã, então se eu acho loucura? Ahhh eu acho, com certeza, mas é a melhor loucura que poderia acontecer nas nossas vidas – ele parece relaxar um pouco e sorri.
— Eu vou ser pai!
— O melhor pai do mundo – ele dá outro gole na cerveja.
— E se eu estragar tudo? Quer dizer, eu sou meio idiota as vezes, eu sei lá... Se eu for um bosta como marido, pior, se eu for um merda como pai?
— Você não vai ser!
— Não tem como você saber
— Na verdade tem sim... Por 4 anos você bancou minha babá...
— Eu não era sua babá – eu o encaro e ele revira os olhos sem ter como discordar.
— Você foi meu guardião, meu melhor amigo, meu irmão, meu porto seguro, foi tudo que eu precisava e mais, muito mais... Então confia em mim, na pessoa que mais te conhece no mundo, na pessoa que permaneceu em pé cada dia por que tinha você... Acredita quando eu digo que é impossível você ser um merda como pai – coloco a mão por cima da dele e me inclino e a beijo – Você vai ser o melhor pai do mundo!
— Eu não quero ser como ele – seus olhos não me encaram e eu sei que ele está apavorado, então dou a volta e vou pro lado dele, seguro seu rosto com as duas mãos e o forço a olhar pra mim.
— Você não é como ele. Nunca será. Você será um pai de verdade, muito melhor do que ele sequer pode tentar ser um dia, sabe por quê? Por que você é FODA – ele abre um sorriso quando eu falo – E por que se você começar a fazer besteira eu vou estar do seu lado pra puxar sua orelha do mesmo jeito que você sempre puxou a minha...
— Promete?
— Eu juro! – mostro o dedo mindinho pra ele e ele sorri e então encaixa o dedo no meu selando o juramento, depois me puxa pra um abraço apertado.
— Eu vou casar! – ele fala com os olhos arregalados quando nos afastamos e eu acabo rindo.
— Em 7 horas – eu mostro o relógio.
— Eu ainda tenho que terminar de trazer as coisas da Bianca – ele fala e eu me lembro da conversa que tive com o Rafa mês passado.
— Falando nisso... – eu começo a me arrepender, mas ele já está me olhando com atenção – Eu tava falando com o Rafa e... A gente tava pensando em dar uma olhada em alguns apartamentos aqui por perto – ele me olha confuso.
— Como assim?
— Você vai casar, Vinny! Vão ter um bebê e montar sua família, vocês precisam do cantinho de vocês...
— Já temos, esse aqui
— Exatamente. Esse aqui – ele me encara.
— Você tá falando o que eu acho que você tá falando?
— Você pode me escutar?
— Não! – ele fala sério – Isso é coisa do Rafael? Por que eu vou ter uma conversa com ele agora mesmo – ele ameaça se levantar mas eu o seguro.
— Não, isso não tem nada a ver com o Rafa, eu que pensei nisso...
— Pensou no quê? Em sair do nosso apartamento?
— Vinny, me escuta, por favor, pode ser? Só me escuta, eu juro que vai fazer sentido...
— Eu duvido muito, mas... – ele indica que eu fale.
— Lembra quando o Bruno finalmente pediu a Lia em casamento? Como nós ficamos felizes por eles? Como foi incrível tudo aquilo? Então, logo depois eles ganharam a casa, nós sabíamos que eles iam se mudar e foi estranho pensar que a Lia ia sair daqui, que não iriamos mais nos ver todas as manhãs e no final de todas as noites, mas isso só durou até a gente começar as reformas lá, lembra que enquanto a gente pintava a parede da sala a gente ficava imaginando todas as festas que íamos poder dar lá e de como agora tínhamos um lugar extra pro caso de enjoar daqui? Lembra como começou a fazer sentido eles terem o cantinho deles, pra seguir a vida de casado deles? Lembra? – ele não responde apenas fica me encarando – É isso que eu quero pra você. Eu quero que você tenha tudo, Vinny, tudo certinho, como tem que ser, eu quero que você se case pela manhã, que depois tenham esse apartamento pra vocês dois, pra quando você chegar puto do trabalho poder ver a Bianca jogada no sofá com o Juninho ou a Danizinha no colo, daí você vai ficar parado ali naquela porta pensando em como é sortudo... Eu quero que você possa colocar o bebê no quarto dele e corra de fininho pro quarto de vocês sem se preocupar se alguém pode chegar aqui e fazer barulho pra acordá-lo, eu quero que você tenha tudo isso, Vinny, tudo que um casal tem que ter, entende? Eu não consigo pensar em mais ninguém que mereça todas essas coisas do que você, eu só quero você feliz...
— Isso é bobeira! – ele fala ainda com raiva, ele não me olha e posso ver a tensão nos músculos do seu rosto.
— Vinny – eu toco seu ombro, mas ele se esquiva, dessa vez ele me olha.
— Eu nunca ouvi tanta merda antes – eu respiro fundo sabendo que agora já está feito e tenho que ouvir o ataque dele – Você me quer feliz? Então esquece essa porra! Eu não vou aceitar você saindo daqui e se você passar por aquela porta com uma muda de roupa que seja, acabou! – eu o encaro tentando ter certeza do que ouvi – É isso mesmo, se você sair daqui, na hora que você passar daquela porta, acabou nossa amizade e eu não tô brincando, eu juro pra você, que se você sair, acaba!
— Vinny, você tá de cabeça quente, ok? Eu não devia ter falado nisso agora...
— Não, eu não tô de cabeça quente, eu tô pensando perfeitamente...
— Eu sair daqui não muda nada, Vinny, você é meu irmão e sempre será não importa se eu estou morando aqui, nos meus pais, em outro bairro, não importa...
— IMPORTA PRA MIM – ele fala alto sem se importar com seu tom de voz, ele dá uma risada nervosa, esfrega o rosto com as mãos e nós ficamos em silêncio em alguns segundos – Você quer saber do que eu preciso? – ele me olha e eu apenas assinto com a cabeça – Eu preciso de você aqui! Eu preciso! Eu quero chegar em casa puto e abrir a porta e ver você jogada no tapete com o Juninho ou a Danizinha rindo, daí a Bianca vai sair do corredor dos quartos segurando um monte de papel e reclamando que tem prova no dia seguinte mas que não consegue estudar e que a culpa é minha por que baguncei a mesa de estudos dela, aí eu vou até a cozinha, pegar uma cerveja e o Rafa vai tá bem ali fazendo alguma coisa pro jantar, ele vai me olhar daquele jeito de quem manda eu ter paciência, eu vou virar a garrafa inteira e ele vai soltar alguma coisa do tipo “pega ela”, ai eu vou voltar pra sala, vou pegar a Bianca no colo e vou mandar você tamparem os ouvido, é isso que eu quero...
— Então seu plano é me transformar em babá e o Rafa no seu cozinheiro particular enquanto dá uns pega na Bianca no quarto? – faço uma cara de impressionada, mas ele não ri.
— Eu preciso de você, Dani! Aqui, comigo, esse é o único jeito que eu sei ser feliz, e não importa se eu sou casado, se vou ser pai, ou o que for, eu preciso de você aqui pra conseguir fazer isso certo... Eu já falei com a Bianca sobre isso e ela adorou a ideia de ter uma babá o tempo todo – eu acabo rindo e dessa vez ele sorri, segura minha mãos e me olha nos olhos – Eu não tô nem aí se isso parece loucura, se o certo é o casal morar sozinhos, eu tô pouco me fudendo pro tradicional, eu só sei que eu preciso de você do meu lado e você jurou que estaria do meu lado pra não me deixar estragar tudo...
— E eu vou estar!
— Aqui. Nesse mesmo lugar? – eu o olho ainda pensando – Eu tô te pedindo, Dani, não me abandona agora... – eu vejo a emoção nos olhos dele e faço a única coisa que quero fazer, eu o abraço apertado.
— Eu não vou a lugar nenhum – os braços dele se apertam em mim e sinto seus músculos relaxando.
— Acho bom seu presente de madrinha ser muito bom...
— Eu vou ser sua babá particular e meu namorado seu cozinheiro, acho que isso me isenta de qualquer gasto – ele ri e beija minha bochecha – Anda, melhor dormir um pouco, no final da manhã você será um homem casado – ele faz uma cara de assustado e eu o levo quase empurrando até o quarto dele, quando ia saindo ele me puxa e me faz entrar no quarto, já tem vários toques da Bianca aqui, a cortina florida, os quadros coloridos, porta retratos com love escrito e a colcha cheia de corações, ele me puxa pra cama e cai deitado ao meu lado.
— Depois da Bianca, você é oficialmente a única mulher que pode deitar aqui, sinta-se honrada - eu faço uma cara de desdém, ele joga o travesseiro na minha cara e nós acabamos rindo e então passamos a ultima madrugada solteira dele juntos.


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