Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 2
Capítulo 2




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Eu acordo e enrolo um pouco até finalmente me levantar, ainda estava passando por esse processo quando a porta do quarto se abre.
— Bom dia! Agora levanta que a gente vai sair... em... – ele olha o relógio – meia hora – eu faço uma careta e cubro minha cabeça, ele puxa o edredom.
— Ai Vinny, por favor... minha cabeça tá doendo – tento parecer ainda mais cansada do que estou.
— Meu pai chamou a gente pra almoçar – ele fala e isso faz parar minha cena, eu olho pra ele e vejo que ele já está arrumado, está com uma calça jeans nova, sei por que compramos juntos, uma camisa em gola V preta, uma touca também preta que deixa um pouco do cabelo ainda a mostra, um cordão de ancora igual o que ele me deu, pulseiras de couro e tão perfumado que já perfumou todo o quarto, tudo isso me diz que 1) ele parece animado, 2) não vamos almoçar no shopping como sempre.
Me sento na cama e resolvo dar atenção a ele.
— Onde é o almoço?
— Na casa dele – ele dá de ombros como se fosse super normal, mas nós sabemos que não é.
— Como assim, na casa dele? – ele revira os olhos e anda até meu guarda roupa, abrindo as duas portas, ele começa a mexer nas roupas penduradas no cabide.
— Na casa dele ué! Lá onde ele mora e tal – eu continuo olhando pra ele sem conseguir entender o que está acontecendo.
— Desde quando isso é tranquilo pra você? Desde quando você fica ansioso por isso? E pelo amor de Deus, quanto tempo eu dormi? – pergunto completamente confusa, ele puxa um cabide onde está um vestido verde, ele vem até a mim e me entrega.
— Eu quero você, tipo... muito gata – eu não pego o vestido, apenas o encaro esperando resposta, ele solta o ar como se soubesse que não tem como fugir disso – Ele ligou, convidou a gente pra almoçar lá e sei lá, acho que você tá certa quando diz que eu não posso fugir disso a vida inteira – ele confessa mas ainda não entendi.
— Por que hoje? – ele apenas me devolve o mesmo olhar confuso que eu estou, então levo alguns segundos pra entender. Amanhã. É o aniversário dele, do Vinny.
— Ai meu Deus! – eu falo levando a mão na boca – Eu juro que não tinha esquecido, é só que... eu acabei de acordar e ontem todo aquele vinho – ele finge magoa – Ai, perdão, perdão, perdão... – peço ficando em pé em cima da cama chamando ele pra um abraço, ele faz uma careta mas se aproxima, eu agarro ele forte – Meu gigante! Vai ficar mais velho – ele me abraça me tirando da cama.
— Mas isso é só amanhã, se controla – ele me coloca no chão.
— Você acha que ele preparou alguma coisa? – pergunto e ele dá de ombros tentando parecer desinteressado, mas eu o conheço e sei que ele está ansioso, talvez essa seja a grande chave que irá fazer ele e o pai se entenderem de vez, quando entendo isso ao invés de ficar ainda mais feliz sinto um certo medo, por que essa é a primeira vez que ele se anima em algo que tenha a ver com o pai, se ele fizer algo que estrague isso, eu nem sei como ficarão as coisas – Você tem certeza que quer ir? Você sabe que ela deve estar lá né – falo tentando não jogar um balde de agua fria nele.
— É, eu sei! Mas uma hora eu vou ter que encarar ela, então... – eu forço o sorriso mais confiante que consigo, mas o pressentimento de algo errado já se instalou em mim e sei que não vai sair, mesmo assim tento me convencer que pode ser coisa da minha cabeça.
— Ok, eu vou me arrumar – falo e ele sorri concordando e saindo do meu quarto, assim que ele sai me jogo na cama de novo e encaro o teto sem conseguir afastar essa sensação ruim.
Há sete anos atrás, a mãe do Vinny descobriu que o pai dele tinha um caso com a secretária, clássico e clichê, enfim, eles brigaram feio, o pai se recusou a sair de casa mesmo estando errado, então ela juntou as coisas dela e do Vinny e no dia seguinte estavam se mudando pra cidade natal dela levando o meu melhor amigo junto, a coisa toda foi horrível, a separação dos pais, a briga entre eles, o fato do pai ter praticamente tirado tudo deles, a casa, o carro, o dinheiro, mesmo que todo mundo soubesse o quanto a mãe dele trabalhava, ela era professora de duas faculdades e nunca ficava parada, a mãe dele ficou tão arrasada que teve uma crise de depressão, e eu não pude estar perto do Vinny, mesmo que nos falássemos todos os dias pelo telefone e pelo Skype ainda faltava algo, faltava o abraço, o cafuné, a cabeça no ombro, eu queria muito ter ficado cada segundo ao lado dele, mas a mãe não cogitava sequer a ideia de viver na mesma cidade que eles e meus pais obvio que não me deixaram ir morar lá, então eu fiz tudo que podia pra estar ao lado dele, viramos madrugadas inteiras conversando, ele desabafando e eu escutando, as vezes com conselhos, outras só pra escutar mesmo, e assim foram se passando os dias, um ano depois o pai dele se casou com a ‘’ex-amante’’ e tentou fazer Vinny comparecer ao casamento, óbvio que ele não foi, ele também me mandou um convite e eu só não fiz ele engolir por que mamãe me proibiu de não ser educada, a mãe do Vinny ficou ainda mais arrasada com o casamento deles, mas por algum milagre do destino ela reencontrou um antigo namorado da época da faculdade, ele também era divorciado, tinha um filho que morava com a mãe, uma vida estável e aos poucos eles foram se aproximando cada vez mais, até que um ano após o casamento do pai do Vinny eles começaram a oficialmente namorar e aquela mulher que vivia de cabeça baixa e triste renasceu de um jeito que eu não vi nem quando ela era casada com o pai dele, nas minhas férias e feriados prolongados eu sempre ia pra lá, por que ela estava mesmo decidida a deixar o passado pra trás e não voltar aqui, e Vinny também não queria correr o risco de encontrar com o pai e a tal mulher, então foi assim até o dia do acidente, depois disso Vinny veio pra cá me visitar e nunca mais foi embora, foi aí que eu soube que ele é o melhor amigo que eu poderia ter, a pessoa mais importante da minha vida, meu irmão, meu porto seguro, aquele que pisou no próprio orgulho pra continuar do meu lado, quanto ao pai dele, desde que Vinny voltou pra cidade tenta de todos os modos se reaproximar do filho, ele praticamente pagou nossos três primeiros meses de aluguel, deu um carro pra ele e vive depositando dinheiro na conta que criou pra ele e é óbvio que Vinny não reclama disso, ele pode ser magoado e ter raiva mas não é burro e se o pai faz isso é por que tem dor na consciência, então que pague por isso. Nós agradecemos. Ultimamente ele tem me procurado pra tentar mediar entre eles dois, eu contei ao Vinny e nós conversamos muito sobre isso, de qualquer jeito esse é o pai dele não dá pra fugir pra sempre, então a alguns meses ele tem tentado ficar ‘’bem’’ com o pai, as  vezes o pai passa por aqui pra ver como ele está, eles já almoçaram juntos algumas vezes, mesmo que em todas as vezes Vinny tenha me levado com ele, ainda assim é um grande passo e aos poucos ele já consegue olhar pro pai de novo, eu realmente espero que eles se acertem, mesmo não indo muito com a cara do pai já que por culpa dele perdi tanto tempo longe do meu melhor amigo, mas se isso for fazer bem ao Vinny eu espero que dê certo, porém mesmo torcendo por isso ainda sinto que algo está errado.
Me levanto num pulo e saio do quarto, vou até a porta e corro pro quarto da Lia, entro sem bater por puro costume, ela está no banheiro já vestida e secando o cabelo.
— Já tá sabendo da novidade? – ela me olha pelo espelho.
— Antes tarde do que nunca – ela fala parecendo achar uma boa ideia, mas quando nossos olhares se encontram ela para o que está fazendo e se vira pra mim – Odeio quando você faz essa cara – ela fala preocupada.
— Eu não sei... Ele tá animado com isso... eu acho que nunca vi ele animado com nada em relação ao pai – ela concorda pensativa – E se ele estragar tudo, se ele esqueceu que amanhã é o aniversário dele?
— E pra quê ele ia marcar um almoço na casa dele justamente hoje, um dia antes do aniversário do filho? É uma baita coincidência né? Ei, calma, é que você se preocupa muito com ele, é sério eu tenho certeza que é uma coisa boa, ele nunca nem sequer convidou o Vinny pra nada lá, essa é a primeira vez, é claro que ele quer fazer algo mais especial, pra sei lá, estreitar os laços... – Lia explica calmamente e despreocupada, então concordo com ela deixando esse extinto de proteção no cantinho dele – Você vai com ele né? – ela pergunta já sabendo a reposta.
— Vou me arrumar!
— Seja legal com o velho ein – ela avisa sabendo que eu não me simpatizo com ele, faço uma careta – Temos que ver o que fazer amanhã! – marcamos de ajeitar tudo a noite quando ela voltar pra casa e então deixo ela terminando de se arrumar, volto pro quarto e começo minha própria arrumação.
Coloco o vestido verde que ele pediu, ele é desses estilo menininha romântica, minha mãe que me deu de presente mesmo sabendo que não gosto muito desse estilo, ele tem alças finas é aberto nas costas, todo colorido por borboletas, é de um tecido suave, tem um elástico logo abaixo dos seios e um pequeno babado no final que é na altura das minhas coxas, a maquiagem não é muito pesada, coloquei um batom rosa claro, passei um pouco de bush, dei uma escondida em uma leve olheira que ameaçava aparecer, sequei os cabelos decentemente deixando as ondas bem arrumadas, coloquei o mesmo cordão que ele, um par de brincos pequenos, puxei a bolsa marrom pequena só pra colocar meu celular e carteira, calcei uma rasteira gladiadora marrom e sai do quarto, ele está revirando o sofá atrás de alguma coisa que eu já tenho certeza do que é.
— Na travessa do lado da porta – ele se vira pra mim e me analisa um pouco.
— Esse é o melhor que você pode fazer? – fala com uma cara de decepção.
— Você é um mal agradecido sabia? – ele ri e se aproxima de mim mantendo a mesma expressão – E eu não vou a lugar nenhum! – ele ri ainda mais, e passa o braço pela minha cintura.
— Relaxa, você até que tá... engraçadinha – eu lhe dou um tapa que estala, ele reclama e esfrega o braço onde eu o acertei.
— Gostosa e brava? Essas são as melhores – ele faz uma cara ridícula tentando parecer sexy, enquanto morde o lábio, mesmo querendo parecer irritada acabo rindo.
— Perdoado pelo gostosa, mas  perdeu pontos no brava... – aviso e ando na frente, pego as chaves da travessa onde eu disse que estavam e jogo pra ele que pega ainda no ar.
Saímos do apartamento e encontramos uma equipe consertando o elevador, xingo assim mesmo e descemos pela escada, dessa vez até a garagem no sub solo enquanto Vinny conta sobre como as escadas podem ser usadas para assassinatos, aparecimento de fantasma e mais qualquer coisa que ele saiba que eu tenho medo, ameaço que se ele não parar eu deixo ele ir sozinho mas como ele sabe que eu jamais faria isso, as histórias continuam até estarmos dentro do carro, então ele liga o radio e a voz de Charlie Brown Jr, invade o carro e ele está imediatamente perdoado. Chegamos em frente ao condomínio com cerca de vinte minutos de viagem, eu já vim aqui antes na casa de uns amigos dos meus pais, é um dos lugares mais desejados pra se morar, um condomínio fechado vigiado 24hs por dia, cercado por um muro alto e coberto de plantas e flores, o portão largo é divido pela entrada e saída e no meio uma cabine com segurança que rapidamente aparece, ele se aproxima do carro e Vinny abaixa o vidro, ele diz o nome do pai, o homem confere em um papel numa prancheta, nos libera a passagem e ensina o caminho, as ruas de pedras coloniais seguem sendo enfeitadas por flores e jardins impecáveis, as casas são lindas, impecavelmente pintadas, todas de dois andares, em tons claros, algumas pessoas estão andando pelo lugar, crianças andam de bicicleta em um espaço próprio pra isso, até o céu aqui parece mais azul e a grama mais verde.
— Acho que vou investir nessa área também – falo olhando todo o luxo ao redor – O que ele faz mesmo? – Vinny ri.
— Ele conseguiu fazer um curso que sempre quis fazer, aquele que ele ficava juntando todo nosso dinheiro pra conseguir, que fez minha mãe abrir mão das coisas que ela realmente queria pra ‘’pensar no nosso futuro’’ – ele fala com ironia e rancor, então respira fundo – Agora ele basicamente é um dos chefões de uma empresa de imóveis, essas coisas...O salário é ótimo e ele trabalha pouco...
— Acabou de resumir o que quero pra minha vida – falo pra quebrar esse clima, ele ri.
— Mas ele também deu sorte com algumas aplicações na bolsa
— Não sabia que vocês conversavam tanto sobre negócios – ele me olha daquele jeito de quem vai revelar um segredo.
— Eu posso ter andado pesquisando sobre ele durante esse tempo – ele desvia o olhar do meu e isso só confirma o que eu já sabia, ele sente sim falta do pai e mesmo com toda magoa ele ainda se preocupa e se importa, mais uma vez sinto meu coração apertar e a sensação só aumenta quando paramos em frente a casa número 33, ela é rosa claro com beiradas em branco, dois carros estão estacionados, os dois são lindos, um branco e um preto, a grama muito bem aparada dão aquele ar de perfeição, Vinny desce do carro e eu também, um caminho de pedras nos guia até a porta, ele toca a campainha e em menos de um minuto o pai dele está abrindo, ele abre um sorriso que parece realmente sincero quando nos vê, ele é alto, assim como Vinny, tem o cabelo preto liso que está perfeitamente penteado para trás, os olhos são iguais aos do Vinny, azuis absolutos, a barba está perfeitamente bem aparada, ele está com uma camisa social branca dobrada até o cotovelo, calça social preta e sapatos.
Quem fica vestido assim em casa? – pergunto pra mim mesma tentando prender um riso, ele abraça o Vinny e diz o quanto está feliz por ele ter aceitado o convite, então ele me olha ainda sorrindo.
— Cada vez mais linda – eu tento sorrir simpática, ele também me abraça e quando olho pro Vinny por cima do ombro dele, ele está rindo, reviro os olhos e então o abraço acaba – Vamos, entrem! Fiquem a vontade – ele segura a porta pra que possamos entrar, o lado de dentro é tão lindo quanto o lado de fora, todos os móveis parecem ter sido acabados de comprar, ele nos guia até uma sala que tem um sofá branco de couro, duas poltronas também brancas, uma TV grande, uma mesa de centro toda em vidro, ele senta na poltrona e nos deixa escolher o lugar, me sento ao lado do Vinny no sofá branco.
— Linda casa – falo quebrando o silêncio.
— Obrigado – ele sorri e então uma mulher com um uniforme branco e rosa aparece, ela usa até aquele avental bordado de rosa, ela para ao lado da poltrona dele com uma formalidade de filmes de época, olho pro Vinny e ele está me olhando tão espantado e ao mesmo tempo divertido quanto eu – Vocês querem beber alguma coisa? – ele pergunta e enquanto tento segurar o riso Vinny finge limpar a garganta.
— Hm, eu aceito uma agua – ele me olha esperando eu dizer, mas se eu abrir a boca vou começar a rir – Ela também, acho que é o calor – ele fala passando a mão pelo meu cabelo enquanto tento não rir, abaixo a cabeça concordando.
— Então vocês dois... – o pai dele começa a falar meio sem jeito, imediatamente olho pra ele, seu olhar esta indo de mim para o Vinny e eu já sei o que ele quer dizer antes que termine a frase.
— A gente vai se casar – Vinny fala e mexe no meu cabelo de novo, eu sorrio o máximo que consigo e ele coloca a mão no meu joelho.
— Ah que noticia maravilhosa. Na verdade eu sempre soube! Vocês dois... desde pequenos... Quantos anos vocês tinham mesmo? Cinco, seis? – ele parece tentar se lembrar – Sempre soube que não era só amizade – ele fala e então sem conseguir mais segurar Vinny e eu começamos a rir, ele nos olha confuso, e nós rimos ainda mais.
— Nós somos só amigos – Vinny fala rindo.
— Eu pensei que... – ele parece confuso.
— É eu sei o que você pensou, todo mundo pensa isso... – ele me olha passando o braço pelos meus ombros e beija minha bochecha.
— Bom... Desculpem-me, é que... Olhando vocês assim, eu... Enfim... A amizade de vocês é muito bonita – o pai dele fala um pouco sem graça, então a mulher volta com dois copos de agua em uma bandeja que deve ser de prata, já que nada mais me surpreende, nós pegamos a agua e ela se afasta – E como vai a faculdade? – Vinny dá de ombros.
— Tá indo! – o pai parece respirar fundo.
— Talvez você devesse rever um pouco sua profissão por que... – ele começa o mesmo discurso de sempre.
— Achei que a gente já tivesse conversado sobre isso – ele fala e o sinto ficar tenso imediatamente eu estranho por que mesmo sabendo que o pai não apoia a escolha da faculdade, ele já não se importa com isso e é só quando ouço o barulho dos saltos batendo no chão que olho na direção das escadas e entendo o que o deixou assim, ou melhor quem, a mulher desce as escadas como uma dessas cenas de filme, ela usa um vestido branco justo no corpo, com um cinto fino preto na cintura, os cabelos loiros tão brilhantes que quase iluminam o lugar, uma maquiagem no mínimo exagerada pra essa hora do dia, um salto preto de no mínimo uns 15 centímetros e joias, uma pulseira, um colar, e brincos nada sutis, ela pode não valer nada mas a desgraçada é linda, quase parece uma barbie, mas  pra minha alegria me convenço que ela está meio gordinha e mesmo que seja coisa da minha cabeça resolvo aceitar e me sinto bem melhor com isso, ela anda até o pai dele e coloca a mão no seu ombro, ele olha pra ela e seu sorriso idiota se abre, e é nesse momento que eu sei o quanto um homem pode ser burro e ingênuo, eles sempre se gabam de ter o poder, mas aqui na minha frente está a cena mais patética o mundo, com certeza ele é a única pessoa no mundo que não vê que ela está dando o golpe nele, não pela diferença de idade, mas por que não existe um único fio de sinceridade nela, o modo como ela sorri e anda e fala com ele, tudo parece minuciosamente ensaiado, Vinny me olha e sei que ele vê o mesmo que eu.
— Deixa eu apresentar vocês – o pai dele fala se levantando e segurando ela pela mão – Vinicius, essa é Flávia – ele fala com aquele sorriso babão, Vinny não se levanta, nem eu.
— Eu lembro dela! Foi como sua secretária que ela começou não foi? – ele pergunta com ironia, o pai fecha os olhos tentando se segurar.
— Mas acho que nunca fomos apresentados formalmente, afinal, agora eu sou sua madrasta, praticamente uma segunda mãe – e pronto, a bomba foi lançada, eu mal tenho tempo de segurar a mão dele num pedido de calma e ele se levanta.
— Você não é porra nenhuma pra mim – eu reconheço sua voz, ele está se segurando pra não explodir, me levanto em alerta e passo meu braço pelo dele e encaixo nossas mãos, ela olha pra nossas mãos entrelaçadas.
— Aah você trouxe a namoradinha? Vocês formam um casal lindo – ela fala com tanta ironia que quase vomito.
— Queria poder dizer o mesmo – eu falo com o sorriso mais deslumbrante que consigo, o olhar que ela me dá me diz que acabo de entrar pra sua lista negra, comemoro internamente, Vinny me olha e sorri com a minha resposta.
— Eu pedi pra servirem o almoço no jardim – o pai dele fala cortando esse clima, então nos guia pela casa, um corredor grande com varias fotos deles dois tiradas em diferentes lugares preenche o caminho, mostrando que enquanto o meu melhor amigo sofria e tentava se reerguer ele estava apenas viajando por aí, o odeio ainda mais, alcançamos os fundos da casa, um jardim de um lado e do outro uma piscina quase olímpica, ao longo do espaço grama verde e arvores bem cuidadas, ele nos mostra a mesa preparada em um local coberto e com uma vista muito bonita para o jardim, ele se senta na ponta da mesa, ela na outra, eu me sento mais próxima dela e Vinny do pai.
— Dr. Mauricio, o almoço será servido – a empregada aparece anunciando, reviro os olhos pra essa formalidade e então nossos pratos aparecem na nossa frente como em um restaurante, acho frescura mas não digo nada, começamos o almoço e as conversas são cuidadosas por parte do pai dele, provocativas por parte dessa insuportável mas até que Vinny se sai muito bem, algumas ironias e respostas sarcásticas mas ele é assim até comigo então é normal, a sobremesa é servida e eu já estava agradecendo  o sucesso do almoço quando essa bruxa abre a boca.
— Então, meu amor, por que você não conta logo a novidade pra ele, não aguento mais de ansiedade – ela pede e imediatamente sinto todo meu corpo em alerta, se ela está feliz e animada deve ser algo terrível pro Vinny, tento passar as opções na minha cabeça mas a pior delas ele já fez que foi trair a mãe dele, largar ela e se casar com uma garota com metade da sua idade e dar a ela uma vida infinitamente melhor do que ele tinha com o Vinny e a mãe dele, acho que nada consegue superar tudo isso, Vinny também me olha sabendo que é algo ruim, o pai dele como um eterno idiota se levanta e vai até a ela.
— Bom, eu chamei você aqui por que temos uma grande noticia e nós decidimos que você deveria ser o primeiro a saber  – quando ele começa com aquele sorriso orgulhoso, um mistério nos olhos e a maneira como ele olha pra ela, sinto meu estomago apertar, meu coração dispara e eu imploro dezenas de vezes pra estar errada. Ele não pode fazer isso. Ele não pode. Eu tenho que estar errada, eu PRECISO estar errada. Mas quando ela se levanta e ele toca a barriga dela eu quero morrer, quero que eles morram, quero que o mundo acabe exatamente nesse momento pra não ter que olhar nos olhos do Vinny e ver toda decepção, como se não tivesse sido claro o suficiente ele anuncia em alto e bom som – Nós estamos grávidos! – eu não sei o que dizer, o que fazer, só olho para aquela figura patética a minha frente, sorrindo como se essa fosse realmente a melhor noticia do mundo pra se dar pro filho dele.
— Você vai ter um irmãozinho – ela fala com aquele sorriso vitorioso, olho pro Vinny por que ele simplesmente não diz nada, nem ao menos se mexe e eu estava esperando ele gritar e quebrar tudo, ao invés disso ele se levanta, joga o lenço que estava sobre sua perna na mesa, vira as costas e sai, eu levo alguns segundos sentada sem saber o que fazer mas quando o pai dele avança pra ir atrás dele, eu me levanto, avanço e paro na frente dele o impedindo, ele me olha confuso.
— Eu quero falar com meu filho – eu acabo soltando uma risada nervosa e então como se eu fosse uma leoa protegendo meu filhote eu despejo tudo que eu sempre quis falar desde o momento que por culpa dele eu me afastei do Vinny.
— Você é patético! – assim que começo ele me olha surpreso – Meu Deus, como você é idiota, imbecil, babaca...
— Olha aqui garotinha... – a mulher fala andando na minha direção.
— Cala a merda dessa boca por que eu ainda não tô falando com você! – ela para de falar assustada e fica no lugar enquanto eu volto minha atenção pra ele – Você estragou tudo, de novo! Você estragou sua família, abriu mão de tudo por causa de uma golpista! Eu realmente não sei se eu fico impressionada ou assustada, por que esse tipo de burrice é completamente chocante...
— Olha aqui...
— Não, olha aqui você! Há anos atrás você deu nele o maior golpe que conseguiu, você traiu a mãe dele, destruiu qualquer imagem bonita que ele tinha de vocês dois, você esfregou na cara dele que toda a vida de vocês não significou nada pra você, você quase destruiu a mãe dele e eu te odiei por ter tirado de mim a chance de poder estar ao lado dele em todos os momentos. E agora quando você finalmente tem a chance de recomeçar a reconhecer seu filho você faz isso... Você por acaso, sabe que dia é amanhã? – ele me olha confuso – É aniversário dele e ele veio aqui achando que por algum milagre você pudesse se importar com ele a ponto de ter se lembrado, mas é claro que você não fez isso não é? – ele não responde e eu não dou tempo pra isso – Mas você quer saber quem realmente está perdendo? Você! Por que você nunca vai conseguir conhecer o cara incrível que ele se tornou, ele é a melhor pessoa que eu conheço, o cara mais amado por qualquer um que conviva com ele e você nunca vai ser essa pessoa, por que quando você teve que pensar no seu filho, você preferiu essa vida aqui... – abro os braços olhando ao redor – Espero que isso te satisfaça, que todo esse dinheiro, essa casa, os carros, essa aprendiz de biscate, espero realmente que isso te preencha, por que agora eu tô do lado dele! Você veio até a mim pedindo ajuda pra se reaproximar dele e agora eu tô aqui na sua frente te garantindo com todas as forças que você NUNCA MAIS vai ter a chance de machucar ele! NUNCA MAIS – desvio meu olhar dele pra ela que está no mesmo lugar de antes – Parabéns, seu golpe foi fantástico – bato palmas e ela abre um sorriso superior, eu viro as costas e saio.
— Daniela! Daniela – corro até a porta principal, ele não vem atrás de mim, vejo o carro do Vinny ainda parado no mesmo lugar, olho ao redor e não o encontro, pego meu celular do bolso e ligo pra ele, chama, chama e ninguém atende, ele não iria me deixar sozinha aqui, ele sabe que eu não dirijo desde o dia do acidente então ele tem que estar por perto, começo a andar pelo condomínio, algumas crianças estão brincando, pessoas estão chegando em carros importados, algumas me lançam um sorriso educado enquanto continuo andando até que depois de quase vinte minutos vejo ele sentado em uma parte mais alta, quase como um morro, praticamente no final do condomínio, ele está encostado em uma arvore, a alguns metros tem umas crianças brincando com dois cachorros, ele não me vê, subo o pequeno morro e quando estou a dois passos ele me olha, sem falar nada ele chega pro lado e me deixa sentar na sombra da arvore, passo meu braço pelo braço dele e deito minha cabeça no seu ombro, ele segura minha mão entrelaçando nossos dedos e olhando com atenção, eu beijo seu ombro onde minha cabeça estava apoiada e olho pra ele.
— Você esculachou o velho né? – ele pergunta, eu dou de ombros.
— Não sei do que você tá falando – ele beija minha mão.
— Uma vez eu vim com ele aqui, nesse mesmo condomínio, acho que eu tinha uns 8 ou 9 anos...
— 9! Eu lembro, você disse que era uma ‘’festa só pra homens’’ e ficou se gabando disso a semana inteira – falo imitando ele, nós rimos.
— Isso mesmo, era um churrasco com alguém importante da empresa que ele trabalhava antes... enfim... eu lembro que nunca tinha ido em um lugar tão lindo antes, tão grande, tão chique e assim que saímos do churrasco, demos uma volta e paramos bem aqui! – ele fala e olha ao longe – Eu fiquei impressionado com o tamanho desse lugar, então ele me olhou e disse que um dia uma dessas casas iria ser nossa, que um dia um desses jardins e piscinas gigantes iam ser nossos... Meu, dele e da minha mãe! – ele pausa, respira fundo e solta uma risada cansada – E eu acreditei!
— Não pensa nisso agora – eu passo meus dedos pelo braço dele.
— Ele jogou tudo fora, tudo! Tudo que minha mãe sempre fez por ele, tudo que nós abrimos mão pra ele alcançar o que queria e quando as coisas ficaram boas pra ele, ele simplesmente chutou a gente! E ele estava certo quando disse que ainda ia morar aqui, ele conseguiu! – ele cerra os dentes e os punhos – Eu não quero nada dele! Nada, não quero o dinheiro, não quero ajuda, não quero olhar pra ele... – eu me viro ficando ajoelhada na frente dele.
— Ei, que isso? Esse não é o Vinicius que eu conheço! Você não quer nada? – pergunto encarando e ele desvia o olhar então seguro o rosto dele – Olha isso aqui, tá vendo? – aponto para as casas e todo o condomínio – Isso é seu também, não foi você mesmo que disse que vocês abriram mão de coisas por isso? Então, você quer sim! Você quer tudo que você tem direito, e se não quiser eu vou fazer você querer! Seu pai é um babaca? É, é claro que ele é! Ele foi um imbecil quando trocou sua mãe por essa... Barbie falsificada? Foi, é claro que foi! Mas, olha pra sua mãe, eu nunca vi ela tão feliz antes, ela conseguiu se levantar, encontrou alguém que ama e valoriza ela, eles estão bem e só vão melhorar... Agora olha pra você. Olha quem você conseguiu ser sem ter ele por perto... Você é o melhor amigo que eu podia querer, você é a pessoa mais importante da minha vida, você é engraçado, inteligente, tem o maior coração do mundo, tem amigos de verdade, pessoas que te amam, está seguindo seu sonho, acabou de ser aceito em uma banda que eu tenho certeza que vai fazer muito sucesso e tem uma vida inteira ainda pela frente... Sinceramente, acho que vocês se livraram dele! – ele me olha parecendo mais tranquilo – Mas isso não quer dizer que você tem que abrir mão do que é seu! Claro que não, ele fez vocês passarem por muita coisa, e não deu uma ajuda sequer na época, agora é hora de cobrar com juros e correção monetária, ele quer jogar dinheiro fora? Então que pelo menos seja com o filho e a melhor amiga dele e não com uma manequim siliconada, por que ela sim vai torrar todo dinheiro dele, então, meu amor, você vai levantar a bunda desse chão, vai voltar lá de cabeça erguida e conseguir aquela guitarra que até hoje você não conseguiu comprar... – ele me olha com um sorriso divertido – Você tá numa banda agora, quem sabe eu até peça uma pra mim também – ele ri, uma risada sincera e divertida, então me puxa pra um abraço apertado, enquanto rimos.
— Ele nem se lembrou que amanhã é meu aniversário – ele fala com a voz baixa e pensativa.
— E pra que você precisa que ele se lembre? O que nós precisamos é apenas de um cheque bem gordo e quem sabe trabalhar na ideia de um cartão de crédito sem limites? Isso me agrada bastante – falo levantando a sobrancelha e ele ri.
— Garota, eu te amo sabia? – ele segura meu rosto com as duas mãos.
— E por que você não me amaria? – pergunto fingindo confusão, nós rimos e alcançamos a casa de numero 33, dessa vez sou eu quem toco a campainha, leva um pouco mais de um minuto e novamente é ele quem abre a porta, eu o encaro friamente e ele não parece saber o que dizer.
— Meu filho, eu... a gente precisa conversar – ele pede e eu entro no meio deles.
— Nós só voltamos aqui por que eu disse pra ele que na confusão você esqueceu de dar a ele aquele negócio... – falo com a sobrancelha erguida, ele me olha confuso como se não entendesse nada e realmente não deve estar – Sobre amanhã... o presente... que você não conseguiu comprar mas que separou algo pra compensar – ele finge ter se lembrado.
— Ah claro... Eu estava procurando por alguma coisa que você fosse gostar, mas... Você sabe como é, hoje em dia vocês tem tantas opções que até nos confundem – ele fala nervoso mas tentando parecer normal, seguro minha risada – Só um minuto, que eu deixei no escritório, entrem – nós entramos, ele nos deixa na ante-sala e corre por um outro corredor, Vinny me olha rindo.
— Você é do mal Daniela Freitas! – eu faço um sorriso vitorioso.
— Você ainda não viu nada – ele ri mas ainda o sinto tenso, olho ao redor e fotos do pai com a tal garota estão em portas retratos em um criado mudo.
— Com a gente ele não ia nem na cidade vizinha – ele fala com uma risada triste.
— Ok, acrescentando uma viagem – ele me olha confuso mas antes que pergunte o pai dele  volta trazendo um pedaço de papel nas mãos.
— Eu espero que você encontre algo que realmente goste, eu... Eu realmente não soube o que comprar – ele mente e eu tenho vontade de dar um soco nele mas foco em outra coisa.
— Fala... – eu indico pro Vinny e ele me olha sem entender – Fala, o que você queria falar – insisto e ele apenas nega sem saber o que dizer.
— Pode falar meu filho, se você tiver precisando de alguma coisa, qualquer coisa, eu sou seu pai! Agora que eu posso, eu quero te ajudar, esses anos que nós nos afastamos e eu não pude estar tão presente eu realmente quero recompensar você. Eu... Eu amo você! Você é meu filho – ele fala como se tudo não tivesse passado de um incidente e não com o fato dele ter abandonado o Vinny e a mãe, e eu tenho que me controlar de novo, Vinny está a ponto de ou socar a cara dele ou sair de novo, então me apresso.
— É, engraçado, demorou 7 anos pra você perceber isso né? – jogo a ironia e ele parece não saber o que dizer – Não importa! O que importa é que nós estamos passando por uns problemas... – ele olha pro Vinny preocupado.
— O que aconteceu?
— É que o aluguel do apartamento vai ficar mais caro, ainda mais agora que a nossa amiga vai casar e nós teremos que dividir tudo em dois ao invés de três... E com todas as outras contas e tudo mais, vai ficar complicado.
— Não se preocupem, eu cuido disso – ele fala rapidamente.
— A ultima coisa que eu queria era te pedir alguma coisa, por mim nós nunca mais olhávamos na sua cara mas infelizmente você é o que sobrou, eu sei que o Vinny não quer você pra nada e ele está certo mas, acho que não temos muita opção – falo no meu mais perfeito papel, Vinny apenas nos observa.
— Eu resolvo! – ele garante parecendo envergonhado.
— Só tem um problema! Eles querem o dinheiro até amanhã por que precisam consertar o elevador- ele imediatamente tira do bolso da calça o talão de cheques e uma caneta, ele abre e olha pro Vinny.
— De quanto vocês precisam? – ele pergunta começando a assinar o papel.
— Eu não quero nada de você – Vinny fala sério, eu o lanço um olhar pra se acalmar e me viro pro pai dele.
— Eu quero deixar claro que nós vamos pagar assim que pudermos, não vamos ficar te devendo nada – ele me olha ofendido.
— Vocês não tem que me pagar nada, isso não é uma divida! – ele garante e abaixa o olhar terminando de preencher o cheque. Ele realmente acreditou que eu iria pagar algo a ele? Ele realmente é meio maluco – Eu me recuso a receber um centavo de volta... Espero que isso ajude vocês – ele destaca e me entrega, eu dobro sem olhar, então ele vai até o Vinny – Eu sei que tenho feito todas as coisas erradas, mas eu te amo! Você é meu filho, eu sempre vou te amar, tudo que é meu, é seu também, eu quero poder fazer parte da sua vida e não precisa pensar duas vezes quando precisar de alguma coisa – ele coloca a mão no ombro dele, Vinny recua.
— A gente tem que ir! – Vinny fala me chamando e seu olhar vai pro corredor onde Flávia vem andando com aquele sorriso vencedor, dessa vez eu lhe devolvo o sorriso e enquanto o pai dele abre a porta eu balanço o cheque pra ela mostrando o sorriso mais triunfante que consigo e antes de me virar ainda vejo o olhar furioso dela, saio da casa sorrindo de verdade, andamos até o carro sobre o olhar do pai dele, só quando Vinny liga o motor que ele nos acena um adeus, nós não retribuimos e ele fecha a porta.
— Eu não acredito que você fez isso – ele fala realmente surpreso, eu sorrio.
— Eu disse que aquelas aulas de teatro iam valer a pena – ele ri e esse é o melhor pagamento, por que depois desse desastre ele podia estar mal, mas não, ele está rindo então que se dane todo o resto – Agora deixa eu ver, quanto ele te deu?
— WOOOOW – grito animada e ele ri curioso.
— Quanto? – eu viro o cheque pra ele e ele ri.
— 3 MIL REAIS – grito de dentro do carro, então começo a desdobrar o outro cheque que ele me deu e quase tenho um ataque do coração – Ai meu Deus! – falo sem acreditar, então viro o cheque pra ele, 5.000,00.
— A gente não vai aceitar isso! – ele fala e eu o olho séria.
— HÁ, nós já aceitamos!  - ele já ia rebater quando continuo – Você prefere esses cinco mil com a gente ou com a aprendiz de perua, por que eu te garanto que ela vai pegar isso e muito mais! – ele aperta as mãos no volante e solta o ar.
— Que se dane! A gente fica com o dinheiro – comemoro e ele também acaba rindo, então desvia do nosso caminho, eu o olho confusa.
— Eu quero minha guitarra – ele fala como se fosse óbvio, então uma hora depois estamos saindo da loja de instrumentos do Centro com a guitarra preta mais linda que eu já vi na vida, pra completar o valor ele ainda comprou um violão novo e palhetas novas – Acho que ele pode até arranjar mais um filho ou dois – ele fala rindo e eu acabo rindo também, é assim que eu gosto de ver ele, alegre, brincalhão, e me sinto um pouco orgulhosa de ter algo a ver com isso.
Chegamos no apartamento e ele vai com todo cuidado guardar os novos amores dele, eu vou pro meu quarto, me livro do vestido, coloco um short curto e um top que uso quando vou malhar mas estou com preguiça de pegar uma camiseta, volto pra sala e me jogo no sofá, vejo que tem duas mensagens na secretária eletrônica e aperto pra ouvir.
“Dani, é a mamãe... E o papai— ouço a voz dele ao fundo gritando e acabo rindo – Só ligamos pra avisar que estamos bem e que estamos com muita saudade... Mesmo você não ligando pra gente — papai grita ao fundo de novo – Cala a boca! – ela exige e ele fala algo que não entendo – Espero que esteja se alimentando direito e que o Vinny esteja cuidando de você como prometeu – olho pro lado e ele também está ouvindo e faz sinal de continência – Manda um beijo pra ele, pro Bruno e pra Lia, amamos vocês – ela fala e encerra a mensagem.
— Eles não deviam estar mergulhando nas praias havaianas? – Vinny pergunta rindo,  eles estão em férias/lua de mel no Havaí.
“Vinicius, é a mamãe, eu preciso muito falar com você, me liga assim que ouvir a mensagem”
Ele se alerta e pega o telefone preocupado, disca o numero e me olha enquanto espera ansioso, tento lhe passar confiança e torço pra não ser nada ruim.
— Mãe? – ele fala aliviado em ouvir a voz dela – O que houve? Aconteceu alguma coisa? – ele se senta do meu lado mas parece mais calmo conforme ela fala alguma coisa do outro lado da linha – Sério? – ele pergunta meio contrariado e por mais que ele pareça não gostar sei que não é nada grave – Fala sério mãe, nada a ver! – ele revira os olhos – Por que aqui?... Bom, não é um problema meu – ele fala dando de ombros, então a campainha toca e tenho que correr pra atender, pergunto quem é, já que o Vinny fez o favor de quebrar nosso olho magico.
— Restaurante japonês! – já havia me esquecido que pedimos comida no caminho pra casa, abro a porta e encontro o cara do metrô de ontem, sou uma boa fisionomista e dificilmente me esqueço de um rosto mesmo que só o tenha visto uma vez.
— A garota feliz do metrô lotado – ele fala também se lembrando de mim.
— Geralmente me chamam só de Dani, mas é, acho que sou eu – ele ri e me entrega as  duas bandejas, eu entro e coloco sobre o balcão da cozinha enquanto ele espera na porta, volto com a carteira, olho a notinha e dou o dinheiro e um pouco a mais, quando ele ameaça pegar o troco eu nego – Vai pra caixinha – eu falo e pisco um dos olhos.
— Além de bonita é generosa – ele brinca rindo e então para de rir, levo um segundo até entender.
— É o que eu sempre digo pra ela – olho pra trás e vejo Vinny, ele está sem camisa, só com um short preto e olha pro cara sério.
— Bom jantar – o cara fala e mesmo assim me dá um sorriso meio divertido.
— Meio abusado – Vinny fala quando fecho a porta.
— Quê? O cara nem falou direito...
— É, mas mesmo me vendo aqui ainda ficou cheio de sorriso pra você. Eu podia ser seu namorado!
— Que nojo! Eu ainda vou jantar – eu finjo ânsia de vômito e ele me mostra o dedo do meio, eu rio e vou pra cozinha.
— Próxima vez eu mostro pra ele quem que manda...
— Você é ridículo.
— Duvido ele vim entregar aqui de novo.
— Awn, que garoto malvado – aperto sua bochecha e ele ri – Mas se prepara que a briga vai ficar feia, ele é meio fortinho...
— Você ficou olhando pro corpo do cara? – eu reviro os olhos e me recuso a responder – Cerveja ou vinho? – eu o encaro com a sobrancelha erguida, ele ri e levanta o engradado de seis cervejas, eu levo as bandejas pro sofá e ele me segue trazendo as garrafas.
— O que sua mãe queria? – pergunto quando já estamos confortáveis no sofá, ele revira os olhos parecendo meio insatisfeito.
— Não tem o filho do namorado dela?
— O mauricinho que estuda em Londres?
— Estudava, ele voltou pro Brasil desde o começo do ano.
— E?
— E ele quer passar um tempo aqui na cidade e minha mãe quer que ele fique com a gente – dessa vez eu também sou pega de surpresa.
— O que ele vem fazer aqui? E por que ele tem que ficar com a gente?
— Sei lá, ele é um desses filhinhos de mamãe... A família da mãe dele é rica, o avô faz tudo que ele quer.
— Se ele é rico então não precisa dividir o apartamento – concluo sem me importar em parecer egoísta.
— Foi o que eu disse, mas ela disse que ele não conhece ninguém na cidade e tá passando por um momento difícil, sei lá, acho que ele levou um pé na bunda de alguma estrangeira, resolveu espairecer e ela acha que é uma boa pra gente se aproximar... Eu não sei nada dele – ele fala obviamente detestando a ideia.
— É, parece que o destino quer mesmo que você tenha um irmãozinho – ele me olha e ri, sempre que temos um assunto muito sério essa é sempre a melhor saída – Quando ele viria? – pergunto ainda sem me animar muito.
— Semana que vem – então ele liga a TV e deixamos o assunto de lado, escolhemos um filme de ação e brigamos por que eu disse que ele pegou da minha bandeja e ele diz que não, o filme já estava no final quando Lia chega.
— Adivinha o que...
— Xiiiiiiiii – fazemos os dois ao mesmo tempo e ela faz beicinho, nós rimos mas continuamos acompanhando o fim do filme, só quando as letras sobem que ela sabe que é seguro.
— Eu não acredito que vocês não guardaram nada pra mim – ela reclama segurando a bandeja vazia.
— Ah fala sério, você foi comer a lasanha da Tia Déia e quer reclamar? – Vinny fala e ela faz uma careta.
— Eu tinha trago pudim pra vocês mas... – antes que ela termine Vinny e eu estamos empurrando um ao outro pra ver quem alcança a cozinha primeiro, ele vence, mas chego um passo atrás, quando ele já esta abrindo o pote, eu pego as duas colheres.
— Vocês deviam ler aquele livro de boa maneiras – ela fala e já estamos devorando o pedaço do pudim – E aí como foi o almoço? – ela pergunta e nós rimos.
— Tá, você quer saber a parte que a casa dele é tipo a casa da Barbie ou a parte que o Vinny vai ter um irmãozinho? – Lia quase engasga.
— Ele não é meu irmão! – Vinny fala dando de ombro.
— Ah não, irmão é o que tá vindo pra cá, dividir o apartamento com a gente!
— O que? Gente, calma aí! Eu saio pra um almoço e vocês conseguem fazer toda essa confusão? Anda, contem tudo desde o inicio – nós começamos a contar a história toda pra ela e sendo a Lia ela não consegue apenas calar a boca e escutar, ela tem que fazer perguntas a cada frase que contamos o que faz toda história demorar mais tempo do que o normal, mas conseguimos atualizar ela de tudo.
— Ok, primeiro, seu pai é um babaca, segundo, eu quero minha parte no dinheiro já que eu que convenci você a fazer as aulas de teatro – eu faço uma careta – terceiro, eu mal saio do apartamento e vocês já colocam um substituto? – ela finge magoa, Vinny vai até ela e abraça por trás.
— Ninguém nunca vai te substituir – ele beija a bochecha dela – E eu dou o cheque inteiro pra você se vocês vierem morar aqui – ela ri.
— Muito fofo da sua parte, mas nós já temos a casa, lembra? – nós dois fazemos uma cara triste – Tá, mas então quando é que o tal irmão postiço vem? – Vinny revira os olhos.
— Acho que na semana que vem, mas ainda não disse sim – ele fala e Lia ri apertando as bochechas dele.
— E desde quando você consegue dizer não pra alguém? – ele faz uma careta mostrando a língua e se desgruda dela se jogando no sofá – Como ele tá? – ela pergunta quase sussurrado, eu olho pra ele jogado no sofá.
— Vai ficar bem – garanto e ela se aproxima mais de mim.
— E amanhã, o que vamos fazer? – ela pergunta ansiosa, então deixamos ele vendo filme na sala e corremos pro quarto dela, como eu já estava com tudo meio pensado, nós só colocamos em prática e mandamos mensagem pra todo mundo, o pessoal da faculdade, da academia, só não conseguimos o numero do pessoal da banda, marcamos tudo e então ele aparece na porta do quarto dela.
— Posso saber por que eu tô sozinho na sala num apartamento que tem duas mulheres que deveriam estar a minha disposição?
— Por que todas as duas são vacinadas contra você – ele leva a mão ao coração fingindo dor, então entra e se joga na cama no nosso meio.
— Sabe qual filme vai passar daqui a pouco? – ele pergunta olhando pra mim e depois pra Lia nós esperamos ele dizer – Anabelle!
— Ah nem vem! Eu não vou ver isso – eu aviso e eles dois riem me fazendo cocegas até eu aceitar, Lia vai fazer brigadeiro e como meu quarto é o único que tem TV todos nos acomodamos na minha cama e mesmo eu alertando mais de cem vezes assim que Vinny pega a colher de chocolate ele suja meu travesseiro.
— Na moral, você vai lavar – eu reclamo e ele faz careta, apagamos as luzes e quando o filme começa eu me enfio no meio deles dois e debaixo do meu edredom.
Quando acordo Vinny está com o braço quase no meu rosto, Lia com a cabeça na minha barriga e quase preciso fazer ginastica pra acordar ela sem acordar ele, quando ela abre os olhos faço sinal de silencio e aponto pra ele, ela desperta imediatamente e então quando eu conto até três nós pulamos na cama, gritando e cantando parabéns, ele coloca o travesseiro na cara mas ri, pulamos em cima dele, fazemos cocégas e cantamos mais uma vez, então depois de toda comemoração matinal e quando ele vê o sol, decide que temos que ir pra cachoeira e como nossa cidade tem as cachoeiras mais lindas de toda a região, ninguém reclama. Passamos o dia por lá, tiramos fotos, comemos nossos biscoitos comprado as pressas no mercado, pegamos sol e ouvimos Lia reclamar na hora de ir embora por não ter um espelho decente pra se olhar, chegamos no apartamento e Vinny diz que quer malhar por que já não vai a dois dias e invés de reclamar nós trocamos de roupa e vamos com ele, quando chegamos lá todos já estão pela recepção esperando ele com o bolo, mesmo que eu desconfie que ele já sabia ainda assim me sinto orgulhosa vendo o sorriso dele, a festinha foi muito boa, eu e Lia encerramos a noite mas ele ainda sai com um pessoal da academia. Quando acordo no dia seguinte e vou até a cozinha pegar um copo de agua encontro ele se despedindo de uma morena na porta do apartamento, ele não se intimida comigo e dá um beijo no mínimo pornográfico nela, então fecha a porta e se espreguiça, puxo o pote colorido de cima da geladeira e estico pra ele, ele faz uma careta mas pega a carteira que estava na mesinha e tira cinco reais, essa é a nossa caixinha do castigo, se você desrespeita uma das regras precisa colocar dinheiro nela, e uma das regras diz que todos os membros do apartamento devem ser avisados no mínimo uma hora antes caso você leve alguém pra passar a noite e ele geralmente esquece.
— Acho que já temos o dinheiro pra trocar as cortinas da sala – eu falo já enchendo meu copo com agua.
— Vocês trocaram mês passado! E eu gosto dessas – ele fala e aponta pra cortina.
— Então talvez eu compre um tapete novo – dou de ombros e ele faz uma careta voltando pro quarto, como acordei cedo aproveito pra adiantar minhas tarefas, junto minhas roupas e vou pra lavanderia, depois de algum tempo Lia se junta a mim e passamos a manhã arrumando a casa e as bagunças nos nossos quartos e como num piscar de olhos o domingo acaba.
A segunda feira começa agitada e eu acabo pegando carona com o Vinny pra não chegar atrasada no escritório, consigo não me atrasar e já começo trabalhando desde o primeiro segundo, acabo abrindo mão do horário de almoço e como uma barra de cereal, Dr. Leones, meu patrão, briga comigo dizendo que eu deveria almoçar, mas como ainda tenho algumas cópias e documentos pra preparar eu mantenho a barra de cereal e adianto tudo que consigo, já estava quase no fim do dia quando me assusto com o novo cliente que aparece, Seu Mauricio pai do Vinny entra no escritório e força um sorriso meio sem jeito quando me vê.
— Oi! – ele fala e eu forço um sorriso pra ele.
— Pois não?
— Eu tenho um horário com o Dr. Leones – ele fala e eu abro a agenda mas já estranhando por que não lembro de ter marcado nada pra ele – Eu falei direto com ele, é um assunto pessoal – ele fala e eu tento não parecer muito surpresa, pego o telefone e disco pra sala dele, aviso sobre o ‘’Dr. Maurício”  e ele autoriza a entrada, me levanto e abro a porta pra ele.
Durante os 40 minutos que eles ficam lá dentro eu tento imaginar do que pode se tratar, claro que advogados sempre são importantes ainda mais pra alguém com tanto dinheiro quanto ele tem agora, só não entendo por que essa procura repentina, mas ao mesmo tempo que tudo passa pela minha cabeça, não tenho nenhuma ideia decente e então ele sai de lá, ele se aproxima da minha mesa.
— Como ele está? – ele pergunta um pouco sem jeito.
— Está ótimo, ele adorou que você tenha ligado no dia do aniversário dele... se bem que, aaah é, o senhor não ligou – falo com ironia e lhe dou um olhar sério.
— Eu achei que não fosse uma boa ideia – ele fala confuso.
— Claro que não, a ideia boa é sempre não falar nada! Perdão, o senhor está certo – ele abaixa a cabeça e eu me levanto da minha mesa – Com licença – saio e o deixo lá parado sem saber o que dizer, então depois de bater na porta entro na sala do Dr. Leones, eu entrego os documentos que passei o dia organizando, repasso a agenda dele de amanhã e ele me dispensa pra ir pra casa, durante todo o caminho tento desvendar o que o pai do Vinny pode ter ido fazer lá, decido contar pro Vinny, mas quando chego em casa e vejo ele animado por que se deu bem em uma prova, decido esquecer o assunto e não comento nada.
Na sexta a mãe do Vinny liga e avisa que o ‘’irmão’’ dele chega no domingo, ele avisa que ele vai dormir na sala e mesmo assim ela não desiste da ideia e pede pra ele não maltratar o garoto, também pede pra falar comigo e me faz prometer que vou ficar de olho nele pra ele não pegar no pé do garoto, reviro os olhos mas concordo. Passo o fim de semana com a Lia vendo algumas coisas pro casamento, ela experimenta o vestido e está ficando perfeito, também experimento o meu e fico tão ansiosa quanto ela. No domingo de manhã decidimos ir os três pro aeroporto buscar o tal ‘’irmão postiço’’, vamos para a área de desembarque e ficamos esperando, Lia estava me mostrando as fotos que o Bruno mandou pra ela do congresso que acaba hoje quando Vinny, que é único que sabe como o garoto é, se levanta e nos aponta pra alguém do meio de todas pessoas que saem ao mesmo tempo.
— Chegou – eu olho procurando entre as pessoas.
— Ai...meu...Deus! – Lia fala pausadamente – Não me diz que é aquele de xadrez amarelo – ela pede sem desgrudar os olhos de alguém a frente, eu encontro o dono da camisa xadrez amarela, ele anda nossa direção com uma mochila grandes dessas de viajantes nas costas, e eu preciso concordar com a Lia. AI...MEU...DEUS!
O cara é alto, pele bronzeada como se tivesse chegado de uma semana na praia, cabelos pretos bagunçados, óculos escuro, uma barba bem aparada e desenhada, forte e com um sorriso meio desconcertante.
— Fala sério, isso é algum teste de fidelidade que o Bruno te pediu pra fazer? – ela pergunta e me olha, Vinny revira os olhos.
— Se controla – Vinny fala e então ele nos alcança com os braços abertos pro Vinny.
— Meu irmãozinho – ele fala e nem se o Vinny tentasse conseguiria escapar, ele o abraça e passa a mão pelo cabelo dele o despenteando e ele já começou errado, as únicas pessoas que podem fazer isso somos eu e Lia, Vinny sai do abraço dele e passa a mão pelo cabelo.
— Essa é a Lia e a Dani, elas moram lá no apartamento – Vinny avisa e ele abre um sorriso ainda maior, então tira os óculos revelando olhos tão escuros que parecem um buraco negro.
— Agora entendi por que você não quer sair daqui – ele fala e se vira pra Lia.
— Essa é casada – Vinny avisa tentando parece brincalhão mas eu o conheço e ele está incomodado, o “irmão” faz uma cara triste e então cumprimenta Lia com um beijo rápido na bochecha.
— Ele tem sorte – ele fala e sorri – Eu sou o Rafael – ele fala e aperta a mão dela, ela sorri meio afetada com a beleza dele, então ele se vira pra mim, por um minuto ele apenas me encara olhando fundos nos meus olhos e eu não desvio meu olhar, então ele sorri como se aprovasse, ele se inclina e beija minha bochecha – Não me diz que você é casada também... – ele fala com o hálito quente próximo a minha boca, eu afasto o rosto alguns centímetros, então Vinny passa a mão pela minha cintura.
— Praticamente – ele o encara, sorri e levanta as mãos em desistência.
— Eu tô morrendo de fome, só deram umas torradas no voo – Vinny avisa que iremos almoçar em um restaurante perto do apartamento, na hora de entrar no carro ele vai na frente com Vinny e eu e Lia vamos atrás, ela cochicha que ele estava me olhando e eu reviro os olhos, ele conta um pouco sobre como foi a viagem pra cá, reclamando de umas crianças que vieram o tempo todo brigando do lado dele e pergunta como é a cidade e o que tem de bom por aqui, nós chegamos no restaurante e conseguimos uma boa mesa perto do ar condicionado, fazemos um resumo do que a cidade tem de melhor, cachoeiras, praças animadas, baladas, trilhas, ele parece animado pra conhecer tudo.
— É, mas todo mundo trabalha, ninguém tem sua boa vida – Vinny fala e mesmo que eu saiba que ele não queria o cara por aqui ainda assim acho meio exagerado, já Rafael parece não se importar, ele ri e continua perguntando sobre tudo que ele acha interessante.
— Vocês dois são tipo... Namorados? – ele pergunta olhando pra mim e pro Vinny.
— E por que isso te interessa?
— Pelo ciúme, já vi que sim, pelo menos da sua parte – ele fala e isso começa a me irritar.
— Você vai ficar de favor morando com a gente, não é muito inteligente querer bancar o engraçadinho – ele me olha com um sorriso de lado que me obriga a desviar o olhar.
— E como é Londres? Sempre quis conhecer – Lia fala mudando o clima, nós terminamos de almoçar e saímos do restaurante, quando chegamos no apartamento Vinny mostra o lugar pra ele e deixamos as principais regras claras, ele agradece e eu vou pro meu quarto, Lia vem logo atrás de mim.
— Ele ficou afim de você – eu a encaro sem entender o por que dessa animação – Fala sério, ele é maior gato! Nem você pode negar isso.
— É, ele é! Mas você sabe muito bem que eu não tô procurando ninguém e se não sabe, deveria saber – falo um pouco mais grossa do que pretendia.
— Eu só quis dizer que...
— Lia, chega, sério! Eu não quero falar disso, não quero brigar com você de novo por causa desse assunto – peço realmente cansada de todas as vezes que ela tenta me convencer a sair com alguém e hoje, justamente agora, é a ultima coisa que eu quero ouvir, ela concorda.
— Será que você ainda pode ir comigo na floricultura? É que eu preciso decidir as flores do buquê – ela fala me olhando daquele jeito de arrependida.
— Você levaria uma surra se fosse sem mim – ela sorri e nós pegamos nossas bolsas e saímos do quarto, Vinny e Rafael estão na sala, nós avisamos que estamos saindo, Vinny oferece o carro pra gente mas nós negamos e agradecemos, escolhemos ir andando até a floricultura, o que nos rende uma boa caminhada mas o dia está bonito então nem reclamamos, chegamos lá e não sei quem parece mais indecisa se é a Lia ou se sou eu, são tantas opções e sempre que nos decidimos por uma aparecem mais outras três diferentes, levamos um bom tempo até que Lia se decide, ela pergunta minha opinião e eu não minto quando digo que adorei, estávamos entrando no shopping quando o celular da Lia tocou, ela atende e é o Bruno, sei disso antes dela dizer quem é, por que o sorriso e o brilho dos olhos dela é único quando fala com ele, ela diz que ele só queria saber como ela está e dizer que está morrendo de saudade, ele chega amanhã e Lia mal se aguenta de ansiedade, andamos por algumas lojas, Lia entra numa loja de lingeries e se empolga querendo levar tudo e depois de quase uma hora lá dentro e com quatro sacolas nas mãos, nós decidimos parar pra comer alguma coisa, estávamos lanchando um desses fast-food clássicos quando eu o vejo vindo na nossa direção, ele leva o dedo a boca pedindo segredo e eu já me preparo pro surto da Lia, então ele chega por trás dela e tampa os seus olhos, ela odeia que faça isso e se agita rapidamente.
— Para! É sério, eu odeio isso – ela reclama enquanto tenta afastar as mãos – Mas que droga – ela se irrita ainda mais quando não consegue – Se for você Vinny eu juro que te mato – ela avisa ainda mais com raiva.
— E eu? Você também me mata? – Bruno pergunta e ela solta uma mistura de grito de alegria com um suspiro meio engasgado, ele tira as mãos dos olhos dela e ela se vira rapidamente, ela se levanta e praticamente se joga em cima dele, todas as pessoas próximas a nossa mesa olham curiosas pra eles dois e qualquer um que os veja não conseguirá duvidar nem por um segundo que eles se amam e foram feitos um pro outro, eles se abraçam, se beijam, ele levanta ela tirando seu pé do chão e depois de quase meia hora nesse reencontro, eles se acalmam e ele vem falar comigo, ele beija minha testa como sempre faz e me dá uma piscada com um dos olhos enquanto rouba uma batata da minha bandeja, ele se senta na cadeira ao lado da Lia e na minha frente.
— Cuidou bem da minha garota? – ele pergunta fingindo me olhar sério.
— Eu cuido dela antes de você! Então ela é a minha garota e não sua – ele ri.
— Xeque mate – ele rouba mais umas batatas – E o Vinny por que não veio com vocês?
— Ficou fazendo sala pro irmão postiço dele
— E como ele é? – ele pergunta curioso, sem parar de roubar minhas batatas.
— Gato! – Lia fala e ele a olha fingindo estar impressionado.
— Ah é? Mais o que?
— Não, você não entendeu, quando eu digo ‘’gato’’, quer dizer, ‘’ah meu Deus, que cara gato’’ – ela fala exagerando ainda mais, ele ri.
— Ah então deve ser igual a garota que foi na viagem com a gente... Nossa, que gata e ela sentou do meu lado – eles implicam um com outro, Lia faz uma careta e eles se beijam, por que a verdade é que eles nunca brigam por causa de ciúmes, durante todos esses 7 anos que eles estão juntos nunca houve uma briga feia por causa disso, até por que é tão na cara que eles são completamente loucos um pelo outro que nem eles podem tentar negar isso e essa é uma das coisas que fazem deles dois o meu casal favorito, eles se zoam, implicam um com outro, discutem sim, varias vezes mas por coisa bobas e em menos de uma hora estão se declarando e pedindo desculpas, eu não tenho a menor duvida que eles serão ainda mais felizes depois do casamento.
— Vocês estão me dando enjoo – faço uma cara de enjoada, eles riem e aí que se beijam mais uma vez, eu jogo um guardanapo amassado no meio deles e eles riem, Bruno vai comprar um lanche pra ele e quando volta me empurra se sentando do meu lado na parte que é tipo um sofá, Lia vai comprar sorvete e eu roubo as batatas dele assim como ele fez comigo.
— Você tá estranha – ele fala como quem não quer nada, eu finjo que não entendi.
— Eu sou estranha, lembra? – ele se vira pra olhar no meu rosto e eu sei que ele sabe, talvez não saiba exatamente, mas sabe de algo, as vezes eu acho que ele é o único que realmente entende o vazio que eu tenho no meu peito, por mais que o Vinny seja tudo pra mim, que eu ame a Lia e que eles dois me façam querer continuar todo dia, mesmo assim só quando eu olho nos olhos do Bruno que eu sinto que tem alguém que sabe o que é sentir tanta falta de alguém que as vezes parece insuportável, ele sabe o que é você perder uma pessoa que você nunca se imaginou sem, por que ele e o Lipe eram mais do que melhores amigos, eram mais do que irmãos de coração, eles tinham uma ligação tão forte que era como eu e o Vinny, eles eram praticamente a continuação do outro e por mais que ele tenha a nós, tenha outros amigos, eu sei e ele sabe que nunca mais terá um Felipe na vida dele, do mesmo jeito que eu nunca mais terei um na minha – Eu não quero falar disso – eu falo com a  voz já começando a ficar rouca devido as lagrimas que ameaçam querer sair, ele me força um sorriso e beija um pouco acima da minha orelha.
— Eu pedi calda extraaaaa – Lia volta comemorando animada enquanto coloca a taça de sorvete mergulhado em calda de morango no meio da mesa, ela me entrega uma colher e eu decido esquecer o outro assunto, pelo menos por enquanto.
Quando chego no apartamento sozinha encontro Vinny na cozinha mexendo em alguma coisa no fogão, deixo as bolsas de compras da Lia na sala e vou até ele e não me surpreendo quando vejo o miojo.
— Que menino prendado – falo zoando, passo por ele e pego uma garrafa de agua na geladeira e como não consigo resistir encosto ela no meio das costas dele, ele está sem camisa e xinga assim que sente a garrafa gelada – Também te amo – ele me xinga mais umas duas vezes e eu bebo minha água.
— Cadê a Lia?
— O Bruno voltou mais cedo e eles foram dar uma volta!
— Aham, motel – ele fala rindo e não posso negar então dou de ombros.
— E onde está o hóspede novo?
— Tomando banho ou acabando com a água do prédio, já que ele tá lá dentro a quase uma hora – ele fala enquanto joga o miojo dele dentro do prato.
— Alguma coisa me diz que teremos dinheiro pra trocar as cortinas, o tapete e quem sabe até comprar aquele abajur que eu amei – ele ri.
— Dinheiro pra isso nós já temos né, aliás o dinheiro já tá na minha conta – ele avisa e eu me lembro do que tinha que falar com ele.
— Ah sobre isso... Eu acho que nós podemos usar pro presente de casamento da Lia. A gente podia bancar o cruzeiro que ela sempre quis fazer, eu dei uma olhada nos preços e ainda sobra um dinheiro – ele parece realmente aprovar a ideia, já estava continuando a falar, quando Rafael sai do corredor dos quartos, ele está sem camisa e com um short preto desses, tipo, jogador de futebol, mas o que me faz olhar um pouco mais demorado é o corpo dele, já vi o Vinny sem camisa um milhão de vezes e eu achava que sabia o que era um corpo perfeito por que na minha visão e de 100% das garotas que ele já ficou ele tem isso, ele malha, cuida bem do corpo e tem tudo nos seus devidos lugares, mas quando olho pro Rafael vejo a nítida explicação do que é um corpo perfeito, além de alto, ele tem os ombros largos, um abdômen absolutamente malhado e destacado como se ele malhasse 24 horas por dia, as pernas dele também são bem malhadas, a coxa como a de um jogador de futebol, o bronzeado da pele dele é ainda mais destacado assim, os ossos do quadril dele formam dois caminhos que seguem para dentro do short dele, seu peito é absolutamente livre de pelos, mas no meio descendo desde o umbigo tem um pequeno rastro de pelos que também descem para dentro do short, além disso, na altura das costelas dele ele tem uma tatuagem de um mapa que contorna para trás do seu corpo.
— Acho que é o primeiro banheiro que tem mulheres na casa e não tem cabelo espalhado pra todo lado – ele fala rindo e vindo na nossa direção, eu preciso balançar a cabeça algumas vezes pra desviar meu olhar dele.
— É por que esse banheiro é meu! Elas tem suíte, mas você precisava ver como ele ficou na semana que o chuveiro da Dani quebrou – ele implica comigo fazendo uma careta, mas ao invés de reclamar ou responder a implicância dele, eu simplesmente saio de dentro da cozinha e pego as sacolas da Lia que tinha deixado na sala.
— Eu vou dormir por que amanhã acordo cedo – não espero que eles falem mais nada e vou pro quarto, entro e fecho a porta, passo a mão pelos cabelos e pelo meu rosto, fico alguns segundos parada tentando entender o que deu em mim, não é como se eu nunca tivesse visto um cara bonito sem camisa, e isso nunca teve efeito nenhum sobre mim, vou até o banheiro, lavo meu rosto e me encaro no espelho – Qual seu problema? – pergunto em voz alta pra mim mesma, eu saio do banheiro irritada, eu nunca fui disso, de ficar impressionada com alguém assim, isso só pode ser... Cansaço, é isso! Cansaço! Muita coisa acontecendo rápido demais, me apego nisso e decido deixar isso de lado.


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