Azul & Violeta escrita por TSLopes


Capítulo 6
Capitulo 5 - Edgar


Notas iniciais do capítulo

Foi mal pela demora. Mas aqui estamos, com mais um capitulo do conde.



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Deixar Angel ficar talvez seja bom. Ela era alegre e parece que tem um brilho próprio – algo que eu não pude deixar de reparar no dia de ontem e o começo do dia de hoje, durante o jantar e o café da manhã, o único momento que estávamos no mesmo ambiente – e seria ótimo para todos nós termos alguém como ela. Ultimamente a mansão não estava das mais animadas, acho que é por causa da rotina. Pelo menos, é o que eu esperava. 

Observei pela janela do escritório Angel e Rubens entrarem no carro e partirem. Ela estava contida, com vergonha talvez, mas também pudera, Rubens não dava um sorriso.

Um pensamento me veio à cabeça de repente: será que ela vai voltar? Balancei a cabeça. É claro que vai. Fizemos um acordo e a ideia foi dela, que pergunta idiota.

É claro que ela voltará. Não poderia perder essa bocada.

— Você acha mesmo que eu vou te dar atenção?

A voz grunhiu.

Já que Angel ficará aqui por um tempo, tenho que bolar uma estratégia para não que ela não suspeite mais de mim. Não sou bobo. Sei que ela quer investigar meu envolvimento com a morte de seu irmão ao invés de simplesmente dar aulas. Ela deixara isso claro na noite em que nos conhecemos. O problema é: como convencê-la?

 Pensei nisso durante um tempo, descartando qualquer ideia que envolvesse intimidade exagerada. Cheguei a uma conclusão. Vou ser seu amigo, ou até mesmo um conhecido, contanto que seja uma pessoa de confiança que a faça desacreditar de qualquer suspeita maquiavélica a meu respeito. Isso com certeza envolverá tempo e paciência, entretanto, me livrará de uma grande inconveniência.

Isso mesmo. Vou fazer esse teatro.

Olhei para a janela, agora mais despreocupado. Era assim que eu me sentia quando encontrava a solução de um problema. Entretanto, minha calma não se originou apenas disso. Sentia-me assim desde manhã, quando acordei ao escutar a risada despreocupada de Angel percorrer o salão e chegar aos meus ouvidos. Fora como se sua voz limpasse a aura pesada deste lugar.

       Você anda pensando demais nessa vigarista, não acha?

Revirei os olhos. Sim, estou. Voltei a olhar o relatório. Parece que a safra de soja e de  trigo foi extremamente boa esse ano. Vou ter de controlar mais trabalhadores e avisar a metrópole. 

.....||.....

Continuei a ler e trabalhar até escutar o portão de entrada abrir. Não pude me conter e me virei para a janela. Essa janela enorme me permitia ver qualquer coisa que acontecia na entrada da mansão. Como não estou muito acima do chão a ponto de ver pequenos pontos ao longe, pude contemplar a chegada deles. O carro entrou pelo caminho da entrada e Rubens parou para que Angel descesse do carro carregando sua mala. Angel estava sorrindo, mesmo com essa grosseria dele, pois onde já se viu deixar uma dama carregar sua bagagem! E seus cabelos dourados brilhavam ao sol, igual a careca de Rubens se ele estivesse ali também.

Ela se virara para o carro e abaixara o rosto, provavelmente porque Rubens quis falar algo e depois ele saiu com o carro para a garagem. Rubens consegue ser bem assustador com seus dois metros, o peitoral enorme, sua carranca eterna e sua pele escura.

Angel diminuiu o sorriso, meio confusa, e caminhou até a entrada. Seu vestido branco com as mangas curtas lhe deu um aspecto mais jovial, fazendo que novamente o pensamento de que qualquer coisa que ela vestisse lhe cairia bem dominar a minha mente, pois uma garota tão linda não era capaz de ser desproporcional.  Peguei-me sorrindo torto, como se me orgulhasse de uma bela flor plantada em meu jardim. Então ela olhou para cima e acabou me encontrando, de pé, encarando-a. Eu continuei apenas a encarando, agora pego com a boca na botija, e tive medo do que ela pensaria que eu estava fazendo? Então apenas aumentou o sorriso novamente e acenou para mim.

Eu acenei de volta e ela foi embora. Poxa vida, agora ela pensa que eu a estou vigiando?

— Idiota – me virei e voltei a trabalhar.

.....||.....

Almocei no escritório por que tinha muito que trabalhar. Minutos depois Sarah chegou para buscar meu prato vazio.

— Criança, poderia sair só um pouco? Faz um tempo que não limpo o escritório.

— Desculpe – peguei mais papéis – Tenho muito que fazer.

— Mas o dia está tão belo e Angel está lá fora. É bom você se relacionar com pessoas da sua idade – insistiu.

Arqueei uma sobrancelha. Não acredito que ela quer dar uma de cupido pra cima de mim.

— É sério isso o que está fazendo? – disse incrédulo.

Ela revirou os olhos.

— Rubens também está lá. Va andar a cavalo com ele.

Sarah voltou a sorrir doce, para poder me convencer. Pensei sobre o assunto. Sair talvez não seja tão horrível. Passo muito tempo no escritório e andar a cavalo é uma das minhas coisas que mais gosto. 

 Levantei-me e comecei a organizar os papéis.

— Tudo bem, eu vou.

— Quando falei de uma mulher você não quis ir, mas quando foi um homem... – resmungou.

— O quê? – questionei abismado.

— Nada.

Sarah foi embora rindo. Terminei de arrumar as coisas e no corredor eu não aguentei e comecei a rir da piada dela.

Vai lá ver aquela magricela.

.....||.....

Andei a cavalo durante uma hora, eu acho. Cavalgamos tanto em minha arena que chegou um momento em que eu, Rubens e os cavalos estávamos arfantes. Antigamente, eu poderia ficar horas debaixo do sol cavalgando sem me cansar, agora, mal dou algumas voltas e já estou exausto. Escutei uma gargalhada ao longe e vi Angel tampar a boca e tentar controlar o riso. É, talvez a cena seja engraçada. Sorri também.

Descemos dos nossos cavalos e fomos em direção ao estábulo. À minha esquerda estava o bosque com árvores de tudo quanto é tipo - principalmente os mognos, os ipês amarelos e os angelins -; e  Angel com o vestido verde, os cabelos soltos e um livro onde escrevia seriamente, encostada em uma árvore.

— Senhor Borchacell, quais são seus planos em relação ao seu pai? - Rubens perguntou, me fazendo franzir o cenho.

Meu pai. Esse é um problema que eu gostaria de adiantar o máximo possível. Ele quer vir ao vilarejo inspecionar seu desenvolvimento. De fato, o vilarejo  está crescendo. Mas o fato do monstro atacar e de ser eu, não me fez querer vê-lo. A responsabilidade de cuidar dessas pessoas é minha e elas nem me conhecem.

— Eu vou mandar os relatórios e talvez for lá ver o meu pai - avisei.

— Sabe que mais cedo ou mais tarde ele virá até aqui - contradisse naquele tom respeitoso que sempre dizia.

— Eu sei – suspirei – Gostaria de evitar isso.

— Por quê? A vila não está crescendo?

— Sim, mas tem esse monstro - me expliquei.

— O seu pai poderia ajuda-lo. A culpa não é sua.

— É sim.

Rubens me olhou, franzindo o cenho.

Guardamos os cavalos e pusemos mais comida e água. Enquanto estávamos indo embora, Rubens falou:

— Sabe o que eu acho?

— O quê?

— Que o senhor deveria ir até o vilarejo. Sabe, conversar com as pessoas, saber mais do que precisam.

— Para isso tenho você - revirei os olhos.

— Eu sei, mas, às vezes, apenas relatórios não são o bastante - argumentou pacientemente.

— Para mim, são.

Observei Rubens controlar a impaciência ao respirar fundo. Ninguém grita comigo, porque eu sou um Borchacell. Confesso que amo esse poder.

— Então o que você fará quando seu pai vier? – interrogou lentamente.

— Eu dou um jeito – avistei Angel ao sairmos do estábulo e decidi ir até ela – Vou conversar com Angel, obrigado pelas palavras.

— Senhor Borchacell, sabe que sua família não gostaria de vê-lo com uma plebeia - me advertiu.

Eu só quero fugir.

— Ela não é uma plebeia, é uma professora – caminhei até ela e Rubens ficou parado. Levantei a mão – Até mais.

— Senhor Borchacell! – me chamou.

O ignorei e continuei a caminhar. Não gostava de quando alguém me pressionava. Já não basta meu pai vir aqui e talvez me tomar minha responsabilidade ou minha mãe querer me casar com uma mulher chata e burra? Não, tenho retomar os controles sobre minha vida. A fera já atrapalha bastante. 

 Angel me olhou surpresa e escondeu o caderno debaixo de seu vestido. 

— Angel, o que está escrevendo? Poesias? – voltei com meu sorriso, mas não muito elegante para não fazê-la ficar brava. Tenho que aprender a ser compassivo se eu tiver que ser amigo dela.

— Nada importante – falou e rapidamente adicionou – Você cavalga muito bem.

Olhei para trás e vi Rubens ir embora. Suspirei.

— Bem o bastante para fazê-la rir.

Ela voltou a gargalhar gostosamente. Ficou linda rindo assim, tão despreocupadamente. Percebi que eu adoro ver seu rosto alegre desse jeito.

— Desculpe, foi tão enraçado – limpou as lágrimas no canto dos seus olhos.

— Fico feliz de fazer uma dama como você rir – sentei ao seu lado e então percebi que eu acabara de cortejá-la. Uma das poucas coisas que eu aprendi sobre ela era que ela não gostava de elogios – Oh desculpe. Força de hábito.

Sua risada havia acabado e ela me encarou séria.

— Quando vou saber que seus elogios são verdadeiros?

— Mas eles são verdadeiros - me defendi.

— Não são não. Eles não vêm do coração.

— O que, até você vai me criticar? – ela se surpreendeu e eu balancei a cabeça – Desculpe, não quis falar isso.

Encostei a cabeça no tronco da árvore e fechei os olhos. Rubens acabou com minha paciência.

— Tudo bem, pelo menos você está sendo verdadeiro – falou calmamente.

— É, acho que sim – suspirei. Sentia-me exausto mentalmente, esses meus malditos problemas sempre acabavam comigo. Então deixei o ar fresco e o som do vento farfalhando as folhas das árvores relaxarem meu coração. Senti o vento morno roçar minha pele e acalmar minha alma, me trazendo uma paz há  muito desejada.

Ela me cutucou.

— Não acredito que você veio para dormir!

— Não estou dormindo. Estou sentindo a brisa das árvores, o exalar das dríades - murmuro sem abri os olhos.

— Dríades?

— Sim, uma espécie de ninfa. Acredita-se que toda vez que uma árvore nasce, uma dríade nasce com ela. É uma espécie de fada que embeleza a natureza.

— Me conte uma historia delas.

— É primeira que se oferece a ouvir - olhei-a de lado, com a sobrancelha erguida.

— Então vai me contar? – Angel estava animada.

Outro hobby que eu tinha e que meus irmãos caçoavam era o fato deu amar a mitologia grega. Todo esse universo, esses contos, esses mitos, me fascinavam desde que eu me conhecia por gente. Entretanto, nunca tive alguém para compartilhar esse amor. Angel estava sendo a primeira a se oferecer. Ajeitei-me e olhei seu belo sorriso. 

 
— Por que quer saber?

— Porque gosto de histórias.

Seus olhos não mentiam, ela queria mesmo saber. Era primeira vez que eu ia contar uma história e a alguém quer ouvir de verdade. Virei-me para ela, animado.

— Tudo bem, vou lhe contar como são as dríades – e lhe expliquei tudo.

Angel escutou atentamente. Eu fiquei gesticulando com as mãos nos momentos certos e às vezes até fazia umas caretas. Tudo para que ela compreendesse meu conto. Cheguei a acreditar que várias dríades estavam ao nosso redor, escutando sua história.

— As dríades são interessantes, mas me explique sobre esses deuses gregos.

E assim passei a tarde inteira contando para ela sobre os deuses e admirando o brilho dos seus olhos violeta. Em vários momentos dessa tarde eu fiquei extremamente tentado a passar mão em seu rosto para testar  } se sua pele era tão macia quanto parece e em puxar seu rosto para perto e assim confirmar se a cor de seus olhos eram tão gloriosos como os seres das minhas histórias.


Nós viajamos no mundo mitológico que eu gostava tanto e eu não vi o tempo passar. Tudo por causa de sua expressão concentrada em mim. Não que ela tenha ficado todo o tempo entretida, mas eu percebi que seus olhos diziam tudo. Se ela olhasse para o lado ou franzisse a sobrancelha, eu entendia que minha história não estava a agradando, entretanto, se ela me olhasse atentamente então eu conseguira chamar sua atenção. Senti-me satisfeito, como se ao compreender um pouco sobre ela, nossa ligação ficasse mais forte. Ela também contara alguns contos que gostava. E eu não contei para ela que conhecia todos, pois cada vez que ela começava a falar, eu ficava fascinado por seu sorriso bobo e suas expressões sonhadoras. Éramos dois contadores de histórias apaixonados por seus personagens e ligados pelo mundo da imaginação que os dois podiam ver. Até que em um momento, escutei Sarah me chamar.

Rapidamente nos levantamos surpresos ao olharmos para o céu e, ao vê-lo quase escurecido, nossas expressões se tornaram um pouco decepcionadas pelo fim da conversa e fomos até ela. Estávamos rindo feito crianças pelo fato de termos passado a tarde inteira conversando sobre histórias fictícias. Fiquei tentado a segurar sua mão.

Sarah estava sorrindo um pouco distante do bosque onde estávamos.

— Hora das minhas aulas.


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Notas finais do capítulo

Capitulo betado pela lady mikaelson. O que acharam? Comentem!



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