Azul & Violeta escrita por TSLopes


Capítulo 13
Capitulo 12 - Angel


Notas iniciais do capítulo

I'm back!



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Edgar tentara me beijar... E eu não sabia o que fazer quanto a isso.

Levantei-me da cama, não havia conseguido dormir direito durante a noite pensando nisso, já que toda vez que eu fechava os olhos, me lembrava dos olhos azuis tão intensos de Edgar e quando eu me movia, lembrava-me de seu corpo quente próximo ao meu.

Novamente meu coração voltou a acelerar e eu senti um já familiar frio na barriga. Grunhi e fui até ao banheiro batendo os pés.

— Angel, seja sensata – me repreendi – Não cometa o erro de se apaixonar.

Eu sabia que os sintomas haviam aparecido. Igual ao que ocorrera um ano atrás, eu estava agitada e fantasiosa, sentindo um frio na barriga toda vez que pensava no conde e me aprofundava em detalhes de sua personalidade que eu nunca havia notado. Era como se um novo conde Edgar Borchacell houvesse aparecido, ou que eu finamente conseguisse notá-lo verdadeiramente. Da noite para o dia eu me sentia com vontade de vê-lo com uma intensidade enervante.

Tomei um banho, pensando em quanto eu fora boba deixando esses sintomas me abalarem. Ajeitei meus cabelos em um coque e pus um vestido verde com babados na saia e botões no busto.

Edgar se aproximou por simples atração, o erro foi meu por tê-lo permitido chegar tão perto. Porém, jamais me esquecerei da forma como ele dizia as palavras certas, sempre respondendo as minhas perguntas de uma forma capaz de me desestabilizar por inteira. E, mesmo após meu ataque de insegurança e fragilidade, ele fora gentil e dissera que gostava de mim...  Sinceramente, não sabia o que pensar.

E depois ficara pior ainda! Ele tentara me beijar, se aproveitando da minha guarda baixa e por pouco eu não consegui escapar. Eu estava nervosa, abalada, com minhas inseguranças escancaradas, querendo me adentrar no abrigo de proteção que ele oferecia e quase sem energias para lutar contra ele. Se não fosse a lembrança do meu irmão me dizendo que devo estar pronta para depois amar, eu provavelmente estaria me arrependendo agora.

O que esse quase beijo realmente significava? Uma declaração, um impulso ou apenas um desejo dele? Edgar dissera que gostava de mim, mas o que isso realmente queria dizer?

Caminhei até meus livros. Não era a primeira vez que eu escutava uma declaração de amor. Palavras assim eram facilmente pronunciáveis. O que confere mesmo este sentimento são as ações. Mas, de qualquer forma, eu estava ignorando a pergunta mais importante. Como irei reagir a isso?

Não posso corresponder a isso. Mesmo que Edgar tivesse sérias intenções, eu não podia concordar com isso, pois eu tinha certeza que eu entregaria meu coração para ele e ficaria a mercê de suas decisões.  E também, prometi a mim mesma que jamais cometeria esse erro novamente. Amor é algo que jamais irei sentir novamente. Além do mais, acabaria precipitando as coisas.

Então o que farei se Edgar se declarar? Vou ter coragem suficiente para negá-lo ou serei seduzida novamente e cometerei o maior erro da minha vida?

Estou confusa demais para pensar com coerência. Edgar. Edgar. Edgar. Abri o livro do Richard e tentei me concentrar.

Pensando bem, sua aproximação não fora tão ruim. Naquele momento, eu fiquei estacada com sua aproximação e louca para que ele se aproximasse mais,  seu cheiro de sândalo que me embriagava até agora. Seu calor, seu desejo e sua vontade naqueles segundos foram dedicados a mim. Sorri e passei a mão na bochecha, onde ele tocara. Edgar...

— Espera – exclamei e me levantei – Angel, pare. Você está ficando louca.                             

Que droga, parece que eu nunca fui beijada na vida! Provavelmente ele está dormindo tranquilamente e eu aqui, parecendo uma idiota.

Mas o que farei se o vir?

Então me lembrei. Meu prazo é de uma semana e já acabou. Já posso ir embora. Não preciso ficar mais aqui.

— Isso – caminhei até minha mala – Vou embora agora cedinho, para não perturbá-lo.

Rapidamente guardei minhas coisas. Dessa forma, não vamos mais nos encontrar. E então vou esquecê-lo e problema resolvido. Era uma decisão completamente covarde, mas eu não sabia o que eu sentiria quando o visse. Na verdade, não queria vê-lo tão cedo.

Quando terminei, abri a porta do meu quarto devagar e desci para o primeiro andar sem fazer ruídos. Então fui silenciosamente até o salão da entrada da mansão e cheguei a enorme porta. Olhei para todo o lugar, memorizando as paredes azuladas e como a falta de móveis deixava o ambiente sem vida e espectral, mas de uma forma deslumbrante.

— Vou sentir falta daqui. – sussurrei.

Quando me virei para abrir a porta, escutei.

— Angel! – olhei para trás e vi Sarah saindo da sala de jantar a minha direita – O que você está fazendo?

De repente, minha mala ficou mais pesada do que o normal e isso me fez hesitar um pouco, mas meu medo de me encontrar com o conde não me permitiu vacilar. Respirei fundo. Coragem, por mais que eu me sinta agora uma idiota.

— Estou indo embora – anunciei.

Ela caminhou até mim, a expressão dura, apesar de ser visível a mágoa em seu olhar. Acho que os seus vastos anos lhe ensinaram a se acostumar com os acontecimentos que a vida proporciona.

— Mas por quê?

— Porque Edgar – meu coração deu um salto ao dizer seu nome – Porque Edgar disse que eu só tenho uma semana.

Então ela sorriu, o semblante agora mais relaxado e revirou os olhos.

— Bobagem criança, tenho certeza de que se conversar com ele, terá mais tempo – abanou com a mão.

— Não acho que isso seja possível – ergui o queixo e permaneci firme.

— Por que acha isso? – arqueou uma sobrancelha.

— Porque eu sei que ele não irá deixar.

Sarah me encarou seriamente e eu tive medo dela gritar comigo por causa de minhas desculpas esfarrapadas.

 – O que aconteceu ontem? - perguntou séria.

Fiquei vermelha e sorri, tentando disfarçar.

— Como assim?

— Não se faça de boba. Vi vocês dois conversando na porta do seu quarto ontem.

Meu coração deu um salto quando vi Edgar abrir a porta do outro lado do salão. Seu cabelo estava penteado charmosamente para trás, seu terno cinza lhe conferindo um ar elegante e sofisticado, deixando-o mais encantador do que o normal. Então ele olhou para nós duas paradas na entrada e começou a caminhar até nós, as mãos postas para trás.

— O que está acontecendo aqui? – questionou e então olhou diretamente para mim. Desviei o olhar, agora mais vermelha do que nunca, e eu notei pelo canto do olho que um sorriso confiante surgira em seus lábios.

 Sentia-me dentro de um jogo. Um jogo familiar para mim onde não havia saída, em que a única opção era deixar os dados rolarem e assim ser levada pelo fluxo do amor e do desejo. Eu já entrara nisso, eu já fingira não ter ocorrido nada no começo do jogo para que os dados continuassem rolando, até que os flertes discretos e insinuações começariam, eu já me apaixonara. E depois me arrependi intensamente.

— Angel quer ir embora – Sarah falou.

Abaixei a cabeça. Não estou pronta para isso de novo.

— Mas por quê? – sua voz estava mais lenta, cautelosa. Diferente tom confiante de dois segundos atrás.

— Disse que acabou o prazo para ficar.

Ele chegou até nós e eu dei um passo para trás.

— Isso não é problema. Pode ficar o quanto quiser – a sua confiança voltara.

— Ouviu criança? Pode ficar.

Olhei para Sarah, vendo pelo canto do olho que Edgar não tirava o olhar de mim, e isso,  de alguma forma, me deu forças para falar.

— Mesmo assim, vou embora. Já atrapalhei o bastante – sorri, ignorando o olhar sério dele.

— Você não atrapalha – segurou minha mão – Só ajuda.

Sua expressão me lembrava a de uma criança, fazendo um grande contraste com a mulher adulta que eu tinha visto agora a pouco. Sinceramente, vou sentir falta dela. Respirei fundo.

— Desculpe, Sarah, não me sinto bem morando de graça aqui.

— Se você está incomodada pelo que aconteceu ontem – Edgar disse – Saiba que isso jamais se repetirá. Não tive nenhuma intenção de ofendê-la.

— Mas ofendeu – fechei a cara. Ele continuou a me analisar e depois de alguns segundos, murmurei – Desculpe.

Suspirei. Edgar não era ele – detestava pensar em seu nome.  Com ele, eu ficava contida, com Edgar, eu me sentia acolhida.

— Adeus – disse para Sarah.

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

— Mas quem vai me dar aula? Com quem vou conversar? Por favor, Angel, eu gosto muito de você. Não me deixe.

Meu coração apertou. Como olhar para ela e deixá-la? Apesar de conhecê-la há pouco tempo, eu já a considerava como uma avó  que eu nunca tive.

— Se ficar, prometo não chegar perto de você, se isso a deixa confortável - ele falou com uma estranha segurança na voz.

Pela primeira vez nessa conversa, olhei diretamente em seus olhos. Estavam diferentes da forma como eu tinha os visto da última vez, menos intensos, mas igualmente brilhantes. Senti um arrepio percorrer minha espinha ao me lembrar de ontem, onde ele estava tão próximo a mim. Olhando para ele agora, não consegui pensar racionalmente nos porquês de ir embora, mas sim no porquê de ficar. Bom, se ele diz que vai se afastar, é porque o que ocorrera fora apenas um impulso vindo dele. O problema estava em mim, com essa minha mania de fazer uma tempestade em copo d’água.

Aquilo não fora nada demais. Só tinha de esquecer esse incidente. Senti um embrulho na barriga com essa conclusão.

— Tudo bem, eu fico - falei para Sarah – Mas só porque você pediu.

Eu queria fazê-lo sentir a mesma indiferença que eu sentia. Ela gritou e me abraçou forte. Edgar se manteve afastado. Então suspirei e falei.

— Poderia me ajudar a guardar a mala?

A porta atrás de nós se abriu, empurrando a mim e a Sarah para frente.   Rapidamente nos equilibramos com uma risadinha constrangida.

— Perdão eu não vi as senhoritas – Rubens desculpou-se, depois sua expressão confusa aumentou quando viu nós três aqui – Eu estou atrapalhando algo?

Edgar ficou a um centímetro do meu ombro esquerdo.

— Não Rubens. Tem alguma mensagem? – ele respondeu.

— Sim, chegou esse envelope – o estendeu para o conde.

Edgar pegou o envelope e o abriu. Era um cartão dourado, com a grafia bem feita e enfeites brilhantes. Ele leu e depois exclamou.

— Meu sobrinho vai fazer um ano!

— Qual? – Sarah perguntou.

— Eduardo, o filho do Edward. 

— Mas já? Parece que foi ontem que Anastácia estava grávida – pôs a mão na bochecha, recordando do passado.

— Vai haver uma festa. Vamos?

Olhou para os seus criados. Os dois sorriram e concordaram animados. Eu ainda ficava surpresa com a humildade de Edgar, chamando seus serviçais para acompanhá-lo. Ele tinha um caráter que eu nunca tinha visto em ninguém, a simplicidade de um homem comum chamando as pessoas ao redor para sair, sem qualquer tipo de preconceito ou distinção. Pois afinal de tudo, Sarah e Rubens eram sua família.

— Bom, vai ser amanhã às sete da noite, se sairmos hoje, podemos chegar cedo – Edgar disse, animado.

— Vou fazer as malas e preparar um presente – Sarah disse.

— Eu também – Rubens concordou.

Os dois foram seguindo para a porta do outro lado desse salão. Sarah se virou e deu uma rápida olhada para Edgar e depois pra mim, depois continuou a andar. Ele respirou fundo e perguntou:

— Gostara de ir conhecer minha família?

— Não quero incomodar – disse sem graça, mas com o coração levemente aquecido por ele ter também me chamado, apesar de relutante.

Algo em minha resposta o fez voltar a ficar com a feição descontraída.

— De modo algum – sorriu – Todos vão amar te conhecer.

Olhei para minha mala.

— Desculpe ter agido assim – murmurei.

Passaram-se alguns segundos. Agora eu me sentia uma boba com a mania de precipitar as coisas. Eu havia transformado uma coisinha em um super acontecimento, baseado nos fatos de meu passado. Entretanto, eu havia me esquecido de uma coisa importantíssima: Edgar era diferente de qualquer nobre que eu já havia conhecido, pois ele tinha caráter. Edgar suspirou.

— Tudo bem. Só quero que confie em mim. Aquilo foi um erro bobo, sinceramente, não quero que nossa amizade acabe.

— Eu também não.

Na verdade, eu o admirava muito. Seu jeito protetor, gentil e humilde despertava um enorme respeito em mim. Edgar havia se transformado em uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Ele estendeu a mão.

— Amigos?

Apertei sua mão.

— Amigos.


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Notas finais do capítulo

Capitulo betado pela lady mikaleson. O que acharam? Comentem!



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