Azul & Violeta escrita por TSLopes


Capítulo 12
Capitulo 11 - Edgar


Notas iniciais do capítulo

Estamos vendo alguma coisa acontecer...



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Senti meu corpo gelar quando vi minha família sentada em volta de uma ampla mesa de mogno, junto com Sarah e Rubens.

Meu irmão Edmund e meu pai me fuzilavam com o olhar, Edward estava olhando para frente nervoso, Cecilia, Sarah e minha mãe chegavam a soluçar de tanto chorar e Rubens me encarava decepcionado.

Senti em meu coração que de alguma forma eles descobriram meu terrível segredo.

— O que foi, família? – perguntei, tentando parecer descontraído.

Meu pai se levantou e caminhou sério até mim. Parei de respirar quando ele chegou a minha frente. Eu sorri e disse:

— O que foi pai?                                                                                   

Ele me deu um tapa na cara tão forte que me fez cair para trás. E seus olhos, iguais aos meus, brilhavam de ódio.

— Como pôde infeliz? Como pode fazer isso com aquelas pessoas? – berrou.

Meu coração então parou. Oh não, isso não pode estar acontecendo! Ele me chutou nas costelas e eu rolei mais.

— Eu te criei para ser um homem nobre e descente! Dei-te a melhor educação para você ser um homem, não um covarde!

O mundo estava girando. Isso só podia ser um pesadelo, tinha de ser um pesadelo! Meu pai me levantou pelo cabelo.

— Agora me diga, Edgar, por que você estava matando aquelas pessoas?! – berrou em meu rosto.

Eu estou humilhado demais para olhar em seus olhos. Por favor, que isso seja um pesadelo. E que eu acorde logo. Ele me sacudiu e berrou:

— Fale, seu pedaço de bosta!

Minha voz saiu em um gemido.

— Não sei.

— Não sabe, seu idiota? – me jogou no chão – Eu sei! Porque sua mãe te criou como se você fosse superior aos outros! Porque você é um mimado, um arrogante e um imbecil!

— Para, por favor – implorei baixo.

— Não paro! – me deu um chute tão forte que acho que quebrou minha costela – Você merece mais! Muito mais, seu monstro!

Ficou me chutando e me xingando. E o que mais doeu não foi a dor exterior de seus golpes, e sim a interior. Entre um chute e outro, eu via minha família me olhar decepcionada. Isso foi como milhões de facadas em meu peito.

Quando meu pai se cansou, ele sacou um revólver e apontou pra mim.

— Você não merece viver. Vá para o inferno onde é o seu lugar – sibilou entre dentes.

Oh não, eles vão descobrir! Ele atirou e o escudo me protegeu. Escutei todos gritarem horrorizados.

Edward exclamou:

— Ele fez pacto com o diabo! A besta está protegendo ele!

— Não é bem assim – me defendi - Eu não escolhi isso.

Todos os meus irmãos tiraram um revólver do bolso, colocaram na cabeça e falaram juntos.

— Nós não suportamos a ideia de termos vivido com você.

— Não! – berrei e eles atiraram.

Isso não podia estar acontecendo! Minha mãe também pegou um revólver.

— Eu não suporto a ideia de ter te gerado – então se matou.

Eu me levantei extremamente desesperado e corri até Sarah.

— Sarah, por favor, não me abandone – implorei para ela.

Ela riu e colocou a arma na cabeça. Eu bati em sua mão, a empurrei, bati nela, mas parecia que ela era feita de mármore!

— Não suporto a ideia de ter te criado – e morreu.

Quando olho para Rubens, ele já estava dizendo:

— Não suporto a ideia de ter te admirado.

Mais morte. Agora só falta meu pai.

— Pai! Eu imploro! Eu faço qualquer coisa! Pode me espancar se quiser. Mas por favor, fique vivo.

Quando ele pegou o revólver, minha vida, meu mundo e toda a minha existência, estavam resumidas aquilo.

— Pai! Por favor, não faça isso! – implorei aos berros.

Atirou. Eu não conseguia acreditar que ele atirara. Todos morreram. Todas as pessoas mais importantes da minha vida morreram bem na minha frente.

— E é tudo culpa sua.

— Não... – gemi – Por favor, hoje não.

Não quis olhar para ele. Sentia-me vazio, despedaçado. Por que continuo vivo?

A representação da voz em forma de homem saiu do canto da parede. Seus olhos eram vermelhos como sangue, sua pele de um cinza esverdeado, seus longos cabelos espetados para todos os cantos, uma tatuagem tribal cobrindo parte do seu rosto, um corpo forte com uma blusa de flanela cinza e uma ombreira cheia de espinhos, uma calça preta e o sapato também com espinhos. Sim, ele era um monstro.

— É tudo culpa sua! Se não fosse você, eles estariam vivos! – gritou enquanto eu estava ajoelhado no chão – Você matou sua família de desgosto! Seu monstro!

Puxei meus cabelos e gritei.

— Para!

Ele riu, exibindo seus dentes afiados.

— Por que eu pararia? Só estou dizendo a verdade! Quer que eu diga que você é o mocinho?

Mais gargalhadas. Saí correndo para fora da sala e cheguei ao jardim de rosas da minha mansão. Angel estava lá na minha frente, o sol brilhando em seu vestido rosa e em seus cabelos dourados. Ela estava me esperando.

— Edgar! – exclamou e sorriu como sempre sorri.

— Angel! – exclamei correspondendo o seu sorriso.

Um estalar de dedo. O céu ficou escuro, as rosas se despedaçaram e Angel de repente estava morta.

— Não – gemi.

A representação apareceu ao meu lado.

— Foi em uma noite. Você estava estressado por causa do trabalho e já havia criado sentimentos por ela. Angel lhe dissera que queria ir embora. Você negou. Como ela insistiu e você continuou a negar, ela fugiu. Você descobriu a tempo e decidiu caçá-la por vingança.

Caminhei até ela. Seu corpo está cheio de cortes e seus braços estão virados em um ângulo estranho.

— Ela gritou por misericórdia e você gostou. Foi a morte mais agradável para mim.

.....||.....

— Não! – berrei para o quarto vazio.

Senti meu estômago revirar e corri para o banheiro. Depois de vomitar tudo o que tinha, deitei-me no chão e tampei o rosto com o braço.

— Foi só um pesadelo, foi só um pesadelo – repeti para mim mesmo até me convencer.

Infelizmente foi. Mas se prepare, porque isso é só o começo.

A voz estava muito irada por causa de ontem. Ela já tinha me torturado mentalmente naquela vez quando me prendi naquela prisão e não permiti que ela atacasse, e agora ela estava fazendo isso novamente.  Puxei meus cabelos quando os gritos das pessoas que matei ficaram soando em minha cabeça. Eu não me arrependia de ter poupado aquelas vidas ontem, mas eu sabia que toda escolha tinha suas consequências. E essa era a minha consequência.

Fiquei nesse estado por horas.

....||.....

Coloquei meu terno e ajeitei meu cabelo. Mesmo com os gritos e a voz, eu tinha de ver Sarah, porque estava com fome. Não conseguiria me manter dentro do meu quarto por muito mais tempo.

Forcei minha cara de normal e desci para o primeiro andar. Hoje estava sendo mais difícil, mas eu já havia me acostumado a fingir estar bem enquanto eu definitivamente não estava. Surpreendi-me quando encontrei Angel indo para as escadas com uns livros na mão.

— Olá, Angel – cumprimentei-a.

Ela parou de subir as escadas e se virou.

— Boa noite Edgar.

Então os gritos e a voz se calaram em um passe de mágica. Olhei ao redor, surpreso.

Não gosto dela.


Fiquei atônito. Angel se virou e voltou a subir as escadas.

— Você não deveria estar de cama? - questionei surpreso. Não esperava que a voz se calasse tão cedo.

Continuou a subir. Estava usando um vestido rosa com a alça fina e um laço apertado destacando sua cintura fina. Os hematomas estavam bem claros e seus cabelos tampavam suas costas.

— Estou melhor. Só vim pegar uns livros.

— Os do Richard Marshon?

— Sim.

Eu subi rapidamente as escadas e a alcancei. Sentia-me impulsionado a continuar do lado dela.

— Tem certeza que está melhor?

— Estou – respondeu secamente. Ela estava séria e só olhava para ao chão.

A mulherzinha está com raiva de você. Se prepare porque ela vai embora.

Chegamos à porta do seu quarto. Angel não me encarou nenhuma vez, provavelmente não se esquecera do que sua estadia aqui lhe causara. Bom, se ela iria embora, antes eu tinha que pedir desculpas.

— Angel, foi tudo culpa minha. Se você não estivesse aqui, não teria passado pelo que passou. Você se envolveu em uma briga que não é sua. Desculpe-me – balbuciei envergonhado.

Ela me encarou surpresa.

— Eu sei que não há nada que eu possa fazer para compensá-la. Sei que não mereço perdão... - continuei a falar, nervoso. Não era bom em pedir desculpas.

— Edgar, você me salvou. Por que eu tenho que te perdoar? – me cortou de repente.


Fiquei sem graça e abaixei a cabeça.

— O que eu fiz foi apenas minha obrigação de cavalheiro. Mas isso não quer dizer nada.

— Quer dizer tudo – abaixou o olhar – Por que me salvou? - perguntou lentamente.

Agora era vez dela de ficar sem graça e eu surpreso. Seu rosto estava vermelho e a íris em seus olhos violetas brilhavam intensamente.

— E por que não a salvaria? - retruquei com outra pergunta.

Ela riu.

— Porque sou uma camponesa sem graça, que não tem valor nenhum, uma mulherzinha burra e idiota, que sai contando para todos o que faz, porque sou fraca e inútil e além do mais, não faria nenhuma diferença se eu vivesse ou morresse - disse rapidamente, totalmente agitada.

Fiquei de boca aberta, totalmente surpreso. Eu não conseguia acreditar no que ouvia. De todas as coisas, nunca pensei que alguém tão linda e maravilhosa como ela poderia se detestar dessa forma.

— É isso o que pensa de si mesma? – eu disse abismado e ela corou – Imagina se fosse eu.

Seus olhos brilharam de raiva com minha afirmação, jogando fora toda a sua timidez.

— Edgar, compare você comigo – disse irritada – Vamos lá, só pense um pouquinho. Quem é o superior?

Eu ri e cruzei os braços para esconder as minhas mãos que começaram a tremer.

— Se você me conhecesse de verdade, não nos compararia - disse ríspido, extremamente irritado com a ideia dela me achar superior. De alguém me achar superior.

Prefiro você, Edgar.

Angel se encolheu levemente ao ver minha irritação, mas logo depois voltou a erguer o rosto, não permitindo se mostrar abalada.

— O pouco que nos conhecemos já é o bastante – sibilou com raiva e abriu a porta – Boa noite.

Só notei que havia me movido quando já estava segurando seu cotovelo. O fato dela me achar melhor, o fato dela estar irritada, e o fato de que eu não queria parar de falar com ela me moveram em um ato involuntário . Agora Angel me encarava surpresa, a uns trinta centímetros de mim, e a única coisa em que eu conseguia pensar era na longa distância entre nós dois. E assim uma vontade se despertou do fundo da minha mente.


Quando puxou levemente seu braço e eu insisti em segurar, senti toda a minha irritação voltar.

— Angel, o que a faz pensar assim?- questionei irritado.

— Eu conheço as pessoas. Sei muito bem a diferença de um conde e uma professora – respondeu secamente, suas sobrancelhas franzidas e sua boca formando uma espécie de biquinho.

Era a primeira vez que eu ficava tão próximo dela. Forcei-me a me concentrar e olhar em alguma parte de seu rosto que não me distraísse. Notei atônico que seus olhos estavam totalmente atentos aos meus, sua pele avermelhada irradiando um calor capaz de me desestabilizar, sua boca rosada aparentemente macia e doce... Tudo nela pedia, não, implorava para eu chegar mais perto.

Esta minha súbita e irracional vontade de beijá-la estava saindo dos limites. Forcei-me a lembrar da conversa.

— E um amigo, hein? Deveria levar em conta o carinho de um amigo por você.

— É por isso que disse “tive medo de te perder”? – replicou desafiadoramente.

Sua fala fez meu coração parar e todo o sangue do meu rosto ir embora. Ela escutou. Droga, ela tinha escutado. Por que eu disse aquilo? Por que eu falei esse tipo de coisa para ela? ”Tive medo de te perder” é uma frase que expressa um sentimento muito intenso a ponto de me fazer ter medo. O tipo de frase que normalmente eu não usaria.

Angel me olhava provocantemente e eu jurei me assassinar depois. Rapidamente mudei de assunto.

— Por que age assim consigo mesma?

Agora é a vez dela de ficar nervosa, com o rosto mais corado e uma insegurança no olhar. Sua voz saiu agora em um murmuro.

— Porque isso jamais aconteceu comigo. Ninguém jamais teve sentimentos por mim.

— Está mentindo. E sua família?

— Todos gananciosos demais para me amar – confessou.

Angel me olhou e eu me perdi em seus olhos violeta que brilhavam em vergonha e insegurança. O que ela diz é impossível, não tem como alguém olhar nesses olhos e não a amar.

— O que a faz pensar assim?

— Eu sei que é assim – disse com a irritação de volta.

Senti um desejo extremo de fazê-la mudar de ideia e reparar nas pessoas ao seu redor. Reparar em mim.

— Então esqueça isso. Comigo é diferente. Eu gosto de você, e quando falo que gosto de alguém, é de verdade – minha voz saiu incomodada. Apesar de meu tom expressar confiança, sentia meu coração acelerado. Não era uma declaração de amor, porém era uma confissão de um sentimento que estava no fundo do meu peito e isso me deixava nervoso.

Eu vi um leve tremor em seu semblante e o quanto minha declaração lhe abalara, revelando, nem que por alguns segundos, a garota carente e solitária por baixo de seu rancor. Além disso, eu notara que seu rosto estava próximo do meu. Perigosamente próximo do meu.

Ficamos em silêncio. Ela com a expressão visivelmente transtornada, variando entre demonstrar o seu abalo e fragilidade ou parecer nervosa e indignada. E eu entre a razão e o desejo, na incerteza do que seria certo e lógico – me afastar dela – e se essa parte lógica era o que eu queria mesmo. Eu nunca tinha estado tão próximo dela antes, e seu cheiro  de rosas, em uma intensidade suave e doce, me dava a sensação de estar frente a frente à minha flor favorita;  e por consequência abalando minhas estruturas e me atraindo para ela, traindo todo o planejamento que eu fizera antes. Era uma força, um imã que me atraia com intensidade, deixando meu coração acelerado e em uma ânsia de ignorar tudo o que me dizia para me afastar.

— E c-como eu posso ter certeza d-disso? – gaguejou, nervosa.


Pus a mão em sua face.

— Angel, eu... – comecei a me aproximar, incapaz de continuar a falar com nossa proximidade. Sim, eu estava sendo louco, burro e estúpido, mas por Deus, essa minha intensa vontade de sentir seus lábios nos meus estava sendo maior do que todos os contras que minha mente poderia criar. E o fato dela ter ficado tão presa em meu olhar quanto eu tinha ficado ao dela, assim que toquei em seu rosto, me fez mandar para o inferno toda a razão e lógica que poderia haver.


Eu sentia minha mão ardendo na pele quente de seu braço. Deus do céu! Que calor e energia era essa que eu sentia agora, a poucos centímetro dela? Parecia que meu coração iria sair correndo do meu peito de tão rápido que batia , e esse frio na minha espinha me fazia mais insano. Seus olhos estavam tão ardentes que pareciam terem sido derretidos, de sua boca semiaberta saia uma respiração fraca e cortada, e isso me deu forças para continuar a inclinar meu rosto para o dela.

Todos os meus sentidos estavam focados somente a ela, o calor irradiado de seu rosto se misturando com o meu e me deixando mais louco do que eu já estava. Meu cérebro fora derretido em meio ao meu desejo e adrenalina, além de que uma energia intensa fazia meu sangue fervilhar. Eu estava hipnotizado por seu cheiro, seu calor, sua expressão, seus olhos fechados e sua boca esperando a minha.

Então, em um movimento quase que brutal, ela subitamente recuperou os sentidos e se afastou de mim, logo depois fugindo para o seu quarto, assustada.

Fechou a porta para que eu não entrasse.
       .

.

.


Só consegui ficar parado lá, não sei durante quanto tempo. Talvez horas, segundos, minutos, eu não sabia. Só o que sabia era sensação da onda de emoções percorrendo o meu corpo e fazendo minhas pernas tremerem. Eu não conseguia afastar a sensação de tê-la tão próxima, parecia que ela continuava ali. Minha mente girava entre a razão e a emoção, meu coração estava batendo como um louco.

Depois de um tempo, consegui, não, me lembrei de voltar a respirar e encostei-me ao corrimão ao meu lado. Expirei alto, tentando jogar para fora toda essa adrenalina em meu corpo e fechei os olhos, me recordando na hora do nosso quase beijo.

Deus, essa garota estava me deixando louco. Como ela conseguia me deixar desse jeito apenas com sua proximidade? Nós nem nos beijamos e meu coração dava um salto toda vez que eu me lembrava disso. Parecia que eu era um jovem inexperiente de novo. Eu estou ficando louco.

Acho que ela finalmente conquistou seu coração... – 
a voz provocou.

Sim... 

Espera, não! Empertiguei-me. É claro que não! Eu não posso me apaixonar por ela. Seria totalmente inapropriado me apaixonar por ela, me convenço.  E eu sei muito bem dos porquês. 

Entretanto, eu não conseguia acreditar que o que ocorrera – ou quase ocorrera -, era algo inaceitável. Tudo o que eu estava sentindo não era algo ruim. Na verdade era bom, algo muito bom mesmo. Mesmo que fosse errado. 

Suspirei resignado e fui jantar.                                

A presença de Angel me acompanhou por todo aquele resto de dia.


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Notas finais do capítulo

Capitulo betado pela lady mikaelson. O que acharam? Comentem!

E só pra avisar, a capa da historia foi atualizada!



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