Nós escrita por Matheus Gama


Capítulo 5
Quando o medo se faz presente


Notas iniciais do capítulo

oi mininas tutupom?
(POV Humberto)



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— Tá nervoso? — meu pai perguntou, juntando-se a mim e minha mãe no sofá.

— Um pouquinho — respondi, minimizando a extensão do que eu sentia.

— E por quê? Até parece que é a primeira vez que você vai conhecer uma sogra.

— Pois é — minha mãe concordou. — Tudo bem que as antigas não foram muito com a sua cara, mas…

— Carla! — meu pai a repreendeu.

Aquela seria a terceira vez que eu seria oficialmente apresentado à mãe de um namorado e eu não havia me dado bem em nenhuma dessas situações. Não que as sogras que já tive fossem como bruxas ou fizessem coisas para me afastar de seus filhos, não chegava a tanto; elas só não gostaram de mim e não fizeram o mínimo de esforço para mantermos uma relação que fosse, ao menos, relativamente boa.

Diante desse cenário, eu mentalizava toda a positividade que eu conseguia para acreditar que estava tudo bem; que seria como nos filmes, onde surgem coisas com grande potencial de abalar a relação do casal principal, mas que os personagens arranjam um jeito de lidar com os problemas e tudo fica ainda mais lindo no fim, com essa pegada de superação por conta do amor que é maior que tudo. Adoro isso, mas na vida real nem sempre é assim.

Embora meus relacionamentos anteriores não tivessem terminado mal unicamente por essa coisa que eu tinha com as sogras, isso pesou bastante.

— É brincadeira, gente. — Ela riu, acariciando meus cabelos. — Filho, fica tranquilo, tu sabe que é especial. Eu preciso mesmo fazer o papel de mãe-babona e ficar listando suas qualidades pra fazer você perceber que ela só tem motivos pra gostar de você? 

Na verdade, eu precisava que ela listasse sim. E eu precisava não por capricho — até porque eu sempre fui bem ciente das minhas qualidades, ainda mais depois que passei a viver com um homem que felizmente faz questão de ressaltá-las constantemente —, mas porque na hora em que a ansiedade e a insegurança se juntam, qualquer coisa, por menor que seja, parece ajudar… mesmo que não ajude realmente.

— Humberto... — meu pai respirou fundo e permaneceu em silêncio por alguns instantes, olhando para o chão, antes de virar-se para mim e continuar: — Eu sei que nós dois não conversamos muito, então eu não sei muito sobre o seu namoro com o Leonardo, como é o dia-a-dia de vocês, como ele trata você e essas coisas… Eu posso ser um pouco mais ausente do que eu deveria, inclusive peço desculpas por isso, mas agora eu tô aqui e eu não sou cego. Eu vejo que você tá feliz e ele parece estar feliz também. Eu vejo que você gosta dele e ele aparenta gostar de você também, só isso importa.

Quem dera fosse… Mas não era tão simples assim. Para um casal funcionar, é preciso que haja mais que o sentimento recíproco; é preciso saber lidar com os fatores externos que podem acabar influenciando diretamente a relação, como a opinião negativa de alguém bastante próximo, por exemplo. E no caso do Léo, sendo ele uma pessoa super família, rejeitada pelo pai e que estava vendo o esforço que sua mãe religiosa fazia para apoiá-lo nessa questão da sexualidade, não era absurdo pensar que as coisas entre nós deixassem de progredir caso a mãe dele não gostasse de mim.

Entretanto, apesar de discordar um pouco do que meu pai disse, todo aquele discurso foi algo bem inesperado e me deixou bastante emocionado. Talvez por sua honestidade em reconhecer sua ausência e a existência de uma barreira em nossa relação de pai e filho, tal qual era carente de diálogos de assuntos mais íntimos e pessoais, ou pela maneira carinhosa com a qual ele havia falado sobre aquele momento, sobre o que ele via entre Léo e eu.

Apesar dos pontos a serem melhorados, eu não podia reclamar, pois já sabia o quão sortudo eu era por ter um pai que me aceitava e me apoiava. Isso, inclusive, me levava a pensar sobre a relação que o Léo tinha com o pai dele.

Naturalmente, o homem era uma das pessoas mais importantes em sua vida, mas o relacionamento deles foi fortemente abalado após ele tomar conhecimento da verdadeira sexualidade do filho.

Era triste saber que não era recíproco o amor e importância que Léo dava para a opinião do pai, visto que este ainda insistia em recusar qualquer proximidade e conversa sobre o assunto, recusando-se a encarar a realidade, mesmo sabendo que isso o feria — e, acredito eu, que era prejudicial até a si mesmo.

— Beto? — Léo entrou no quarto, pegando-me de surpresa.

— Não vai mais buscar sua mãe? — perguntei.

— Esqueci minha carteira e voltei pra buscar — ele nunca sai sem os documentos, coisa que não aprendi ainda — Sua mãe acabou de me falar que você tá tão nervoso que parece que vai ter um treco. Tá tão assim?

— Ela fala demais, você sabe.

— Então é mentira? — Léo puxou a cadeira do computador para sentar-se à minha frente e segurou minha mão.

— Claro que não. Ela não é mentirosa, só é exagerada… acho que ela é o próprio Cazuza.

— Pode parando — disse, entre risos. — Eu sei o que você tá fazendo…

— Ah, é? E o que seria?

— Tu sempre fica fazendo graça pra desviar de algum assunto, mas não vou cair dessa vez.

— Não é por mal, você ouviu minha mãe… tô quase tendo um treco. O que mais eu poderia fazer pra evitar isso?

— Se acalmar, ué. — Suavemente, Léo começou a movimentar seu polegar em movimentos circulares sobre a minha mão, numa tentativa de me tranquilizar. Até que estava funcionando. — Você não tava assim nem quando fomos ver a volta do Rouge.

— Tu quer comparar? Eu tava ansioso pra voltar a ser possuído pelo ritmo ragatanga, não dá pra comparar com o fato que vou conhecer a pessoa mais importante da vida de uma das pessoas mais importantes da minha.

— Então faz de conta que minha mãe é, sei lá, a Fantine ou a Aline.

— Ai, querido… você realmente não vai querer que eu conheça sua mãe como se ela fosse uma das duas… ela sairia daqui no mínimo traumatizada e aí mesmo que ela não ia gostar de mim.

— Esse é seu medo, então? — Léo riu, como se aquilo fosse a coisa mais idiota do mundo; por um momento, envolvido por aquela risada contagiante que inclusive considero como um dos melhores sons da vida, cheguei a acreditar que realmente era.

— Só quero que tudo dê certo, sabe? Eu não tenho o melhor histórico de relações entre sogra e genro, e embora isso seja mais culpa das sogras que eu tive do que minha… não vou me perdoar se eu acabar estragando tudo dessa vez.

— É bonito da sua parte pensar assim, mas isso não combina com você, Beto. Todo mundo sabe que o papel de medroso do casal é meu.

— Parece que o jogo virou, não é mesmo?

 Por influência dos meus pais, acabei indo junto com ele até a rodoviária. Eles conseguiram me convencer que talvez fosse melhor conhecer a mãe dele logo e ter um tempinho em particular com ela, somente nós e Léo, para não ela não sentir a pressão de conhecer o namorado de seu filho e seus sogros ao mesmo tempo.

Obviamente os minutos da rodoviária até nossa casa não seriam o suficiente para ficarmos à vontade, mas pelo menos eu poderia fazer uma rápida analisada sobre ela e tentar ajudar a conduzir o almoço da maneira mais tranquila possível.

— Um beijo pelos seus pensamentos — Léo sussurrou em meu ouvido, enquanto caminhávamos na rodoviária em direção à plataforma que ela desembarcaria. 

— Só imaginando alguns cenários mesmo...

— Os piores, né?

— E eu lá por acaso sou negativo?

— Não, você não é, você está. Mas não precisa ficar assim, Beto. — Léo puxou minha mão, tirando-a do meu bolso, e a segurou. — Nós estamos juntos, você é um homem, minha mãe já não deve gostar de você...

— Nossa, ajudou bastante — interrompi, voltando a colocar minha mão no bolso. Nem tanto pelo comentário anterior, mas por não achar legal ficarmos de mãos dadas e corrermos o risco desta ser a primeira imagem nossa que a mãe dele veria. 

— Calma, eu nem terminei. — Puxou minha mão novamente, desta vez entrelaçando nossos dedos. — Na pior das hipóteses ela vai continuar achando que eu devia namorar, casar e ter filhos com uma mulher, e eu vou continuar namorando, querendo casar e futuramente ter filhos com você. Ou seja, qual a diferença? 

— Léo, você tá tranquilo aí porque meus pais são super de boa com essas coisas e você sabia, então pra você é fácil.

— Porra, Beto, pra mim é fácil? — Léo parou na minha frente. Mesmo com um tom de voz mais ríspido, sua mão ainda segurava a minha da mesma forma de antes. — Sério que você disse isso? É isso que você acha?

Por trás dele, avistei um rosto que já conhecia por fotos: minha sogra.

Além de não conseguir respondê-lo enquanto a mulher se aproximava, quando ela chegou bem perto e o chamou pelo nome, fiz a besteira de agir impulsivamente e soltar nossas mãos.

Léo olhava, incrédulo, entre mim, sua mãe e as nossas mãos separadas.


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Notas finais do capítulo

pedir perdão pelo sumiço seria muita cara de pau? e pedir pra vocês comentarem pra eu saber se alguém/quem ainda acompanha, também? :(



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