Como de costume, peguei o lanche que Sarah costumava fazer para mim. E para minha surpresa, ela havia feito igualmente para Yoongi. No mesmo minuto que peguei o meu, ele assim o fez também.

— Vamos? – Ele perguntou, tão natural, que tive a certeza que Yoongi sofria de transtorno bipolar. Ao que parece, somos mais parecidos do que pensei.

            Não respondi, apenas o segui. O motorista já deveria está nos esperando. Papai e a Sra. Yanna já devem ter ido trabalhar, portanto, não iriam se despedir.

— Já pensou sobre o que falei ontem? – Olhei para ele, que parecia tão curioso com a minha resposta quando eu estava em relação a sua mudança de humor.

— Pensei. – Respondi. – Mas ainda não sei o que fazer...

— Seu problema me parece simples de resolver. Não sei porque está fazendo uma tempestade em um copo d’água.

            Bufei. Se ao menos ele soubesse, não seria tão debochado assim. Contudo, eu não o culpava se me achava uma louca com frescura.

            “Seria tão mais fácil se o problema fosse só esse...”

— Qual é... vai me dizer que se apaixonou por algum dos meus amigos? – Fez careta.

— Eu não disse iss.. quer dizer, eu não pensei iss... Aish. – Cruzei os braços, impaciente.

            Por um momento lembrei-me de Taehyung e aquele abraço. Era impossível não lembrar disso e não me sentir envergonhada. O que eu estou pensando?! Não era pra ter lembrado disso.

— É o taehyung? – Yoongi parecia diposto a me irritar.

— Não! – Respondi, um pouco impaciente e preocupada com a possibilidade dele ter ouvido meus pensamentos de novo.

— Porque está irritada? Só foi uma hipótese. – Disse. – Pela forma como ficou preocupada em me “esconder” dele, imaginei que estivessem juntos.

— Iss é ridículo. – Bufei. Yoongi estava me deixando mais nervosa e constrangida com a lembrança que ainda pairava. Afinal de contas, o que ele tinha a ver com isso. Teria algum problema com Taehyung por acaso?

— Está vermelha. – Yoongi apontou.

— Estou com calor. – Menti.

— Estamos no ar-condicionado. – Falou ele, como se fosse a coisa mais óbvia. Me senti uma idiota.

— TPM. – Menti mais uma vez. Ele não pareceu acreditar. Mas fingiu que sim.

— Enfim... – Yoongi suspirou. Parecia cansado. – Hoje temos pafletagem das oficinas. Já escolheu algum clube?

            Era incrível como ele conseguia mudar da água pro vinho. Eu estava começando a achar que não era tão louca assim.

— Clube de Leitura.

— Não estou surpreso.

— Porque?

— Você parece ser o tipo de pessoa que vive dentro de uma biblioteca.

— O que quer dizer com isso?

— Só deduzi.

— Quando fala “O tipo” de pessoa.. soou como se isso fosse ruim.

— Eu não disse isso.

— Mas pareceu.

            Yoongi suspirou mais uma vez. Imaginei que diálogos como estes, o irritava profundamente.

— Para sua informação, eu era do clube de matemática. – Falei, me sentindo orgulhosa por deixá-lo surpreso.

— Deixa eu adivinhar. É você quem está dando aulas extras a Jimin? – Perguntou, mesmo sabendo a resposta. Não precisei confirmar. – Deve ser muito boa em matemática.

— Pode ser.

— E porque quer mudar?

— Estou testando novas oportunidades.

— Isso é uma surpresa. – Disse. – Achei que estivesse fugindo delas.

— Estou fugindo das pessoas, e não de novas qualificações. – Rebati.

—  Mudanças são sempre mudanças. Deve aceitar tudo que vem com elas.

— Você anda muito conselheiro. Está querendo mesmo me ajudar, ou isso é alguma brincadeira sua pra me irritar?

— De nada. – Fez careta.

            Bufei. Era difícil dizer obrigada para Yoongi. E também era difícil pedir desculpa. Mas eu sentia que deveria, mesmo a contra gosto.

— Me desculpe. – Suspirei. - ..e obrigada.

— Tudo bem. – Respondeu.

            Em seguida, o carro parou, um pouco antes do portão do colégio. Descemos, no momento em que nos despedimos do motorista. A maioria dos alunos já entravam as pressas e animados. Deduzi que a panfletagem das oficinas já havia começado. Notando que eu e Yoongi descemos juntos, foi inevitável mais cochichos pelos cantos do pátio. Nos despedimos apenas com um simples até mais. Sem maiores cerimônias. Sabia que, independente de como fôssemos, as pessoas falariam do mesmo jeito. Decidi jogar tudo para o alto.

— Jiwoo! – Ouvi Namjoon me chamar em uma das tendas erguidas. Me aproximei, ciente de que aquela era a tenda do clube da leitura.

            Eram poucos os alunos que se inscreviam naquela oficina. Em parte, me senti aliviada com a possibilidade de não ter que me preocupar em interagir com mais ninguém. Por outro lado senti pena de Namjoon por não conseguir atrair o tanto suficiente para fazer o clube funcionar.

— Acho que preciso me inscrever. – Falei, já preenchendo um questionário pro clube. Ele sorriu, empolgado ao meu lado.

— Porque saiu daquele jeito ontem? Dissemos algo que a chateou? – Namjoon perguntou, preocupado.

— Oh... – Lembrei-me do ocorrido. – Me desculpe. Eu tinha me lembrado de um compromisso. Precisei ir embora.

— Entendo.. – Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, alguém se aproximou.

— É aqui o clube da leitura? – Ouvi a voz de Jin.

— Você sabe que sim, Jin. – Namjoon parecia inquieto. – Porque?

— É assim que recepciona novos membros do clube? – Jin sorria, fingindo-se ofendido. Sorriu para mim antes de começar a preencher o questionario.

            Nunca pensei que veria Kim Seokjin se inscrevendo no clube de leitura. Era surreal. Ele parecia ser o tipo que passava horas a fio lendo e debatendo sobre literatura. Me recusava a acreditar que ele estivesse fazendo isso por espontaneidade.

— Sério? Clube da leitura? – Namjoon desconfiou, no momento em que viu a assinatura do mais velho. – Porque não estou surpreso?

            O que Namjoon queria dizer? Deveria está surpreso sim. Kim Seokjin era o tipo de pessoas que se preocupava com a imagem. Namjoon não poderia está desconhecendo o próprio amigo... poderia? No entanto, senti certa tensão no ar.

— Eu disse que faria. – Jin retrucou. Os dois pareciam travar uma batalha visual. O que eu estava fazendo ali ainda? Não era problema meu se estiverem com algum problema pessoal.

— Boa sorte, Namjoon. – Desejei, antes de fazer uma leve reverência para eles e saí a passos largos, me misturando por entre os alunos.

            Pensei em procurar um lugar na arquibancada para me acomodar até a palestra de panfletagem. Mas acabei encontrando Jimin discutindo com Jung Mynho. Representante do clube de matemática.

— (...) Não acredito mesmo que possa se juntar a nós. – Mynho dizia, a medida que eu me aproximava da discussão. Não sabia o motivo pelo qual eu estava interessada em observar.

— Está usando de discriminação, sabia? – Jimin rebatia. – Eu tenho tanto direito quanto qualquer um de me candidatar a este clube.

— Sem chance! Isso é clube de matemática, não uma passarela pros populares. – Mynho parecia vermelho e irritado, tal como Jimin.

— O que aconteceu? – Não sei de onde tirei a ideia absurda de entrar naquela discussão. Sabia que não deveria me intrometer, mas sentia que Jimin não merecia ouvir nada daquilo.

— Miller, estamos guardando sua vaga conosco. – Mynho parecia certo de que eu estaria do seu lado. Ignorou, completamente, Jimin ao seu lado. 

— Obrigada Mynho, mas decidi me inscrever no clube da Leitura. – Respondi. – Porque não passa a minha vaga para Park Jimin? Ele é muito bom, sabia? – Enalteci o loiro, que sorria, agradecido para mim.

— Não acredito que vai abandonar o clube. – Mynho se irritou. – Então é verdade o que dizem por ai.. está andando com os populares e até agindo como uma. Ta namorando algum deles, não é?

            Aquilo era um absurdo. Imaginei até que ponto aqueles boatos iriam. O que mais teriam que inventar. Não era da conta de ninguém o que eu fazia ou deixava de fazer.

— Isso não é da sua conta. – Respondi, sem perder a paciência. Não me trocaria com Mynho. Ele não valia a pena.

— Está se tornando uma qualquer, como todas as outras atrás desses populares...

            Desta vez, eu não tive como me segurar. Mynho tinha a fama de ter a língua solta, mas não pensei que chegaria a fazer isso comigo, porque ele sempre me respeitou. Pensei em me aproximar parar ensiná-lhe uma lição. Mas antes que eu pudesse reagir, Jimin socou-lhe com toda a força que tinha.

            Nem preciso dizer o quanto aquele gesto chamou a atenção.   

            ...E o quanto Park Jimin estava ferrado por isso.

            ...E o quanto eu me sentia culpada por isso.

            Em todos os sentidos.