— Jiwoo? – Ouvi uma leve batida em minha porta. Estranhei o fato de ser a voz da Yanna, e não a do meu pai. Terminei de amarrar os cabelos, indo até a porta, abrindo-a em seguida.

— Sra. Yanna. – Fiz uma leve reverência em cumprimento, permitindo a sua entrada em meu quarto. A mesma sorria, olhando ao redor, e parecia bastante satisfeita.

— Sarah viria te chamar para jantarmos, mas preferir vir eu mesma. – Disse, me fitando. – Queria conversar com você.

            Curiosa, apenas assenti, pedindo para que sentar em uma poltrona de frente para a cama e próximo a janela. De muito bom grado, e bastante graciosa, ela sentou.

— Aconteceu alguma coisa? – Perguntei, ansiosa.

— Bem... – Começou, juntando as mãos. – Na verdade, eu estou bastante preocupada com sua opinião sobre eu e seu pai. Não quero que tenhamos nenhum mal entendido e que possamos nos dar bem. – Dizia, e notei que ela era uma mulher decidida. Meu pai não poderia ter escolhido melhor. Era muito fácil me sentir a vontade com a Sra. Yanna, mesmo quando ela era bastante expressiva e exagerada em seus gestos quando muito animada. 

— Não se preocupe, Sra. Yanna... Eu estou bem com tudo isso. – Tentei sorrir para deixá-la tranquila. De fato, não havia nada que me incomodasse nela, a não ser, é claro, seu filho, que mesmo sem um motivo plausível, eu ainda não e sentia completamente certa sobre ele.

— Está mesmo?! – Ela, por um momento, se empolgou, para logo em seguida se recompor. – Ah... Sim. Isso me deixa muito aliviada. Saiba que estarei sempre aqui para o que precisar, e tomarei muito cuidado para não invadir seu espaço... – fez um gesto abrangendo o quarto. - ...Esses espaços de adolescentes.. – Disse e em seguida, quase em um sussurro. – Yoongi não gosta muito quando pergunto sobre o dia-a-dia dele. – Por um momento, tive vontade de rir de sua confissão inocente. – Ficaria feliz se vocês dois pudessem ser amigos.

            Assenti, mesmo não sabendo ao certo se gostava da ideia. No entanto, dada as circunstâncias na minha vida. Não seria algo impossível de acontecer. Eu só precisava aprender a confiar. De qualquer forma, eu não seria indelicada em discordar da Sra. Yanna. Ela não tinha nada a ver com meus problemas.  

— Fico feliz que a Sra. entenda que precisamos desse espaço. – Disse, me referindo ao que havia dito sobre “espaço de adolescente”, arrancando-lhe um sorriso meigo.

— Acho que vamos nos dar muito bem mesmo. Sempre quis ter uma filha! – Se levantou, sorridente. – Vai descer? O jantar será servido.

— Claro! – Respondi, acompanhando-a corredor e escadaria abaixo.

            Yanna era uma mulher divertida, e eu estava aliviada por isso. Mesmo não estando acostumada com tanta demonstração de afeto assim por parte de uma mulher mais velha – Tirando Abby -. Minha mãe não era o tipo de pessoa que costumava demonstrar muito amor, mas eu não duvidava que me amasse.. bem.. eu mantinha aquele pingo de esperança.

— Ah.. ai estão as duas. – Appa fez gesto para que sentássemos. Yoongi já estava a mesa, e parecia mais quieto do que o normal.

            Para quem visse de fora, era possível notar que parecíamos uma verdadeira família unida. E eu não ficaria surpresa caso meu pai decidisse casar-se logo. Apesar disso, eu esperava que demorasse um pouco mais. Ainda não havíamos decidido nada sobre dizer ou não sobre quem era a minha mãe. Papai não tomaria nenhuma decisão sem antes me consultar, e eu confiaria.

— Eu falei sério sobre ninguém saber que está por aqui. – Falei para Yoongi, logo depois que Appa e a Sra. Yanna se retiraram para dormir.

— Não vejo problema nenhum nisso.. não é como se a gente estivesse fazendo algo de errado. – Yoongi disse, despojado no enorme sofá.

— Eu sei disso. – Sentei-me na ponta da poltrona, de modo que me aproximasse mais de onde ele estava. – Mas todos eles parecem curiosos demais para o meu gosto. Não quero ter que dar satisfações ou algo do gênero.

— Então não dê. – Yoongi nem mesmo parecia disposto a colaborar. Revirei os olhos.

— Acho que é fácil?! – Me exaltei um pouco. – Em um dia, eu era apenas a Jiwoo, quieta e recluso. De repente no outro, meu nome já está na boca de todos os populares.

— Não vejo problema nisso. Deveria aproveitar a evidência para fazer mais amizades.. – Me fitou. – Não é isso que toda garota quer? Um pouco de atenção.

            Yoongi parecia está me testando.

— Não sou esse tipo de garota! – Me levantei, irritada. – Qual o seu problema? Achei que estivesse querendo fazer papel de irmão mais velho. – Debochei. 

— Isso não inclui está interessado em sua vida amorosa. – Respondeu.

            Mas o que ele tinha?! Porque estava agindo feito um babaca?

            Eu sabia que Yoongi tinha fama de ser insuportável quando queria. Só que não achei que fosse de fato assim, tendo em vista a forma como havia me tratado no dia anterior. E não era como se eu me importasse com isso. Mas era, no mínimo, estranho essa mudança de comportamento.

— Não existe nenhuma história amorosa aqui. – Rebati. Era ridículo discutir isso. – Poque está agindo assim? É sobre os nossos pais?

            Não sei porque estava tão preocupada com isso. Yoongi já era quase um adulto. Deveria ter consciência e compreensão das coisas.

— Deve saber que não estou gostando muito dessa história. Mas não acho que possa me ajudar. – Disse, seco. Voltei a me sentar.

— Se quiser conversar, estou aqui. Não vou agir feito babaca. – Fui sarcástica e ele me fitou impaciente.

— Eu sou um babaca pra você?

— Não sei... – Dei de ombros. - Esta agindo como um.

— Achei que não quisesse aproximação.

— Dada as circunstâncias, não acho que me afastar seja uma opção. – Retruquei. – Nossos pais se gostam, e querendo ou não, vamos ter que aprender a conviver com isso. Fui tola em pensar que não precisávamos interagir. – Confessei.

— E porque não quer que ninguém saiba que estou aqui? – Perguntou. Yoongi, definitivamente, me irritava. Mas eu sabia que ele estava fazendo questionamentos certo. Eu, como sempre, complicava.

— Já falei... É por causa dos boatos. – Suspirei. – Esquece... Faz o que quiser. – Me levantei, pronta para subir.

— Você é bem complicada, sabia?

— E mais uma vez, obrigada pela observação óbvia. – Falei, sendo sarcástica.

— Se quer que os boatos parem, então aprenda a ser firme com o que quer, ou aceite o que vier. – Olhei para ele. – O que acha que pode perder com qualquer uma das opções? É simples.

            Porque para ele as coisas eram tão simples? E mesmo não admitindo, ele estava certo sobre tudo. Eu que não aceitava está passando por isso. Estava sempre em cima do muro. Sem tomar decisões. Ou era oito, ou oitenta.

            E sabe o que é pior? É que esse “conselho” servia para meu verdadeiro problema.

            “O que eu tinha a perder?”

            Antes de subir, dei uma última olhada para o loiro, que voltara a prestar atenção na TV. Eu o odiava, mas sabia que, de alguma forma, ele estava tentando de me ajudar, mesmo que não soubesse o quanto.