Como Nascem os Anjos escrita por aishaandris


Capítulo 4
Como Nascem os Pais


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores! ♥♥♥
Finalmente voltei com o final desta historinha que foi tão especial para mim e que simplesmente amei escrever. E tudo isso se deve a vocês, que a receberam com tanto carinho. Preciso agradecer a cada um que leu, favoritou e comentou a fic, vocês foram minha inspiração maior. Um muito obrigada a todos!
Faço um agradecimento especial à Juju também, que betou este capítulo, mandou esta linda imagem da capa e contribuiu com várias ideias. Thank U, minha gêmea preferida *..........*
Acho que era isso, boa leitura a todos!



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Minha Filha, Meu Amor

 

Você nasceu com um brilho reluzente
Que em teus olhos a beleza refletia
Primeiro choro a mais bela poesia
Que irradia como uma estrela cadente
Serei o Pai que o amor será presente
Em cada passo em que você possa alcançar
Nos tropeços em que a vida te ofertar
O meu amor te servirá de proteção
Como uma redoma estarás no coração
Pra toda vida minha filha eu vou te amar.

 

Guibson Medeiros (adaptado)

 

Após devolver Alana à enfermeira, que a levou de volta ao berçário, Athans e Alec seguiram o Doutor Megalos por corredores brancos e bem iluminados que os levaram até a frente de uma porta fechada, também branca, onde deduziram ser a sua sala. O médico a abriu com calma e deu um passo para o lado, permitindo que eles entrassem primeiro.

Os olhos do empresário se arregalaram por completo ao ver quem estava ali dentro, esperando-os.

— Melissa... – pronunciou o nome da esposa com uma cara de espanto, que logo tratou de disfarçar. Mas ao dirigir seus orbes ao doutor, não fez questão de esconder o ódio neles contido – O que está acontecendo aqui? – perguntou, soando um pouco mais surpreso do que gostaria.

— Alex, seu canalha, como pôde fazer isso comigo? Me trair com uma mulherzinha qualquer, pior ainda, uma adolescente! – a mulher não se importou com a presença dos demais e começou a despejar tudo o que sentia, fitando o empresário com uma expressão raivosa e lágrimas nos olhos.

— Vou deixá-los a sós, acredito que precisem conversar! – o médico disse com naturalidade, saindo da sala. Com o olhar, Athans ordenou que seu capanga fosse atrás dele e vigiasse seus passos. Cuidaria do linguarudo depois, por hora sua prioridade era se entender com a esposa.

— O que disseram pra te envenenar contra mim? – questionou, aproximando-se da mulher e tentando acariciar seu rosto, mas ela deu um passo para trás, em repúdio ao seu toque.

— A verdade... Me contaram o monstro, o traidor maldito que você é! – Melissa sentia raiva, nojo e, sobretudo, decepção pelo marido – Eu não acredito no quanto fui cega... Vinte anos e eu não consegui enxergar quem você era de verdade!

— Mel, por favor... Me escute!

— Não me chame assim! – ela retorquiu irada – Você nega que teve um caso com aquela maldita?

— Ela não significou nada para mim...

— Vocês tiveram uma filha juntos! – a voz da mulher se elevava sobre a dele, fazendo-o suspirar desanimado. Nunca haviam brigado, exceto as briguinhas bobas que todo casal tem. Será que ela não entendia que a amava? Que Juliana era... Outra coisa. Jamais trocaria uma pela outra, precisava das duas de forma diferente. E já havia perdido sua ninfa de cachos dourados, não perderia a esposa também.

— Eu nunca quis isso!

— É por isso que você mandou matá-la? – Athans não conseguiu conter o choque ao ouvir aquilo, observando os olhos da mulher se tornarem sombrios de repente.

— Eu não mandei matá-la! De onde tirou...

— Por que não? Ela não seria a primeira... Meu pai, por outro lado, talvez tenha sido! – Melissa o interrompeu bruscamente, sem dar tempo para que contasse outra mentira. Não tinha frieza o bastante para ouvi-lo e ficar quieta. Precisava desabafar, jogar na cara tudo o que havia descoberto sobre ele.

— A morte dele foi um acidente! – Athans se via cada vez mais encurralado, sensação que definitivamente não estava acostumado a sentir. Geralmente estava no controle das situações, controle esse que precisava recuperar de qualquer maneira. E para isso tinha que descobrir quem havia contado todas aquelas coisas à sua mulher e depois eliminá-lo.

— Um acidente provocado por você! – ela retorquiu com um grito, não conseguindo reprimir o choro – Por quê? Eu preciso saber, Alex... Ele sempre te tratou como um filho... Não merecia isso!

— Eu fiz isso por você... Por nós. Seu pai era um maldito jogador, torrava todo o dinheiro da família em cavalos. Se eu não tivesse parado ele, onde acha que estaríamos? Eu, você, sua mãe, as crianças... Foi preciso! – Melissa olhava para ele com uma expressão perplexa, sem conseguir falar nada ou sequer interrompê-lo – Não faz ideia de como foi difícil reverter aquela situação... Quando eu cheguei à presidência da companhia, havia um rombo tão grande nas contas que a diretoria foi unânime ao me aconselhar a desistir. Vender a empresa e conservar ao menos um pouco do patrimônio que ainda nos restava. Foi por você que eu me recusei a ouvi-los, não suportaria que olhasse para mim e visse um fracassado, alguém que desiste sem lutar. E valeu a pena! Eu recuperei a honra da nossa família, fiz com que voltássemos a ter um nome que inspira respeito, e não chacota, vergonha...

— E o que mais precisou fazer para “salvar” nosso nome? Quantas pessoas precisou matar? Diga... DIGA!

Por que ela continuava a gritar? Por que continuava a olhá-lo com aquela raiva, aquela decepção? Athans não conseguia entender. Ela deveria estar de joelhos, agradecendo-o por tudo o que havia feito. Sempre foi um bom pai, um bom marido... Sempre se sacrificou pelo bem da família! E jamais havia pedido algo em troca, exceto que fossem felizes, que desfrutassem de tudo o que proporcionava a eles. Por que tamanha ingratidão?

— Você não está bem, meu amor... Está nervosa demais! – o empresário falou com uma expressão de tristeza, aproximando-se da mulher e a abraçando, ignorando a distância que ela claramente queria manter dele.

— Me solte, Alexandre! – ela mandou, esforçando-se para se libertar dos fortes braços do marido.

— Vai ficar tudo bem... Eu vou cuidar de você! – abraçou a esposa com mais força. Tinha certeza de que era apenas o estresse do momento, as coisas voltariam ao normal quando ela esfriasse a cabeça e percebesse o quanto a amava, o quanto a fazia feliz. Nada mais importaria.

Naquele momento, a porta de um cômodo adjacente à sala do Doutor Megalos, provavelmente um banheiro, abriu-se ruidosamente, fazendo um estrondo ao chocar-se contra a parede. Athans se virou com a expressão assustada naquela direção.

— Vocês?

— O que foi? Parece que viu um fantasma... – Afrodite disse com um sorriso de canto, adorando ver a cara de idiota que o empresário fazia – Ou seriam três?

Ao ouvir aquele som, Alec e o Doutor Megalos entraram de rompante na sala. O primeiro para acudir seu chefe e o segundo, por saber quem eram os responsáveis por aquilo. O capanga olhou para os dourados com a mesma cara embasbacada do patrão.

O trio havia conseguido escapar do carro e salvar o motorista antes que o tiro os atingisse, encaminhando-se diretamente ao hospital, para onde sabiam que o empresário iria. E haviam telefonado para a Senhora Athans, convencendo-a a ir para lá também. Enquanto o empresário “visitava” a filha, puderam lhe contar tudo o que Saori havia descoberto por meio da investigação feita pela Fundação Graad. O médico, claro, havia feito parte da trama.

— Não ouviu sua mulher? Afaste-se dela! – Shura falou com a imponência que lhe era característica. Melissa tomou coragem e se livrou do aperto do marido com um puxão forte, não perdendo tempo e correndo até o espanhol, escondendo-se atrás dele. O semblante de Athans se fechou ao ver isso.

— Então foram vocês, malditos? Vocês fizeram a cabeça dela contra mim! Quantas mentiras sórdidas precisaram inventar para isso? – passou os olhos pelos cavaleiros e sentiu a falta de alguém – E aquela vadia de língua comprida, onde está? Deveria ter vindo com vocês...

— De quem está falando? – Afrodite questionou confuso, antes de a ficha cair e seu coração palpitar mais depressa, compreendendo a quem ele se referia. Apressadamente, virou-se para o médico – Doutor Megalos, onde está Cora?

— Ela saiu daqui dizendo que ia para casa.

— E faz quanto tempo que ela saiu? – Shura quem perguntou desta vez, parecendo transtornado.

— Uma hora, uma hora e meia mais ou menos...

— Eu vou atrás dela! – o espanhol falou de pronto, segurando o celular e discando um número – Atena deve conseguir o endereço dela com facilidade.

— Leve a Senhora Athans contigo e a deixe em segurança! – o pisciano pediu e Melissa pareceu gostar da sugestão, pois acompanhou Shura, que já estava caminhando na direção da saída.

— Está bem! – ele concordou.

— E quem disse que vou permitir que alguém saia desta sala? – o empresário se impôs, e Alec, como o cão adestrado que era, sacou a arma e se colocou à frente da porta.

— Preciso lembrar que estamos em um hospital enorme e cheio de testemunhas? – Afrodite indagou com naturalidade, fazendo o capanga olhar para o patrão em busca de respostas.

— Pode deixá-los sair, não faltarão oportunidades para cuidar deles depois! – Athans retorquiu a contragosto, sendo imediatamente obedecido.

— Doutor Megalos, saia também! – o médico assentiu e fez o que o pisciano sugerira, deixando os quatro homens sozinhos na sala – Agora nosso assunto é com você... – um sorriso sádico surgiu no rosto de Afrodite ao dizer isso.

Sem saber por que, o empresário sentiu sua barriga gelar naquele momento.

— Eu também vou sair daqui!

— Vocês não vão a lugar algum... – o sueco falou com a mesma expressão cruel.

— Como você mesmo disse, estamos em um hospital enorme e cheio de testemunhas. Não pode nos impedir!

— Não? Quer apostar? – virou-se para o canceriano – Mask, já sabe o que fazer...

Os dois homens observaram horrorizados enquanto o italiano erguia o dedo indicador e fazia a sala desaparecer, levando-os a um lugar que mais lembrava o próprio inferno...

***

O assassino de olhos maldosos observou em silêncio enquanto o companheiro saía do quarto, mas assim que ouviu a porta se fechar, voltou a fitar Cora com a mesma lascívia de antes. Talvez até mais agora que estava livre para fazer o que quisesse com ela.

— Agora somos só você e eu, gostosa! – o sorriso devasso a fez dar um passo para trás, o estômago revirando só de pensar em ser tocada por ele. Porém, teve a cintura envolvida por braços fortes que a puxaram de volta sem qualquer delicadeza. Tudo naquele homem mostrava força e poder, sentia que poderia esmagá-la com apenas uma das mãos – Nem pense em fugir, apenas pioraria as coisas para você... Diomedes não será gentil como eu!

Observou impotentemente enquanto ele avançava sobre sua boca e, por mais que quisesse virar o rosto, simplesmente não conseguiu. A vontade de vomitar se tornou insuportável quando os lábios do capanga se apossaram dos seus, subjugando-a com uma força esmagadora, como se quisesse devorá-la. Tentou se debater, mas ele a apertou mais forte contra si, a mão na sua nuca impedindo que se movesse um centímetro sequer. Então, num gesto impulsivo, ergueu o joelho e acertou com toda a força entre as pernas do maldito. O grunhido de dor que ele soltou a fez vibrar de satisfação.

— Não me toque novamente, desgraçado! – ela gritou, aproveitando o breve instante de liberdade. Mas não pôde conter um tremor quando os olhos dele a fitaram com um ódio assassino.

— Quer dizer que gosta de violência? Tome isso então, vadia! – acertou um tapa tão forte no rosto de Cora, que ela foi lançada sobre a cama, completamente desamparada. A jovem instintivamente levou a mão ao local ferido, sentindo uma raiva enorme a dominar. Jamais havia apanhado na vida – Vou te dar mais do que gosta!

O assassino começou a abrir o paletó apressadamente, logo se livrando da peça. Como Cora havia deduzido, ele realmente estava armado, mas precisou colocar a pistola sobre o criado-mudo antes de tirar o cinto. Ela aproveitou a oportunidade e enfiou a mão sob o colchão, tirando uma 38 que sempre guardava ali, para sua própria segurança. Tinha medo de ser assaltada, estuprada ou morta enquanto dormia. E, sem perder mais tempo, apontou o revólver para ele.

— Coloque as mãos para cima, vai sair daqui agora mesmo com seu amigo! – os orbes escuros se arregalaram de surpresa por um segundo, mas em seguida, ao contrário do que a jovem esperava, ele começou a gargalhar.

— Acha que consegue me assustar com isso? Armas não passam de brinquedo nas mãos de quem não sabe usar, abaixe-a antes que se machuque! – Cora a apertou com mais força em vez disso, fazendo o semblante dele se fechar – Não ouviu o que eu disse? Solte!

— Coloque as mãos para cima! – repetiu, ainda que com a voz trêmula.

— Parece que está mesmo com pressa de morrer... É uma pena! – sem hesitar, ele esticou o braço na direção do criado-mudo.

— Pare! – Cora gritou desesperada, mas simplesmente não foi ouvida. E assim que os dedos dele se fecharam em torno da arma, alguém se agarrou às suas costas, distraindo-o e fazendo-o soltar um palavrão.

— Gato infeliz! – esticou um dos braços para trás e agarrou a felina, tacando-a de qualquer maneira no chão. Apontou a arma para o animal indefeso, mas antes que tivesse a chance de disparar, um tiro fez seu peito explodir – Maldita! – ele levou a mão ao coração, parecendo não acreditar que a jovem realmente houvesse atirado.

Cora observou com os olhos arregalados, em visível estado de choque, enquanto o capanga tombava ao chão, já sem vida. E no mesmo instante soltou a pistola, como se estivesse eletrificada. Não sabia como reagir ao fato de ter acabado de matar alguém, mesmo que em legítima defesa.

Diomedes correu para o quarto assim que ouviu o som do disparo, a arma engatilhada por pura precaução. Seus orbes passaram, atônitos, do corpo do amigo para Cora duas ou três vezes antes de finalmente acreditar na veracidade do que lhe mostravam. Como aquela garota franzina havia conseguido fazer aquilo a um homem forte e bem treinado? Agradeceu aos deuses – se é que existiam – por sempre conseguir pensar com a cabeça de cima, e não com a de baixo. Do contrário, poderia ter sido ele ali. E, sem dizer uma única palavra, apontou a pistola para a mulher que o fitava sem reação.

O som de um tiro foi ouvido na sequência. Uma bala que atravessou o cano do revólver e foi, implacável e certeira, alojar-se na cabeça do seu alvo, ceifando com isso a sua vida...

***

Shura chegava à casa de Cora no mesmo instante, correndo para o local onde havia ouvido o disparo. Foi recebido por um homem que o fitava com cara de poucos amigos, apontando uma arma na sua direção e atirando sem sequer pestanejar. Não queria deixar ninguém vivo para contar história...

***

— Em minha vida, tive a oportunidade de conhecer vários monstros. Pessoas frias e sem coração, capazes de fazer qualquer coisa sem um pingo de remorso. Eu era um deles... Há muito tempo atrás! – a voz de Afrodite parecia calma e melodiosa enquanto falava e fitava Athans com a expressão pensativa. Todavia, seu tom estava cortante como gelo, e seu olhar logo se tornou tão duro quanto – Mas eu nunca conheci alguém tão cruel como você, capaz de odiar e atentar contra a vida da própria filha, uma criança inocente. Um canalha assim não merece nada além da própria morte e todas as piores torturas que existem após ela. Por sua causa, vou ter que me tornar um monstro novamente...

O empresário instintivamente deu alguns passos para trás quando o pisciano começou a caminhar em sua direção. Pela primeira vez na vida, sentia medo. Um medo tão grande que fazia seu corpo tremer por inteiro.

— Alec! – gritou, num pedido desesperado de ajuda. Viu seu homem de confiança se virar para Afrodite e erguer a arma, pronto para disparar, e, menos de um segundo depois, a cabeça dele se separar do pescoço com um único e preciso golpe de Máscara da Morte, o corpo sem vida tombando ao chão enquanto o sangue jorrava por todos os lados – Que tipo de aberrações vocês são? – perguntou, seu rosto convertido numa máscara de terror. O pisciano nada disse, apenas sorriu cruelmente – Afaste-se...

— Para alguém tão valente, que adora ter sangue nas mãos, você está se saindo uma grande decepção... – como que para confirmar as palavras de Afrodite, as pernas de Athans bambearam antes de ele cair de joelhos no chão, suas calças se molhando de imediato. Isso arrancou gargalhadas de ambos os cavaleiros – Que vergonha!

— Fique longe de mim, maldito! – a voz, antes confiante e imponente, agora não passava de um murmúrio trêmulo e rouco, incapaz de despertar qualquer coisa além de pena em alguém. Pena que, entretanto, o pisciano não sentia. Máscara da Morte ficou parado, apenas observando enquanto ele se aproximava do empresário e o erguia pelo colarinho da camisa.

— Morra como um homem, desgraçado!

Tão logo terminou a frase, seu punho direito colidiu contra a face de Athans, lançando-o ao chão novamente. Desta vez, porém, em vez de tentar levantá-lo, ajoelhou-se sobre ele e voltou a socar seu rosto. Uma... Duas... Três... Tantas vezes que perdeu a conta. Continuou golpeando mesmo quando os gritos de dor cessaram, só parando de fazê-lo quando uma mão forte agarrou seu braço.

— Me solte, Máscara da Morte! – gritou, tentando puxar o punho.

— Acabou! Ele está morto... – pela primeira vez, Afrodite olhou para o corpo sob o seu, vendo uma massa disforme onde antes havia a cabeça de seu inimigo, o primeiro a conquistar seu ódio e a tirá-lo do controle.

Depois, numa reação inesperada, os olhos do pisciano se encheram de lágrimas e um choro sofrido teve início. Tudo o que havia acumulado nas últimas horas se libertou de uma só vez. A morte de Juliana. A sensação de impotência diante do fato. E a percepção de que vingá-la não a traria de volta nem diminuiria sua dor...

***

Aquele homem não acreditou quando Shura se esquivou da bala sem qualquer esforço, continuando a caminhar em sua direção.

— Quem é você? Como isso é possível? – deu alguns passos para dentro do quarto, temendo, não pela sua vida, mas pela de alguém que amava mais do que tudo – Vá embora, eu não vou errar novamente!

— Quem está aí?

A voz feminina fez Shura arregalar os olhos e correr para dentro do quarto, ignorando o homem armado, que deu mais alguns tiros que acertaram as paredes da casa.

— Cora? Você está bem? – aproximou-se da mulher de aparência abatida sentada na cama com um gato nos braços, notando depois os dois corpos sem vida no chão.

— Shura? – ela perguntou surpresa. O outro homem abaixou o revólver, não entendendo o que acontecia ali.

— Filha, conhece este Senhor? – Cora assentiu.

— Filha? – o espanhol também estava confuso com tudo aquilo.

— Eu sou o Capitão Laerte Colonomos, pai de Cora. E você? – o homem armado se apresentou, estendendo a mão para o cavaleiro.

— Meu nome é Shura, sou... Um conhecido da sua filha! – o dourado apertou a mão do policial com firmeza, sentindo-se aliviado ao constatar que tudo estava bem. Havia sentido um medo terrível de chegar tarde demais.

— Como conseguiu se esquivar dos tiros, meu rapaz? – Laerte questionou com curiosidade – E como sabia que minha filha corria perigo?

— É uma longa história... – foi a resposta para ambas as perguntas – Mas que bom que Cora está bem! E pelo visto, minha presença era desnecessária aqui...

— Shura também é policial, pai.

— É mesmo, de qual distrito? – o pai da jovem indagou, virando-se para o espanhol – Mas pelo menos isso explica o motivo de estar aqui. Também receberam o dossiê com as denúncias contra Alexandre Athans, não é verdade? – sem pensar em desculpa melhor, Shura assentiu – Assim que eu vi a história do caso dele com Juliana, deduzi que mandaria alguém atrás de Cora, afinal eram melhores amigas, nada mais natural que contassem tudo uma à outra. Foi o que me fez correr para cá! Se tivesse chegado um segundo depois... – a expressão dele se fechou, com raiva.

— O importante é que conseguiu salvá-la!

— Ainda bem que ensinei minha garotinha a se cuidar, ela conseguiu se livrar de um dos filhos da puta sozinha... – o cavaleiro viu Cora abraçar a gata com mais força, parecendo incomodada com o comentário.

— Não deve ter sido fácil. É difícil matar alguém, ainda mais quando é nossa primeira vez...

— Está certo, vamos mudar de assunto... – Laerte percebeu a intenção do espanhol – Vou ligar pra delegacia e contar o que aconteceu, assim nos livramos destes malditos o mais rápido possível! – ficou pensativo de repente, parecendo preocupado – Quanto tempo será que Athans levará para descobrir o que aconteceu aqui e mandar mais alguém atrás de Cora?

— Não se preocupe, ele não causará mais nenhum problema! – o policial franziu o cenho com a segurança que Shura demonstrou ao falar isso – Já cuidamos dele... – completou, simplesmente.

— Isso é uma ótima notícia! Parece que tudo acabou bem no final das contas...

O cavaleiro assentiu, sorrindo de canto. Tinha certeza de que, àquela altura, Afrodite já tinha dado um fim mais do que merecido ao monstruoso empresário. Estava certo, é claro... E com uma pequena mãozinha do santuário, ninguém jamais descobriria o que realmente havia acontecido a ele.

***

Um mês depois...

Os dias se arrastavam na longa espera, nunca o tempo parecera correr tão devagar quanto naquele mês. Afrodite girava um móbile de fadinhas violetas que ficava sobre o berço branco e abraçava um pequeno travesseirinho, aspirando o suave cheiro de neném que já impregnava o ambiente antes mesmo da chegada de sua dona. As paredes do cômodo tinham a metade inferior pintada de branco e a metade superior com um grafiato rosa-bebê. Ao lado do bercinho tinha uma poltrona com listras brancas e roxas em cima de um tapete macio violeta, enquanto em frente tinha um sofá branco de três lugares com almofadas lilases. Numa das paredes tinha uma janela grande coberta por alvas cortinas, mesmo tom daquelas que ficavam sobre o berço. Perto da janela havia uma casinha de bonecas branca, e também havia bonecas e ursos em cima de uma prateleira que ficava sobre o leito do bebê, uma mesinha com um abajur branco e uma cadeirinha ao lado do sofá. Tudo ali lembrava um quarto de princesa, exatamente como o pisciano queria que Alana se sentisse desde o momento em que chegasse a sua casa.

Cora era a primeira interessada na adoção da menina, mas ainda era jovem demais e achou que Afrodite seria o pai ideal para a bebê. Sua única exigência foi que pudesse visitá-la sempre que quisesse, além, claro, de ganhar o posto de madrinha da criança. Isso facilitou as coisas para o pisciano, que não precisou escolher entre Celeste e Lara, ambas doidas para receber este título. Com a influência de Saori Kido e a recomendação do Doutor Megalos, o processo de adoção correu bem mais rápido do que o normal. Ainda assim, aquele mês estava sendo uma tortura para o dourado. Por sorte, tudo acabaria hoje...

Assim que sentiu o cosmo de Atena, Afrodite devolveu o travesseirinho ao berço e desceu correndo as escadas que levavam ao primeiro andar de peixes. Lá, encostado a uma pilastra, ficou aguardando ansiosamente a longa travessia das doze casas, lutando contra a insuportável vontade de roer as unhas bem feitas. Poderia ter ido junto com a deusa buscar Alana, mas achou melhor ficar e terminar de organizar a casa para sua chegada.

Mais algumas horas – ao menos em sua cabeça – decorreram antes que Atena chegasse a peixes. E veio acompanhada pelo que ele julgou ser uma multidão de curiosos, mas não se importou com o fato. Só tinha olhos para o embrulho cor-de-rosa que a deusa carregava no colo.

— Ela está acordada! – Saori falou sorridente antes de entregar a bebezinha ao sueco, que a recebeu visivelmente emocionado.

Acomodou a pequenina com todo o cuidado entre os braços, derramando uma lágrima ao ver os olhinhos azuis o fitarem e a pequena mãozinha apertar seu dedo indicador.

— Minha coisinha preciosa! – disse baixinho, acariciando suavemente as bochechas rosadas. Ela parecia tão pequena e frágil, que temia que qualquer coisa pudesse feri-la. Sentiu o coração bater mais depressa ao ver os lábios da menina se curvarem levemente.

— Ela realmente gosta de você... Olhe só como está sorrindo! – a deusa confirmou as suspeitas de Afrodite, fazendo-o se derreter como manteiga.

— Nunca pensei que fosse tão babão! – Máscara da Morte implicou, embora também estivesse tocado pela emocionante cena. Aproximou-se um pouco mais para ver a bebezinha melhor, segurando nas mãos um grande urso de pelúcia. Mas acabou tropeçando em alguma coisa e quase indo ao chão – Figlio di puttana! – xingou ao ver que Shura havia colocado o pé na sua frente.

— Cuidado com esta boca suja perto da minha filha! – o pisciano repreendeu, fitando o italiano com uma expressão nada amigável.

— Eu não tenho culpa que este stronzo[1] colocou o pé pra eu tropeçar! – o canceriano se defendeu, um pouco envergonhado.

— Só estava evitando que você assustasse a minha afilhada com esta sua cara feia! – o espanhol respondeu, dando de ombros e se aproximando para olhar a menina. Carregava nas mãos um gatinho de pelúcia – Quem é a princesa linda do tio Shura? – falou com a voz infantil.

— Pera lá, quem disse que ela é sua afilhada? O Dite é meu melhor amigo, a afilhada é minha! – Máscara da Morte retorquiu, indignado.

— Acha mesmo que ela vai ter um padrinho chamado Máscara da Morte? Vai traumatizar a menina!

— Ela eu deixo me chamar de Lorenzo...

Celeste se aproximou do irmão enquanto a acalorada discussão se desenrolava entre os dois cavaleiros dourados, e sussurrou:

— Ainda não contou a eles? – o pisciano negou com a cabeça.

— Quero só ver a cara deles quando descobrirem que o Doutor Megalos é que vai ser o padrinho dela... – Lara quem comentou desta vez, dando uma risada baixa.

— Deixe eles brigarem por nada, o importante é que Alana será a criança mais amada e protegida do mundo! – as duas irmãs assentiram, sorridentes e apaixonadas pela encantadora sobrinha.

— E é verdade que vai se mudar pro santuário, Cora? – Celeste perguntou à jovem, que também estava ali.

— Vou sim, Shura vai começar a me treinar assim que eu terminar a faculdade daqui a alguns meses.

— Fico feliz que tenha aceitado meu convite! – Atena disse, cheia de satisfação – Alguém com as suas habilidades será bastante útil por aqui, agora que estamos em um período de paz precisamos de mais do que bons soldados. E vai gostar da enfermaria do santuário, é muito bem equipada!

— Vamos para dentro, Alana já ficou tempo demais no sol! – todos seguiram Afrodite prontamente, exceto dois, que continuaram brigando entre si...

— Quanto tempo acha que vão levar para perceber que ficaram para trás? – Cora questionou, fazendo uma cara preocupada antes de cair na gargalhada com os demais.

E foi assim que Afrodite finalmente se redimiu consigo mesmo e cumpriu sua promessa a Juliana, deixando para trás o passado sangrento e toda a culpa que o atormentava. A partir de agora, faria de tudo para ser o melhor dos homens, o pai amoroso que Alana tanto merecia...

 

[1] Stronzo: babaca, tonto e bundão em italiano.

Link de "Deu a Louca no Santuba": https://fanfiction.com.br/historia/733193/Como_Nascem_os_Anjos/.

Link da minha página no face: https://www.facebook.com/guerreiracelestial/


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Notas finais do capítulo

E entãoooooo, o que acharam deste finalzinho? Estou louca pra saber! *..........*
Não percam a oportunidade de se despedir da história e falar tudo o que acharam aqui. A opinião de cada um é muito importante e me ajuda a saber o que acertei e o que errei, melhorando assim nas fanfics futuras.
Obrigada novamente e até a próxima!
PS: quem quiser ver mais da fofinha, ela tem participação especial em "Deu a Louca no Santuba".
PS 2: já deixei a imagem do quarto da Alana e do lindo móbile de fadinhas na minha página no face. Deem uma olhada e, se gostarem, curtam e comentem. Link no final do capítulo.



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