Como Nascem os Anjos escrita por aishaandris


Capítulo 3
Vidas em Jogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amores ♥♥♥
Voltei com mais um capítulo desta historinha. Tinha falado que seria o último, mas achei melhor dividir em dois por causa dos acontecimentos mais fortes. Vão entender do que estou falando...
Tomara que gostem, boa leitura!



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Atenas se liga a Rafina através de uma estrada larga, flanqueada pelo mar de um lado e por montanhas do outro. Muitos turistas a percorrem unicamente para apreciar a vista de tirar o fôlego. Entretanto, Afrodite, Máscara da Morte e Shura mal reparavam nela naquele momento, tudo o que queriam era voltar para a cidade o mais rápido possível.

Alguns quilômetros adiante, dois homens vigiavam o movimento na estrada sem piscar à passagem de um único carro. Estavam escondidos na encosta de uma das colinas, de onde tinham uma visão privilegiada do que acontecia lá embaixo. Por sorte, era uma segunda-feira e o tráfego estava bastante tranquilo. Isso facilitaria as coisas...

— Quanto falta? – um deles perguntou, abaixado e olhando na mira de uma Gustav M3 de 84 milímetros[1].

— Seis quilômetros... – o outro olhava um ponto vermelho que se movia na tela do iPad – Ikaros, não erre! Só terá uma chance...

O outro não se deu ao trabalho de responder, apenas se preparou para efetuar o disparo. Jamais havia errado, mesmo em condições mais desfavoráveis do que aquela. Tinha servido o exército helénico por quinze anos antes de decidir servir a si mesmo como assassino de aluguel. O melhor de todos, é claro. E o mais caro.

— Cadillac DTS preta, GG CU 763... É isso?

— A qualquer momento agora! – era um sim.

Ikaros se posicionou e, com a frieza de um cavaleiro de aquário e a precisão de uma águia ao dar o bote, deu o tiro que mandou pelos ares o carro onde três santos de ouro corriam contra o tempo para salvar uma pequena e inocente menina loira. Poucos segundos depois, ele já não passava de sucata queimada no fundo do Mar Egeu.

Aquele que segurava o tablet telefonou para seu chefe assim que o ponto vermelho desapareceu da tela. Ao segundo toque, ele atendeu.

— Sr. Athans, está feito!

Do outro lado da linha, o empresário sorriu.

***

Não havia mais como negar, Juliana estava mesmo morta. O coração de Cora estava pesado, entristecido como não acontecia há muito tempo. Desde a morte da mãe. E, como acontecera da última vez, não houve nada que pudesse prepará-la para aquilo. Num dia estava ligando pra fofocar sobre os gatos da faculdade ou saber sobre as novas roupinhas que ela havia comprado para Alana – ou passeando de mãos dadas no parquinho e fazendo biquinho para conseguir mais uma bola de sorvete, no caso da mãe – e no seguinte “puf”, a pessoa que tanto amava havia partido. De forma irremediável, sem chance de volta. Ainda assim, ela se recusava a chorar, ao menos até estar em casa, onde poderia fazer isso até as lágrimas secarem, embora soubesse que isso não acabaria com a dor. Dor que, no fim das contas, nem era o pior, o pior mesmo era o vazio que a pessoa deixava. E esse nunca ia embora...

Sentiu quase um alívio ao avistar a casinha de paredes amarelas onde vivia, numa viela agradável em Plaka, com cafés e muros cobertos de flores. Morava ali desde que havia entrado na faculdade, há pouco mais de dois anos. Desta vez, porém, acabou não cumprimentando Sophia, a sorridente senhorinha dona da sorveteria da esquina, nem pedindo o picolé de limão de que tanto gostava, simplesmente tirou o chaveiro com abridor de garrafa da bolsa e abriu o portão apressadamente. Ao entrar na casa, ficou tentada a se jogar no sofá e nunca mais sair dali. Só que estava morta de sede, por isso correu pra cozinha e bebeu a água na torneira mesmo, juntando as mãos em formato de concha e sorvendo o delicioso líquido com ganância.

Estranhou o fato de Adelina, sua gatinha, não ter ido recebê-la à porta. Receber algum consolo seria bom... Suspirou e, com o ânimo de um zumbi, caminhou para o quarto. A porta estava fechada? Estranhou. Lembrava-se de ter mantido aberta para arejar, como sempre fazia. Será que Adelina havia entrado lá e fechado sem querer? Isso explicaria seu sumiço. Mas se fosse só por este motivo, por que não havia miado quando notou sua chegada?

Balançou a cabeça, tentando não dar maior importância ao fato, e abriu a porta. Tudo o que queria era um pouco de paz e o conforto da sua cama...

— Vocês... O que fazem no meu quarto?

Cora arregalou os olhos ao ver os dois homens elegantemente vestidos em ternos que pareciam caros. Ambos altos e intimidadoramente musculosos. Um deles parecia fitá-la com tédio e o outro, de uma maneira que fez sua barriga gelar. Os olhos escuros estavam cheios de maldade. E para piorar – havia acabado de notar – segurava o que parecia uma de suas calcinhas na mão, levando-a ao nariz e cheirando com lascívia. Involuntariamente, ela olhou na direção do guarda-roupa e viu suas gavetas reviradas.

— Olhe, Diomedes, é ainda mais gostosa pessoalmente. Precisamos mesmo matá-la? – o de olhos maldosos indagou ao companheiro, ignorando a pergunta que ela havia feito. O outro suspirou, sem falar nada – Mas posso me divertir com ela antes? Diga que sim, por favor!

O coração da jovem começou a bater descompassadamente ao ouvir o que ele disse. Seus instintos gritavam, fazendo-a dar alguns passos para trás na intenção de fugir dali.

— Onde pensa que vai? – o que parecia entediado se manifestou pela primeira vez, apontando uma arma na sua direção. Cora engoliu em seco.

***

— Chegamos, Senhor Athans! – o motorista avisou, parando o carro no estacionamento do Hospital Graad.

— Obrigado, Alfred! – o empresário agradeceu enquanto Alec, seu homem de confiança, descia do carro e abria a porta para ele.

— O que eu faço, Senhor?

— Espere aqui, não pretendo demorar... – após dar as ordens ao motorista, Athans desceu do veículo e seguiu com Alec para dentro do hospital – Trouxe o dinheiro? – o outro assentiu, erguendo a mala para mostrar – Ótimo!

Passaram pela elegante recepção e quase imediatamente foram encaminhados à maternidade. O nome dele não apenas abria, escancarava portas.

— Senhor Athans, em que posso lhe ser útil? – ao saírem do elevador, encontraram o Doutor Aristeu Megalos os aguardando em frente ao berçário.

— Boa tarde! Acredito que minha filha tenha sido trazida para cá esta manhã, em uma situação não muito usual... – uma expressão de compreensão se estampou na face do médico.

— Você que é o pai daquela princesinha trazida pelo Senhor Afrodite Jonsson? – Athans assentiu – Sinto muito pela sua perda, uma fatalidade o que aconteceu com a mãe... – o pesar voltou aos olhos do empresário. Apesar de tudo, não queria que Juliana tivesse morrido.

— Obrigado, Doutor. Será que eu posso conhecê-la?

— É claro. Fico feliz que tenham conseguido encontrar o Senhor! – o médico se aproximou da porta do berçário e chamou uma das enfermeiras, que imediatamente trouxe a bebê e depositou nos braços de Athans – Seja cuidadoso!

O empresário se controlou para não pegar a coisinha pequena de qualquer maneira, não podia dar bandeira de suas verdadeiras intenções. Seus olhos se pousaram no rosto da criança, examinando-o friamente durante alguns segundos. É, não havia dúvida de que era mesmo filha da sua Juliana. A semelhança era gritante, tanto nos cabelos cor de ouro e na pele excessivamente branca, que parecia porcelana, quanto nos cristalinos olhos azuis e em outros detalhes que jamais lhe passariam despercebidos. Qualquer homem veria ali a perfeita lembrança da mulher amada – ou algo próximo disso –, mas tudo o que conseguia pensar era que ela havia roubado sua ninfa de cachos dourados. E por isso a odiava mais do que tudo!

Havia conhecido a jovem há pouco mais de um ano enquanto palestrava numa feira universitária. Naquela época, ainda era uma veterana do ensino médio sonhando cursar enfermagem na faculdade. Era linda, enérgica e doce, cheia do viço e curiosidade comuns da adolescência, ou melhor, do começo da vida adulta. Foi uma paixão avassaladora e instantânea, no mesmo instante em que a viu soube que teria que fazê-la sua. Por sorte, foi correspondido na mesma intensidade. E, diferentemente do que poderiam pensar, ela foi sua primeira e única amante, afinal amava a esposa e jamais se arriscaria a perdê-la por uma aventurazinha qualquer.

Havia mexido alguns pauzinhos para que fosse aceita na Universidade de Atenas com “bolsa” integral, ao menos era o que ela acreditava. Na verdade, pagava todas as mensalidades por fora. Tudo para fazer sua garota feliz, assim como ela o fazia durante os encontros semanais, em dias alternados para não dar bandeira, que tinham numa das vilas à beira-mar do seu hotel em Mikonos. Um alívio de todo o estresse do seu dia a dia.

Embora o sexo – maravilhoso, diga-se de passagem – fosse o objetivo primordial dos encontros, não era o único. Também jantavam juntos e conversavam sobre tudo, dividindo seus problemas e anseios. Ela era uma ótima ouvinte, atenta e entusiasmada com tudo o que dizia, jamais o julgando ou fazendo cobranças como a esposa. E também contava a ele sobre as aulas, os novos e entusiasmantes conteúdos, a dificuldade que tinha com aqueles que exigiam complicados cálculos matemáticos, os professores preferidos, os amigos. Ouvia a tudo com vívido interesse também, saudoso da época em que essas eram suas únicas preocupações. Tinha certeza de que tudo continuaria bem, se não fosse a maldita gravidez...

Já tinha filhos com a mulher, um lindo casal de gêmeos de quinze anos que o enchia de orgulho. Não precisava de mais nenhum. Ela era seu porto seguro, seu refúgio, não devia dividi-la com mais ninguém, menos ainda com alguém que roubaria sua beleza e acabaria com toda aquela leveza e despreocupação que tanto amava. Havia sugerido, casualmente a princípio, que era jovem demais e tinha a vida toda pela frente, talvez devesse pensar em filhos depois, quando já tivesse se formado na faculdade e conseguido o emprego dos sonhos. Mas ela havia insistido em levar aquilo adiante, contrariando-o, tentando fazê-lo amar o pequeno ladrãozinho. Ladra, descobriu alguns meses depois. Foi quando percebeu que teria que tomar atitudes mais enérgicas, por isso havia mandado dois de seus homens à casa dela na noite anterior.

Devia ser um trabalho simples, apenas dopá-la e levar para uma clínica segura onde poderiam tirar a coisinha de dentro dela. Mas não, eram incompetentes demais e acabaram a assustando, fazendo-a fugir e depois morrer. Jamais os perdoaria por isso, achava que a execução rápida tinha sido pouco demais para o que haviam feito. O certo teria sido condená-los a uma morte lenta, fazê-los sentir ao menos um pouco da imensa dor que haviam lhe provocado. Tarde demais, infelizmente. Teria que reservar este castigo à criaturinha em seus braços mesmo.

— É tão linda, se parece tanto com a mãe... – comentou, fingindo um amor inexistente pela criança remelenta – Como ela está, Doutor?

— É um milagre, mas está perfeita... É uma menininha muito saudável! – o médico respondeu com um sorriso largo.

— Isso me deixa muito aliviado, eu gostaria tanto de poder levá-la comigo...

— E você pode, Senhor? – Athans franziu o cenho, não entendendo a pergunta do pediatra – Pelo que me lembro, é um homem casado com alguém que não era a mãe desta criança...

— E sou! – ele respondeu sem se deixar abalar – Me envergonho por isso, mas se viu o corpo da minha Juliana, entende por que eu a amava... E ela queria tanto um filho nosso, que simplesmente não pude negar. Agora é tudo o que me resta dela... – qualquer um veria sinceridade em suas palavras e na expressão que fazia enquanto dizia aquilo. Era um homem acostumado a dissimular, embora, naquele caso, sua tristeza fosse genuína.

— Para onde a levaria então? Ou sua esposa pode...

— Jamais. Mas como bem sabe, sou um homem de muitas posses... Juliana e eu escolhemos juntos uma casa perfeita em Thissio, onde nossa filha seria criada com todo o amor do mundo. Ainda pretendo levá-la para lá, embora, infelizmente, ela tenha que ser criada por uma simples babá. Mas pretendo passar todo o tempo possível com ela, a amo mais do que tudo, assim como amava a mãe...

— É um bom homem, Senhor Athans. Poucos se preocupariam tanto com a filha de uma amante... – o maxilar do empresário se contraiu à menção da última palavra, parecendo irritado.

— É minha filha, Doutor, isso é tudo o que importa! Gostaria de saber se posso levá-la daqui.

— Ainda é muito cedo, ela acabou de nascer, precisa de acompanhamento médico e...

— Não desprezando os seus serviços, porque sei que é um dos melhores profissionais do país, mas eu tenho meu próprio médico. Alguém que acompanhou a gestação desde o início, ficaria mais aliviado em tê-la com ele. Isso, claro, se não for um problema... – neste instante, Alec se aproximou do doutor, entregando a ele um tablet com a imagem da mala que segurava nas mãos, mas aberta e com o conteúdo à mostra: dez milhões de euros em notas variadas – Eu ficaria muito agradecido!

— Entendo a sua preocupação. E é tudo pelo bem da menina, certo? – Athans assentiu – Vamos à minha sala cuidar disso então...

***

— Foi Alexandre Athans quem mandou vocês aqui, não foi? – Cora perguntou, começando a sentir uma leve desconfiança sobre o que estava acontecendo. Mas por quê?

— Parece que é uma mulher inteligente... – o de olhos maldosos falou, caminhando na direção dela. A vontade de virar as costas e correr era quase insuportável, mas não era suicida. Sua mão estrategicamente colocada no bolso indicava que provavelmente também estivesse armado – É uma pena que tenha irritado o homem errado. Se tivéssemos nos conhecido fora daqui, as coisas seriam tão diferentes... – passou a língua sobre os lábios, num gesto libidinoso, finalmente se aproximando dela.

— É por causa da Ju, não é? O que aquele maldito fez com ela, me digam! – sua voz se elevou, apesar do medo, e precisou lutar para não deixar as lágrimas caírem. Imaginar as coisas que ela podia ter passado antes de morrer a enchia de raiva e fazia seu estômago embrulhar. Fugir havia sido meramente um golpe de sorte.

— Isso não é da sua conta! – aquele que se chamava Diomedes retorquiu sem paciência, interrompendo o companheiro que parecia prestes a falar – Você logo terá o mesmo fim!

— Façam logo o que tem que fazer então! – Cora gritou, munindo-se de toda a coragem que possuía. Se tivesse mesmo que morrer, preferia que fosse rápido e indolor.

— Não precisa ter pressa, gata. Vou te fazer muito feliz antes de matar... – ela virou o rosto com nojo ao receber uma carícia ali.

— Mas antes responda, você contou sobre o caso do Senhor Athans com sua amiga para alguém além daqueles três? – os olhos de Cora se arregalaram à menção dos dourados. Como eles podiam saber disso? As coisas faziam sentido agora.

— Nunca. Não por causa dele, mas porque a Ju me fez guardar segredo... – falar o nome da amiga fazia seu coração apertar, ela não merecia um fim daqueles.

— Ótimo!

— Agora vamos nos divertir um pouco... Se for boazinha, prometo que não sentirá nada na hora de morrer! – o que estava próximo sussurrou no ouvido dela, fazendo a sensação de repulsa voltar.

— Seja rápido! – Diomedes falou com indiferença antes de sair do quarto e bater a porta, deixando-os a sós...

 

[1] Carl Gustav é o nome comum para o canhão sem recuo anti-carro portátil de 84 mm, desenvolvido pela empresa sueca Bofors. É equivalente ao que chamamos de bazuca.


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Notas finais do capítulo

O que será que aconteceu com nosso trio de dourados? E a Cora, será que vai conseguir escapar dessa? E o Doutor Megalos, hein? Vai mesmo deixar este FDP do Athans levar a fofinha da Alana?
Descobriremos todas as respostas no capítulo final desta historinha que estou amando escrever, especialmente por causa do carinho que vocês estão demonstrando com ela. Obrigada, gente ♥♥♥
Volto em breve, beijinhos :*********
PS: não esqueçam de comentar e dar a opinião de vocês sobre tudo.



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