Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 11
Um lugar chamado “Paradise"


Notas iniciais do capítulo

Aeee, esse foi recorde, hahahaha, o proximo capitulo está ai, boa leitura pessoal *-*
beijos :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/73306/chapter/11

 Esperei por alguma resposta, mas estava claro que não havia ninguém por perto, ou que pudesse me escutar. Levantei-me do chão frio e comecei a andar até uma porta que parecia dar para a parte de fora, porém quando tentei abri-la não consegui. Tinham me trancando em um salão destes para que?

- Hey! – berrei – Tem alguém aqui?

 Ninguém respondeu.

 Suspirei irritada e passei a procurar por outra porta. Caminhei pelo salão todo até encontrar uma mini porta no canto de um pilar, abaixei-me para olha-la.

- Mas sou muito pequena para passar por ela. Não deve ser. – ponderei me sentando ao lado dela, olhando para o teto – Estão pensando que eu sou a Alice no país das maravilhas agora?

 Com perninhas de índio e a cabeça apoiada sobre as mãos, bufei algumas vezes, olhando entediada para os detalhes no mármore dos pilares e de algumas paredes brancas. Era tudo tão claro que cheguei a pensar varias vezes se não estava no céu, e se não fosse pelas pinturas de alguns gatos e gatos em formas humanas com suas lindas orelhinhas balançando ao vento eu até teria me convencido disso.

 Ponderei um pouco sobre minha atual situação e conclui: Não estou perdida. Se a rosa brilhou naquele momento e estou em outro lugar agora, é porque chegou a hora de vir para o mundo de Serafim. Só que a situação está estranha porque não vejo nem Serafim, nem Espirro e muito menos qualquer outro gato ou ser vivo por perto e a única porta pela qual eu poderia sair está trancada.

 A porta pequena talvez servisse para os gatos passarem, já que tinha um tamanho pequeno, porém grande o suficiente para um corpo de felino passar, mas o que me consta sou humana, não posso passar por essa porta, e nisso me parece que eles não haviam pensando.

- Desculpe a demora.

 Alguém falou atrás de mim.

- Sua tia não me deixava em paz, foi difícil arranjar uma substituta a altura.

 Me virei para encarar a pessoa de voz extremamente sedutora e quase botei o coração para fora quando vi quem era.

- Missy? – perguntei perplexa, me levantando e indo até ela – Como... você... o que?

 Não sabia como formar uma pergunta ou se até era isso mesmo o que eu queria. Sabia que era minha incrível companheira felina pela cor de suas roupas, um top e uma saia curtinha, da cor exata do pelo dela de quando esta na forma felina, sem contar o rabo todo mesclado com a pontinha branca inconfundível e as orelhinhas um pouco mais alongadas e escuras acima da cabeça. A única coisa era que eu nunca havia reparado que os olhos dela eram bem amarelos e na forma humana ela tinha uma pele um pouco morena e os cabelos bem compridos e negros, lisos como os de uma índia. Linda. A minha companheira de sempre tinha uma forma humana tão sexy que me senti ameaçada.

 Ela riu, mostrando seus caninos afiados, se divertindo com minha expressão.

- Calma Amélia, até parece que viu um fantasma. – respondeu com doçura, me puxando pelo braço até um corredor que eu não havia visto antes.

- Não é isso, Missy. – respondi preocupada, como uma criança pedindo desculpas – É que eu estava sozinha aqui, procurando algum lugar para sair, mas a porta dali da frente estava fechada. Perai, essa passagem não estava aqui antes...

 Missy riu novamente, seguindo o caminho despreocupada, mexendo levemente as orelhinhas de um lado para o outro.

- Serafim achou melhor você passar por essa experiência sozinha – ela comentou como se estivesse cismada com aquilo – Mas desacatei a ordem dele no final e vim te procurar, sabia que não encontraria a passagem sozinha.

- Ele poderia ao menos ter vindo me ajudar né? – falei irritada, olhando para o lado, incomodada com o pensamento de ter sido deixada sozinha por ele – afinal, onde esse idiota tá agora?

- Quanto amor – Missy pensou em voz alta, rindo histericamente – Não sabia que você era tão irônica assim Amélia, e olha que passamos um bom tempo juntas.

- É que você eu gosto né – respondi amorosa, lhe apertando um pouco a mão longa.

- Para falar a verdade não sei a onde ele está, na casa da sua tia o substituto dele já estava lá, pensei que tinha mudado de ideia e tinha feito a passagem com você, mas meus instintos felinos me informaram que não e bom... no final eu estava certa né?

- A onde ele poderia estar... – pensei também em voz alta.

- Preocupada? – Missy me cutucou.

- Nem morta! – retruquei nervosa – Serafim não faz meu tipo Missy.

- Uffa, bom saber disso – ela comentou com um ar de alivio.

O que ela queria dizer com aquilo? Era melhor deixar aquilo pra lá, quem sabe eu não escutasse alguma coisa que me incomodasse naquela hora, não é mesmo?

 Estávamos atravessando corredores totalmente brancos, como aquela sala, com os pilares gregos ficando cada vez maiores.

- Falta muito para chegarmos? – perguntei aflita.

- É a falta de janelas que lhe deixa aflita? – Missy respondeu com outra pergunta, curiosa, me olhando.

- Um pouco – admiti – mas não é esse o caso, quero saber para onde estamos indo.

- Para o salão principal. Bom, vou explicar algumas coisas para você se situar bem aqui Amélia. – ela começou calma, parando de andar por um momento e se virando para mim, pegando minha mão com as suas e falando docemente.  – Depois que tudo foi dominado por ela passamos a nos refugiar aqui nesse casarão que fica em outra província e de certo modo ela não pode fazer nada contra nós por não estarmos em seu domínio. Você está em uma dimensão diferente da sua chamada Paradise, que é o nosso mundo, portanto você verá gatos em forma humana e em forma felina de montes por ai, aqui, você é a única humana. O casarão é dividido em alas e a que você mais frequentará é a nossa, a ala norte, e em hipótese alguma vá à ala oeste, a casa aparte que tem lá é um local no qual você não pode entrar. Entendeu?

- Entendi, mas tenho uma pequena pergunta. – disse receosa.

- Pergunte.

- Porque não posso ir para a ala Oeste?

- A curiosidade matou o gato. Lembra-se desse ditado?

- Me lembro, mas o que...

 Ela não me deixou terminar.

- Ótimo, sem mais explicações sobre isso, tudo o que você precisava saber para não se sentir perdida aqui no casarão já sabe, vamos andando.

 As palavras de Missy me soaram um pouco frias e mecânicas, o que aguçou minha curiosidade ainda mais, e se o intuito dela era me falar daquele jeito para que esquecesse não tinha dado nada certo. Era só esperar um pouco, achar alguém que eu pudesse manipular para me contar a onde ficava essa tal ala e eu iria. Há, ninguém me engana.

 Continuamos o caminho e me veio mais um pergunta a cabeça, uma mais leve, é claro.

- Missy, o que quis dizer com substitutos?

- Serafim nunca te contou? – ela perguntou mostrando extrema surpresa.

- Hm, se estou perguntando. – respondi de modo irônico.

- São clones que temos para deixar em nosso lugar em seu mundo quando precisamos resolver algumas coisas aqui. – respondeu rápido, rindo um pouco da minha expressão amarga de quem não entendeu muito – Sabe Amélia, nós preferimos viver no mundo de vocês a maior parte do tempo, a forma felina é a que mais nos agrada e condiz com nossa natureza, mas em épocas assim, como esta que você está vendo, é difícil se manter em paz sabendo que tudo pode acabar num piscar de olhos.

- Sei disso – disse comovida, me aproximando um pouco mais dela, que andava num passo muito mais largo e ágil que o meu – Vou tentar fazer o máximo possível para acabar com tudo isso o mais rápido possível.

- Que assim seja.

 Após tal conversa não abrimos mais a boca o resto do longo caminho, que parecia nunca ter fim, talvez fosse pelos quilômetros e quilômetros de paredes brancas que me deixavam tonta, como se ali não tivesse um final, e Missy sempre sabia onde virar, numa agilidade incrível, digna de um felino, digna de minha companheirinha.

 Finalmente avistei uma porta marrom escura no final do corredor que havíamos acabado de virar e quando Missy a abriu demos de cara com uma enorme sala, cheia de gatos em forma humana, correndo de um lado para o outro, apressados com seus afazeres.

- Aqui é uma parte onde estocamos a comida, estão todos trabalhando muito já que o inverno está prestes a chegar – Missy comentou e depois voltou a andar por entre eles, me puxando.

- Então aqui é como um estoque?

- Tipo isso, agora venha, estamos quase na sala principal.

E dessa vez Missy não errou, estávamos mesmo a apenas alguns passos da sala principal, que ficava logo na outra porta. Uma sala comum e bem menor do que eu esperava. Espirro estava sentado em um dos sofás e quando nos viu chegando se levantou e veio até nós todo atrapalhado de felicidade.

- Então sua travessia foi feita com sucesso? Me sinto muito feliz por isso senhorita Amélia! – ele disse rápido, como de costume, fazendo uma breve reverencia e se afastando quando estiquei minha mão para tocar suas orelhinhas pretas que se mexiam freneticamente.

- Avise ao seu “mestre” que ela estaria lá até agora se tivesse mesmo a própria sorte – Missy respondeu ríspida, sentando-se em uma das poltronas também, cruzando as pernas de forma sensual e a balançando.

- Você a ajudou? – Espirro perguntou preocupado.

- Sim, e não me arrependo disso, o caminho de lá até cá é confuso para humanos seu inútil, não se esqueça disso.

- Eu o aviso, pode deixar! – Espirro respondeu se encolhendo num canto e logo depois se aproximou de novo de mim, hesitando um pouco e pegou minha mão me puxando de forma desajeitada até uma outra porta – Venha! Vou te levar até o quarto que separamos para você, deve estar cansada depois disso né, Senhorita Amélia?

- Pra falar a verdade um pouco.

- Só mais uma coisa – Missy falou alto de onde estava – Este é o ponto “zero” do casarão, por ai você vai para a ala norte, e assim vai, em cada porta. Espero que tenha acatado bem o meu aviso Amélia, queremos apenas te proteger.

 Os olhos felinos de Missy estavam finos, parecendo os de uma cobra. Me assustei com a forma tão sombria dela falar, mas estava na cara que ela fazia aquilo apenas para me afastar da tão temida ala Oeste. Assenti com a cabeça positivamente e Espirro começou a me conduzir por aquela porta, já aberta.

 Aquela ala tinha uma aparência um pouco melhor do que os corredores brancos de antes, eram de madeira e em alguns cantos tinham entalhes de galhos de arvores com algumas folhinhas penduradas. Uma iluminação de velas por todo o caminho, o que era um pouco assustador, e um carpete vermelho vivo no chão que terminava em uma outra porta, onde Espirro abriu e depois nos dirigimos por um corredor igual, agora sem as velas e com janelas, por onde podia ver o pátio arborizado e a grama verdinha em volta do concreto claro, e uma pracinha com alguns bancos de pedra. Muito rustico, mas sem duvida muito bonito.

- Tudo aqui me lembra muito a Idade Média – comentei com Espirro, que andava agora a meu lado, ainda um pouco apreensivo.

- Si-sim – ele respondeu tímido - gostou?

- Sou uma amante de coisas antigas, achei tudo muito lindo. Mas preciso muito lhe perguntar uma coisa Espirro.

 Não aguentei a curiosidade e fui direto ao assunto.

- Sim?

- Cadê o imbecil do seu mestre? – disse em tom irritado, o olhando diretamente.

 Espirro congelou, seu rabo se mexia rapidamente atrás do corpo e seus olhos viraram duas bolas pretas de tão arregalados. Mesmo ele não respondendo, perguntei novamente.

- Espirro. Cadê ele...

- Não sei.

- Mentira. Cadê? – forcei.

- Senhorita Amélia, por favor...

- Espirro!

- Segundo quarto à direita!

 Ele berrou e saiu correndo pelo corredor, sumindo após atravessar a porta pela qual viemos. Respirei aliviada por saber agora a localização da minha vitima fatal de perguntas curiosas e fiz o caminho que o gatinho havia me falado, mas quando abri a porta não havia ninguém ali.

 Me aproximei de uma grande janela que havia ali e vi que tinha um bilhete em uma escrivaninha que ficava no canto do quarto, nele dizia: “Bem vinda a seu novo quarto”.

 Ótimo, aquele era o meu quarto, Espirro não tinha dito a localização de Serafim e eu estava louca de curiosidade para saber o que tinha acontecido com ele e porque tanto mistério desde que tinha chego ali. Mas deixando isso de lado, esse era o meu quarto é?

 As paredes eram salmão, a cama era marrom escura, com roupas de camas limpas brancas, e um armário da mesma cor da cama no canto. O chão era com um carpete cinza claro, que combinava com os tons sombrios do quarto, mas a janela branca e grande que dava para uma incrível sacada me fizeram não ter tanto medo da decoração antiga do local.

 Sentei-me na cama macia e joguei o corpo para trás, sentindo minhas costas estralarem. Finalmente poderia relaxar e aquilo estava sendo mais rápido do que eu tinha sequer imaginado, bom, as coisas estavam acontecendo como num sonho, se fazendo e desfazendo a minha frente, como se eu não pudesse controlar o que estava para acontecer, e talvez não pudesse mesmo, mas dava um pouco de medo pensar assim.

 O sol já estava se pondo no horizonte, atrás das colinas verdinhas que cercavam o casarão. Levantei da cama e fui até a varanda, respirando o ar puro que eles tinham ali, sem a poluição, sem as industrias e nada de coisas tecnológicas que temos em nosso mundo, o ar é bem mais puro e respirável, apesar de não ser o que estou acostumada. O vento batia sobre meus cabelos os bagunçando um pouco. Debrucei-me ali, olhando para baixo brevemente, vendo vários gatinhos correndo de um lado para o outro e depois voltei minha atenção ao sol, quase sumindo, dando lugar a uma lua branca e rechonchuda no céu, com milhares de estrelas brigando por um espaço. Ri com meu pensamento infantil.

- Então você conseguiu.

Escutei aquela voz irritante que infelizmente admito que queria muito ouvir.

- Sim – disse alto, virando meu rosto para baixo, encarando os olhos azuis de Serafim – Você está atrasado.

- Pelo visto você sabe se virar sozinha. Parabéns – ele disse com sarcasmo, cruzando os braços.

 Acabei descobrindo o porque ele tinha demorado tanto. Suspirei, um pouco irritada com aquele pensamento e antes de entrar apontei para o canto de minha boca, falando em tom de repreensão.

- Está sujo de sangue aqui.

 Escutei uma risada alta quando me virei.

- Obrigado – Serafim retrucou alto – Estou subindo.

- Faça como quiser! – berrei de volta, já dentro do quarto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!