Humilhante escrita por Mackernasey


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Para os completadores de tabelinha que não são do fandom: Phinks (https://goo.gl/naQBGe) é o mais alto, ladrão, loiro e intensificador. Feitang (https://goo.gl/3rT9fr) é o mais baixo, ladrão também, cabelos negros e lisos e transformador. Nada além disso é realmente pertinente para o enredo.
A todos eu desejo uma boa leitura!



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Ele se virou na cama, dando as costas àquele que já encarava a parede oposta. Phinks ficou quieto, esperando os costumeiros cinco minutos em que o outro fingia estar dormindo até realmente estar. Sem se mexer muito, ele olhou os próprios braços. Merda! Escolhera, mais uma vez, uma corda macia demais, apenas seus pulsos haviam marcado, se é que aquela leve vermelhidão poderia ser chamada de marca. Era humilhante. Tudo aquilo. Esse era o princípio. Mas saber que estava triste por não ter lembretes duradouros dos momentos em que fora completamente humilhado por vontade própria era especialmente humilhante, e o fato de essa humilhação lhe agradar era ainda mais humilhante, criando o ciclo de prazer dúbio com o qual já estava familiarizado.

Feitang enfim adormeceu, alguns segundos mais cedo do que Phinks previra, porém aquilo não o surpreendia: era a segunda noite que passavam de quatorze vezes seguidas. Ele mesmo também estava exausto, entretanto a perversa insônia ainda atingia-lhe num momento como aquele, seus pensamentos voando.

Com frequência, Phinks se sentia uma bola de ping-pong sendo jogada de um lado para o outro pelas raquetes de seu raciocínio. Ora se lembrava do início dos tempos, identificando múltiplos elementos que fizeram as coisas começarem como começaram, ora analisava detalhes sórdidos do seu presente, ponderando qual aspecto chulo das primeiras experiências fora o final responsável por condená-lo àquela rotina lasciva, ora devaneava sobre o que comeria no dia seguinte, fantasiando com as possibilidades infinitas que ser imoral lhe garantia. E, no final das contas, cada frase dita em sua mente, cada conceito abstrato processado, cada figura imaginada ou reconstruída, tudo envolvia o pequeno jovem às suas costas.

Seu raciocínio foi cortado completamente quando Feitang fez um barulho mais profundo ao quebrar o ritmo da respiração, o sobressalto regado de medo o despertando ainda mais do que já estava. Era incrível como o baixinho conseguia assustá-lo, sendo Phinks o ladrão experiente, o usuário de Nen poderoso e o assassino frio que era. O controle que o transformador exercia sobre Phinks era tremendo.

Feitang nem sempre fora tão temível, assim como o loiro nem sempre fora tão forte. Cresceram na mesma cidade, na fétida Ryūseigai, mas nunca tinham se visto até o dia em quê, com treze anos, ao fugir com um colar roubado, Phinks se escondera dentro de um grande armário ao lado de uma gigantesca pilha de lixo. O garoto, através dos buracos de um entalhe cafona na porta do armário, avistara uma menina, seus longos cabelos pretos e lisos sendo a única coisa intacta em sua aparência. Phinks lembrava-se de cada detalhe do vestido branco com rosa, das sujeiras nele, lembrava-se de como a garota rasgara-o inteiro, assim como destruíra a maquiagem forte em seu rosto infantil. Após ver-se num espelho rachado empilhado junto com outros móveis podres, a criança quebrara o vidro e, derramando seu sangue sem se incomodar, usara um caco para cortar os próprios cabelos, aniquilando toda sua feminilidade.

Anos após esse episódio, Phinks descobrira que a garota era, na verdade, um garoto que tivera o azar de nascer no corpo errado, e seu nome era Feitang. O reencontro dera-se quando ele e sua trupe de ladrões o convidaram para fazer parte do bando. Phinks não se lembrava dos detalhes do diálogo, mas recordava-se de que fora convencido por Feitang no final. Pouco tempo na Aranha e um elo de forte amizade e rivalidade havia nascido. Como chegaram ao ponto de conhecerem todos os pontos fracos e fetiches um do outro? Mesmo com uma boa memória, Phinks ainda não saberia dar uma boa resposta.

No começo, apenas Feitang dominava, e Phinks poderia se dizer satisfeito com isso. Entretanto, em algum momento eles começaram a alternar, logo não sobrando mais “coisas novas” para tentarem. O intensificador gostava de analisar como as preferências foram se estabelecendo com o tempo, lenta e naturalmente. Nada era igual: na hora de usarem cordas, Phinks preferia ser amarrado de forma que seus membros se aproximassem, gostava de ser obrigado a se encolher, enquanto Feitang gostava de ser exposto, de que seus membros fossem abertos e esticados pelos nós; quando tudo acabava, Phinks era apaixonado pelas marcas, Feitang as detestava; ao dominar, Phinks nunca despia-se, movia sua roupa na medida do necessário, já Feitang sempre optava por estar nu; ao ser dominado, Feitang adorava fazer joguinhos, ser indisciplinado, provocar seu mestre, enquanto Phinks era o perfeito exemplo de obediência… Com a exceção de um episódio que ele preferia esquecer, a única vez que desobedecera seu mestre, recebera um soco ao invés dos costumeiros tapas e o brilho gélido no olhar de Feitang não provinha de um desprezo sarcástico ou sádico, mas sim genuíno — dominando ou dominado, Phinks sempre se sentia subordinado aos gostos alheios.

Tomado pelo arrependimento que aquela memória trazia, Phinks tomou um susto ainda maior que o anterior. Silencioso e indetectável, Feitang rolou na cama e abraçou-o por trás com ternura. O loiro fez seu máximo para conter as lágrimas, mas seus olhos ainda ficaram consideravelmente úmidos. O que aquele ato significava? Fora proposital ou involuntário? Era busca por conforto, busca por calor?

Era… amor?

Numa relação baseada na exposição da intimidade, na entrega total ao outro, na observação e compreensão mútua, a única coisa que Phinks escondia era seu amor. E isso era humilhante.


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Notas finais do capítulo

O que acharam, batatitas? Foi a minha primeira fic com elementos BDSM e pretendo fazer mais... beeeem maaais muahahahaha
Eu fiz essa fic horas depois de ter acordado de uma hora e meia de sono, nunca escrevi tão sem rumo, se ficou terrível... eu tenho uma desculpa.
Eu amo demais esse shipp aaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Ah, e o que vocês acharam do Feitang como homem trans? É bem plausível dentro do cannon, se vocês pararem pra pensar!