O sol estava coberto por nuvens espessas, e uma forte brisa gelada pairava pela grande cidade de Brandte.

” É...Parece que vai chover, mochi”
Pensava uma menina de madeixas loiras, porém um tanto avermelhadas, que vinham até um pouco abaixo de seus ombros, tendo as pontas dos fios ondulados e um pequena franja que caia-lhe sobre a testa, seus olhos eram castanho claro, tendo um pouco de verde ao fundo, seu rosto era mostrava uma expressão infantil, como todas as suas atitudes, mesmo em seus plenos 17 anos. Olhava pela janela da sala de aula distraída, era aula de matemática, e como sempre nunca prestava atenção nestas aulas, e mesmo que prestasse, nunca conseguia entender nada do que sua professora estava falando. Cruzou os braços sobre mesa, apoiando sua cabeça sobre esta, andava um tanto sonolenta a semana toda, se sentia estranhamente fraca, pensava até mesmo que podia ter pego um gripe, até que caiu no sono.

Em poucos segundos sentiu-se em meio a uma névoa densa, onde mal conseguia ver um palmo a sua frente, mas então pôde ao longe avistar um vulto. Gradativamente a imagem desse vulto ia se clareando, deixando a mostra um homem de cabelos loiros que caiam-lhe sobre o rosto, cobrindo parte de seu olho direito, tinha em cigarro em suas mãos, levando-o lentamente até seus lábios o tragou, esboçando um sorriso sarcástico nos lábios, e, ao dirigir o olhar a ela, simplesmente desapareceu.

- Ayumi! Eii Ayumi acorda, a aula já acabou! AYUMIIIIIIII!

- Ah? O que? O que? Onde? – Abruptamente levantou seu rosto da mesa, olhando com seus orbes arregalados para todos os lados, assustada pelo modo como tinha sido acordada.

- Já é a quarta vez que você dorme só essa semana, isso esta começando a me preocupar.Cê ta doente é? – Era a voz de Miaka que ecoava pela sala vazia, uma jovem de cabelos curtos e castanhos, seios fartos e um rosto muito bonito que há anos conquistava admiradores por toda a escola, apesar de ser um tanto “esquentada”. Ayumi fitava-a agora, desviando seu olhar para baixo enquanto começava a tocar levemente a ponta de seus dedos indicadores, fazendo um biquinho com os lábios.

- Sabe o que é...Bem...É que eu to tendo uns sonhos estranhos com um carinha estranho toda a noite, e ai não estou conseguindo dormir direito, ai acabo dormindo na escola.

- Aahn...Se é só isso ta tudo bem, então já vou indo. Até amanhã Ayumi. – E dizendo Miaka virou-se de costas, começando a caminhar em direção a saída da sala, levando assim a ruiva a levantar-se da cadeira, com uma falsa irritação estampada na face.

- Eeiii, como assim tudo bem? Eu to dizendo que to tendo sonhos perturbadores e você nem liga? - Após essas palavras correu para alcançar a amiga, caminhando agora ao lado desta.

- Ayumi isso é só coisa da sua cabeça. Você tem que parar de levar as coisas tão a sério assim, se não vai acabar que nem o dia que você disse que tinha visto o bicho-papão na escola. – Dizia a morena, em tom de reprovação.

- M-mas naquele dia eu realmente tinha visto alguma coisa mochi.. – Retrucava a ruiva, que agora continuava com aquele bico nos lábios, desviando um pouco o olhar para o lado.

- Sei...E seu eu bem me lembro foi por causa dessa coisa que você acabou espancando o inspetor e se escondendo no banheiro do terceiro andar, e ai acabou por ganhar um looonga detenção na escola. – Um sorriso maroto surgia nos lábios da mais velha enquanto dizia aquelas palavras.

- Nháááá, você sabe muito bem que aquilo foi um acidente, a culpa não foi minha, não foi, não foi, não foi, mochiiii. – O tom de Ayumi soava mais infantil do que o de uma própria criança, enquanto ela sacudia sua cabeça de um lado para o outro.

- E além do mais aquele inspetor tinha cara de vampiro, eu só confundi. – Acrescentou, voltando a desviar o olhar emburrado de Miaka. Agora ambas já havia deixando nos territórios da escola, e estavam a caminhar pela rua, quando após aquelas palavras a morena pareceu lembrar-se de algo.

- Ahh, agora que você falou em vampiro eu me lembrei...Você soube dos estranhos ataques que estão acontecendo agora? – Perguntou, fitando a fitar a amiga que agora inclinara a cabeça um pouco para o lado, mostrando bastante curiosidade na nova “fofoca”.

- Ataques?

É, está saindo em todos os jornais. Agora, todas as noites uma pessoa é atacada, mas não é roubado nada delas, elas apenas desmaiam e quando acordam se sentem fracas. Ta todo mundo dizendo que é um vampiro. – Deparando-se com a expressão de curiosidade de Ayumi Miaka continuou.

- E você não sabe do mais estranho...Todas as vítimas tem entre 16 e 18 anos.

Depois daquelas palavras de Miaka, a ruiva parara de caminhar repentinamente, fazendo a outra que já havia dado alguns passos virar seu rosto para o lado, encarando-a sem entender o motivo da repentina parada.

- Ãhn? O que foi Ayumi?

- Miaka-chan...Eu sei que está fazendo isso. – A expressão da mais nova havia se alterado, estava agora estranhamente séria, não era de seu feitio ficar assim derrepente. Miaka virou-se para ela, sua expressão agora também estava séria.

- E...Quem é? – Perguntou, demonstrando certo interesse.

- É...O VAMPINSPETOR!! – Gritou, erguento seu braço direito enquanto esboçava um enorme sorriso nos lábios. Um gota apareceu ao lado da testa de Miaka, como pôde pensar que ela, a Ayumi, falaria algo sério?

- Só podia ser mesmo. -.-“
Virou-se, voltando a caminhar enquanto Ayumi a seguia um pouco atrás, fazendo gestos e mais gestos enquanto tentava explicar a história do “Vampinspetor”, e tentar faze-la ficar mais assustadora possível.

- O Vampinspetor decidiu se vingar de todos que debochavam dele. Cuidado! Seu pescoço pode ser o próximo, uuuuuh mochiii.

- Para de falar besteira e vai trabalhar Ayumi ¬¬
Dizia a outra, que já estava acostumada com aquelas constantes palhaçadas de sua amiga, porém elas sempre a irritavam. Após aquela frase Ayumi subitamente parou, piscou algumas vezes os olhos até que gritou.

- AAAAAAAAAAAH ÉÉÉÉÉ, o trabalho. Eu tinha me esquecido, to atrasada.

Virou-se e começou a correr em direção a rua que havia na esquina, gritando um “ Até amanhã Miaka-chan”, esta que a fitava novamente com uma gota no canto da testa, era tão cômico ter uma amiga assim.

Ayumi corria pela rua com tamanha velocidade que era difícil acreditar que um ser humano podia chegar a tanto.

“ Waah, se eu me atrasar o Aysawa-san vai brigar comigo”
pensava, até que fou subitamente interrompida por um pingo de chuva que tocou seu roto, fazendo-a piscar um dos olhos e para de caminhar. Elevou seus orbes castanhos até o céu, sentindo agora mais pingos de chuva tocarem seu rosto, aquilo lhe trazia lembranças, lembranças muito ruins. Sacudiu a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos enquanto pensava em voz alta.

” Iee iee, você não tem tempo pra pensar nessas coisas Ayumi, você esta atrasada mochi”
E após isso voltou a correr pela rua, até que depois de alguns minutos pôde avistar o café onde trabalhava. Era um loja simples, porém bem arrumada, as portas de entrada eram de vidro, e ao lado desta havia uma placa pendurada na parede do lado de fora, onde estava escrito “fechado”, nas paredes havia uma grande janela, esta que ocupava quase toda a parede que dava para o lado de fora da rua, era de vidro, fazendo assim toda a parte interior da loja ser vista do lado de fora. Adentrou a porta, e mesmo que a loja estivesse com a placa de fechada a porta estava aberta. Não era muito grande, o suficiente para caberem seis mesas em casa lado, e ao centro um balcão, onde no mostruário continham vários doces e bolos, de aparência impecável, presa a parede um grande prateleira, onde haviam várias garrafas com vários tipos de bebidas, mas atrás haviam três portas, uma um pouco maior que dava para a cozinha, e duas menores, um era o banheiro e a outra um pequeno depósito.

- Cheguei, desculpe o atraso mochii. – Anunciou, aproximando-se do balcão, quando nesse mesmo instante um homem aparece da porta da cozinha, com um pote em mãos. Tinha cabelos longos, presos em um rabo de cavalo, era bastante alto e mantinha um sorriso doce nos lábios, sorriso este que sempre enchia a loja de mulheres querendo galanteá-lo.

- Oh olá Ayumi-chan, eu já ia abria a loja. Poderia mudar a placa para mim? – Disse, com a voz tão doce quanto seu sorriso, mechendo um pouco no conteúdo do pode.

- Claro, não tem problema. – Respondeu-o, retribuindo o sorriso enquanto já se encaminhava para a parte de fora da loja.

- Eu só irei terminar esse bolo e venho para cá, tudo bem?

- Ta. – Após essas palavras foi até o lado de fora da loja, mudando assim a placa de “fechado” para “aberto”, percebendo que agora a chuva lá fora já começava a aumentar. Voltou em seguida para dentro da loja, indo até o banheiro e trocando suas costumeiras roupas de escola pelas roupas que usava para trabalhar, Um vestido preto com alguns babados brancos na ponta, usava também um avental branco por cima, fazendo assim um grande laço nas costas, costumava prender também seus cabelos em duas chiquinhas. Após sair do banheiro foi até o depósito, saindo de lá com um esfregão e um balde. Começando em seguida a limpar o chão, até que depara-se com alguma coisas negra embaixo de uma das mesas e quando abaixou-se para ver o que era congelou imediatamente.

- AAAAAAAAAAAAAAAHHHH!!!!!! - Aquele grito deveria ter sido ouvido por todo o quarteirão, o que fez Aysawa abrir a porta da cozinha rapidamente.
- Ayumi-chan! O que aconteceu? – Mal terminara de dizer isso e a ruiva estava agarrada em uma de suas pernas, com os olhos cheios de lágrimas.

- Uma barata! Socorro! Ela vai me comer, mata, mata, mata, mata, mata!!! mochiii! – Aysawa deu um sorriso sem graça enquanto a soltava de sua perna, indo até onde a barata estava, o animal estava praticamente aterrorizado com o grito estonteante da menina, e continuava imóvel, até que o moreno o pegou pelas antenas, indo até a porta da loja e o atirando na rua, voltando em seguida seu olhar para Ayumi.

- Nossa Ayumi-chan, não faça isso de novo, você quase me matou do coração.

- Gomen Aysawa-san, não consigo me controlar quando se trata daquele ser das trevas. – Respondeu-o, fazendo novamente um biquinho com os lábios.

- Tudo bem, tudo bem. Mas o que uma barata estava fazendo em um café? Se a fiscalização sanitária pega isso fecharão a minha loja. – Disse, indo até o balcão, apoiando seus cotovelos neste enquanto fitava a ruiva.

- Eto...Acho que a culpa é minha, não devo ter limpado direito o chão. Prometo que da próxima vez vou fazer melho mochi. – Coçava a nuca enquanto falava, em um gesto um tanto envergonhado.

- Iee, não precisa melhorar, eu gosto do seu trabalho, mas acho que você não esta dando mais conta sozinha agora que a clientela aumentou. Estava pensando...O que acha de contratramos mais alguém? – Novamente o sorriso no moreno era cativante, era incrível como ele conseguia sempre estar sorrindo. No mesmo instante em que ele disse aquilo um sorriso maroto tomou posse dos lábios de Ayumi, sabia muito bem de uma pessoa que poderia trabalhar ali.

- Ah siiiim, é uma ótima idéia Aysawa-san, e eu sei a pessoa ideal para trabalhar com agente. – Diza Ayumi em tom animado, ainda mantendo aquele sorriso no rosto.

- Que bom Ayumi-chan, então você poderia falar com essa pessoa para que viesse aqui o mais breve possível? – Perguntava Aysawa, que não havia entendido o porque daquele sorriso.

- Claro, talvez amanhã mesmo eu traga ela aqui mochi. – Respondeu, alargando ainda mais o sorriso.

- Ótimo, ótimo... – O moreno desviou o olhar para a chuva que agora aumentara bastante, dizendo em seguida.

- Bem, acho que não teremos clientes em um dia como esse...O que acha de tirarmos uma folga?

- Sério? - Indagou a menina, mostrando bastante entusiasmo com a idéia.

- Claro, pode ir. Eu fecho a loja.

- Ebah! Arigatou Aysawa-san. – Disse a ruiva, indo até o banheiro para novamente trocar suas roupas. Ao sair acenou para seu chefe, indo até a saída da loja e parando embaixo de uma marquise, para assim abrir o guarda-chuva que ele havia lhe emprestado e pegar o seu celular.

- Aló? – Dizia um voz feminina do outro lado da linha, parecendo um pouco sonolenta.

- Miaka-chan, sou eu Ayumi. Desculpe, mas não consegui esperar pra te contar, o Aysawa-san quer contratar mais uma pessoa pra trabalhar aqui no café e eu...

Sua voz foi sumindo repentinamente, seus olhos fixos no outro lado da rua, o celular foi deslizando de suas mãos até que caiu no chão, e Miaka no outro lado da linha pergunta repetidas vezes o que estava acontecendo para ela parar de falar assim, mas Ayumi não escutava. Era ele, ele que aparecia em seus sonhos, e estava do outro lado da rua, andando em meio a toda aquela chuva como se nada estivesse acontecendo. Precisava segui-lo, não sabia o motivo nem sabia o que falaria quando o abordasse, mas tinha que segui-lo, e assim o fez, largando o guarda-chuva e o celular caídos na porta da loja. Nada mais importava, apenas descobrir quem era o homem que aparecia em seus sonhos a mais de uma semana.