Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 14
Capítulo Treze - Capa de Invisibilidade




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Lily Black estava se escondendo.

Ela não sentia orgulho de suas ações, enfiada em uma mesa no canto mais escuro da Fortaleza do Barão, usando as longas mechas ruivas para esconder seu rosto de clientes curiosos enquanto olhava nervosa para o relógio em seu pulso. Deveria estar no meio do local, ocupando um lugar chamativo para que ele a encontrasse assim que entrasse no local e de queixo erguido, como a bruxa destemida que deveria ser, não escondida nas sombras como uma garotinha assustada.

Pensava que se olhasse no espelho, não iria reconhecer a garota que a encarasse de volta. Aterrorizada, trêmula. O rosto pálido coberto por camadas e camadas de maquiagem para tentar fingir algum rubor e os olhos arregalados, olhando para todos em busca de uma possível ameaça.

Será que ele vai me reconhecer?, pensou. A última vez que havia o visto ela tinha doze anos de idade, no funeral de seu avô. Lily supôs que parecia muito como a menina assustada que costumava ser.

Ela tentou tomar um gole da água que havia pedido enquanto esperava, mas percebeu que seus dedos tremiam demais para conseguir segurar o copo e levá-lo ao seus lábios. Olhou para porta mais uma vez, desejando intensamente para que ela se abrisse e ele entrasse, permitindo que eles acabassem logo com toda aquela situação extremamente estressante.

Lily respirou fundo. Precisava se acalmar e ser corajosa. Corajosa como Sirius. Corajosa como o Chapéu Seletor acreditava que ela era.

Ela olhou para o seu relógio. 21:35. Ele estava atrasado.

Tentou se lembrar da carta que havia mandado, palavras ansiosas rabiscadas contra a folha de pergaminho e a coruja da família voando pelos céus nublados de Londres.

 

Eu preciso de você. Por favor. Volte para casa. Por favor. Estou implorando.

 

Imaginou o quão patética soava, o desespero fluindo por suas palavras, e não era uma surpresa que a resposta havia chegado não muito tempo depois de seu envio, marcando um encontro para aquele lugar naquele horário.

Ele já devia ter chegado. Talvez tenha mudado de ideia e esteja falando com os pais dela naquele momento, dividindo suas preocupações sobre Lily. Ficaria decepcionado com a falta de interesse de Orion e Walburga Black. Eles sabiam, mas também não se importavam.

Deveria voltar para casa, esquecer que tudo aquilo estava acontecendo e tentar lidar com seus problemas sozinhas. Sirius ainda estaria fora, se divertindo com seus amigos na noite abafada de verão, e ela não se importava o suficiente com Regulus para temer um possível encontro com ele. Seu pai ficaria irritado com ela estar fora de casa tão tarde, sempre interpretando o papel de patriarca preocupado, mas ela conseguia lidar com Orion. Sua mãe seria um problema, no entanto. Sempre temerosa com o que os vizinhos poderiam pensar com a única filha dos Black chegando naquele horário, Lily precisaria de uma ótima desculpa para sair da situação com um castigo mínimo.

Mil explicações se formaram na ponta de sua língua quando a porta do pub se abriu e a música parou, as conversas cessando no meio de frases. Lily não precisou perguntar para a mesa ao seu lado para saber o que estava acontecendo. Um oficial do governo havia chegado. Ela se levantou, as mãos já enfiadas em seus bolsos para pegar seus documentos quando ele se virou e seu olhar encontrou o dela.

O rosto de Alphard estava mais velho, maduro e marcas de expressão marcavam sua pele. Seu cabelo continuava lustroso, no entanto, um negro brilhante tão familiar quanto o ruivo que pintava sua cabeça. Ele estava usando seu uniforme de embaixador, percebeu, as vestes vermelhas contrastando com a sua paleta de cores escuras normais. Deveria ter feito isso para usar os privilégios na viagem, sem esperar filas ou declarar suas intenções na Grã-Bretanha.

Lily suprimiu a vontade de correr até ele como uma criança e continuou em pé, vendo ele andar em sua direção. Seu rosto estava impassível, mas seus olhos brilhavam. Alphard estava feliz em vê-la.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, os braços compridos de seu tio a puxaram para um abraço. Ele cheirava à capim-limão e algo familiar, algo tão Alphard que ela poderia ter chorado naquele momento. Lily sentiu seu corpo relaxar imediatamente e ela o abraçou de volta, enterrando seu rosto no ombro largo dele.

Os Black não eram afetuosos fisicamente, mas Alphard era.

— Senti sua falta — ela sussurrou, a voz embargada com lágrimas não choradas. Seu tio a apertou mais uma vez antes de a soltar, segurando seus ombros. Ele a encarava de maneira séria, os olhos inquisitivos, e Lily se sentiu tremer sob a intensidade de seu olhar. Ele era muito mais alto que ela.

Eles se sentaram e o pub voltou a vida, esquecendo o encontro de família no canto.

Alphard olhou ao redor, o nariz franzido em nojo, e respirou fundo.

— Peça o que quiser — disse, balançando a mão como se não fosse importante. — Eu pago.

— Não estou com fome — murmurou. — Quem mais sabe que você está aqui?

— Irma, apenas. A maior parte da família não sabe que eu voltei para Londres.

Lily sorriu, triste. Ela olhou para suas mãos, frias e pálidas. Depois de tanto tempo o esperando, ela não sabia mais o que dizer, como expressar tudo o que estava sentindo. Poderia mentir, dizer que havia se desesperado em um momento de emoção, mas isso acabaria com a confiança que seu tio possuía nela, o acordo entre eles de sempre falar a verdade.

— Obrigada por ter vindo — disse, erguendo o rosto. Ele a estava encarando, as sobrancelhas franzidas. — Eu não sabia a quem recorrer.

— Não se preocupe — Alphard respondeu, o rosto suavizando. — Só me diga qual é o problema e nós iremos resolvê-lo. Juntos.

Lily fungou, incapaz de lidar com tudo aquilo, e respirou fundo. Ela olhou ao redor, vendo os clientes imersos em seus próprios assuntos e conversas, e empunhou sua varinha. Alphard disse alguma coisa, perguntando o que iria fazer, mas ela o ignorou.

Um movimento de sua varinha e palavras sussurradas entre dentes foram suficientes para desfazer os feitiços de maquiagem em sua pele. Ela ouviu a prendida de ar de seu tio e viu o choque em seu rosto. Lily foi capaz de apenas imaginar o hematoma que cobria metade de sua bochecha, amarelado nas pontas e roxo no meio, a marca clara de um soco raivoso marcando sua expressão.

— Quem fez isso? — perguntou Alphard, sua indignação mal contida.

Melhor esconder isso, amor, ele havia dito, a encarando de maneira cansada, Não quero nenhum Black irritado batendo em minha porta.

O nome dele estava na ponta de sua língua ela respirou fundo, criando a coragem que precisava para dizer:

— Ariel. — um peso saiu de seus ombros e ela inspirou uma lufada de ar sem problemas pela primeira vez em dias. — Ariel Mulciber.

Mulciber — repetiu Alphard, cuspindo o nome como veneno. — Está namorando com esse menino?

— Sim. Mamãe insistiu. — Lily se remexeu, desconfortável em sua própria pele. Se sentia exposta naquele lugar, como se houvesse aberto seu peito e tirado seu coração ainda batendo da caixa, segurando-o nas mãos para que todo mundo o visse. — Ele é puro-sangue.

— E o que ela te disse sobre isso? — ele apontou para o rosto dela.

— Ela… ela… — Lily hesitou, não era uma memória boa. — Ela me disse para não deixá-lo tão irritado da próxima vez.

Alphard xingou, cobrindo sua boca com sua mão. Ele esfregou o rosto e, quando afastou seus dedos, parecia dez anos mais velho.

— Porra — disse. — E Orion? O que ele disse?

Lily fungou mais uma vez e sentiu uma lágrima descer livremente por seu rosto. Era o efeito de Alphard nela, ficava mais vulnerável quando estava em sua presença, quase infantil.

— Que eu deveria parar de chorar e aceitar minha punição, que eu fiz por merecer. — ela ergueu seu queixo e encarou seu tio nos olhos. Ele estava triste, percebeu, e irritado também. — Eu não sei como agir. Diga-me o que eu devo fazer!

Ele respirou fundo e quando voltou a falar, sua voz estava suave, gentil, e ela sentiu como se tivesse seis anos novamente, sendo consolada pelo tio na perda de sua boneca favorita.

— O Sirius sabe? — perguntou.

— Sirius não se importa — disse, triste. Seu irmão gêmeo nem ao menos sabia que ela estava namorando Ariel. Deus, como eles haviam chegado nesse ponto? — Ele me odeia.

— Merlin, Lily, — murmurou. — Não, não odeia. — ele suspirou. — Vai ficar tudo bem. Prometo.

Lily não conseguia acreditar em suas palavras. No fundo de sua mente, ainda conseguia ouvir seu pai e Ariel sussurrando em seu ouvido, dizendo-a para ser uma boa menina e manter sua boca fechada. Ela piscou seus olhos cheios de lágrimas e encarou seu tio.

— O que eu devo fazer? — perguntou, desesperada. — Por favor, só me diga o que fazer e eu faço. Juro.

Alphard se inclinou para frente e pegou as mãos de Lily entre as suas. Seus dedos estavam quentes e cheios de calos provenientes de segurar uma varinha o dia inteiro.

— Termine com esse garoto — disse, sério. — Se seus pais disserem alguma coisa ou tentarem te forçar a voltar com ele, você irá vir morar comigo na França. Pode estudar em Beauxbatons.

Lily negou com a cabeça. Não poderia deixar a Inglaterra ou Sirius.

— Não posso — murmurou. — Eu termino com ele, mas não posso deixar meu irmão sozinho com meu pai. Eles se matariam.

Alphard olhou para as mãos unidas deles e suspirou, cansado.

— Você sabia que seu avô queria que você se chamasse Odette? — perguntou, acariciando o polegar dela. — Odette Black. Soava régio em sua cabeça ou alguma coisa assim. Minha irmã gostava da ideia, pois Lago dos Cisnes era seu balé favorito e a possibilidade de dar o nome da personagem principal para sua filha lhe atraía. Ela conseguiu convencer Orion a aceitar a ideia. Ele preferia Sophia.

— O que isso tem a ver? — perguntou Lily, exasperada.

— Não tem. — ele deu de ombros. — Eu lembrei disso há algumas semanas e pensei em te contar. Por uma carta, soaria muito frio.

Lily relaxou seus ombros e esfregou suas bochechas com as mangas, tentando limpar suas lágrimas. Ela sabia que seu tio só estava tentando lhe ajudar, acalmá-la antes de tomarem uma decisão juntos sobre o que fazer com Ariel.

— Se tantas pessoas queriam que eu me chamasse Odette, — ela questionou, fungando. — Por que eu me chamo de Lily, então?

— Porque a melhor amiga de sua mãe, Clemence Lily, morreu na noite em que você nasceu. — ele piscou, sério. — Suponho que ela tenha visto seus cabelos loiros e decidido homenageá-la. Você só se tornou ruiva com cinco anos, afinal.

Lily nunca ouviu histórias sobre Clemence, sua suposta homônima. Supôs que a lembrança da amiga morta era dolorosa demais para sua mãe sequer mencioná-la.

— Não posso deixar a Inglaterra — disse ela, esquecendo da melhor amiga de Walburga e de seu quase nome. — Apesar de tudo que aconteceu, preciso ficar perto de Sirius.

— Eu entendo — respondeu Alphard. — Deveria já saber disso. Minha irmã os colocou no mesmo berço porque ele ficava invadindo o seu. É difícil separá-los.

Lily sorriu. Por motivos óbvios, ela não se lembrava de Sirius entrando em seu berço durante a noite, mas a ideia de serem tão inseparáveis na infância que sua mãe foi obrigada a colocar-los no mesmo berço era reconfortante.

— Eu sempre tentei ser como um segundo pai para vocês, Lily — ele continuou. — Não hesite em me contar se você quiser sair da Inglaterra. Beauxbatons é uma ótima escola de magia.

— Eu sei — respondeu. — Obrigada, tio.

Ela respirou fundo. Percebeu, naquele momento, que estava certa em chamar Alphard. Sentia-se mais leve depois da conversa com ele, segura, até.

— Estou faminta — disse Lily. — Que tal dividirmos uma torta?

Alphard sorriu.

— Parece ser uma ótima ideia.

***

Lily encontrou James na sala de monitoria, jogado em cima de um velho e surrado sofá de um tecido vermelho e brincando com sua varinha. Ela sentiu centenas de borboletas voarem pelo interior de seu estômago e abraçou sua bolsa, ansiosa.

Ele estava encarando o teto enfeitiçado do lugar, franzindo o cenho e sussurrando nomes de constelações tão baixo que ela mal conseguia o ouvir, tendo que ler seus lábios para entender o que estava dizendo. Havia um livro de astronomia aberto em seu colo, mas ele não o checava, preferindo usar as próprias memórias para se lembrar dos nomes dos conjuntos de estrelas. Quando chegou na que emprestava seu nome para o pai dela, no entanto, ele hesitou.

— Órion — disse Lily, colocando sua bolsa na mesa da sala. James a encarou, assustado. Não a ouviu chegar. — Ou Orionte. O Caçador.

Ele se sentou e levou uma de suas mãos ao seu cabelo, bagunçando-o ainda mais. Ela havia percebido durante os últimos meses que era algo que ele fazia quando estava nervoso, um tique para conseguir se acalmar, mas qual seria o motivo de James Potter para estar nervoso naquele momento?

— Eu sabia disso — resmungou, irritado.

— Acredito em você — respondeu Lily. — Só queria ajudar.

Ele suspirou, esfregando a mão sobre seu rosto.

— Eu sei. Me desculpa — disse. — Estou cansado e estressado. — ele voltou a olhar para o teto e parecia relaxar imensamente quando olhou para as estrelas. — Ao seu lado, qual é?

Lily ergueu seu rosto e soube imediatamente de qual ele estava falando.

— Os dois cães de caça. Canis Major e Canis Minor. — ela franziu o cenho e tentou focar sua visão melhor. Não enxergava muito bem de longe. — Fato interessante: Cão Maior contém a estrela mais brilhante do céu noturno. Sirius.

Seu companheiro riu, negando com a cabeça. Lily mordeu seu lábio e se remexeu, nervosa. Ela se perguntou se havia feito alguma coisa de errado.

— Eu deveria saber disso — murmurou. — Seu irmão me mataria se descobrisse. Apesar de suas inúmeras tentativas de se afastar da família Black, Sirius tem orgulho da origem de seu primeiro nome

— Ele desenha a Canis Major depois de assinar seu nome — comentou Lily, sem saber exatamente o porquê.

— Exato — ele respondeu, sorrindo. James se jogou no sofá, colocando as mãos na parte de trás da cabeça. — Confio em você para guardar meu segredo, Black.

— Não se preocupe — ela disse. Lily franziu o cenho e correu seus dedos pelo tecido velho do sofá. — De onde venho isso? Lembro-me distintamente de não estar aqui há duas semanas.

Eles se encontravam toda semana ou na biblioteca ou na sala de monitoria para discutir as rondas noturnas.

— Dei quinze sicles para dois quintanistas da Lufa-Lufa trazerem para cá. — deu de ombros. — Seu tio disse que poderíamos decorar como quiséssemos.

— Sim, mas de onde venho isso? — perguntou.

James sorriu e colocou seus pés na pequena mesa de centro em frente ao sofá.

— Um mágico nunca revela seus segredos. — ele arrastou seu corpo esguio para o lado, deixando um lugar vazio no móvel, do tamanho perfeito para ela. — Vem cá.

Lily andou até ele, seus saltos estalando contra o chão e se sentou. James estava sorrindo, o corpo relaxado, e ela foi incapaz de não sorrir também. A expressão calma de James fazia seus interiores se esquentarem e sua boca secar.

Era como se ele conseguisse ver por tudo que usava para se cobrir e enxergasse sua alma, brilhante e pulsante em seus interiores. Lily se sentia exposta, vulnerável, mas não era uma sensação ruim. De alguma forma, sabia que James não iria machucá-la, que ele iria tratá-la da maneira certa e iria zombar de seus sentimentos.

— Você está bem? — ele perguntou, pegando o pulso dela e traçando uma cicatriz antiga com seu polegar. Ela prendeu sua respiração.

— Sim — respondeu. — E você?

— Estou bem. — ele sorriu e ela respirou de maneira livre novamente.

A atmosfera da sala estava pesada, como se algo estivesse prestes à acontecer sem que ela soubesse exatamente o quê. Ele a estava encarando com intensidade, seus olhos castanhos brilhando por trás das lentes de seus óculos, e Lily tentou não tremer sob seu olhar.

Ele era bonito, percebia isso agora. Bonito de uma maneira que a fazia se sentir como uma risonha menina de quinze anos novamente. A garota que acabasse se casando com ele seria extremamente sortuda e automaticamente se tornaria uma mulher de respeito na sociedade. O Clã dos Potter é antigo e muito renomado, não era isso que sua mãe havia dito quando descobriu sobre a amizade em crescimento que havia formado com Sirius, Sangue quase tão puro quanto o dos Black. James era a última esperança de sua família e todas as fortunas, propriedades e possessões no nome de seus parentes iriam para ele quando seu tio morresse e Charlus era um homem doente e velho. Todos sabiam disso.

A última senhora Potter havia sido a mãe de James, Euphemia. Lily já havia visto fotos dela e sabia que ela estava sempre vestida de maneira elegante, com jóias belas e preciosas. Quando ainda namorava Ariel, sentia inveja da mulher morta, vendo-a como a princesa que conseguiu tudo o que queria: um marido que a amava, presentes caros e um sobrenome muito melhor que o seu nome de solteira. Por que uma traidora teria tanto quando ela, uma filha leal da Inglaterra, não tinha nada?

Agora, no entanto, Lily não queria nada mais do que ser como Euphemia Potter.

— Seu aniversário está chegando — comentou James, alheio aos seus pensamentos invasivos. — Planos?

Lily deu de ombros e sorriu, triste.

— Eu suponho que vou ter que ir para a festa que vocês vão dar para o Sirius e tentar celebrar de alguma forma. Tenho certeza que vou pensar algo no dia.

James assentiu, o rosto concentrado. As inúmeras sardas que cobriam seu rosto pareciam especialmente charmosas naquela luz.

— Você tem o último álbum da Goblin Pixies? — perguntou, coçando a cabeça. — Dragonheart, não é?

Ele disse como se estivesse chutando, tentando parecer que não se importava com o nome, mas Lily imaginou que ele já sabia muito antes de ter entrado naquela sala. Sirius era um fã nato da banda, não tinha nada de errado em ele ser um também.

— Sim, esse é o nome do novo disco. — ela deu um sorriso triste. — Infelizmente, não tenho nenhum álbum da Goblin Pixies.

A careta de choque de James a fez rir de maneira alta e verdadeira.

— O quê? Por que não? Pensei que fosse fã da banda.

— E sou — respondeu Lily. — Mas eu preciso manter minha reputação. — ele soltou um muxoxo. — Está tudo bem. Posso ouvir as músicas no rádio.

James assentiu, como se quisesse deixar o assunto de lado, mas ela conseguia ver que estava pensando em algo, as engrenagens dentro de sua cabeça girando enquanto montava um plano mirabolante. Sentiu vontade de perguntar no que estava pensando, no entanto, ela se impediu.

Ele não estava olhando para ela, por isso se permitiu em analisar seu perfil. Seu nariz possuía uma curva elegante e seus lábios eram cheios e convidativos. Ela conseguia entender o que Marlene McKinnon havia visto nele e, se os rumores eram verdadeiros, o que ele fez para mantê-la por perto. James Potter fode muito bem. Todos sabiam disso, até mesmo os que nunca entraram em sua cama. Ele era engraçado e bom e gentil. Lily precisava de gentileza em sua vida.

Depois de sua discussão com Ariel, a escola inteira achava que eles eram amantes. Seria tão ruim dar um tom de verdade as fofocas?

Ela tentou imaginar um futuro ao seu lado, o anel dos Potter em seu dedo e o nome de James substituindo o dos Black. Lily Potter. Soava bem, como alguém que conseguia resolver tudo, alguém forte.

A imagem de um menino sorridente invadiu sua cabeça. Ele parecia exatamente com James, desde o cabelo até o tom saudável da pele morena, mas seus olhos, grandes e brilhantes, eram verdes como os dela.

— O que você acha? — James perguntou e Lily piscou, confusa ao ser arrastada de volta para a realidade.

Seu companheiro ergueu uma sobrancelha e riu.

— Desculpe-me, o que disse? — ela disse. — Eu estava distraída.

— Claramente — ele respondeu, ainda rindo e balançou a cabeça. — Eu disse que acho que deveríamos começar a distribuição de rondas para essa semana.

Lily assentiu, desviando seu olhar e viu sua bolsa há alguns metros de distância. Ela se levantou, espreguiçando seus membros depois de muito tempo na mesma posição e andou até a mesa, mantendo suas mãos relaxadas ao seu lado.

Quando voltou para o sofá, James estava abrindo alguns cadernos e folhas de anotação na mesa de centro. Ele parecia tão concentrado que Lily quis ter o talento artístico de Narcissa para conseguir capturar aquele momento em uma pintura trouxa. Nunca admitiu, porém achava a imagem congelada no tempo extremamente charmosa.

— Eu ouvi algumas reclamações de alunos da Lufa-Lufa e da Corvinal de que estamos os colocando sempre em horários tardes — disse, sentando-se ao seu lado. — Então, prometi que a semana que vem seria diferente.

Eles sempre faziam os horários uma semana ou, pelo menos, dois dias antes de colocarem na porta da sala. Dava tempo de discutirem e repensarem suas decisões.

— Faz sentido. — ele sorriu. — Não percebi que estávamos sendo parciais em relação a nossas casas.

— Ninguém é perfeito — murmurou Lily. James piscou e abriu a boca, como se quisesse contestar sua fala, mas balançou a cabeça.

— Falando em Lufa-Lufa, — ele começou. — Recebi um pedido especial da Alice Fawcett para não colocarmos em nenhum horário na sexta.

Lily franziu o cenho.

— Por que não? — perguntou.

James sorriu, malicioso, e seus olhos se escureceram.

— Ela vai fugir para Hogsmeade em uma viagem ilegal — respondeu. — Depois de anos de amizade, Frank finalmente admitiu que é completamente apaixonado por ela e a chamou para um encontro.

Lily pensou em Frank Longbottom. Todas as meninas da escola foram apaixonadas por ele no ano anterior antes de ele ir jogar para o Puddlemere United. Em seu quinto ano, Amelia Bones perdeu sua virgindade para o Corvinal encantador e chorou por semanas quando ele terminou o relacionamento com ela.

Quando Lily terminou a amizade com ela, no entanto, os olhos de Amelia estavam secos.

— Uau — exclamou. — Não posso dizer que estou surpresa.

— Ninguém pode — murmurou James. — Vou colocá-la na segunda, então.

Ele bateu com sua varinha em um quadradinho da grade de horários, tornando-o amarelo e uma escrita negra e cuidadosa cortou o papel. Alice S. Prewett.

— Se eu fosse ela, — começou Lily. — Ficaria brava com a demora. Não vejo motivo para passar anos escondendo uma paixão, sem fazer nada em relação a isso.

Os olhos de James se arregalaram.

— Mesmo? — perguntou.

— Mesmo. Para mim, isso é covardia. Se gosta mesmo da pessoa, faria alguma coisa para ficar com ela. Qual é a pior coisa que poderia acontecer?

— Ela dizer não — sussurrou, olhando para ela de uma maneira estranha.

Lily bufou.

— Mas você fez algo — disse. — Se ela não quiser ficar com você, tudo bem, é triste, porém, ao menos, não irá passar o resto da sua vida se perguntando. E se? — ela se virou para ele. — Entende o que eu digo?

— Sim — ele respondeu, engolindo em seco. — Perfeitamente.

Lily sorriu, satisfeita consigo mesma. Ela voltou a olhar para os papéis e suspirou. Com a ponta de sua varinha, ela colocou alguns sonserinas nos horários mais tardes. Certamente ouviria reclamações sobre isso de seus colegas de casa, – eles achavam que ter uma monitora-chefe da Sonserina os permitiria privilégios especiais, – mas conseguiria lidar com eles.

Ela olhou para James e se perguntou se acontecia a mesma coisa com ele e seus companheiros. Seu tio o havia escolhido como monitor-chefe para que ela pudesse ficar de olho nele com mais facilidade, para que pudesse completar a tarefa lhe dada pelo Lorde das Trevas, porém a professora McGonagall estava falando bem de James desde que eles entraram em Hogwarts pela primeira vez com onze anos. Ele deveria ser merecedor, se ela gostava tanto dele.

Lily se lembrou daquela manhã quando usou Penélope para mandar uma outra carta para seu senhor. Ela havia escritos tantas mentiras, endeusando a “lealdade” de James e seus feitos magníficos nos treinos de Quadribol, tantas coisas para tentar manter ele e Sirius seguros. Ele deve ser merecedor, pensou, se eu estou fazendo isso para protegê-lo.

Na realidade, Lily não entendia muito bem o porquê de estar fazendo tudo isso. Por Sirius, daria a sua força vital se isso significasse sua sobrevivência, mas por James? O que ela estava disposta a fazer por ele?

As coisas que fazia por amor. Não era isso que havia pensado quando queimou seu diário e apagou todas as suas anotações sobre James da existência? Ela estava pensando nele naquele momento. Nele e em seu irmão.

Amor. Por muitos anos, as pessoas diziam ao seu redor que Schuller era a única coisa que ela amava além de si mesma. Ou Sirius, se notassem os olhares repletos de ânsia que ela mandava para ele. Lily não sabia se estava disposta a amar outra pessoa, porém não era uma decisão que ela poderia tomar conscientemente.

O que eu estou disposta a fazer por ele? Ela olhou para James, inclinado sobre os papéis com o óculos caído na ponta de seu nariz. Tudo.

— James, — chamou, a voz hesitante. Ele levantou o rosto, surpreso, e sorriu, empurrando os óculos para cima com a ponta do dedo.

Lily o beijou.

Meses haviam se passado desde a última vez que ela beijou alguém. Com Ariel, era sempre demais. Mordidas, pegadas. Ela sempre saía de seções de carícias com o corpo dolorido. Pensou que seria diferente com James, mas ela não era estúpida. Conseguia perceber que, após tempo suficiente para se recompor, ele ainda não havia respondido o beijo. Pelo contrário, James continuava completamente parado.

Lily se afastou. Ele a estava encarando com olhos arregalados e arrependimento tomou o corpo dela.

— Desculpe-me — disse, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. — Eu não deveria ter feito…

— Não, Black… — ele começou, balançando a cabeça.

— Ah, que vergonha — murmurou. Ela se levantou, cambaleando em pernas trêmulas de nervosismo e ele a seguiu, erguendo as mãos como se para acalmá-la. — Sirius vai me matar.

— Lily…

— Por que eu fiz isso? — perguntou, ironicamente. Lily se virou para ele. — Isso é tão inesperado. Foi no instinto. Por que…

James a interrompeu:

— Por Merlin, Lily, cale a boca. — e a beijou.

Por um segundo, nada aconteceu. Era como se ambos tivessem medo demais de fazer alguma coisa, qualquer coisa que pudesse quebrar a realidade do que estava acontecendo, mas isso passou quando ele circulou a cintura dela com os braços e a puxou para mais perto.

Lily aprofundou o beijo, suspirando contra seus lábios doces e enterrou seus dedos no cabelo de James, sentindo-os incrivelmente macios sob seu toque. Ele respondia seu entusiasmo com experiência, gentilmente coagindo reações em seu corpo que corriam até a ponta de seus pés e apertando-os juntos de uma maneira que a fazia tremer na base. Ele acariciou suas costas, seus dedos se prendendo em mechas ruivas de seu cabelo

Merlin, fazia tanto tempo desde que alguém havia a tocado desse jeito. Era humilhante dizer isso no meio de um simples beijo, mas Lily estava completamente inebriada em seu gosto, seu cheiro e tudo o que fazia James. Se perguntou porque nunca fez isso antes, porque perdeu tempo com Ariel Mulciber quando poderiam estar presos nessa dança tão familiar há meses ou, até mesmo, anos.

— Senhor Potter, eu…

Eles se separaram, ofegantes. Lily abaixou sua camisa, nem percebeu que os movimentos de seus corpos apertados um contra o outro a haviam levantado, e corou sob o olhar severo da professora de transfiguração, parada perto da porta ainda aberta.

McGonagall ergueu uma sobrancelha, porém ela não parecia exatamente irritada. Demorou alguns segundos até que Lily percebesse que a professora não estava esperando uma resposta dela. A maioria dos funcionários de Hogwarts sempre parecia esperar o melhor da única filha dos Black, no entanto McGonagall estava olhando para James, piscando os olhos com preguiça.

— Sim, senhor Potter? — ela ajeitou seus óculos. — Acredito que você deveria estar organizando as rondas junto de sua companheira, não enfiado em um amasso com a pobre senhorita Black.

James não estava sorrindo, mas era como se estivesse. Seus olhos brilhavam de uma maneira que lhe dizia que ele sabia que não iria se meter em problemas.

— Eu jurava que aquela porta estava trancada! — argumentou, apontando acusadoramente para a maçaneta que servia como segurança na sala de monitoria. Seus lábios estavam manchados com resquícios do batom vermelho que Lily estava usando e ela supôs que não estava tão diferente.

— Você não parou para imaginar que alguém em possessão da senha pudesse entrar? — questionou. — Acredito que a dessa quinzena é Veritaserum.

O sorriso de James iluminou seu rosto.

— Sempre certa, Minnie.

McGonagall suspirou e ajeitou seus óculos mais uma vez. Não parecia decepcionada com a informalidade de seu aluno, nem surpresa.

— Infelizmente, não estou aqui para repreender dois monitores causando uma negligência em suas tarefas, apesar de que iremos conversar sobre isso mais tarde, senhor Potter, — disse. Ela parecia extremamente cansada e havia um pesar em sua expressão que Lily não conseguia reconhecer nas outras vezes em que viu a professora. — Estou apenas procurando a senhorita Meadowes e achei que você poderia saber onde ela estava.

A risada derreteu para fora do rosto de James e ele franziu o cenho.

— Dorcas? — perguntou. — O que você quer com a Dorcas?

— Posso responder qualquer pergunta depois, Senhor Potter. — ela olhou para Lily. James se virou para ela, parecendo se lembrar finalmente de sua presença ali e mordeu o interior de sua bochecha.

— Se ela não está no dormitório, então está no meio de um salah. — ele voltou a olhar para McGonagall. — Rezando. Seu lugar preferido é a Torre de Astronomia. Talvez já tenha terminado.

— Uhum. Obrigada, senhor Potter. — ela saiu em passos rápidos.

James a viu ir embora com um olhar estranho. Lily mordeu seu lábio, sem saber exatamente o que dizer ou fazer para acabar. Não o conhecia o suficiente para isso. Parecia que horas haviam se passado quando ele entrou em ação, esfregando as palmas das mãos no tecido das calças e olhando ao seu redor enquanto mil coisas passavam por de trás de seus olhos.

— Graças a Merlin, — murmurou, baixo o suficiente para que ela só entendesse o que ele disse ao ler seus lábios.

Ele andou até o sofá e agarrou uma bolsa de mensageiro jogada sem cuidado no chão. Lily ficou em silêncio, tentando formular uma pergunta em sua mente ao vê-lo enfiar a mão dentro da bolsa e alcançar alguma coisa. Segundos se passaram antes de ele levantar o braço como em vitória, um tecido prateado e brilhante embrulhado entre seus dedos.

— O que é isso? — perguntou ela, parada em seu lugar.

Ele se virou em sua direção, parecia que havia esquecido de sua presença ali.

— Isso? — James repetiu, embasbacado por ter sido questionado. — Uma velha herança de família.

Lily torceu a sua boca. Não era a resposta que estava procurando.

— O que você vai fazer com ela?

— Minha amiga está com problemas — disse, como se fosse óbvio. — Minnie estava extremamente tensa, não conseguiu ver? Se estava procurando pela Dorcas, não pode ser coisa boa. — quando percebeu que sua resposta não esclareceu nada para a companheira, ele bufou. — Vou segui-las, está bem? Ver o que está acontecendo.

Lily assentiu e, antes que ele pudesse sequer se mexer, já estava falando novamente:

— Eu vou com você.

Depois de seu aniversário de quatorze anos, Sirius lhe disse que ela tinha uma habilidade incrível de conseguir atingir todos os pontos fracos das pessoas ao seu redor quando queria. Ela era boa com palavras e, por todos os seus anos de escola, jogava comentários passivos-agressivos aos colegas porque podia, enfiando suas unhas perfeitamente cuidadas e tratadas sob a pele daqueles que discordavam de suas ideias.

Hoje não seria diferente.

— Não — respondeu James e ela arqueou uma sobrancelha. — Não posso permitir. Eu prometi…

— Prometeu o quê? — perguntou Lily, franzindo cenho.

James balançou a cabeça. Havia falado demais.

— Não importa agora — disse. — Você não pode vir, Lily.

— Por que não? — ela cruzou os braços.

Ele bufou.

— Não há motivo para você vir — respondeu. — Dorcas não é sua amiga.

Lily abriu a boca para contestar, mas percebeu que o que ele falava era verdade. Dorcas não era sua amiga. Ela não tinha motivo para ir com ele além de sua própria curiosidade incontrolável. Percebeu, com desgosto, que não tinha resposta para James que o convencesse a deixá-la ir.

— Tudo bem — disse, sorrindo de maneira apertada. — Eu entendo. Desculpe-me.

James franziu o cenho, como se estivesse surpreso de ela ter concordado tão rápido, e a encarou de maneira estranha, lentamente andando até a porta. Ele se virou para ela, segurando o tecido em sua mão e piscou várias vezes, tentando entendê-la.

— Seria melhor se você voltasse para o seu dormitório — avisou, abrindo o pedaço de pano prateado. — Dorcas é a bruxa mais poderosa de nossa geração. Se precisam falar com ela, talvez tenha acontecido alguma coisa.

Lily assentiu, piscando os olhos. Quando abriu a boca para falar, as palavras engasgaram em sua garganta e se recusaram a sair. Ela engoliu em seco e sorriu, calma.

— Certo — murmurou.

James respirou fundo. Ele lambeu os lábios e a encarou por alguns segundos, milhares de pensamentos passando por de trás de seus olhos. Ela estava prestes a lhe perguntar se havia alguma coisa de errado quando seu companheiro deu um passo para a frente e a puxou pela cintura, plantando sua boca contra dela.

A surpresa que a tomou foi contida em poucos e Lily suspirou. Estava prestes a responder ao beijo quando ele se afastou, rindo para si mesmo.

— Te vejo amanhã, Black — disse. Ele jogou a capa sobre seus ombros e seu corpo desapareceu, as cores se mesclando com o ambiente atrás. James lhe deu uma piscadela antes de puxar um pedaço de tecido para cima de sua cabeça e sumir completamente.

Os ombros de Lily se relaxaram e uma aceitação estrangeira tomou seu corpo. Claro que James Potter tinha uma capa de invisibilidade. A porta se fechou e ela estremeceu com o barulho.

Minutos, ou talvez horas, se passaram antes que ela conseguisse se mexer. Ainda temia a possibilidade de James estar na sala, escondido em algum lugar e esperando que ela vacilasse e revelasse onde estava o Mapa. Será que sabiam que estava com ela? Poderiam ter descoberto de que Avery havia pegado.

— James? — chamou e se arrependeu logo depois. Obviamente, caso estivesse ali, ele não iria responder para não revelar seu esconderijo.

Decidiu se arriscar e andou até sua bolsa, os dedos confiantes ao retirar o Mapa e sua varinha dentre suas coisas. Ela abriu o pedaço de pergaminho em uma mesa e fechou seus dedos ao redor da varinha.

— Juro solenemente não fazer nada de bom.

Lily respirou fundo enquanto via as linhas cuidadosas do Mapa se formarem no papel. Dorcas e professora McGonagall estavam andando juntas por um corredor no segundo andar, caminhando até uma das inúmeras escadas que existiam no castelo. Um pontinho carregando o nome de James Potter andava até elas.

Eles já estavam descendo os degraus quando ela se mexeu, pegando a bolsa e correndo pelos corredores fora da sala de monitoria. Lily usou o mapa para se guiar pela escola, tomando cuidado para não se encontrar com Pirraça ou algum professor que estivesse rondando o lugar durante a noite.

Professora McGonagall e Dorcas estavam se dirigindo à ala hospitalar, onde os pontinhos de Cygnus Black III, Horace Slughorn, Poppy Pomfrey e Evan Rosier as esperavam. Enquanto Slughorn, Madame Pomfrey e o tio de Lily eram esperados ali, a presença de Evan Rosier a surpreendeu. Será que ele havia se machucado? Ou ingerido pedras de Morgana demais?

Mas se fosse apenas uma overdose, por que McGonagall precisava de Dorcas Meadowes?

Sua resposta chegou em forma de um grito de agonia ao se aproximar da Ala Hospitalar. O som que atingiu seus ouvidos criou um nó em seus interiores, remexendo os intestinos e seu estômago.

Lily se aproveitou das portas entreabertas da sala para se esgueirar para dentro, usando as sombras formadas pela pouca luminosidade como esconderijo. Todos os presentes estavam parados ao redor de uma cama e era possível ver uma forma humana se movendo de forma angustiada debaixo dos lençóis brancos.

— Você deve entender, senhorita Meadowes, que essa informação não pode sair dessa sala — disse o tio de Lily, seus braços cruzados.

— Eu entendo, senhor — respondeu Dorcas. Ela estava usando vestes brancas e um hijab azul escuro. Seu rosto estava limpo e luminoso. Ela olhou para a cama, os olhos escuros tristes. — Quem o encontrou?

— A Dama Cinzenta — murmurou McGonagall. — Ela veio me procurar imediatamente.

Deveria ser Evan Rosier que estava deitado. Lily tentou ver melhor, escondida atrás de uma divisória, mas não conseguiu nada além de frustração.

— A mãe dele já sabe? — questionou a garota.

— Por que precisa saber disso? — retrucou Cygnus, irritado. — Faça o que precisa ser feito.

O rosto de Dorcas estava venenoso quando ela o encarou.

— Desculpe-me, professor, — ela praticamente cuspiu a palavra. — mas para fazer o que precisa ser feito, eu necessito de informações sobre a vida dele. Não posso simplesmente invadir a mente de alguém assim. É grosseria.

Slughorn levantou sua mão antes que Cygnus Black pudesse pensar em uma resposta.

— Sua mãe está a caminho, junto com aurores e medibruxos do St Mungo’s. — uma expressão amigável havia sido colocada com cuidado em seu rosto.

Dorcas assentiu, satisfeita.

— E seu pai?

— O senhor Rosier morreu quando Evan tinha sete anos — murmurou Poppy Pomfrey, uma expressão desolada em seu rosto. — Sua mãe nunca se casou novamente.

Ele era filho de uma viúva, Lily percebeu. Pobre mãe. Ela deveria estar desesperada com a possível perda de tudo que lhe restava.

— Ele perdeu muito sangue — disse McGonagall com pesar no rosto. — Seria um milagre se sobrevivesse.

— Por isso que precisam de mim — concluiu Dorcas, cerrando seus punhos. — Não acham que ele vai resistir até a chegada dos medibruxos.

— Madame Pomfrey lhe deu várias poções de reposição de sangue, mas… — Cygnus deu de ombros. — Os ferimentos foram muito profundos.

— É apenas para que possamos descobrir quem o atacou — suspirou Minerva, tocando no ombro de sua aluna. — Você consegue, senhorita Meadowes.

Meadowes assentiu, respirando fundo. Ela parecia resolvida com alguma coisa, como se estivesse ganhando a coragem para fazer seu trabalho.

— Dêem-me espaço, por favor — pediu. — Não consigo fazer nada com uma plateia.

Cygnus parecia prestes a querer discordar, mas madame Pomfrey o puxou gentilmente pelo braço. McGonagall e Slughorn foram ambos para perto da mesma janela, porém nenhum dos dois tentou iniciar uma conversa.

Lily tentou se preparar mentalmente para o que deveria ser o corpo ferido de Evan Rosier, no entanto, ainda sentiu o seu estômago cair quando viu o peito despido de seu colega de casa.

Seu torso estava cheia de marcas finas e compridas provenientes de uma lâmina, o sangue escuro escorrendo por sua pele pálida e acinzentada. Ele estava tendo dificuldades para respirar e seus movimentos eram angustiantes enquanto implorava por misericórdia entre seus gritos de agonia.

Dorcas mordeu seu lábio inferior e estendeu a mão esquelética, afagando os cabelos castanhos do garoto. Seu toque pareceu o acalmar instantaneamente e seus soluços se reduziram a choramingos tristes. Ela colocou uma expressão maternal em seu rosto e se inclinou, murmurando no ouvido dele:

— Está tudo bem. — ela fechou os olhos e sussurrou algo, se concentrando. — Lembre-se da praia, da areia… o oceano. Seu pai está rindo e sua mãe não está chorando, como faz o tempo todo. Ela está feliz.

Lily já ouviu falar da praia em frente a casa dos Rosier. Evan comentou uma vez, quando pensava que ela não estava ouvindo, que suas memórias mais felizes foram feitas naquele lugar. Ela o está fazendo reviver sua memória mais alegre, percebeu. Um consolo nesse momento difícil.

— Você está com medo — disse Dorcas, os olhos ainda fechados. Uma ruga apareceu entre suas sobrancelhas. — Está escuro. Onde ele está? — ela prendeu a respiração e se mexeu, desconfortável na própria pele. — Para! Isso dói. Dói muito… Alguém me ajude! Pai… — ela se endireitou e, parecendo sentir que algo estava errado, McGonagall correu em sua direção. Quando a professora tocou em seus ombros, ela lutou contra seu abraço. — Ele precisa ser parado. A escuridão o tomou. Digam a Lily! Digam a Lily!

Ela abriu os olhos em desespero, mas, ao encontrar os rostos assustados dos presentes, pareceu se lembrar de onde estava.

— Desculpa — murmurou. — Eu perco o controle às vezes.

— Quem o atacou? — perguntou Slughorn, se aproximando.

— Eu… — ela hesitou. — Eu não vi seu rosto. Foi tudo muito rápido. Meu poder é tendencioso.

— Entendemos — disse Minerva McGonagall.

— Posso ir agora? — alguns fios de cabelo estava caindo em seu rosto e, rapidamente, ela os empurrou de volta para o véu.

— Pode sim — respondeu Cygnus Black de braços cruzados.

Dorcas foi rápida para obedecer, saindo da sala em passos curtos e eficazes. Lily aproveitou o momento de distração dos adultos para segui-la até a porta, esperando que ela saísse para poder voltá-la até seu dormitório.

Infelizmente, os caminhos para a Torre da Grifinória e as Masmorras da Sonserina se cruzavam em um corredor específico do primeiro andar e, então, Lily se deparou com uma cena extremamente nociva. Algo que poderia arruinar todo o seu cuidado naquela noite.

Ela foi rápida ao se esconder quando viu a forma curvada de Dorcas Meadowes novamente, se encolhendo atrás de uma armadura larga o suficiente para mantê-la segura.

Pensou que iria ser simples. Dorcas iria continuar andando e ela poderia sair de onde estava para voltar ao seu quarto onde sua cama quente e atrativa a estaria esperando, mas, enquanto andava, o braço da garota levantou gentilmente, como se segurado por alguém atrás dela e ela parou de se mover.

Suspirando, Dorcas se virou e limpou os resquícios de lágrimas em seu rosto com a mão livre.

— Pode tirar isso agora, James — disse, cansada. O rosto preocupado do capitão do time de Quadribol apareceu em poucos minutos ao puxar a capa para fora de seu corpo. — Deveria ter suspeitado que você estaria lá. Professora McGonagall me contou sobre como o procurou.

Ele sorriu de lado. Parecia muito diferente do garoto que estava aos beijos com Lily na sala de monitoria. Esse James era mais maduro, sério. Se não tivesse vivido as duas situações, diria que eram pessoas completamente diferentes.

— Queria ter certeza de que você estava bem — murmurou, sem soltar a mão dela. Lily sentiu uma chama de ciúmes brotar em seu peito. — Aquilo foi horrível.

— Reviver os momentos mais terríveis da vida de alguém não é algo que eu goste de fazer, mas… — ela deu de ombros. — Não tenho escolha.

James assentiu e franziu seu cenho, confuso.

— Por que mentiu para eles? — perguntou. — Quando disse que não havia visto o rosto do atacante, estava mentindo. Por quê?

— Havia mais alguém no ataque, um cérebro por trás de todo o plano. Rosier sabia disso e, agora, eu também — respondeu. — Moody me disse uma vez para ficar sempre vigilante, sempre de olho em possíveis inimigos. Se eu vigiá-lo por tempo suficiente, posso descobrir quem o mandou atacar Evan.

— Ele? — disse James. — Quem é esse ele? Quem fez isso?

Dorcas suspirou.

— Severus Snape.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram do capítulo? Aposto que sim.